sexta-feira, novembro 28, 2003

Crónica de um crime anunciado

Para além de fazer cortes em áreas estratégicas com a investigação, vim agora a saber (na Antena 1) que entre os dedos que a Ministra se prepara para dar do nosso bem querido País (que os anéis já foram para o défice do ano passado) se encontra a Companhia das Lezírias; sendo uma empresa lucrativa, a sua privatização anuncia algo de extremamente perverso: o sacrifício de 20 000 hectares de sítios ecologicamente fundamentais para Portugal (6500 hectares de montado - a maior mancha contínua de Portugal; a reserva natural do Estuário do Tejo) à especulação imobiliária; a acontecer, a venda desde "dedo" será criminosa, e este governo terá que prestar contas às gerações vindouras.

POSIÇÂO DE PORTUGAL NA EUROPA

10 critérios:

1 - Grandes Projectos de Investimento Directo Estrangeiro: 16º lugar; nenhuma região entre as 20 com mais de 18 grandes projectos.

2 - Emprego na alta tecnologia per capita: Região "Continente" em 64º lugar.

3 - Emprego em serviços avançados per capita: Região "Continente" em 71º lugar.

4 - Investimento empresarial em I&D per capita: Região "Continente" em 75º lugar.

5 - Registo de patentes per capita: Região "Continente" em 71º lugar.

6 - Produção científica nos anos 90: não consta das 33 áreas metropolitanas europeias com mais de 8500 artigos científicos publicados.

7 - Posicionamento nas placas logísticas dominantes na Europa: considerado cada vez mais "regional" no contexto da Península Ibérica.

8 - Mercado-teste de produtos inovadores na área de produtos "brancos" (electrodomésticos) e "castanhos" (computadores e entretenimento doméstico): desinteressante, o período mais longo de chegada ao ponto de "takeoff" de um produto inovador, verificado em 16 países europeus.

9 - Países na moda para a deslocalização de processos de negócio: não consta da lista de 11 recomendados pela AT Kearney.

10 - Regiões metropolitanas em alta para a década: não consta nenhuma portuguesa na lista da LaSalle Investment.

Tirado daqui

quinta-feira, novembro 27, 2003

Conhecimento e Economia

Foi a emergência da economia do conhecimento que provocou uma alteração geo-económica na configuração da "banana" do clube europeu dos ricos. No grupo das 20 regiões cimeiras deram entrada as regiões metropolitanas de Estocolmo (Suécia), de Uusimaa (onde fica Helsínquia, na Finlândia), a região de Oslo (Noruega), o sudeste (onde fica Limerick) e leste (onde fica Dublin) da Irlanda, a região de Ostosterreich na Áustria e a Dinamarca. No emprego em serviços avançados per capita, no investimento empresarial em I&D per capita e no registo de patentes per capita, a região finlandesa de Uusimaa e Estocolmo lideram os primeiros lugares.

A Comunidade de Madrid conseguiu subir para a 25ª posição e o País Basco e a Catalunha estão, também, entre as 50 regiões cimeiras. A Catalunha e a região este de Espanha são mesmo consideradas pela Robert Huggins como as que «médio prazo poderão tirar mais frutos do significativo desenvolvimento das actividades baseadas no conhecimento».

No "ranking" do Financial Times sobre a "preparação para ter sucesso nas actividades baseadas no conhecimento", tendo em conta 10 indicadores do "Scorebord" da OCDE, a Suécia classificou-se em 2º lugar, a Irlanda em terceiro e a Finlândia em oitavo. Portugal vem no final da lista dos 25 países em todo o mundo analisados, recolhendo 1 ponto contra 31 atribuídos à Hungria, 15 à Áustria, 8 à República Checa e 6 à Polónia.


Tirado daqui.

Como se pode constatar, a diminuição do orçamento de estado para a Ciência é no mínimo desastrosa.....

O desinvestimento na Ciência

O Conselho dos Laboratórios Associados divulgou recentemente um conjunto de dados relativos à sua apreciação sobre o) Orçamento do Estado (OE) para a ciência 2004.
O corte na ciência do OE para 2004 relativamente ao ano anterior (que já não foi famoso) foi de 19% a 34%, dependendo do que é que consideramos (PIDDAC – 27%, verbas para a FCT – 19%, verbas para projectos de investigação – 34%) (tirado daqui).

Se calhar estamos com a investigação de boa saúde e este desinvestimento corresponde a uma atitude reflectida e pensada por parte do Governo; mas este outro estudo, diz-nos que a produção científica Portuguesa nos deixa fora das 33 regiões de topo na Europa;
O nosso país não colocou nenhuma região entre as 33 principais regiões metropolitanas europeias com mais de 8500 artigos científicos referidos pelo Science Citation Index no período de 1994 a 1996.
A análise realizada por Christian Wichmann Matthiessen, do Instituto de Geografia de Copenhaga, colocava nos lugares cimeiros seis regiões do Reino Unido (com Londres à cabeça, bem destacado no 1º lugar europeu), a região de Paris, Moscovo, quatro cidades holandesas, a região transfronteiriça sueco-dinamarquesa de Oresund (Copenhaga-Malmo-Lund), Estocolmo-Upsala (região a norte da capital sueca), cinco regiões alemãs, o eixo italiano Milão-Roma, Madrid e o eixo suíço Genebra-Lausana.


A constatação imediata é que a investigação é a última das prioridades deste Governo; ele é mais estádios, TGV’s, aeroportos e submarinos. Curiosamente, os nossos “parceiros” na guerra, são os campeões do Mundo na Investigação. Será que não poderíamos ser também parceiros na I&D? Será que este Governo ainda não entendeu que a Investigação não é uma mariquice intelectualóide, mas um factor inquestionável de desenvolvimento?

Punhal de Leiria

Estamos com dificuldades na impressão, por causa da greve dos "caracteres" uns foram em substituição de outros - Faça-se um esforço de leitura. O que interessa é o SUMO.

Punhal de Leiria

Dei uma olhada no causa nossa e eis o meu espanto:"Este blogue colectivo não é uma iniciativa de grupo organizado mas sim de um conjunto de pessoas individualmente identificadas, marcado pela independência e diversidade individuais".
Como é que esta gente se encontrou casualmente numa esquina! o "fado" português tem cada uma. Porquê estes e não outros?, aliás eles nem se devem conhecer de lado algum. Encontraram-se numa esquina e disseram: "B'ora fazer um BELOGUE de iii - independentes, identificados e individuais.
Por quem me tomam? Mostrem lá o que vos une, ou será apenas a esquina e o fado?! Será que "causa nossa" poderia ser "mac.bifanas", pelos vistos sim. Nada há de melhor que um restaurantezinho para "blogar"-colectivamente.
Cabe à sociologia explicar estas "agremiações" romântico-espontâneas. Já nem digo da cartomancia se de "fado" se trata.
Dizem "Só nos reinventando, só redescobrindo a nossa identidade podemos passar a ponte sem risco de perder a noção do caminho de volta"
Quem diz que nós não sabemos a nossa identidade. Eu não a perdi, querem fazer-nos pensar sem passado, É nisto que a tradição os trai, aos românticos, eles procuram uma identidade mas não sabem onde. Ide à história, à pré-história, ao futuro, onde quiserem, mas vão a algum lado se não (forem, claro!) serão em vez de românticos voláteis iii's.
Tradição, Tradição e Tradição.
Con-tradição, Con-tradição e Con-tradição.

Alerta! O "Punhal de Leiria" está atento aos ajuntamentos de iii's. Esperamos que não haja muitos, senão qualquer dia ninguém se conhece a não ser na BLOOOOGOOSSSFERA. e depois lá se vai o nosso futuro colectivo, porque não temos colectivo mas "Ousar tentar o impossível e ter desígnios que nos motivem enquanto soma de individualidades"- Uma colectividade é muito mais que a MERA SOMA DAS SUAS PARTES. Elementar, caríssimos.
Pois é, eu também caí aqui não sei como. Devo ter sido convidado num qualquer beberete, já não me lembro. E isso interessa?
Claro que não, o que interessa é blogar.

Punhal de Leiria

Pos-scriptum- Desde já se informa que não legitimamos o Acordo Ortográfico em vigor. Cada português deve escrever como fala, isso sim é língua viva.- bale.
Este "Bale" é de "vale" e não de "Balir". Deve atender-se SEMPRE ao COM-TESTO, tá.!
Evitaremos os erros de pronunciação, não os de escrita.

Algumas perguntas soltas (punhal de leiria)

Quem conhece o "Punhal dos Corcundas", encontrará no "Punhal de Leiria" uma réplica residual do seu espírito - Defesa da monarquia do Lavrador e não de outro qualquer, aquele que soube cultivar e cultivar-se, e o punhal para dar umas punhaladazinhas aqui e alí.
Algumas cócegas:

P.:O que acha que este Papa deixa para a História da Igreja?
R.: O mesmo que o Papa Inocêncio V.

P.:Acha que se devem parar as investigações sobre a pedófilia?
R.:Sim. Porque as crianças de hontem já são homens de oje.

P.: Porque é que trocou o "h" no onte e no hoje?
R.: Pelo simples facto de as coisas nunca serem o que parecem.

P.: Mas não acha mesmo que os crimes devem ser levados à justiça.
R.: Que justiça? a dos tribunais ou a dos valores públicos.
Nos tribunais já eles andam. Mas quem cometeu tais atrocidades e os crimes prescreveram devem continuar a pregar a moral pública? a serem nossos governantes, a ocuparem lugares de destaque na nossa sociedade? Não sei não.

P.: O que acha das novas propostas do Tony Obl'air para 2004 e tal.
R.: Só confirmam o que são os "socialismos europeus", ou deveria dizer social-socialismo, ou social-democracia, ou social-partidocracia.

P.: Então nã acha que as novidades que traz para os pares "monossexuais" são verdadeiras medidas de esquerda?
R.: Qual esquerda qual quê. Desde quando tais assuntos são de esquerda ou de direita, até porque se os casais são monossexuais não se pode decidir quem fica`a direita ou à esquerda, não é!

P.: Há alguma coisa que quisesse dizer aos nossos bloguistas?
R.: Sim.

P.: Mas então diga, pergunte, esclareça.
R.: O quê. Já está tudo dito. Valencia foi mais forte. Os ventos de Portugal não são suficientes para praticar vela a alto nível, isto é alto-mar, há muitos "tu-baroes" por cá.

P.:Uma última palavra.
R.: Só me recordo desta: "FIM".

Futebol de estimação

Zoologia: A águia do Benfica foi apreendida pela polícia. "Ao dragão do Porto não deitam eles a mão!", exclamam em coro, indignados, os benfiquistas.

Última hora: O leão do Sporting passou à clandestinidade.

(Par de posts deliciosos copiados do Outro, eu)

Fórum Social Mundial 2004

Inscrições e pagamentos.

Estão abertas as inscrições de organizações e seus delegad@s, e de participantes (pessoas não vinculadas à entidades).

Clique aqui e veja todos os procedimentos para se inscrever.
O prazo termina no dia 30 de novembro.

As inscrições de actividades auto-gestionadas encerraram no dia 30 de outubro. Mas as organizações que propuseram actividades ainda podem aceder às suas fichas para fazer alterações em seus dados.

Clique aqui e veja como fazer a consulta.

Clique aqui para ver as taxas de inscrição e as formas de pagamento.


