quinta-feira, julho 31, 2003

A nossa democracia representativa

Pelos vistos, a Maria Elisa está no Parlamento a contra-gosto. Visto que ainda por cima ela tem emprego certo cá fora, era preferível que saísse a ter que mentir - não tenho dúvida de que o povo que a elegeu acabará por a compreender. Quanto à substituição destes arrependidos, sugiro que se crie uma lista de cidadãos independentes que tenham estado no seu passado envolvidos em associações cívicas várias - afinal, quem tem interesse em melhorar as coisas encontra muito que fazer a todos os níveis, e essa experiência constituir-se-á numa mais-valia uma vez integrada/o na discussão mor do melhor rumo a seguir pelo País - a Assembleia. A juntar a esse envolvimento na sociedade civil estariam capacidades que pudessem ser aproveitadas nas discussões parlamentares – aqui estava a pensar em ocupar as centenas de doutorados desempregados deste país, mas aceito que uma vida de experiência em determinado sector possa ser igualmente importante. Em todo o caso, e mormente porque muitos dos desempregados são esses tais que acumularam experiência que de repente é colocada na prateleira, friso que a condição essencial seria a de estar desempregado. Dessa lista seriam retirados, por ordem, substitutos para preencher desistências de todas as cores partidárias, evitando a tentação de esquemas internos. Evitar-se-iam, também, casos como o do Ribeiro Cristóvão, que tanta falta faz ao desporto radiofónico, e que vai ter que penar o aborrecido e nada escaldante Verão parlamentar para substituir alguém que oh valha-me deus combate a fadiga com dois empregos.

mpf
depois das eleições (nos USA como em Portugal)


News Release Issued by the International Secretariat of Amnesty International

AI INDEX: AMR 51/104/2003 18 July 2003

USA: It is time for the legal limbo to end


The possibility of the US administration suspending legal proceedings against UK nationals held in
Guantánamo Bay raises more questions than it answers, Amnesty International said today, while
reiterating its absolute opposition to the USA's proposals for trials by military commissions.

"Suspending legal proceedings against people whose legal rights have already been suspended for
over a year would leave a continuing legal limbo," Amnesty International said.

On 3 July 2003, the Pentagon announced that President Bush had named six foreign nationals -
currently in US custody - as the first people to be subject to the Military Order he signed in November
2001 providing for indefinite detention without charge or trial of people suspected of involvement
in "international terrorism" or trial by military commissions. These executive bodies will have
the power to hand down death sentences against which there would be no right of appeal to any court.
It emerged that two of the named prisoners were UK nationals, Moazzam Begg and Feroz Abbasi,
causing huge concern in the United Kingdom.

No charges have yet been levelled against any of the six detainees, and no military commissions
appointed.

"We call on the US government not just to suspend its plans for military commissions, but to rule
out such unfair trials altogether, once and for all," Amnesty International said. "We stress that
such proceedings should not just be ruled out in the case of UK nationals, but for any of the
hundreds of foreign nationals held in US custody in Guantánamo Bay, in Bagram Air Base, and in
undisclosed locations around the world."

Amnesty International repeated its call for all those held in US custody to be given access to
legal counsel and to be able to challenge the lawfulness of their detention in a court of law. If
suspected of crimes, they should be charged with recognizably criminal offences and brought to trial
within a reasonable time, in proceedings which fully meet international standards for fair trial
and without recourse to the death penalty, or else they should be released.

Yesterday, President Bush said of the Guantánamo detainees that "the only thing I know for certain
is that these are bad people".

"By once again showing utter disregard for the presumption of innocence, President Bush has shown
why justice will neither be done nor be seen to be done if the trials by military commissions go
ahead," Amnesty International stressed, pointing out that the executive, led by President Bush,
completely controls the commissions and takes the final decision on any verdicts handed down,
including on whether a condemned defendant lives or dies.

"It is time for this legal limbo to end, and for the USA to admit it took a wrong turning with the
November 2001 Military Order," Amnesty International continued. "International security is best
served by full adherence to international law and respect for fundamental human rights standards".


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Guantánamo Bay: Urge the USA to guarantee fair trials for all! Take action by visiting
http://amnesty-news.c.tclk.net/maabheaaaZkMtbdz3MVb/

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International.

