sexta-feira, novembro 21, 2003

A propósito de cadeados... I

Primeiro vamos entender-nos. Não votei em nenhum dos partidos que sustentam o actual Governo, não concordo com algumas medidas e opções políticas que tem tomado nem com muitas práticas administrativas que tem seguido.
Por outro lado não estou engajado em nenhum partido político, sentindo-me à vontade para julgar o que é bom e o que é mau, na prática política, apenas e somente pelos ditames da minha consciência cívica.
Detesto o maniqueísmo, sobretudo quando aplicado à política e o conceito do “quanto pior melhor” que os partidos na oposição, todos eles, aplicam à política dos que estão no governo.
E posto este preâmbulo, passemos ao assunto da crónica.

A vaga das escolas fechadas a cadeado parece estar a avassalar o país, desde o 1º ciclo às universidades.
Tudo é pretexto: um professor que falta, uma sala que mete água, uma mudança de local ou de horários, a não concordância com medidas legalmente tomadas e implementadas.
Paralelamente e consequentemente criou-se a figura política de greve, numa clara apropriação do termo, que não do sentido, de uma forma de reivindicação laboral.
A falta colectiva às aulas não passa disso mesmo; respeitem-se ao menos na linguagem os direitos dos trabalhadores...

A greve laboral, a verdadeira greve, opõe os que trabalham aos que lucram com o seu trabalho, os patrões, sejam eles singulares, colectivos ou institucionais. É uma forma, por vezes a única, com que os trabalhadores contam para melhorar as suas condições de trabalho, prejudicando economicamente o patronato..
Quando os alunos de uma escola, seja ela básica ou superior, faltam colectivamente às aulas não estão a prejudicar ninguém a não ser eles próprios!
Os professores e funcionários continuam a ganhar o mesmo, apenas com menos trabalho...
Numa teorização mais académica do que real, poder-se-á dizer que a “greve” irá prejudicar o futuro capital intelectual do país, mas esse capital, em última análise, serão os próprios estudantes!

As manifestações estudantis têm toda a razão de existir e podem até ser saudáveis em termos sociais, mas não se podem fazer com as aulas em funcionamento. Daí a falta colectiva, a que a palavra greve dá maior expressividade.
Mas continuo a pensar que a César se deve dar o que é dele...
Já quanto aos famigerados cadeados o problema é outro. Situando-me no ensino superior, universidades e politécnicos, onde os media dão maior relevo aos acontecimentos, considero ilegal e mesmo imoral o fecho das portas de uma instituição que é de todos os que a frequentam, professores, funcionários e alunos que não adiram às manifestações.

Martins dos Santos
Lisboa, 15 de Novembro de 2003

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