Calendário geral de inscrições
Organizações e delegad@s: até 30 de Novembro de 2003.
Confirmação da actividade: entre Outubro e Novembro (somente para aquelas cujo pagamento da inscrição de pelo menos um delegado tenha sido realizado até o início de Novembro).
Pagamento dos demais delegad@s: até 15 de Dezembro de 2003.
Alterações nos dados das fichas de inscrição de delegados: até 20 de Dezembro de 2003.

quarta-feira, novembro 26, 2003

Causa nossa

Novo blogue completamente crómico. Uma manada de dinossauros dos Media a entrarem pela Blogolândia adentro:
Ana Gomes, Eduardo Prado Coelho, Jorge Wemans, Luis Nazaré, Luis Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira. Só cromos. Pela dimensão dos bichos e pela sua notoriedade, a Blogolândia vai tremer. Daqui a bocado nem vale a pena ir à versão internética do Público, já que os cromos que aí escrevem começam todos a vir de armas e bagagens para a Blogolândia.

O template tá fraquinho (ainda não sabem pôr acentos) e eles não devem perceber grande coisa disto dos blogues. Mas os conteúdos irão certamente extravasar a casca que os limita; e daqui a uns tempos, mudam de template, ficam todos giraços, e fazem concorrência aos top blogues.

Simbiose 9.6

O peixe palhaço vive em simbiose mutualista com a anémona que lhe dá abrigo; o peixe defende a anémona de outros peixes que a quieram comer; em contrapartida, a anémona protege o peixe palhaço de eventuais predadores, com os seus tentáculos urticantes.

Template versão 9.6

Voltei a mexer no template. Na coluna da direita ficam todos os Blogues em simbiose com o BSP. O peixe palhaço (herói do filme de animação Nemo) mergulhado nos tentáculos da anémona simboliza essa simbiose, numa metáfora natural das relações inter-blogues da Blogolândia. Como Blogue de cariz social, com uma forte componente ecológica, não podíamos deixar de aplicar estes conceitos às nossas relações socio-ecológicas com os outros blogues. Ficam todos convidados a uma relação simbiótica mutualista com o BSP!

CHEGA! ESTAMOS CANSADOS!! ACABOU!!!

A Zero em Comportamento tem passado anos de sacrifício, a viver com o credo na boca, sempre na eminência do dinheiro da bilheteira não chegar para pagar as contas. Estivemos dependentes das flutuações dos humores do público, da chuva, do frio, do calor, dos jogos de futebol na televisão, das estreias do cinema comercial ou dos ciclos de outros cinemas; dependentes dos humores da crítica e do espaço disponível nos jornais, nas rádios ou nas televisões; dependentes ainda da nossa capacidade de distribuir pela cidade os folhetos e os cartazes com a programação, de os enviar a tempo pelo correio ou email.

Estamos cansados porque os donos do Cine-Estúdio 222 não resolvem os imensos problemas que aquela sala, de imenso potencial, tem. Sabemos bem que, por causa das condições da sala, este projecto que tanto trabalho e gozo dá, estava, desde o ínicio, sujeito ao insucesso. E estamos fartos de, sistematicamente, recebermos reclamações de pessoas a dizer que a sala cheira mal, que as cadeiras são desconfortáveis, que chove lá dentro, que a projecção é má, etc etc etc... e de sabermos que é verdade!!!

Estamos cansados de nos dizerem que o nosso projecto é fantástico, maravilhoso, único, etc, etc, etc, mas que é uma pena ser feito naquela sala e de, por isso, nos pedirem, suplicarem, ordenarem, que mudemos de sala e perante a pergunta: "Mas para que sala?", só ficar o silêncio, por falta de alternativas ou de ideias... E por isso termos de responder: "pois é, a sala é má, mas é a única....".
Finalmente, estamos cansados e desmotivados por, há que tempos, ouvirmos a Câmara Municipal de Lisboa ou o ICAM dizerem que, de facto, o nosso projecto é fantástico, maravilhoso, único, que merece de ser apoiado, mas até hoje não terem contribuido com nada de concreto!

Por isto tudo e por muito mais que fica por dizer, decidimos parar. Vamos deixar de programar o Cine-Estúdio 222.
O projecto "Zero em Comportamento" vai ficar congelado até melhores dias. Até haver outras condições para se trabalhar. Até alguém finalmente tomar decisões a sério, e não apenas de fachada, e nos alugar, disponibilizar ou oferecer, em condições aceitáveis, uma sala de cinema condigna para fazermos um programa por ano, por cada seis meses, por mês, semana ou dia. Ou então, até alguém perceber que é mais importante haver projectos culturais que se afirmam no dia-a-dia, durante o ano inteiro, do que eventos fugazes, esporádicos, que levantam imensa poeira mas que não deixam ficar nada depois de acontecer. Mas, enfim, há quem prefira ouvir as cigarras do que reparar no trabalho da formiga...

Paramos, mas fazêmo-lo de consciência tranquila porque, ao longo destes anos (e já passaram seis desde o primeiro filme que exibimos no 222), provámos que há públicos para as mais diversas ofertas de cinema (sejam curtas, documentários ou longas dos países mais improváveis). Basta ter vontade e saber chegar a eles (aos públicos e aos filmes).

E quem tiver memória lembrar-se-á, por certo, da oferta de cinema que havia nesta cidade e poderá comparar com o que há hoje... Mas sabemos também que quem tem a iniciativa, desbrava o terreno e lança as sementes, não é necessariamente quem colhe os frutos...

Um grande obrigado a cada um(a) e a todos os que nos foram impulsionando, encorajando e criticando ao longo destes tempos. Isso significa que fizemos a diferença e no fundo isso é mesmo a única coisa que interessa...

Encontramo-nos por aí!

Rui Pereira
(Zero em Comportamento)

Zero em Comportamento - Associação Cultural
R. Gonçalves Crespo, 56, 1º, 1150-158 Lisboa
Tel: 351 21 315 83 99
Fax. 351 21 316 00 57
email: geralzero@netcabo.pt
web site: www.zeroemcomportamento.org

Para a rua

No portão traseiro do Instituto Superior Técnico, um grande cartaz convocava os estudantes para a manifestação de ontem. Três palavras de ordem (apenas) lá estavam escritas:

"Ensino superior para todos"

"Demissão já"

"Governo para a rua"

Discordo totalmente de todas elas.

Luís Lavoura

Bom apetite

Hoje ao almoço tive uma boa notícia: Lisboa perdeu a Taça América em vela.

Menos uma desculpa para o Estado alimentar a especulação imobiliária.

Luís Lavoura

A metamorfose...

O Blog de Esquerda passou a BdE - Blogue de Esquerda (II). Mais uma metamorfose na Blogolândia. Ficou mais giraço, com uma equipa assumidamente alargada e promessas de um futuro longo e frutuoso. Mantiveram as cores, para que o choque seja menos brutal.

Mas quem é que terá feito a metamorfose? será que o José Mário se converteu ao HTML? será que contrataram alguém para isso? será que a crisálida se transformou em borboleta por artes do Weblog em pt?

Não sei, mas sabe bem este novo template. Estava fartinho do outro. Por isso, parabéns pela metamorfose!

Chile: Pinochet não pede desculpa

A propósito do Pinichet, vejam a notícia do Público:

O general chileno Augusto Pinochet disse ontem que não tem de pedir perdão a ninguém - pelo contrário. "Perdão de quê? Esqueceram-se de que são eles que têm de pedir-me perdão a mim, pelos atentados que sofri", disse, numa entrevista a uma estação de televisão norte-americana Canal 22, de Miami. "Eles quem?" - perguntou a jornalista? "Esses marxistas e comunistas!" - respondeu o antigo autocrata, que ontem completou 88 anos. Pinochet, acusado da responsabilidade última de pelo menos 3 mil mortos e desaparecidos durante os 17 anos que esteve no poder (1973-1990), recusou ainda a classificação de ditador. "Não quero que as futuras gerações pensem mal de mim, quero que saibam o que realmente aconteceu, pois sempre actuei segundo princípios democráticos", declarou.

No coments.....

Temos político!!!

Durão Barroso nestes últimos dias superou-se:

Há dois dias atrás, beijou a mão ao Papa, muito pio e católico, com a beata da sua mulher aperaltada com um lenço a condizer (só foi pena não ter ouvido o Papa quando este tomou partido pela não intervenção bélica no Iraque);

Ontem, Durão abaixou as calcinhas aos grandes da Europa: o défice pelos vistos é uma obsessão nacional, não Europeia; começo a suspeitar que foi apenas um pretexto para sacar da cartola o coelho das políticas de direita...

Hoje, Durão vai às Antas ver o Porto tentar resolver a eliminatória; não sei se beijará a mão a Pinto da Costa, mas andará lá perto....

Nestes três dias, demonstrou que tem tudo para vingar na política: de bem com a Igreja, com os países mais fortes e com o Futebol. O miúdo assim vai longe....

Bush, Blair e a velhinha...

Numa crónica já antiga de 8 meses que publiquei na Net e que poucos devem ter lido, como é hábito, começava por contar uma historieta que agora repito, aumentando-lhe apenas uma personagem.

O Bruno era um rapazinho escuteiro, muito cioso do cumprimento dos deveres que assumira para com Deus e o Escutismo, entre os quais o de cumprir diariamente uma boa acção.

Mas naquele dia ainda não aparecera nenhuma oportunidade. A mãe não o mandara à mercearia fazer compras; o irmão não lhe pedira a bola emprestada; o pai não precisara que lhe fosse procurar os óculos; a vizinha não tivera necessidade que lhe levasse o cão ao passeio diário. Uma fatalidade!

O nosso escuteiro resolveu então dar uma volta e procurar o seu amigo Blasco, escuteiro também, a ver se arranjavam solução para o caso, mas o amigo estava com um problema semelhante.

Um tanto desanimados acabaram por sair e logo encontram junto ao passeio, parada, uma velhinha. Solução à vista! A velhinha queria atravessar a rua mas tinha medo do trânsito. Ajudá-la seria a boa acção do dia.

O Blasco ainda sugeriu que perguntassem se ela precisava de ajuda, mas o Bruno achava que não valia a pena. Era evidente e a boa acção não podia esperar.

Chegam-se à senhora, metem-lhe os braços e vá de a arrastar para o outro lado da rua.

A velha bem gritava e barafustava, mas uma boa acção resiste a todos os entraves.

Atravessaram a rua, deixaram-na no passeio oposto e na satisfação do dever cumprido nem repararam que a velhinha voltava a atravessar a rua e regressar ao local de origem, onde estava à espera de uma neta...

Há poucos dias vi e ouvi o snr. Bush e o seu acólito, snr. Blair, em Londres, onde o primeiro dizia com a anuência tácita do segundo “que se justificava o uso da força para impor a Democracia nos países onde não existisse”.

Foi assim que a América impusera a democracia no Chile com Pinochet e no Afeganistão com os talibans...

Agora é no Iraque, sem os Iraquianos, já que na Arábia dos príncipes e nos Emirados dos emires o petróleo substitui bem a democracia...

Na historieta dos escuteiros só a velhinha teve o incómodo de atravessar duas vezes a rua, mas na História que Bush está escrevendo começa a correr muito sangue americano e de tantas vítimas inocentes que o terrorismo, alimentado pela política americana no Médio Oriente, implacável e brutalmente vem ceifando.