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Inês Meneses - ines_meneses@yahoo.co.uk
as guerras....

VIGÍLIA DA AMNISTIA INTERNACIONAL EM FRENTE À EMBAIXADA DO CHILE

Dia 1 de Agosto às 18h

O navio escola chileno "Esmeralda" está a realizar uma viagem de "boa vontade", através do mundo.

No "Esmeralda" foram torturadas centenas de pessoas, algumas até à morte, a seguir ao golpe de Estado de Augusto Pinochet.

Uma das vítimas foi o Padre católico Michael Woodward, torturado até à morte.

O "Esmeralda" é o cartão de visita itinerante do Chile, embora tenha sido um barco da morte e nem sequer tenha mudado de nome. É lamentável que seja usado como "embaixada" chilena.

O Reino Unido, a Espanha, os Países Baixos e a Suécia impediram a sua entrada nas suas águas territoriais. Embora Portugal não constasse do seu percurso, fundeou em Ponta Delgada, Açores, a 30 de Julho de 2003.

A Amnistia Internacional – Secção Portuguesa (AISP) lamenta profundamente que lhe tenha sido dado autorização de entrada em Portugal, tanto mais que actualmente se verificam acções de alguns sectores chilenos no sentido da obstrução da justiça.

Para chamar a atenção para os crimes contra a humanidade cometidos no Chile e para a impunidade de muitos torturadores, a AISP convoca uma vigília frente à Embaixada do Chile, no dia 1 de Agosto de 2003 às 18h, sita na Av. Miguel Bombarda, nº 5, 1º em Lisboa.

Contamos com a sua participação!

Um abraço,

Cláudia Pedra (Directora)
Amnistia Internacional - Secção Portuguesa

mailar

Agricultura Familiar

A Câmara de Gouveia e a Cooperativa Terra Preservada lançam a "Marca da Agricultura Familiar"

Na última Feira Mensal de Agricultura Familiar, realizada todos os últimos sábados de cada mês, foi apresentada ao público esta marca que vai ser utilizada em selos, etiquetas e sacos que serão disponibilizados pelos agricultores que cumpram as normas estabelecidas pela Cooperativa Terra Preservada. Esta Cooperativa presta apoio técnico aos agricultores ajudando-os a garantir a qualidade dos seus produtos.

A Câmara Municipal de Gouveia em parceria com a Cooperativa Terra Preservada têm trabalhado no sentido de prestigiar a agricultura familiar, para que os pequenos agricultores possam vender mais e a melhores preços aumentando assim os seus rendimentos.

A qualidade desta agricultura está garantida, porque é realizada em pequena escala e principalmente para autoconsumo: os agricultores alimentam-se dos mesmos produtos que vendem.

A agricultura familiar assume uma grande importância social dado que é sobretudo praticada por pessoas idosas do sexo feminino, com baixos rendimentos, para quem os proveitos desta agricultura assumem uma grande importância.

Nota meteorológica

Com 42º à sombra, é necessário reflectirmos sobre a origem do nosso sofrimento: já que morremos de calor, ao menos que tenhamos consciência do fenómeno. Pior que o calor, só mesmo a ignorância de saber porque nos acontece isto; até os condenados à guilhotina tinham mais sorte que nós: eles pelo menos sabiam porque é as suas cabeças iriam rolar inexoravelmente. Para sairmos das grilhetas da ignorância, nada como falarmos com os especialistas. Neste caso, duas perguntas afloram as nossas mentes conturbadas pelo calor: porque é que agora estamos com mais de 40º enquanto que na semana passada as temperaturas estavam amenas (se se lembrarem, também não havia nuvens)? porque é que o sol tem umas cores mais estranhas (está bem, é menos interessante como pergunta mas justifica-se pelo interesse da resposta)?
1ª resposta - as temperaturas brutais que temos que suportar têm a ver com massas de ar quente que vêm directamente do Sahara. Acontece muitas vezes, mas na maior parte das vezes o ar é arrefecido ao atravessar uma parte do oceano Atlântico; quando isso não acontece (como é agora o caso), temos direito a cozer lentamente em banho maria nos nosso locais de trabalho.
2ª resposta - as cores manhosas do sol assim como a pouca visibilidade que temos hoje tem a ver com os biliões de minúsculas partículas de areia transportadas nessas massa de ar; a bem dizer o ar está sujo. A vantagem é que se quiserem um "recuerdo" do Sahara, tipo as tradicionais provetas com areia, basta andarem com um camaroeiro de malha muito fina (daqueles que se utilizam para apanhar plancton) na janela do carro durante umas horitas, que já deve dar para terem uma amostra jeitosa de areia; de certeza que vão fazer um figurão com a proveta repleta dos preciosos grãos de areia, e responderam de uma forma muito expedita ao apelo do estado: "vá para fora cá dentro"; neste caso, é o deserto que vem até nós, poupando-nos centenas de quilómetros de canseiras, despesas e hotéis manhosos. Boas férias!

