domingo, novembro 23, 2003

Era uma vez um saci...

Reza a lenda que "viola não afina". Hoje, com novos instrumentos e músicos, isso virou mais "causo" para contar do que verdade universal. Dizem também que violeiro mais conta "causo" do que toca... Quando se apresentam, eles gostam de falar das simpatias para que os dedos fiquem ágeis, ou das várias formas de pactuar com o diabo para tocar bem, levando pinga junto com a viola até uma encruzilhada, em noite de lua cheia. E se, mesmo assim, o show não for bom, é porque "pintou" saci, pois ele sempre bagunça tudo. São histórias que trazem para a arte uma dimensão de fantasia e ritual que sempre esteve muito presente no universo caipira.

Mas quando se pergunta se fizeram o pacto... "Fiz e não fiz", responde Paulo Freire, que em seu disco Rio Abaixo conta uma versão para o tal encontro. Já Renato Andrade diz que não sabe se fez ou não, pois, como relata no livro Música Caipira: Da Roça ao Rodeio, de Rosa Nepomuceno, em pleno vôo com o capeta, exclamou um nome de santa, por causa da vista bonita, e o diabo o largou. Mas, no texto que acompanha sua música Renato e o Satanás (A Viola e Minha Gente), conta que, no inferno, ouviu o diabo tentando imitá-lo no "ponteado rápido" da viola. E Roberto Corrêa acrescenta: "Eu sempre digo que, além daqueles que precisam fazer o pacto, existem os que já nascem com o dom!" Seja como for, muitos deles merecem ser ouvidos.

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