Martins dos Santos

Debate sobre a Europa e o Modelo Federal

A JEF - Juventude Europeia Federalista Portugal, em parceria com a FNAC Colombo, realiza no próximo dia 27 de Novembro, pelas 21.30h, um debate sobre a Europa e o Modelo Federal, que contará com a participação do Dr. Alberto Costa, do PS e do Dr. António Nazaré Pereira, do PSD, conjuntamente com um membro da JE.

Este evento insere-se num ciclo de debates e conferencias subordinados à União Europeia e às temáticas europeias, a realizar mensalmente no Fórum FNAC do Centro Comercial Colombo.

Num momento em que se discute qual o futuro da Europa, as implicações da Constituição Europeia e de uma União alargada, o federalismo assume uma preponderância crescente como modelo de unidade e respeito pela diversidade.
A vossa presença é imprescindível, como actores e participantes neste processo singular.

Pela Direcção da JE Portugal

Lisboa, 24 de Novembro de 2003


Contactos:
José Figueira
96 - 561 91 36 / jmafigueira@yahoo.com
José Rodrigues
96 - 303 58 28 / jmra2000@yahoo.com

Serão todos os Europeus iguais?

Ouvi agora na rádio que os foram perdoadas as sanções aos Franceses e Alemães por terem rompido com o pacto de estabilidade.

Quer dizer, nós portugueses com hospitais muito inferiores, com inúmeros problemas estruturais a nível da educação, a nível da justiça (provavelmente a anos luz de ambos os perdoados), temos de parar o investimento público e fazer sacrificios nos impostos, etc., para cumprir o pacto de estabilidade.

Paises como a Alemanha e França, simplesmente anunciam que não vão cumprir porque isso significaria o sufocar das suas economias e pronto já está. Estão perdoados!

Será que nós também seriamos perdoados caso quebrasse-mos o pacto de estabilidade? Só quero ver é como é que os politicos nos explicam isto agora.

EN

terça-feira, novembro 25, 2003

Ainda a Viola caipira

Curiosamente, a recuperação da viola caipira está intimimamente ligada à globalização; é que no Brasil, a reação ao perigo da uniformização cultural global foi o aprofundamento e a recuperação das tradições, dando luta à uniformidade anunciada com mais diversidade. Foi nesse contexto (a partir dos anos 90) que se recuperou a viola caipira; neste momento, milhares de pessoas tocam esta viola, e hoje em dia as casas de dança "tradicional", como o forró, o boi ou o samba, são mais frequentes do que as casas de dança moderna.

Como se pode constatar, há muitas alternativas à globalização uniforme e sem graça; e a cultura tem sempre soluções engenhosas para se manter viva e vibrante!

segunda-feira, novembro 24, 2003

Dia sem compras

Dia 29 de Novembro de 2003, em todos os Países ricos, milhares de pessoas irão festejar o Dia sem Compras. (traduzido daqui)

A sociedade de consumo é cega, já que não é possível haver um crescimento infinito do consumo num Planeta com recursos limitados. Arriscamo-nos a esgotar a maior parte dos recursos da terra antes 2050. A poluição desequilibra o clima, a biodiversidade decresce a olhos vistos.

A sociedade de consumo engendra uma pilhagem: 20% da população do planeta, os países ricos, consomem 80% dos recursos planetários. O nosso nível de consumo tem um preço: a escravidão económica de populações inteiras.

A sociedade de consumo é mortífera, reduzindo o homem a uma só dimensão: a de consumidor. Ela nega a nossa dimensão política, cultural, espiritual, filosófica ou poética, que constituem a essência da nossa humanidade.
A esperança é reanimar a nossa consciência e de traduzir as nossas ideias em acções concretas do dia a dia.

Por isso, façamos um gesto simbólico. Dia 29 de Novembro....não compremos. Passem a palavra. Digam aos vossos amigos. Falem com a vossa família. Simplifiquem a vossa vida.
Copie o cartaz do dia mundial sem compras, e espalhe por todos os lados: no vosso trabalho, no bairro, no café....

Festejemos o dia mundial sem compras

VEM AÍ MAIS UM REFERENDO?

A política portuguesa, a tal que se faz nos jornais, na rádio e na TV, tem-se alimentado lautamente com a demissão de ministros, libertação de presos vip’s e guerrrinhas surdas entre tribunais e Ministério Público.
Talvez por isso não tenha sido muito relevante a forma como os analistas políticos estão a encarar o referendo sobre a Constituição da UE.
Para já todos os partidos o defendem mas parece que ninguém o quer!
O Governo pretende uma data que a Constituição da República inviabiliza. A oposição já disse que não aceita alterar a disposição constitucional que não permite a simultaneidade de eleições e referendos.
Como é necessário um consenso entre oposição e governo para alterar a Lei funda mental parece que se avizinha um impasse.
Confesso que numa primeira abordagem do assunto não entendo muito bem as razões de fazer coincidir as datas das eleições europeias com o referendo sobre a futura Constituição.
O argumento de que se obteria uma maior participação de votantes para o credibilizar é demagógico. Que eu me lembre, as eleições para o Parlamento Europeu nunca superaram a participação de 50%, necessária para vincular os resultados do referendo.
Por detrás deste argumento há certamente outros interesses de estratégia política.

A oposição começa a dizer que afinal ao Governo não interessa o referendo e talvez lhe não faltem razões.
A coincidência das datas eleição-referendo iria politizar este último, a nível partidário, pois as campanhas pró e contra referendo seriam simultâneas com as campanhas eleitorais. Ora existindo desde já uma coligação PSD-CDS seria interessante ver como se compatibilizavam as posições dos candidatos de um e outro partido.
Bem sei que o dr. Portas passou já de eurocéptico para eurocalmo, mas a sua vocação atlântica não acompanha a sua vocação europeia...
O seu nacionalismo, mesmo que democrático, não lhe permitiria aceitar limitações que beliscassem a soberania nacional. A Europa foi boa enquanto nos inundou com milhões, mas esse tempo está a chegar ao fim...
Já para o PSD as contas são diferentes, As cúpulas do partido e a sua massa eleitoral foram sempre favoráveis à integração plena na UE.
Se o referendo se vier a fazer, a posição do PSD só muito dificilmente acompanhará a do CDS, quer na sua formulação quer na defesa do sentido do voto.
A estratégia que julgo estar na intenção do Governo, ou antes do PSD, será a de uma “coligação dos pequenos” de forma a conseguir que a futura Constituição Europeia colida o menos possível com as constituições nacionais e com a representatividade nos órgãos decisores.

Em teoria, o referendo é a mais lídima forma de expressão democrática ao permitir que a vontade dos cidadãos se possa exprimir sem sujeição a quaisquer peias partidárias.
Eles escolheram indirectamente o Governo, mas podem pronunciar-se directamente sobre questões que pela sua relevância ou oportunidade mereçam um consenso alargado.
A formulação do referendo, consagrada na Lei Nº 15A/98 refere três pressupostos importantes no seu Artº 7º:
- Não mais de 3 perguntas;
- Resposta sim ou não;
- Inexistência de considerações ou explicações sobre a matéria a referendar.
Daqui se infere que os votantes têm que estar bem cientes da matéria sobre que se vão pronunciar e compreender muito bem as consequências da sua resposta.
Os dois referendos nacionais que até à data se fizeram, em 28 de Junho de 1998 sobre o aborto e em 28 de Novembro do mesmo ano sobre a regionalização não ofereciam dificuldade de maior sobre este aspecto.
O primeiro tinha uma forte carga emocional e religiosa mas até o menos esclarecido dos cidadãos sabia o que significava a sua resposta.
O segundo também não oferecia grandes dúvidas e o sentimento de bairrismo deve ter ditado muitas respostas. Aos mentores políticos do “sim” ou do “não” não foi difícil explicar o alcance das opções sugeridas no referendo.
Contudo e em ambos os casos a participação dos votantes foi escassa e os referendos não tiveram poder vinculativo, pelo que o Governo ficava livre de decidir em última instância. Mesmo assim aceitou o veredicto popular e isso só lhe ficou bem.
No caso presente a figura muda e muito. A futura Constituição Europeia terá de ser um diploma complexo, abordando inúmeros aspectos, desde a representatividade dos estados membros às políticas externa e de defesa, passando pela economia.
Será um documento só acessível aos técnicos, difícil de reduzir a três perguntas de acessibilidade dilatada..

O Prof. Bacelar Gouveia, especialista em direito constitucional, advoga que “devem ser seleccionadas questões de interesse nacional sem serem demasiado técnicas nem demasiado banais”.
Lembra-me aqui a fábula: quem irá pôr o guizo no pescoço do rato?...
Num país com o nosso nível cultural, onde o analfabetismo ainda subsiste, será uma tarefa hercúlea fazer, ou tentar fazer, a pedagogia do referendo!
E mesmo que essa pedagogia pudesse ser feita e o país ficasse ciente das implicações que a Constituição nos poderia trazer, como formular as três perguntas de “sim” ou não”?
Teria sido muito mais fácil fazer um referendo a quando da adesão ao euro, como tantos países fizeram, e em que o “não” continuava a deixar-nos dentro da UE. Por que não se fez?!
No caso actual, desconheço as consequências de um resultado que não permitisse a ratificação da Constituição, mas creio que não nos seria favorável em nada.
O referendo, a fazer-se, não será uma “paródia democrática” como disse Jaime Gama nem uma “tragédia nacional” como vaticina um meu amigo.
Será, isso sim, um acto inconsequente, uma forma de gastar dinheiro e organizar caravanas às feiras e mercados para no fim contabilizar um número de votantes que permita aos saudosos do antigamente afirmar que o povo ainda não está preparado para a democracia...

Martins dos Santos

O dia do não consumismo

Dia mundial sem compras

Seja um consumidor Heróico! Resista à pressão de Consumir, Consumir, Consumir!

Sabias que em média uma Americano produz 1,7 Kg de lixo por dia e consome 20 vezes mais que um Indiano? Sabias que uma boa parte deste lixo é produzido devido ao nosso vício em comprar coisas, mesmo sem precisar delas?Achas que consegues passar um dia sem comprar nada? Vá lá, aceita o desafio!

No próximo Sábado (dia 29) é o Dia internacional do não consumo (International Buy Nothing Day). Vá lá, mostra um pouco de respeito pela mãe Terra (se todos consumissem tanto coma nas nações civilizadas, o Planeta já tinha desaparecido)! Não compres nada nesse dia; em vez disso, senta-te numa cadeira e reflecte um pouco: “ Preciso realmente das coisas que compro?” Estarás a ajudar-te a ti próprio e ao Planeta.



O dia do não consumismo (Buy Nothing Day) nasceu de uma ideia de Ted Dave (Vancouver). Entretanto a ideia espalhou-se pelo mundo inteiro, internacionalinzando este dia não-consumista. Este ano, à semelhança de todos os anos depois de 1991, somos convidados a descansar da nossa sofreguidão consumista durante pelo menos um dia..Por isso, lembre-se no seu país e um pouco por todo o Mundo, que dia 29 é o dia do não consumismo. Participe não participando.