PP

PS - de certeza que depois de iluminados pelo conhecimento encaram a canícula de uma forma completamente diferente.....afinal, não é todos os dias que temos o Sahara ao alcance da mão!!
Feira do Girassol - Flores e Agricultura Biológica

Girassol biológico

O Campo vem Cidade, dia 3 de Agosto, no Jardim de S. Pedro de Alcântara
no Bairro Alto.

Inserido numa programação mais vasta de animação urbana do Bairro Alto,
norteada pelo objectivo de atrair ao Bairro uma diversidade de públicos,
a CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA está a promover, com o apoio da AGROBIO -
Associação Portuguesa de Agricultura Biológica, uma feira mensal de
Flores e Agricultura Biológica, a ter lugar nos 1ºs domingos de Agosto e Setembro no jardim de São Pedro de Alcântara, entre as 10.00h e as 17.00h.

Assim, vimos convidar a população a visitar-nos no próximo dia 3 onde encontrará, entre outros produtos, hortaliças, frutas, vinhos, cereais, azeite, etc produzidos em Agricultura Biológica, isto é, sem pesticidas e sem adubos químicos de síntese.

Viva o seu bairro. Faça as suas compras à porta de casa. Aproveite o passeio e forneça à sua família produtos saudáveis dos agricultores que vêm até à cidade procurar o seu contacto.

quarta-feira, julho 30, 2003

s i m ,  t e n h o   b u é s  p r e o c u p a ç  õ e s ! ! !








"There are many reasons for objecting to war on Iraq. The most compelling reasons for me are pragmatic - bombing Afghanistan did not make the world a safer place; many thousands of innocent people were killed in the war (see here for numbers) and a terrorist response to irresponsible imperialism by Western powers is more, not less, likely as a result. The same is true of Iraq. "

Adam Nieman
Para além da Esquerda e da Direita (a propósito da praia)..

Confesso que depois de ter lido "a praia" de José Neves fiquei um bocadinho a nadar em seco......é muito à frente para os meus neurónios. Não sou tão mauzinho como o Diabinho da blogosfera, mas não me identifico puto com o que escreveu José Neves... Aliás, não percebo metade da coisa. Se calhar apenas um dia de praia atrofia as ideias; só com muitos dias de sol é que se atinge a profundidade de "a praia". Fica aqui o apontamento, para que o Mexia não fique a pensar que no FSP estamos todos de acordo ácerca de tudo. Acrescento mais um grãozinho de polémica: não me preocupa muito a "via" optada; sou um bocado indiferente ao sistema político que cada um defende; como dizia Vale de Almeida numa crónica excelente, não tenho problema nenhum em aceitar uma social democracia ou mesmo o liberalismo como modelos globais. O que me preocupa é a dimensão humana dessa globalização. Se a redistribuição da riqueza fôr eficaz e se os factores de injustiça da globalização forem eliminados, não tenho problema nenhum em aceitar modelos supostamente mais à direita. A lista é extensa, mas a perdão da dívida do 3º Mundo, o fim do proteccionismo dos países ricos (como a ignóbil PAC, por exemplo), a ética aplicada às relações comerciais (não importar produtos que resultem da exploração), o fim dos monopólios, o fim da chantagem feita aos países mais pobres por organizações como o FMI, a implementação de práticas ecologicamente sustentáveis, são algumas medidas muito concretas que podem melhorar a vida de milhões de seres humanos e que podem ser tomadas no enquadramento político actual (está bem, acabar com o FMI é difícil; que tal substitui-lo pelo Fundo Social Internacional ou uma coisa parecida?). O atributo mais importante da alter-globalização será a substituição do "lucro" pelo "ser humano" como resultado final na equação global. E muita gente de direita estará de acordo com esta inversão de prioridades (uma está de certeza, que é a minha mãezinha, supostamente de direita, mas completamente de acordo com estas ideias de "esquerda"). Quanto a mim, o problema não reside no modelo mas sim no objectivo final que nos propomos atingir. É caso para dizer que não interessam os meios para atingir os fins; e se o Lula conseguir que cada Brasileiro tenha as sua refeições diárias, até pode escolher a Social Democracia para pôr o plano em marcha, que não deixarei de estar completamente de acordo com esta medida......

