A Associação Académica de Coimbra vai entrar em novo processo eleitoral, num momento de contestação estudantil em torno da questão do financiamento do ensino superior.
Esta tem provocado "alarido" na nossa sociedade a partir de um discurso demasiado centrado nas questões das "propinas". Acreditamos que o papel da Associação Académica de Coimbra na universidade, e na cidade, é e deve ser mais amplo.
São muitas as questões que se colocam hoje na sociedade portuguesa, para as quais, e nas quais, a Associação Académica de Coimbra e a academia coimbrã deverão intervir, promovendo diferentes acções e políticas públicas.
Algumas dessas questões encontraram-se fora, infelizmente, das agendas dos dirigentes das instituições académicas. Aparentemente, voltarão a estar longe da ribalta nas agendas das listas concorrentes ao próximo acto eleitoral. Poderão estar nos programas das diferentes listas, mas perder-se-ão nos milhares de papéis, e poucas ideias, que serão distribuídos na universidade nas próximas semanas!
Dentro dos temas esquecidos, destacamos os Direitos Humanos e a Igualdade, que nem como "flores na lapela", ou "discursos para encher" são (ab)usados por parte das listas candidatas.
Qual o papel da Associação Académica de Coimbra - e da Universidade de Coimbra - na promoção e defesa dos Direitos Humanos? Ou qual o seu papel enquanto agente promotor de Igualdade entre todos/as os/as cidadãos/cidadãs? E como luta contra as diferentes formas de discriminação?
Já é tempo da agenda da Associação Académica de Coimbra ser mais equilibrada e, por isso, mais interventiva e atenta a algumas questões relativas aos Direitos Humanos e à Igualdade.
Afirmam diversos estudos estatísticos, relativos à frequência universitária, uma feminização do ensino superior. Mas que têm feito a AAC e a academia coimbrã para promoção de igualdade entre mulheres e homens? Para quando a exigência e promoção da participação cidadã das mulheres na governação democrática e na gestão da Universidade, ou na Associação Académica, por exemplo, através da existência de órgãos paritários nos diversos órgãos de gestão e na AAC? Para quando acções que realmente promovam uma igualdade de facto, longe dos discursos e práticas sexistas a que estamos habituados na sociedade?
A sexualidade há muito que deixou os "foros privados da opressão" e passou a "coisa pública", fruto de ser fonte de discriminação e de "desigualdade" de facto no acesso à felicidade. Que tem feito - e que irá fazer - a AAC para combater a homofobia, a discriminação dos estudantes homossexuais presente no quotidiano universitário? E que faz a AAC na promoção de uma sexualidade livre, informada, aberta e respeitadora das diferenças?
Fazem-se campanhas de distribuição de preservativos, que são uma boa ideia! Devem no entanto ser enquadradas em processos de (in)formação da comunidade académica para uma sexualidade saudável, livre e solta de preconceitos.
Fruto da sua história e tradições - e de acções desenvolvidas nos últimos anos -, a Universidade de Coimbra exerce uma forte atracção sobre estudantes de diferentes nacionalidades, de diferentes culturas, nomeadamente da Europa, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e do Brasil.
Este cosmopolitismo aparente esconde, no entanto, um pouco investimento na promoção da multi-culturalidade na academia, ou em campanhas anti-racistas e contra a xenofobia.
Existem reais situações de racismo e xenofobia na nossa academia, que exigem a intervenção de todos, nomeadamente dos dirigentes académicos para a sua resolução.
Comemorações à parte - diz-se que 2003 é o Ano Europeu da Pessoa Com Deficiência - como se pensa, e age na integração do cidadão/dã deficiente na academia coimbrã?
Como se pensam as questões relacionadas com o estudante deficiente, como os acessos a edifícios, à informação e à sinalética - pois, apesar de algumas mudanças, muito há ainda a fazer!
Muito há a fazer na promoção activa dos Direitos Humanos e Igualdade, a aplicar todo o ano, como veículos de transformação da sociedade.
É tempo por isso que a AAC assuma o seu papel nesses temas! E o período eleitoral pode marcar a diferença!
Nota: texto publicado no jornal universitário de Coimbra A Cabra e assinado por João Barroso Martins (presidente da Mesa da Assembleia Geral da associação juvenil não te prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais) e Paulo Jorge Vieira (presidente da Direcção da mesma associação)
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