Traduzido e adaptado daqui

CONVERSAS SOBRE O MUNDO

Uma iniciativa da Associação dos Amigos do “Le Monde Diplomatique-Edição Portuguesa”

“O PONTIFICADO DE JOÃO PAULO II E A IGREJA CATÓLICA NO SEC. XXI”

Debate com intervenções iniciais de

Frei Bento Domingues
António Marujo (Jornalista)

e moderação de José Manuel Sobral

Quinta-Feira, 27 de Novembro de 2003 às 18h30

Na Livraria “Ler Devagar”
Rua de S. Boaventura
Bairro Alto - Lisboa

Pelas Mulheres

Só para relembrar que dia 25 de Novembro é o Dia Mundial pela eliminação de
todas as formas de violência contra as mulheres.

Não te Prives

domingo, novembro 23, 2003

Ainda a Viola caipira..

A história da viola sempre acompanhou a do homem do campo. No passado, o violeiro procurava, de forma espontânea, afinar as cordas do instrumento "para que o som ficasse bom para acompanhar a voz e também não precisasse fazer muita ginástica com os dedos, já que ele tinha a mão dura por causa do trabalho pesado", explica Ivan Vilela. Assim foram surgindo várias afinações – hoje são mais de 20 no país. Uma das mais difundidas em São Paulo e no sul de Minas Gerais, a cebolão, já era usada em Portugal, e tem esse nome porque "dizem que as mulheres, quando ouviam os violeiros tocando nessa afinação, choravam como se cortassem cebola", conta Vilela.



A afinação rio abaixo, usada pelo violeiro paulista Paulo Freire – e dizem também que pelo diabo –, é típica da região do vale do Urucuia (norte de Minas Gerais), onde Freire aprendeu a tocar o instrumento.

Era uma vez um saci...

Reza a lenda que "viola não afina". Hoje, com novos instrumentos e músicos, isso virou mais "causo" para contar do que verdade universal. Dizem também que violeiro mais conta "causo" do que toca... Quando se apresentam, eles gostam de falar das simpatias para que os dedos fiquem ágeis, ou das várias formas de pactuar com o diabo para tocar bem, levando pinga junto com a viola até uma encruzilhada, em noite de lua cheia. E se, mesmo assim, o show não for bom, é porque "pintou" saci, pois ele sempre bagunça tudo. São histórias que trazem para a arte uma dimensão de fantasia e ritual que sempre esteve muito presente no universo caipira.

Mas quando se pergunta se fizeram o pacto... "Fiz e não fiz", responde Paulo Freire, que em seu disco Rio Abaixo conta uma versão para o tal encontro. Já Renato Andrade diz que não sabe se fez ou não, pois, como relata no livro Música Caipira: Da Roça ao Rodeio, de Rosa Nepomuceno, em pleno vôo com o capeta, exclamou um nome de santa, por causa da vista bonita, e o diabo o largou. Mas, no texto que acompanha sua música Renato e o Satanás (A Viola e Minha Gente), conta que, no inferno, ouviu o diabo tentando imitá-lo no "ponteado rápido" da viola. E Roberto Corrêa acrescenta: "Eu sempre digo que, além daqueles que precisam fazer o pacto, existem os que já nascem com o dom!" Seja como for, muitos deles merecem ser ouvidos.

Viola Caipira


Ivan Vilela

Tive o previlégio de ver este senhor tocar ontem no Chapitô: incrível, o que se pode fazer com uma viola descendente das violas tradicionais Portuguesas, como a Bragueza ou a Toeira. Ao contrário de Portugal, lá a viola está muito viva, com muitos violeiros exímios, mais de 25 afinações diferentes, umas dezenas de construtores, escolas, professores, e muita música boa. A música é essencialmente Modal (Lídio e MixoLídio). Muito difundida em Portugal no século 16, a viola foi trazida para o Brasil logo no início da colonização. Num primeiro momento, ritmos indígenas se misturaram aos portugueses. Depois, vieram as influências africanas e, já no século 20, as de países fronteiriços ao Brasil. Assim, há hoje uma variedade de ritmos: cururu, cateretê, toada, cana-verde, arrasta-pé, batuque, lundu, moda campeira, xote, rasqueado, valsa, mazurca, polca e guarânia, entre outros.
Nós levamos a viola para o Brasil; e é lá onde ela sem dúvida é melhor tratada. "Paisagens", de Ivan Vilela, é uma daquelas descobertas que pode mudar completamente a forma como vemos a música tradicional. Não deixem de descobrir...

Ivan Vilela

É graduado e mestre em Composição Musical pela Unicamp.
Com grupos ou em disco solo, Ivan Vilela foi indicado a importantes prêmios da Música Brasileira: Paisagens (solo) 1998, Prêmio Sharp, indicado como Revelação instrumental. Espiral do Tempo (Anima) 1997, Prêmio Movimento de Música Brasileira – melhor disco instrumental do ano, Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) – melhor conjunto de câmara. Trilhas (Trem de Corda) 1994, duas indicações ao Prêmio Sharp.
É diretor e arranjador da Orquestra de Viola Caipira sediada em Campinas. Foi responsável pelo projeto que visou a criação de um curso superior de música utilizando metodologia brasileira, proposta inédita no Brasil. Esta metodologia foi concebida a pedido da Universidade de Taubaté, SP. É idealizador da ONG Núcleo da Cultura Caipira.
Como professor atuou e atua em diversos festivais de música do país como Oficina de Música de Curitiba, Festival de Música de Cascavel, Festival de Música de Londrina.
Desde 1996 realiza apresentações no exterior tendo tocado na França, Portugal, Itália, Inglaterra e Espanha realizando concertos e conferências em salas de espetáculos e universidades.
Periodicamente colabora com revistas de música como a Guitar Player, e ministra cursos e seminários sobre Cultura Popular Brasileira, Harmonia Modal, Estética e História da MPB e Viola Caipira.
Atua há mais quinze anos no campo da pesquisa, enfocando manifestações da cultura popular em Minas Gerais e interior de São Paulo. É autor de uma Ópera Caipira com libreto de Jehovah Amaral. Frequentemente se apresenta em programas de televisão de diversas emissoras brasileiras.


Para saber mais, vá aqui (dá para ouvir uns MP3).

sábado, novembro 22, 2003

Mercado Livre na ALCA II

A incrível história das empresas de telecomunicação e fraude escancarada

Mentiras escancaradas vêm facilmente para Zoellick e sua equipe, seja quando estão tentando nos empurrar biotecnologia ou fazendo propaganda enganosa de companhias telefônicas privatizadas. Eles sabem muito bem que as tarifas telefônicas para usuários na Nicarágua e El Salvador explodiram desde a privatização. Na Nicarágua, onde metade do antigo monopólio estatal ainda não foi vendido, controvérsias rodeiam a companhia do corpo residual do monopólio, na corrida para a liquidação final.

Ardis contábeis parecem ter desaparecido com os benefícios que deveriam ir para o governo. Houve alegações de perdas misteriosas de até 9 milhões de dólares. De forma igualmente misteriosa, o valor contábil do ativo fixo parece ter caído para 16 milhões de dólares. Líderes sindicais da companhia telefônica receiam de manobras para reduzir o valor da companhia antes da venda com a finalidade de aumentar os lucros para compradores eventuais.

Após a venda, o real valor da companhia será sem dúvida revelado como uma transformação estupenda graças ao milagroso livre mercado. Mas líderes sindicais calculam que a companhia ganhou 50 milhões de dólares desde a privatização e cerca de metade deste valor é devido ao Estado. A companhia ainda terá de prestar contas do corpo residual uma vez que a companhia foi parcialmente privatizada em 2000 (1).

Em El Salvador, as pessoas estão mais à frente na estrada da privatização e lamentam o passo que deram. A companhia telefônica Antel de El Salvador e a companhia de distribuição de energia CAESS já foram privatizadas, com outras firmas estatais prontas. As tarifas telefônicas são até três vezes aquelas da Costa Rica.

Os apóstolos do livre mercado insistem que a privatização invariavelmente aumenta a eficiência e reduz os custos. Geralmente, o oposto acontece. As tarifas de utilização aumentam e a eficiência cai pois o investimento em infra-estrutura diminui, enquanto os acionistas recebem seus dividendos e os executivos inflam seus salários.

Atualmente em El Salvador um telefone residencial básico custa 274% do custo na Costa Rica. O custo da chamada por minuto é 43% mais alto em El Salvador para chamadas normais. Na Costa Rica o monopólio estatal cobra por segundo enquanto que em El Salvador a tarifa é arredondada para o minuto seguinte (2).

O que se deve lembrar da maioria desses acordos bilaterais e regionais de "livre comércio" é que eles não são acordos comerciais primários. Eles são fundamentalmente acordos políticos que utilizam pés-de-cabra e marretas a fim de arrombar os países para os poderosos investimentos e interesses políticos enquanto aparentemente negociam o comércio. A filiação de Zoellick ao grupo de pesquisa de investimentos Precursor é uma pista do porque de essa ênfase no investimento privado ser sempre proeminente nesses acordos, invariavelmente em detrimento do interesse público (3).

Por Toni Solo

1 - El Nuevo Diário, Manágua, Nicarágua, 23 de outubro de 2003 e 28 de outubro de 2003

2 - "Cuzcatlecos alertam aos ticos: Salvadorenhos pagam até 300% mais que na Costa Rica por serviços telefônicos" por Alonso Gómez Vargas 22 de outubro de 2003 www.rebelion.org

3 - Comunicado de imprensa de 8 de janeiro www.precursorgroup.com


Mercado Livre na ALCA I

Maciça artilharia ondas de choque de hipocrisia

Antes da cúpula comercial de Doha de 2001, Zoellick disse, "dada a relativa abertura da América, nós só podemos manter apoio doméstico para o comércio se mantivermos leis firmes, efetivas contra práticas desleais... Portanto nós vamos continuar a insistir que qualquer consideração do papel da OMC tenha como foco elevar as práticas dos outros ao nível dos padrões dos EUA a fim de que as empresas e trabalhadores americanos possam competir em um campo equilibrado" (1). Essa hipocrisia é tão enorme que só pode ter a intenção de inspirar choque e horror.

Mais um exemplo, em 2001 os EUA subsidiaram seus produtores de algodão num total de aproximadamente 1 bilhão de dólares além do valor internacional de mercado de sua colheita. Como ressaltou Kevin Watkins da Oxfam, os produtores de algodão africanos "perderam aproximadamente 200 milhões de dólares em 2001 como conseqüência direta dos subsídios agrícolas norte-americanos. Para colocar esta cifra no contexto, ela torna irrisória a quantia que os governos da região recebem na forma de auxílio dos EUA ou alívio da dívida com a Iniciativa para os Países Pobres Fortemente Endividados (HIPC) (2). Ainda em 2002 os EUA aumentaram os subsídios agrícolas em 10% comparado com 2001.

Watkins também ressalta que as taxas de importação auferidas pelos Estados Unidos do empobrecido Bangladesh são geralmente iguais ou maiores que aquelas auferidas da próspera França devido a que o regime tarifário dos EUA favorece seus parceiros comerciais europeus em detrimento dos países em desenvolvimento mais pobres. Isso coloca num necessário contexto outra das falsas alegações de Zoellick, que as tarifas médias dos EUA são as mais baixas entre a elite mundial dos países ricos da OCDE. É verdade apenas porque os EUA têm a capacidade de bater nas nações pobres indefesas e roubá-las, mas é forçado a comerciar mais lealmente com as economias mais fortes de seus principais parceiros comerciais como a UE.