PP
ESPERE

Escrevo-vos para divulgar a ideia promovida por ESPERE, esperando que vocês tenham disponibilidade para apoiá-la.

ESPERE significa Environmental Science Published for Everybody Round the Earth.
O objectivo é de divulgar o conhecimento cientifico sobre a ambiente, termo muito generalista para definir a parte do mundo com a qual temos de viver. Por exemplo, uma mudança climática afectaria cada pessoa na sua vida quotidiana. Se houver influência das actividades humanas no clima, é dever da sociedade humana controlar esta influência, e serão os políticos a ter a responsabilidade de mudar a organização da sociedade. Mas os políticos são reféns de pressões económicas, não podendo enfrentar o problema da mudança climática. Os últimos insucessos das iniciativas internacionais (protocolo de Quioto, World Summit of Sustainable development in Johannesburg ) para controlar o uso das riquezas naturais provam isso claramente.
Então a responsabilidade está agora na mão dos cidadãos, que devem pressionar os políticos a tomar em consideração mais seriamente a relação entre actividades humanas e o ambiente. Mas para isso, os cidadãos têm de perceber que eles tem o poder de dar opiniões sobre este assunto. Os cientistas podem ajudar na formação popular divulgando o conhecimento, explicando os riscos e as incertezas, a uma maioria da população.

A ideia de ESPERE é a de divulgar o conhecimento cientifico sobre a ambiente duma maneira exacta mas inteligível, em muitas línguas, através da Internet para começar.

Quais são os meios:
a vontade de cientistas de dar um pouco do seur tempo para escrever artigos científicos sobre os últimos conhecimentos nas áreas de especialidade, numa linguagem acessível a todos;
o apoio de institutos de investigação no projecto;
a grande interacção entre cientistas e professores de escola, educadores e formadores;
a contribuição de tradutores para disponibilizar a informação no máximo de línguas possível;
a divulgação dos artigos escritos a não-especialistas para receber comentários na forma e questões no fundo;
o apoio da EU para financiar projectos ao nível local e continental;

Um sítio Internet já existe para apresentar a ideia de ESPERE;
. Podem ver que a língua portuguesa ainda não está disponível, embora e uma língua importante no mundo.

Existe também um sitio para o projeito ESPERE-ENC;
É o primeiro projecto submetido por ESPERE e parceiros e aceite pela EU, para desenvolver uma enciclopédia sobre o clima para ser usada nas escolas em mais de 7 línguas.

Hoje, o que é preciso é divulgar a ideia de ESPERE em Portugal, procurar apoios, encontrar voluntários para traduzir a enciclopédia em português, convencer cientistas a escrever artigos numa linguagem acessível a todos, que não-especialistas leiam estes artigos e dêem comentários e criticas.

As pessoas interessadas pelo projecto ESPERE podem enviar uma resposta para mim:
telias@uevora.pt. Podem também falar com Elmar Uherek, o principal dinamizador do projecto: uherek@mpch-mainz.mpg.de.

As minhas mais sinceras saudações,

Thierry Elias.

terça-feira, julho 29, 2003

Human rights watch diz que “Os senhores da Guerra” do Afeganistão voltam a dar cartas….

Nova Iorque, a 29 de Julho de 2003

Os senhores da Guerra afegãos e os homens fortes do Governo, apoiados pelos Estados Unidos e outras nações, estão a engendrar um clima de medo no Afeganistão que ameaça directamente a adopção de uma nova constituição e pode fazer descarrilar as eleições nacionais agendadas para meados de 2004 (ver relatório completo da Human Rights Watch publicado hoje).