Por Toni Solo

1 - "OMC - Delegado Comercial dos EUA diz que outras nações devem se "comprometer" ou o encontro da OMC em Doha pode acabar fracassando", International Trade Daily, 31 de outubro de 2001.

2 - "Hipocrisia comercial: o problema com Robert Zoellick" Kevin Watkins, 20/12/2002 www.opendemocracy.net

Alca: um mosaico de acordos

"Existe um acordo entre o Mercosul (Mercado Comum do Sul, integrado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e Estados Unidos sobre uma Alca flexível, que não imponha aos 34 países as mesmas obrigações", afirmou o negociador comercial brasileiro Luiz Filipe de Macedo Soares.

Por sua vez, Washington já está negociando um acordo de livre comércio com cinco países da América Central e anunciou que deseja incorporar também a República Dominicana, Peru, Colômbia e, possivelmente, Bolívia, Equador e Panamá, que também começarão negociações comerciais bilaterais com os Estados Unidos.

Os pactos bilaterais e multilaterais no continente americano surgiram como uma estratégia de Washington para vencer a resistência a Alca demonstrada pelo Brasil, a maior economia da América Latina.

No entanto, esses tratados terminaram por serem incorporados a proposta brasileira de negociar um Alca básico, "light" ou "a la carte", que se adapte às pretensões e limitações de cada país.

Organizações não governamentais e outros países latino-americanos, como a Venezuela, sustentam que o acordo, mesmo em sua forma "light", beneficiará apenas as grandes empresas estadunidenses e conformará a hegemonia de Washington no continente americano.

Além disso, afirmam que causará mais desemprego e debilitará as normas ambientais e trabalhistas, habilitando as empresas a pressionar os governos para que estes revoguem leis nacionais.

Organizações empresariais estadunidenses reunidas em Miami para o Fórum Empresarial das Américas também demonstraram sua preocupação diante da proposta, mas por razões diferentes das da sociedade civil.

"Alguns governos propuseram encerrar vários dos nove grupos de negociação da Alca. Isto seria uma perda de oportunidades comerciais de proporções trágicas", declarou Larry A. Liebenow, presidente da Câmara Estadunidense de Comércio, em um almoço empresarial.

Outros países americanos, como Canadá, México e Chile (que já possuem seus próprios acordos comerciais com os Estados Unidos), rejeitam a nova proposta, com o argumento de que a Alca deveria beneficiar todas as nações por igual e não se transformar em um mosaico de acordos.

Funcionários brasileiros declararam à imprensa na segunda-feira que os ministros do Comércio dos 34 países da Alca (todos da América, exceto Cuba) estão de acordo sobre "dois terços" da declaração que os ministros devem aprovar antes do fim de semana.

(Copy past daqui)

A ALCA

As negociações da ALCA estão num impasse porque acordos de livre comércio entre sócios desiguais são uma má ideia desde o princípio

Phil Boomer, Oxfam (daqui)

sexta-feira, novembro 21, 2003

A espantosa facada nas costas...

O Esmaga mouros quase que se espanta com a facada nas costas de Blair que Ken Livingstone, Mayor de Londres, lhe cravou. O Bruno até gostou, mas discorda dos manifestantes que mandam o Bush para casa, atitude manifestamente xenófoba. Mas o que é que disse Livingstone para espetar metafóricamente uma faca nas costas de Blair? Apenas disse o que a maioria dos Europeus pensa: afirmou, sem papas na língua, que George W. Bush (e os seus falcões) é uma das maiores ameaças à paz mundial (Resultados do Eurobarómetro: Israel 65%, EUA 61%, Coreia 59%, Irão 55%, Iraque 54%). Ao contrário de certos governantes, ao menos Livingston expressa a opinião do povo. Na suécia, estão a pensar não referendar a constituição europeia porque as sondagens anunciam um rotundo não. A democracia no seu melhor: se podemos perder, então o melhor é não perguntar.

Entretanto, o camarada carapau volta a questionar os números (segunda a TSF, a tradicional guerra dos números). Há uma maneira fácil de resolver estas dúvidas: no próximo referendo, pomos lá umas questõezinhas sobre a guerra (a favor ou contra), sobre a política do governo e sobre a constituição Europeia e assim saberemos o que realmente pensa a maioria dos cidadãos Europeus.

Correcção oportuna

Deste post: a Brecht o que é de Brecht...

Acho que a tradução mais corrente da tal frase do Brecht é a seguinte: "do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem". Enfim, esta cantilena ficou-me na cabeça deste que estava na moda o Brecht.

António Cruz (?)

O Glorioso e o Futebol

O novo estádio do Benfica tem uma particularidade interessante: está forrado a coca-cola por todos os lados. Depois da Coca-cola ter reinventado o Pai Natal, foi agora contratada para reinventar o Benfica. E muito provavelmente, se a coisa funcionar, muitos passarão a acreditar no Benfica, pelo menos até à idade em que acreditam no Pai Natal.

Aviso aos leitores - depois de ver que os Opinion Makers com mais tempo de antena nos Media nacionais (o camarada Marcelo, o camarada Pacheco e o Santana Lopes, esse grande antifascista) já falam com desenvoltura de Futebol, aproveito para começar aqui essa tradição: é que lá por se ser activista, cientista ou músico não quer dizer que não possa gostar de futebol! Apesar de pensar que não se devia ter gasto os rios de dinheiro que se gastaram com os estádios do Euro, principalmente porque esse dinheiro é de todos nós e não foi gasto onde era mais necessário, tendo ficado por fazer resmas de complexos desportivos e boas instalações para a prática do desporto um pouco por todo o lado no nosso País, mas especialmente no interior. Onde é que está a descentralização, senhores governantes?

Eram muitos, lá isso eram...

Ó carapau (para quem não sabe, é um jaquinzinho um pouco maior), o público dá-me razão: 110 000 (segundo a polícia), 200 000 (segundo a organização).....
Acho que a polícia seguiu as minhas contas, e deu a abébea de haver 10 000 fora de trafalgar square. Mas temos que admitir que o carapau tem um fio de argumentação interessante: a ponte tem 15 metros, aquilo foram não sei quantos minutos, e segundo as leis da hidrodinâmica, os manifestantes teriam que andar a 200 Km/hora para serem 200 000. A pequena falha neste elegante raciocínio é que as manifestações extravasam sempre as suas margens "naturais", e que a trafalgar square vão dar inúmeros cursos de água , engrossando paulatinamente o caudal da marcha, mesmo depois desse intransponível obstáculo. Deixemo-nos de mimos: já parecemos os políticos à séria, com papeluxos cheios de números para atirar à cara do outro... O consenso possível: eram muitos, e fizeram-se ouvir bem.....

"Todos falam da fúria do rio, mas ninguém repara nas margens que o oprimem" (é mais ou menos isto, mas não me lembra bem - inspirado numa coisa parecida do Bertold Brecht).

PS - desculpa lá, mas amandarem uma estátua do Bush abaixo foi uma acção no mínimo inspirada....

PS2 - O JMF resolveu opinar no Público em vez do tradicional editorial; acho que assim pode escrever mais umas palavras e explanar melhor os seus argumentos (desiludam-se: são os mesmos de sempre). Uma ideia a realçar: também ele apela a uma manifestação a favor do Bush e da sua política; já são dois para começar uma contra-manifestação (ao menos assim cabem à vontade na tal ponte, e não têm que andar aos encontrões ou a velocidades espantosas). Vá lá, não se acanhem; até sugiro uma frasesinha para ser gritada a plenos pulmões (as acentuações musicais estão marcadas a bold): "Durão, Bush e Blair, estamos convosco p'ró que der e vier!"

A propósito de cadeados... II

As razões das manifestações estudantis parece assentarem em três pilares: propinas, prescrições e acção social escolar.
Não lhes nego o direito de discordarem do que foi legalmente estabelecido, mas também é verdade que eles não são os únicos actores neste contexto.

Vejamos o caso das propinas. É por demais sabido que este Governo não tem o dinheiro necessário para investir não só na Educação mas também noutros sectores fundamentais como a Saúde e a Assistência. Tem seguido uma política económica que muitos, e eu entre eles, condenam por errada, fixada na obsessão de atingir um déficit das contas públicas não sustentado nem sustentável.
Não sustentado porque as despesas não diminuíram nem as receitas aumentaram e a diferença entre elas vai ser colmatada pela alienação de património e operações de tesouraria.
Não sustentável pois, salvo uma alteração positiva na conjuntura económica europeia, para o próximo ano o défice irá ultrapassar o máximo previsto na Pacto de Estabilidade,
segundo os analistas económicos da U.E..
A situação criada com esta política económica acarreta várias e muitas dificuldades para a generalidade dos cidadãos, dificuldades que o próprio Governo publicamente reconhece.
Comparada com tantas outras situações, o aumento das propinas no ensino superior não me parece um sacrifício proporcional à onda de protestos que tem vindo a causar. E, curiosamente, ainda não vi nem ouvi nenhuma associação ou agrupamento de pais manifestar-se a este respeito, eles que são afinal os verdadeiramente prejudicados!
Se o Estado cumprir o que promete e nenhuma família, por falta de recursos, veja os seus filhos impedidos de seguir um curso superior, então não penso que a imposição das propinas tenha o efeito que lhe assacam alguns que gastarão em proveito próprio muito mais do que terão de pagar ao Estado.
Se a promessa não for cumprida, e não seria a primeira vez que isso aconteceria, então as manifestações e protestos terão toda a razão para continuar e aumentar, mas continuo a não ver a utilidade dos cadeados...

Quanto ao segundo pilar que sustenta a contestação estudantil, as prescrições, também me parece que há algo a comentar. A introdução das prescrições, ou melhor, a implementação do que já fora legislado sobre este assunto em 1998 parece não agradar quer aos alunos quer às escolas.
No primeiro caso porque iria afectar os “estudantes profissionais”, os “dux” que pela posição hierárquica que ocupam nas academias têm grande poder de influência nas assembleias académicas. Há 4 anos (não sei se continua) o “Dux Veteranorum” da Academia do Porto frequentava há 27 anos o curso de Engenharia Civil!
Às escolas, por seu lado, não interessa a existência de medidas legislativas que possam acarretar a diminuição da frequência, já que o financiamento do Estado tem esse parâmetro em conta. Aliás sucedia ou sucede o mesmo com as escandalosas médias de admissão que se verificavam nalgumas escolas.
É da mais elementar lógica que os alunos provenientes de famílias de fracos recursos económicos não se podem dar ao luxo de perder anos consecutivos, antes pelo contrário é do seu interesse entrar o mais cedo possível no mercado do trabalho.
Só os extractos mais privilegiados da Sociedade podem aceitar e conviver com esse facto.
Se o financiamento do ensino superior, em todas as suas vertentes, ficasse a cargo integral das famílias dos alunos, não me repugnaria aceitar que muitos preferissem completar um curso à média de uma cadeira por ano, respaldados no apoio familiar. Mas sendo nós, os contribuintes, a pagar a fatia mais grossa do custo de uma licenciatura, já incluindo as propinas, a prescrição parece-me justa e moral, se prescrita com os cuidados e excepções que merece.

A terceira base da contestação, segundo julgo, prende-se com a acção social escolar. A política social deste Governo rege-se por critérios economicistas que mais uma vez se baseiam na obsessão do défice. Mas, para além disto, a tendência neo-liberal que atravessa o Governo, se não de forma vertical pelo menos transversalmente, não se compadece muito com grandes investimentos na esfera do social.
O “welfare state” passou a ser uma recordação histórica...
Sendo assim, o descontentamento académico está incluído no descontentamento de todos os que vêem uma vida de trabalho ser recompensada com uma reforma de miséria, dos que esperam anos por uma intervenção cirúrgica, dos que passam horas à porta de um Centro de Saúde, etc. etc.
Os estudantes, neste aspecto, até têm vantagens acrescidas pelo poder reivindicativo que outras classes não possuem ou não sabem utilizar.
Prova disto são as recentes promessas da nova ministra do Ensino Superior ao anunciar um reforço de verbas para a Acção Social Escolar e a criação de mais residências universitárias.
Serão estas resoluções apenas fruto das greves e cadeados?
Se assim for, muito mal continua a caminhar este país!...

Martins dos Santos
Lisboa, 15 de Novembro de 2003

A propósito de cadeados... I

Primeiro vamos entender-nos. Não votei em nenhum dos partidos que sustentam o actual Governo, não concordo com algumas medidas e opções políticas que tem tomado nem com muitas práticas administrativas que tem seguido.
Por outro lado não estou engajado em nenhum partido político, sentindo-me à vontade para julgar o que é bom e o que é mau, na prática política, apenas e somente pelos ditames da minha consciência cívica.
Detesto o maniqueísmo, sobretudo quando aplicado à política e o conceito do “quanto pior melhor” que os partidos na oposição, todos eles, aplicam à política dos que estão no governo.
E posto este preâmbulo, passemos ao assunto da crónica.

A vaga das escolas fechadas a cadeado parece estar a avassalar o país, desde o 1º ciclo às universidades.
Tudo é pretexto: um professor que falta, uma sala que mete água, uma mudança de local ou de horários, a não concordância com medidas legalmente tomadas e implementadas.
Paralelamente e consequentemente criou-se a figura política de greve, numa clara apropriação do termo, que não do sentido, de uma forma de reivindicação laboral.
A falta colectiva às aulas não passa disso mesmo; respeitem-se ao menos na linguagem os direitos dos trabalhadores...

A greve laboral, a verdadeira greve, opõe os que trabalham aos que lucram com o seu trabalho, os patrões, sejam eles singulares, colectivos ou institucionais. É uma forma, por vezes a única, com que os trabalhadores contam para melhorar as suas condições de trabalho, prejudicando economicamente o patronato..
Quando os alunos de uma escola, seja ela básica ou superior, faltam colectivamente às aulas não estão a prejudicar ninguém a não ser eles próprios!
Os professores e funcionários continuam a ganhar o mesmo, apenas com menos trabalho...
Numa teorização mais académica do que real, poder-se-á dizer que a “greve” irá prejudicar o futuro capital intelectual do país, mas esse capital, em última análise, serão os próprios estudantes!

As manifestações estudantis têm toda a razão de existir e podem até ser saudáveis em termos sociais, mas não se podem fazer com as aulas em funcionamento. Daí a falta colectiva, a que a palavra greve dá maior expressividade.
Mas continuo a pensar que a César se deve dar o que é dele...
Já quanto aos famigerados cadeados o problema é outro. Situando-me no ensino superior, universidades e politécnicos, onde os media dão maior relevo aos acontecimentos, considero ilegal e mesmo imoral o fecho das portas de uma instituição que é de todos os que a frequentam, professores, funcionários e alunos que não adiram às manifestações.

Martins dos Santos
Lisboa, 15 de Novembro de 2003

quinta-feira, novembro 20, 2003

As manifestações de Londres III

A polícia diz que são 30 000; os organizadores estimam em 300 000 o número de manifestantes. Apenas um zero separa os números dos que se manifestam e dos que controlam a manifestação. Arredondando, dá 165 000, mais ou menos 135 000 pessoas...
Mas façamos uma pequena investigação (já que sou investigador, mais vale aproveitar os dotes):

1 - Curiosamente, a polícia iria "cercar" os manifestantes em Trafalgar square, quando esta estivesse cheia (estima-se que isso aconteça quando aí se encontrem 100 000 almas).

2 - Neste momento, a praça encontra-se vedada e cheia, havendo ainda uma multidão de manifestantes fora de Trafalgar square;

3 - Por isso, segundo os cálculos da própria polícia, há de certeza muito mais do que 100 000 manifestantes. Elementar, meu caro Watson...

As manifestações de Londres II

15:25 - Enorme manifestação a passar pela ponte Waterloo. Sairam às 14:00 da rua MAlet. Estimativa da polícia é de 50 000 manifestantes; Sky Tv diz serem 60000, mas continua a chegar muita gente. A manifestação é alegre, colorida, barulhenta e gelada.

16:15 - Stop the war estima que mais de 150 000 pessoas marcham pelas ruas de londres, numa atmosfera festiva.

17:00 - O fim da marcha acaba finalmente de passar pela ponte waterloo. A cabeça da manifestação tinha passado por aqui às 15:25, o que dá uma ideia da multidão que participa nos protestos Anti-Bush.

Acompanhe a manifestação em tempo real aqui

As manifestações de Londres I

Apesar do aniquilador de serracenos ter tido a esperança de que fossem apenas uns 200 a manifestarem-se contra o camarada Bush (tenho a certeza que foi um caso paranormal de desejar muito muito uma coisa e acreditar nela tanto, que no seu espírito, a coisa aconteceu mesmo) parece que são pelo menos umas boas dezenas de milhar, perigosamente armados de cartazes, canções e tambores (e uns quantos versos feitos de propósito para a ocasião).

E não vale a pena tentar confundir os terroristas com os que estão contra a guerra, carapau; essa pequena tentativa de manipulação é no mínimo de mau gosto. Tenho a certeza que a revolta que sentiste hoje de manhã foi em tudo semelhante à minha perante a visão dos corpos caídos, vítimas das explosões (não somos assim tão diferentes: como já te disse, ambos estamos para o lado libertário e descobri hoje que sou o mesmo filme que tu).

O que nos separa é que eu penso que os EUA alimentam com a sua atitude bélica o terrorismo, enquanto que tu acreditas que os EUA ajudam realmente a acabar com o terrorismo...

Como vês, apesar de estarmos esmagadoramente em minoria, temos convicções, que vão para além da esquerda e da direita.
No fundo, o que realmente incomoda a direita é não ter a capacidade de mobilização dos movimentos anti-guerra, dos fóruns sociais ou das contestações à OMC e ao G8. E esse espinho está mais do que atravessado nas gargantas dextras por esse mundo fora. Vá lá, organizem manifestações de apoio ao Bush e ao G8, a ver se eu me ralo.

Paulo Pereira

PS - atenção, carapau, que o José Mário afirmou no encontro de Blogs que os Blogs com comentários são de esquerda. Olha que tás-te a desgraçar, homem (ou peixe). Tu vê-me lá isso....

Desemprego

Parece que o tão anunciado fim da crise teima a chegar....
Hoje, há 22,5% mais desemprego que há um ano atrás...
Começamos a ser uma esmagadora minoria, contando nas nossas fileiras com mais de 447.917 almas (faltam aqui todos os que não entram nas estatísticas, desde os desempregados rurais aos desempregados que passaram um único recibo verde; enfim, estatísticas). Aderiram à nossa causa durante o último ano mais de 82.677 novos recrutas. Está na hora de formarmos um grupo de pressão no governo: massa crítica não nos falta.

Há mais de 6 meses que o governo anuncia o fim da crise...Será que nos estava a mentir? será que não fazia puto ideia e pôs-se a inventar? será que o aumento do desemprego não faz parte do conceito de crise deste governo? será que a política de direita deste governo não funciona (nem mesmo para o famigerado défice)?
tantas dúvidas e tão poucas respostas...

Marcha virtual

Paralela à marcha contra a presença de Bush em Inglaterra, haverá uma marcha virtual, para todos os que não poderem estar presentes em Londres. A proposta vem daqui www.ourworldoursay.org, e consiste numa marcha virtual, a ser concretizada através de um e-mail (presslon@pd.state.gov ou odclondon@state.gov), um telefonema ([+44] 020-7499-9000 ou [+44] 020-7894-0737), um fax ( [+44] 020-7491-2485, [+44] 020-7894-0699, [+44] 020-7629-8288 or [+44] 020-7514-4634 ), uma carta ou o que quiserem dirigida à Embaixada dos EUA em Londres, que poderá dizer o seguinte:

President George W. Bush
c/o The US Embassy
London

Dear Mr. President

You could be mistaken for believing that you are welcome here. But if you care to look out of the window for a moment, towards the angry protesters gathered all around, you will quickly realise the truth: Tony Blair does not speak for millions of British people like me.

Those of us protesting are not extremists. We are managers, builders, artists and stockbrokers - people from every walk of life who have one thing in common.

We are unhappy because we know the truth about you: we know that you cynically manipulated both your nation and ours into fighting a tragic, and dishonest war. This is a war that has cost the lives of thousands, left a country in chaos and fanned flames of hatred that will surely rage for years.

This war was justified on the basis of a whole series of false claims. For instance, you told us that Iraq possessed weapons of mass destruction that posed a clear and present danger to the west. It will have come as little surprise to you that no such weapons have been found. After all, both Colin Powell and Condolezza Rice stated more than two years before the war that Saddam was no threat, with Rice remarking: 'We are able to keep his arms from him. His militar y forces have not been rebuilt.'

These are just a few examples of the distortions that led us into war. That is why I and many millions of other people are strongly opposed to your visit - and why we will not rest until those in Britain who played a part in involving this country are called to account.

Yours sincerely,
[ponha o seu nome aqui]


A marcha está agendada para hoje, dia 20, entre as 14 e as 18 horas. Faz ouvir a tua voz (ou o teu teclado), para que George Bush e os seus aliados sintam que estão cada vez mais sozinhos!

Junta o teu protesto ao das centenas de milhar de pessoas em Inglaterra!

Os EUA e o terrorismo

Hoje, mais uma ataque terrorista em Istambul (já há mais de 25 mortos e 300 feridos).... não há dúvida que o mundo está muito melhor depois do 11 de Setembro (pelo menos foi um excelente pretexto para muitos atropelos à liberdade na tão celebrada terra da liberdade)!
O que mais me dói é que tanto de um lado como do outro as posições são cada vez mais extremas. E a política guerreira dos EUA é a melhor coisa que poderia ter acontecido aos grupos fundamentalistas, que devem ter bichas de voluntários para as suas acções terroristas. Um extremismo (dos falcões neo-cons do camarada Bush) alimenta o outro (o do terrorismo). No meio disto tudo, quem mais sofre são os inocentes apanhados no fogo cruzado de uma guerra que não tem um fim à vista...



Mas ao contrário dos seus governantes, a opinião pública é cada vez mais contra esta guerra. Depois de sabermos a opinião dos Europeus, com 68% a ser contra a guerra, os Americanos passaram também a ser contra: dos 80% de Americanos a favor da guerra em Abril passado restam apenas 42%. E 55% está em desacordo com o comportamento dos EUA no pós-guerra.