O relatório avisa que a violência, a intimidação política, e os ataques a mulheres e raparigas estão a desencorajar a participação política e a pôr em perigo os progressos obtidos nos direitos das mulheres ao longo do ano passado.

“No Afeganistão, a violação dos direitos humanos está a ser cometida por homens armados e senhores da guerra que chegaram ao poder com o apoio dos Estados Unidos e os seus parceiros de coligação depois dos Taliban terem sido derrotados em 2001” disse Brad Adams. “Estes homens tomaram o controlo do país (excepto em Kabul). Faltando menos de um ano para as eleições democráticas, a situação do Afeganistão relativa aos direitos humanos parece degradar-se”.

Na página 101 do relatório "Killing You Is a Very Easy Thing for Us":
Entre as violações dos direitos humanos no Sudoeste do Afeganistão, consta: (1) rapto indiscriminado de pessoas (para obter pagamento de um resgate) pelo exército e pela polícia, mantendo estas pessoas em prisões (não oficiais); (2) arrombar casas e roubar famílias inteiras; (3) violação de mulheres, raparigas e rapazes; (4) extorsão de donos de lojas, autocarros, camiões e taxistas. O relatório refere ainda que há políticos, jornalistas e editores de “media” ameaçados de morte, presos ou assediados pelo exército, polícia e agentes da “inteligência”.

Como os soldados têm alvejado mulheres e raparigas, muitas têm ficado dentro de casa, principalmente nas zonas mais rurais, tornando impossível que frequentem a escola, trabalhem ou que participem activamente na reconstrução do país. Em muitos sítios, a violação dos direitos humanos tem levado as famílias Afegãs a impedirem as raparigas de irem à Escola. A atmosfera de violência, associada ao ressurgimento do fundamentalismo religioso um pouco por todo o lado, tem deteriorado a mais importante melhoria observada após a queda dos Taliban – a possibilidade das raparigas poderem ir à Escola.

“O facto é que a maioria das raparigas Afegãs ainda não vão à Escola”, diz Adams. “Em muitos casos, as famílias refugiadas que voltaram do Paquistão ou do Irão (onde as raparigas iam à Escola) têm agora medo de enviar as raparigas para a Escola.”
O testemunho de vítimas e dos observadores implica soldados e polícias sob o comado de muitos militares de alta-patente e dirigentes políticos no Afeganistão. Entre estes últimos estão o ministro da defesa Mohammad Qasim Fahim, o dirigente militar da região Este Hazrat Ali, o Ministro da Educação Younis Qanooni, O ex-presidente do Afeganistão Burhanuddin Rabbani e o poderoso ex-líder Mujahidin Abdul Rabb al-Rasul Sayyaf, a quem muitos dos oficiais envolvidos nos abusos relatados permanecem leais.

O relatório pede que o Governo Afegão pressione e afaste os lideres envolvidos nos abusos e que peça ajuda internacional para levar esta tarefa a bom termo.
A Human Rights Watch pediu aos Estados Unidos, Inglaterra, Irão, Rússia e outras potências estrangeiras para terminar com o apoio até agora dado aos homens fortes e comandantes envolvidos na violação de direitos humanos relatadas.
“O apoios externo aos senhores da guerra está a destabilizar o Afeganistão”, diz Adams. “Os Estados Unidos e a Inglaterra, em particular, têm que decidir se continuam a apoiar os senhores da Guerra ou se ficam definitivamente do lado do Presidente Karzai e outros reformadores. Quanto mais esperarem, mais difícil será desalapar os senhores da guerra da rocha do poder”

Artigo completo aqui.

Traduzido mal e porcamente por PP (o que interessa é a mensagem…).
Arrábida

Quem não viu a Arrábida, ainda não viu nada......


"Só quando o Homem abater a última árvore,
contaminar o último ribeiro e matar o último peixe
é que perceberá que o dinheiro não serve para comer."
Provérbio Mohawk



Uma Enciclopédia de Invenções Sociais

O grande obstáculo que o FSP enfrenta, como já se viu, é a resistência à mudança, à inovação. E devo dizer que desse pecado sofrem todos, os que estiveram dentro e os que se quedaram fora. Aliás, o FSP só foi deturpado por muitos porque não houve “material” de dentro que se impusesse. Em boa verdade, muito do que desejávamos que tivesse acontecido não aconteceu. Tudo bem, foi o primeiro, e sem dúvida será possível melhorar consideravelmente os seguintes.