Saber e desenvolvimento

Vivemos na época dos conhecimentos. Nunca na História da humanidade houve um volume tão grande de conhecimentos como aquele que existe nas sociedades actuais. Um volume que continua a aumentar. Aceite a constatação, era de esperar que o Saber ocupasse um lugar de elevada projecção na nossa sociedade. Mas é isso, realmente, o que se verifica? Nas sociedades anteriores, quer seja na Rural como na Industrial, o desenvolvimento/progresso assentava sobre conhecimentos relevantes. E o Saber era devidamente apreciado. Em Veneza, na primeira fase da Renascença, por exemplo, proibiu-se a saída da cidade aos artesãos que manufacturavam espelhos, por serem detentores de valiosos conhecimentos, de alta importância para o crescimento económico da cidade. Nos anos 50, 60 e na primeira metade dos anos 70 ainda se levantava o chapéu à passagem do professor de “instrução primária” da aldeia e à do professor do Ensino Secundário, nas pequenas cidades, dignos e respeitados representantes do Saber.

O problema que enfrentamos hoje é que, alto grau de escolaridade não significa, automaticamente, bons e relevantes conhecimentos, uma mais valia necessária ao desenvolvimento de qualquer Nação. E já veremos porquê. Logo após o 25 de Abril, assistiu-se a uma verdadeira “explosão” social, sobretudo no sector socio-económico do País. O nível de vida aumentou consideravelmente e a igualdade de direitos facilitou, pelo menos na aparência, a mobilidade entre as diferentes camadas sociais. É óbvio que esse fictício bem-estar económico não podia durar, pois repousava sobre fracos e quiméricos alicerces. Os cofres do Estado esvaziaram-se e as crises e Governos sucederam-se uns aos outros, numa procissão triste e interminável. Quanto à mobilidade entre as camadas sociais, indispensável a qualquer democracia, deixa ainda hoje muito a desejar. Para cúmulo, cometeu-se um erro crucial: descurou-se o Ensino. Não é menosprezando o Saber que se desenvolve uma Nação. Construíram-se telhados sobre paredes podres. E quando os telhados ameaçaram ruir, remendaram-se as paredes com cimento barato e de qualidade ordinária. Até agora, não houve um só Ministro da Educação que tivesse a inteligência e o bom senso suficientes para organizar o sistema educativo a partir de uma visão global do Ensino, do infantário à universidade. A nossa História nada ensinou aos políticos que têm governado o País depois do 25 de Abril. Um olhar, por mais distraído que fosse, à época dos Descobrimentos, tinha-lhes indicado os erros a evitar e, até certo ponto, o caminho a seguir.

A entrada de Portugal para a União Europeia trouxe, e continua a trazer, benefícios económicos consideráveis. Mas não haverá razões para duvidar do bom emprego de uma boa parte desse capital? A Economia de Mercado tem dominado a orientação dos investimentos, ocupando o centro das preocupações dos governantes e relegando para segundo plano a aposta no capital humano. É verdade que, nos últimos dez anos, construíram-se muitas creches, jardins de infância, escolas, e que o número de universidades tem aumentado de maneira explosiva, mas também não é menos verdade que as reformas do Ensino têm sido mal pensadas, insuficientes e com pouco ou nenhum resultado prático visível. Será tão difícil compreender que a produção em massa de licenciados não resolve os problemas de desenvolvimento, seja ele económico, social ou cultural do País? A ambição devia ter sido, mas não foi, a de dar a todo o cidadão, em cada etapa do percurso de aprendizagem, as habilidades, o saber e as competências para o tornar capaz de avançar, confiante e resoluto, para a etapa seguinte. Haverá quem duvide que o Saber e o desenvolvimento andam de mãos dadas? Se há países com necessidade urgente de um projecto educacional com cabeça, tronco e membros, Portugal é um deles. O certo é que, por enquanto, os membros andam à procura do tronco e o tronco da cabeça.

Ainda estamos a tempo… Todavia, tendo em conta a notória falta de coragem política que reina no nosso País, vamos talvez ter que esperar muito pelo remédio para a cura dos males que afligem a sociedade portuguesa. A actual política de contenção imposta pelo Pacto de Estabilidade, que parece estar a obcecar o Governo, e o corte orçamental de 4,2% para o Ministério da Educação, não auguram nada de bom neste sentido.

Asdrúbal Vieira
11/19/03

Mais uma conferência da Academia Sénior da Covilhã

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quarta-feira, novembro 19, 2003

Murmurios de uma recepção calorosa

Bush vai a Londres. Protestos. Uma das maiores operações de segurança jamais montada em solo britânico. Zonas de exclusão aérea. Quilómetros de interdição no solo. 14 mil polícias ao longo do percurso. Milhares de outros à paisana. Uma entourage presidencial de 700 elementos. Mais de meia centena de agentes secretos norte-americanos. Atiradores furtivos nos topos dos edifícios. Um carro blindado. Restrições à imprensa. Pessoas e automóveis revistados até à exaustão. Histeria, paranóia: é de ver como o mundo se transformou num local mais seguro depois da invasão do Iraque. Tenhamos fé. Respira-se melhor, sem a ameaça iraquiana de armas de destruição em massa.

Copy past dos Murmurios do Silêncio. Os números do aparato policial podem ser confirmados neste artigo.



Entretanto, podem acompanhar a recepção que os ingleses estão a fazer a Bush neste sítio ou neste, que não deixa de ser calorosa:


Manifestação original na Galeria de arte Moderna (Tate), dia 18 de Novembro.

Entretanto, já hoje, uma desfile paralelo ao desfile oficial ocorreu, cheio de cor e música:


Desfile alternativo

Entretanto Rumsfeld continua a sua cruzada, tentando ganhar a guerra das ideias (o homem gostava de ter um Ministério da propaganda; onde é que eu já ouvi isto?).
Mas mesmo na guerra, a assepsia das imagens verdes passadas na televisão, com umas luzinhas lá ao longe, está muito longe da realidade; aos milhares de mortos civis no Iraque juntam-se as vítimas indirectas da guerra, como é o caso das pessoas afectadas pelo urânio empobrecido. E se quiserem saber mais sobre o verdadeiro impacto do urânio empobrecido (mais de 450 toneladas lançadas sobre o Iraque e a Jugoslávia; no Iraque, as malformações aumentaram em 600% e a incidência de cancro em 1000%!), não deixem de ver esta animação (atenção: as imagens são chocantes!).

Para mais informação, visite o site de Michael Moore.
E amanhã será a mega-manifestação anti-Bush...

Vigília Não ao abuso sexual de crianças

Dia 19 de Novembro de 2003, dia proposto para ser consagrado como o Dia Mundial Contra o Abuso Sexual, viverá uma Vigília de apoio às vítimas e sobreviventes de abuso sexual, a partir das 22 horas nos jardins fronteiros ao Palácio de Belém, com a participação de várias das personalidades e especialistas presentes em Lisboa para a Conferência Internacional sobre o assunto que decorre dias 18 e 19 (Aula Magna, Lisboa).

Não ao abuso sexual de crianças

Porta aberta aos casamentos 'gay'

O Estado do Massachusetts (EUA) tem 180 dias para criar um novo quadro legal para os casais homossexuais, depois de o Supremo Tribunal ter decidido ontem, por quatro votos contra três, que «negar a um indivíduo as protecções, benefícios e obrigações do casamento civil, somente porque essa
pessoa se vai casar com outra do mesmo sexo, viola a Constituição».

A decisão põe fim a um processo interposto por sete casais gay contra o Departamento de Saúde Pública, em 2001, por lhes terem sido negadas licenças de casamento. A opinião agora prevalecente é a de que os legisladores vão tornar legais as uniões civis de casais homossexuais, que lhes dão praticamente os mesmos direitos e deveres que os casais heterossexuais - ao mesmo tempo que introduzem uma emenda constitucional. Isto porque a Lei federal de Defesa do Casamento, assinada em 1996 por Bill Clinton, define-o
como a união entre um homem e uma mulher. A decisão de ontem é considerada como mais uma vitória pelos movimentos gay, a juntar à entronização pela igreja episcopal de Boston do bispo anglicano homossexual Gene Robinson e à remoção, pelo Supremo Tribunal Federal, de todas as leis estaduais contra a
sodomia. No entanto, a um ano de eleições gerais, o tema vai ser debatido nas campanhas de todos os Estados. O governador do Massachusetts, Mitt Romney, já afirmou que vetará qualquer lei que conceda licenças de casamento a homossexuais.

Manuel Ricardo Ferreira Correspondente em Nova Iorque

Anti versus Alter

O Público de hoje dedica uma página inteira (e logo a segunda) à manifestação de recepção a Bush organizada pelos alternativos. Ou seja, para um encontro civilizado de activistas de toda a Europa, durante 3 dias, onde se discutiam essencialmente propostas concretas para um outro mundo ser possível, o Público ocupou uns míseros 3 quartos de página, refundidos no interior do Jornal. Quando a coisa passa a ser uma mega-manifestação anti-Bush (reparem, não é anti-Americana, é claramente anti-Bush e anti-falcões), tem direito a primeiras páginas antes das manifestações acontecerem.

Antes diziam que éramos demasiado anti; passamos a ser mais alter. Mas na prática, um encontro de alter-mundialistas é muito menos mediático que uma manif anti-Bush. A deixarmo-nos levar pela tentação mercantilista da coisa, o melhor é investir nas acções tipo anti (partir umas coisitas e apanhar alguma sarrafada da polícia de choque) brutalmente mediáticas e esquecer as acções construtivas e positivas completamente ignoradas pela imprensa.

Mas nós acreditamos realmente que outro mundo é possível.....
As manifs são apenas o braço armado da alterglobalização, que é essenciamente o somatório de todos os projectos alternativos que já estão a acontecer um pouco por todo o lado (capital de optimismo) e as utopias que ainda estão por concretizar (capital de esperança). Comércio Justo, Microcrédito, Economia solidária, Software livre, Educação Popular, Conservação e sustentabilidade, Anti-racismo, Justiça fiscal, Paz, Medicamentos genéricos para todos, Reforma das instituções internacionais, Abulição do proteccionismo, Abulição da dívida dos países em desenvolvimento (e muito mais) são o verdadeiro capital de projectos e ideias que constituem o alterglobalização.

Hecatombe

Ontem o camarada Ferro disse que o deslize orçamental era uma Hecatombe. Como um dos directamente afectados pelas austeridades deste governo de direita (portanto, a minha reacção negativa ao governo é puramente egoísta, sem sequer uns pózinhos de altruísmo ou uns pedacinhos de solidariedade; nã, é mesmo um assunto profundamente pessoal), fico evidentemente revoltado pela sua hipocrisia, achando que a política preconizada é desastrosa, calamitosa, contra-producente, mentecapta, insensata e insana, que o défice galopante é ultrajante, deprimente, degradante, aviltante e terrível, reflexo dessa mesma política manhosa. Mas daí a ser uma hecatombe? Um sacrifício de 100 bois (ou na melhor das hipóteses de 100 vítimas)?
As hecatombes eram encomendadas pelos imperadores Romanos para festejar grandes conquistas militares, a paz com os seus inimigos ou mesmo celebrar a morte de alguém ilustre; a centena de bois era sacrificada a um deus romano. Mas era em geral uma ocasião festiva, o que é exactamente o contrário do défice chegar aos 5%....