Na minha humilde opinião, o FSP enfermou de duas faltas maiores (as tentativas de domínio dos partidos foram absolutamente patéticas, e parece-me sobretudo bizarro que se continue a debater qual deles teve mais pontos numa guerra em que nenhum pontuou, pelo que passo a ignorá-los). Uma falta foi sem dúvida não ter abrangido um maior número de associações, cobrindo uma maior área geográfica e um maior leque de interesses; a outra falta foi justamente aquilo por que nos queremos distinguir - a inovação na alternativa possível. A primeira das faltas irá sendo colmatada, mas a segunda é mais problemática. A verdade é que já se deveriam ter instituído no 1º FSP muitas pequenas práticas que, aliás, foram ensaiadas em plenários nacionais de preparação: a oferta de uma bolsa de dormidas/boleias para quem chegava de fora de Lisboa, a utilização de papel reciclado, o consumo de produtos do comércio justo, etc. Falhou afinal nós levarmos à prática muito daquilo que defendemos: mais ideias e mais prática precisam-se!

Nos anos 50 houve um inglês, de seu nome Clavell Blount, que conseguiu convencer um ministro a levar ao parlamento um debate com o título “Ideias em acção”. Mais tarde escreveria um livro com o mesmo título onde defendia que se deveriam fazer todos os esforços e mais algum para recolher (e atender) ideias e sugestões do cidadão comum. Dizia ele que chegámos a um ponto (anos 50 em Inglaterra) onde só temos duas alternativas: ou acreditamos que o melhor é deixar o nosso destino nas mãos dumas quantas “master minds” que decidirão como deve prosseguir a vida social e industrial do nosso país, ou antes acreditamos que o nosso problema “nacional” pode ser desmantelado em pequenos e manuseáveis problemas que o cidadão comum deve ser incentivado a identificar e resolver com conhecimento de causa. Nos anos setenta um outro caramelo, George Fairweather sugeria que os tradicionais processos revolucionários e protestos não-violentos seriam insuficientes para induzir as transformações sociais que se adivinhavam imprescindíveis. Por essa altura tivemos nós uma revolução semi-tradicional que obteve (afinal) grandes resultados. Mas tenhamos em atenção (1) que o estado onde tinha chegado a sociedade portuguesa não poderia ser mais baixo, e (2) que neste momento já conseguimos assumir que não houve uma verdadeira revolução de mentalidades, e que afinal estamos a sofrer dos mesmos males re-inventados. Aliás, isto lembra-me posturas de muitos jornalistas que participaram no FSP (e que infelizmente se calaram depois) que se clamam mais amordaçados – ainda que por poderes diferentes – que no passado...

Bom, mas falava eu no senhor Fairweather, que já nessa altura sugeria que a solução passaria por um incremento do envolvimento cívico em associações que pudessem debelar problemas antes que estes se transformem em crises: "Experimental social innovation transcends revolution because it creates continous problem-solving social change". E é assim que eu vejo o FSP: uma incubadora da mudança social. O caminho parece-me que terá que ser a tal transformação do mal-estar nacional/mundial nos vários males de que sofre a nação/planeta, e o incentivo à produção individual de ideias que as associações possam levar à prática.

Convido-vos a visitar um sítio na net chamado The Global Ideias Bank. Segundo o site, “uma inovação ou invenção social é um novo e criativo modo de abordar um problema social ou de melhorar a qualidade de vida. Ao contrário das invenções tecnológicas, as invenções sociais são geralmente serviços e não produtos; também ao contrário das invenções tecnológicas, não estão necessariamente associadas a custos financeiros.” Esta Enciclopédia de Invenções Sociais é constituída por contribuições (ideias) doadas pelo cidadão comum. Este pormenor é importante se atendermos a que as invenções sociais que mais pesam sobre a nossa vida foram “inventadas” fora do meio em que depois são aplicadas...