Ao mesmo tempo, Scolari interpreta os apupos à selecção nacional como um reflexo da crise, um sinal de descontento para com a política do governo. Apesar de duvidar desta interpretação, seria interessante que todos os Portugueses começassem a actuar desse modo: para onde quer que Durão fosse, as assobiadelas furiosas seriam o sinal do nosso descontentamento. Passem a palavra!!!!

Conservação das espécies

Mais de 12000 espécies estão ameaçadas em todo o mundo; se relativamente ao aquecimento global ou ao buraco de ozono as provas não são ainda concludentes, a extinção das espécies é um facto inegável. Desde os saudosos mamutes (os malandros dos nossos antepassados caçaram-nos em demasia), passando pelos dodots (apesar de ser uma ave com uma carne absolutamente infecta para o gosto humano, o dodot foi dizimado pelos suínos, que tinham por hábito pequeno-almoçar pequenas crias deste passarão), e acabando no Tigre da Tasmânia (caçado até à sua extinção já no séc. XX).



Mas estes são os exemplos fofinhos; porque milhares de plantas e insectos desapareceram pela destruição do seu habitat. Todos os anos, milhões de hectares de floresta são cortados, milhões de hectares de habitats naturais são convertidos em terra agrícola, milhares de hectares de lagos são assoreados, milhares de rios são interrompidos e contaminados, milhares de hectares de pastagens naturais são convertidas em cidades ou exploradas em demasia... a voracidade económica não se compadece com os valores naturais, que são vistos como um empecilho ao desenvolvimento e progresso económico. Mas, como se pode confirmar aqui, essa atitude é no mínimo suicida. É que por muito que os gurus da economia digam que não, nós fazemos parte do ecossistema global a que chamamos terra, e nos ecossistemas, todos os seres estão intimamente ligados: o destino a que condenamos milhares de espécies neste planeta será em última análise o nosso destino. Já tivemos atitudes igualmente estúpidas no passado, como na Ilha da Páscoa:

Como demónios podia uma sociedade tomar uma decisão tão nitidamente desastrosa como cortar todas as árvores de que dependiam?

É que a conservação não é uma mariquice ecológica do mundo civilizado; a conservação é a única forma de assegurar o nosso futuro. Sozinhos, neste planeta, sem mais nenhuma plantinha, animal ou mesmo um bolorzinho, estamos quilhados.

Ferreira Leite

"Ferreira Leite: Banco de Portugal confirma que política do Governo está correcta" in Público

É impressionante a falta de Ética do jornalismo nos dias que correm. Já atinge as primeiras páginas.
Com esta evidente campanha de desinformação, rápidamente voltaremos a ser o "oasis da Europa".
(ainda somos? estão-me ali a fazer sinais... pois pois... ok ok)
Bom senhores jornalistas do Público, gostaria que me explicassem desde quando é que a politica económica de um governo não está ligada à do seu banco central?

A Drª Ferreira Leite (ela é doutora não é? É preciso respeito) conseguiu fazer aquilo que há muito todos os portugueses desejavam mas tinham medo de lhe pedir: uma operação plástica (ao governo, claro está).
Esta operação plástica, ao que parece, define-se por duas estratégias:

1) o Primeiro Mí­nistro vem demonstrar através de patrocinio público ao lançamento de um livro que anda a estudar politica do sec XVII (afinal é aí­ que ainda estamos em matéria de investigação económica) e ensinar aos politicos que há decisões politicas. E que são díficeis mas é preciso toma-las (por exemplo o dinheiro tem mesmo de ser bem empregue: estádios de futebol, e não faculdades de medicina). E que é preciso aguentar o barco mesmo quando ele já afundou.

2) que a culpa é dos outros (logo a responsabilidade não é nossa, logo podemos continuar pelo mesmo caminho)

Obrigada Drª Ferreira Leite.

Entretanto no mesmo caminho, também segundo o Público, parece estar a educação. Enquanto Coimbra volta a fechar-se a cadeado, a Inspecção-Geral da Ciência e Ensino Superior detectou fraudes no sistema de acesso a bolsas para o ensino superior público, sendo que mais de metade das queixas feitas junto daquela instituição são relativas a má atribuição de bolsas, entre as quais atribuições de origem fraudulenta.

Resta-nos saber o que isto significa.

(só quem é cego é que não vê, que a culpa disto, também é dos outros)

(aliás, a culpa por definição é sempre dos outros, senão para que serviriam os advogados?)

terça-feira, novembro 18, 2003

Fórum Social do Algarve: nota de imprensa

O Fórum Social do Algarve, no decorrer da sua segunda assembleia, realizada na Casa de Cultura em Loulé, decidiu realizar um fórum público de discussão dos temas que preocupam os cidadãos e as associações algarvias que deliberaram congregar esforços e procurar uma maior intervenção cívica por parte dos cidadãos. Consciente do défice de participação, cada vez mais profundo que a sociedade apresenta, com temas tão importantes como a revisão do PROTAL a serem discutidos quase clandestinamente e em gabinetes técnicos, o FSA está a recolher contributos que permitam dinamizar a discussão pública em diversos eixos, nomeadamente:

- o desenvolvimento sustentável do Algarve;

- a globalização social e económica;

- o aprofundamento da democracia e da cidadania;

- a defesa e promoção da paz e da Solidariedade;

- a prestação de cuidados de saúde no Algarve.

As questões de funcionamento deste fórum regional, que congrega cerca de 40 organizações, entre associações cívicas, de desenvolvimento local, partidárias, do ambiente e culturais estiveram também na ordem de trabalhos. De forma a dinamizar as iniciativas e tornar mais eficaz a mobilização entre as associações apoiantes, foi alargado o grupo de contacto que passa a ser constituído por elementos representativos de associações de todas as zonas do Algarve.

No balanço das actividades entretanto desenvolvidas, destaca-se a área da educação, que realizou uma série de iniciativas como o Fórum da Educação. O Movimento “Algarve pela Paz” por sua vez. Desencadeou uma campanha contra a guerra e pela paz, que se traduziu em diversas manifestações de rua, mobilizou alguns milhares de cidadãos e suas organizações. Tratou-se de um movimento cívico, como há muito tempo não se verificava no Algarve e com o qual o FSA se congratula e para o qual contribuiu.

Para além de uma iniciativa global que envolva diversos temas de discussão, o FSA elegeu ainda como prioridade a problemática da saúde devido à preocupação suscitada pelas declaradas intenções oficiais de substituir o Hospital Distrital de Faro por um Hospital Central a instalar no Parque das Cidades que em nada virá melhorar a prestação de cuidados de saúde nem a quem reside no Algarve nem a quem aqui passa férias.

A questão do turismo, enquanto actividade económica principal da região, designadamente quanto às anunciadas “Áreas de Protecção Turística” que significarão uma alteração pronunciada do ordenamento do território com profundos impactos no sector, no ambiente e na estratégia de desenvolvimento regional é outra das questões sobre a qual o FSA entende ser necessária uma ampla discussão pública e uma tomada de posição sem tibiezas.


Nota: retirado do n.º 80 de Vez e Voz, uma publicação da Animar, edição de Março/Julho 2003.

Academia, direitos humanos e igualdade

A Associação Académica de Coimbra vai entrar em novo processo eleitoral, num momento de contestação estudantil em torno da questão do financiamento do ensino superior.

Esta tem provocado "alarido" na nossa sociedade a partir de um discurso demasiado centrado nas questões das "propinas". Acreditamos que o papel da Associação Académica de Coimbra na universidade, e na cidade, é e deve ser mais amplo.

São muitas as questões que se colocam hoje na sociedade portuguesa, para as quais, e nas quais, a Associação Académica de Coimbra e a academia coimbrã deverão intervir, promovendo diferentes acções e políticas públicas.

Algumas dessas questões encontraram-se fora, infelizmente, das agendas dos dirigentes das instituições académicas. Aparentemente, voltarão a estar longe da ribalta nas agendas das listas concorrentes ao próximo acto eleitoral. Poderão estar nos programas das diferentes listas, mas perder-se-ão nos milhares de papéis, e poucas ideias, que serão distribuídos na universidade nas próximas semanas!

Dentro dos temas esquecidos, destacamos os Direitos Humanos e a Igualdade, que nem como "flores na lapela", ou "discursos para encher" são (ab)usados por parte das listas candidatas.

Qual o papel da Associação Académica de Coimbra - e da Universidade de Coimbra - na promoção e defesa dos Direitos Humanos? Ou qual o seu papel enquanto agente promotor de Igualdade entre todos/as os/as cidadãos/cidadãs? E como luta contra as diferentes formas de discriminação?

Já é tempo da agenda da Associação Académica de Coimbra ser mais equilibrada e, por isso, mais interventiva e atenta a algumas questões relativas aos Direitos Humanos e à Igualdade.

Afirmam diversos estudos estatísticos, relativos à frequência universitária, uma feminização do ensino superior. Mas que têm feito a AAC e a academia coimbrã para promoção de igualdade entre mulheres e homens? Para quando a exigência e promoção da participação cidadã das mulheres na governação democrática e na gestão da Universidade, ou na Associação Académica, por exemplo, através da existência de órgãos paritários nos diversos órgãos de gestão e na AAC? Para quando acções que realmente promovam uma igualdade de facto, longe dos discursos e práticas sexistas a que estamos habituados na sociedade?

A sexualidade há muito que deixou os "foros privados da opressão" e passou a "coisa pública", fruto de ser fonte de discriminação e de "desigualdade" de facto no acesso à felicidade. Que tem feito - e que irá fazer - a AAC para combater a homofobia, a discriminação dos estudantes homossexuais presente no quotidiano universitário? E que faz a AAC na promoção de uma sexualidade livre, informada, aberta e respeitadora das diferenças?

Fazem-se campanhas de distribuição de preservativos, que são uma boa ideia! Devem no entanto ser enquadradas em processos de (in)formação da comunidade académica para uma sexualidade saudável, livre e solta de preconceitos.

Fruto da sua história e tradições - e de acções desenvolvidas nos últimos anos -, a Universidade de Coimbra exerce uma forte atracção sobre estudantes de diferentes nacionalidades, de diferentes culturas, nomeadamente da Europa, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e do Brasil.

Este cosmopolitismo aparente esconde, no entanto, um pouco investimento na promoção da multi-culturalidade na academia, ou em campanhas anti-racistas e contra a xenofobia.

Existem reais situações de racismo e xenofobia na nossa academia, que exigem a intervenção de todos, nomeadamente dos dirigentes académicos para a sua resolução.

Comemorações à parte - diz-se que 2003 é o Ano Europeu da Pessoa Com Deficiência - como se pensa, e age na integração do cidadão/dã deficiente na academia coimbrã?

Como se pensam as questões relacionadas com o estudante deficiente, como os acessos a edifícios, à informação e à sinalética - pois, apesar de algumas mudanças, muito há ainda a fazer!

Muito há a fazer na promoção activa dos Direitos Humanos e Igualdade, a aplicar todo o ano, como veículos de transformação da sociedade.

É tempo por isso que a AAC assuma o seu papel nesses temas! E o período eleitoral pode marcar a diferença!


Nota: texto publicado no jornal universitário de Coimbra A Cabra e assinado por João Barroso Martins (presidente da Mesa da Assembleia Geral da associação juvenil não te prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais) e Paulo Jorge Vieira (presidente da Direcção da mesma associação)