As ideias contidas no site são muitas, convido-vos a ir espreitá-las e regressar aqui com a que acharem mais interessante. Algumas são bizarras, como a do homem que acha que tem uma mãe tão boa, tão boa, que achou que deveria partilhá-la com aqueles que não foram abençoados com a mãe ideal (leiloou “um dia de conversa na net com a mãe”, e pelos vistos os filhos carentes eram mais que as mães...). Mas há outras que podem ser levadas a sério - de facto a maioria são experiências testadas localmente* -, como a de constituir um bairro em acções, incentivando os moradores (donos das acções) a melhorar a respectiva qualidade de vida. E que tal soa a ideia de empréstimos que só podem ser gastos no pequeno comércio? Autocarros urbanos com suporte para transporte de bicicletas? Ou a recolha de telemóveis em segunda mão, os quais são oferecidos a vítimas de violência doméstica (o telefone é re-programado para aceder directamente a associações de apoio à vítima, e as chamadas são oferecidas pelo gigante telefónico do sítio). Etc. São ideias que podem mudar os mundos.

mpf

Bibliografia:
Blount, C. 1962 Ideas Into Action. Clair Press, Londres
Fairweather, G. 1972 'Social Change: the Challenge to Survival. General Learning Press, New Jersey
Conger, S. 1974 Social Inventions. Information Canada, Ottawa, Canada

*”Mobility” é uma organização suiça de partilha de carros que inclui cerca de 40.000 membros e 1.500 veículos – aparentemente, na Suiça não é necessário que cada cidadão possua o seu próprio automóvel. Aparentemente, muitos cidadãos suíços optam por partilhar carros, seguros, manutenção... Também por isso eles são ricos e respiram bons ares...

Nota botânica VI

Quercus pyrenaica

O Carvalho negral tem como curiosidade inicial o seu próprio nome: o epípeto específico "pyrenaica" é fruto de um erro, já que este carvalho não aparece nos Pirinéus. Mas os botânicos erram (mesmo que raramente), essa é que é a triste verdade, e o nome científico que este carvalho ostenta é prova disso mesmo (como acontece com o Quercus canariensis que nunca viu os seus genes a espraiarem-se pelas Canárias.....). Adiante.


Folhas de carvalho negral

O carvalho negral é endémico Ibérico, aparecendo em Portugal em praticamente todos os maciços montanhosos de natureza granítica, dominando a norte do Tejo, mas aparecendo também a sul deste rio (por exemplo em São Mamede e Monfurado). Na Serra de Sintra uma forma bizarra (anã) deste carvalho aparece junto à praia da Ursa, nunca crescendo mais que 2 metros. Este comportamente fora do normal deve-se à conjugação dos requerimentos ecológicos do Carvalho negral (clima susceptível ao seu crescimento; substrato granítico) com o efeito abrasivo dos ventos marinhos carregados de sal, que inpedem o crescimento do carvalho. Em Lafões, o Q. pyrenaica tem outro nome popular, que reflecte o carinho que o povo lhe devota: Carvalha.


Carvalho-negral

É assim chamado, porque quando atinge a maioridade (umas centenas de anos), a carvalha é uma árvore portentosa, com maiores dimensões que o seu parente "carvalho" (Quercus robur, carvalho alvarinho), do qual se distingue por ter folhas cobertas de um veludo esbranquiçado nas folhas e maior profundidade no recorte das mesmas. O povo dá-lhe nome femenino, para poder abarcar numa só palavra toda a majestosidade desta árvore magnífica.


Desenho das folhas e bolotas do carvalho negral

Ao contrário dos Estados Unidos, onde numa floresta podem coexistir mais de uma dezena de espécies, os carvalhos Europeus dominam muitas vezes as florestas onde se encontram (por isso chamamos "carvalhais" às florestas de carvalhos); este fenómeno está provavelmente relacionado com as glaciações que na Europa isolaram durante tempo suficiente muitas terras e penínsulas. Com a Península Ibérica isolada, algumas espécies de carvalhos originaram-se e desenvolveram-se, distanciando-se rapidamente dos seus primos Europeus. Este é o caso do Quercus pyrenaica, carvalho negral ou carvalha.

PP
Um mundo que já não convence

Eric Toussaint, entrevistado por
Bernard Demonty a 29/08/2002


Os jovens que fizeram o FMI terminar mais cedo sua reunião de Praga se opõem à globalização neoliberal, a uma economia de lucro. Não sei se é possível falar num novo maio de 68. Mas penso que o movimento é massivo, e não é moda passageira.

Le Soir: Você participou das reuniões preparatórias das manifestações de Praga, além de militar contra instituições cotra o FMI e o Banco Mundial. Quais são as reivindicações dos manifestantes?

Eric Toussiant: Não há uma reivindicação única. Há geralmente alguns grandes temas em torno dos quais se mobilizam os manifestantes. Entre eles, figura uma hostilidade ao FMI e ao Banco Mundial. Mas há diferenças -- alguns são favoráveis a uma supressão pura e simples destas duas instituições, outros pensam que é preciso reformá-las. A anulação da dívida do Terceiro Mundo constitui igualmente um motivo de mobilização. Mas aí também há diferenças entre os manifestantes: alguns são a favor da anulação da dívida dos países mais pobres (África subsaariana, Bolívia, Nicarágua, Vietnã), outros querem estender esta abolição ao conjunto da dívida externa pública do Terceiro Mundo (Índia, Paquistão, Brasil, Indonésia, México inclusive)

Le Soir: Qual é o perfil dominante das pessoas que constituem o movimento?

Eric Toussiant: A composição dominante é uma geração de jovens entre 18 e 27 anos. É uma juventude que tem uma sensibilidade particular: ela vive desde seu nascimento num mundo onde "tudo está à venda". Estes jovens não conheceram o regime comunista, mas sabem por seus pais que ele existiu e não trouxe boas soluções. Eles não são mais influenciados por acontecimentos como o de maio de 68 ou a guerra do Vietname. Trata-se, portanto, de uma mobilização nova. Estes jovens vivem num mundo que não lhes convence. Eles querem um mundo onde o meio ambiente seja respeitado, onde os acordos Norte-Sul sejam igualitários e as instituições, democráticas. É por isso que contestam o FMI e o Banco Mundial. Eles avaliam que estas instituições não são democráticas, e contestam certos efeitos da globalização econômica.

Le Soir: Eles rejeitam o movimento de globalização? Em outras palavras, estes militantes merecem o qualificativo de "anti-globalização" com o qual são relacionados costumeiramente?

Eric Toussiant: Não. É um erro de qualificá-los desta maneira. O que eles querem é uma globalização não excludente, que satisfaça as necessidades fundamentais de cada um. Ao falar de "anti-globalização", tem-se a impressão que se trata de um fechamento sobre si mesmo, e este não é o caso de forma alguma. Não é um retorno identitário, nacionalista ou outro. Eles se opõem a uma globalização neoliberal, a uma economia de lucro.

Le Soir: Este movimento tem futuro, na sua opinião? Estamos assistindo ao nascimento de um pano de fundo que poderia assemelhar-se com o de maio de 68?

Eric Toussaint: É uma questão difícil de responder. Mas eu penso que este movimento é massivo e não se trata de algo conjuntural. Quando vejo a mobilização que vimos em Seattle em 1999, em Millau, com Bové, neste verão, e atualmente em Praga, creio que assistimos a um fenômeno que está para ficar. Este movimento começa suavemente a se definir e se reforça cada vez mais. Começa a haver uma coordenação, e diversas manifestações já estão previstas para o futuro. Em três grandes cidades do Terceiro Mundo acontecerão em breve três importantes reuniões alternativas à globalização neoliberal. Na Ásia, em Seul, de 17 a 20 de outubro; na África, em Dakar, de 11 a 17 de dezembro; e na América Latina, em Porto Alegre, de 25 a 30 de janeiro.

Le Soir: Mas o movimento conseguirá de fato se estruturar e obter avanços com as reivindicações, mesmo que estas sejam diferentes entre seus membros?

Eric Toussiant: Creio que sim. O fato de haver posições diferentes não me incomoda. Não é uma forma de fraqueza e sim uma garantia de pluralismo. Aliás, nós já tivemos avanços significativos em várias pautas. Veja o exemplo do Tributo Tobin, sobre os fluxos financeiros. Há alguns anos, seus oponentes a rejeitavam veementemente, sem explicação. Hoje, países como a Bélgica, França, Canadá e Noruega a discutem. Aqueles que disseram que ela não era viável devem se explicar agora. Com a anulação da dívida do Terceiro Mundo, avanços significativos serão igualmente realizados. Creio então que este movimento não pode ser ignorado, pois ele se amplia e começa a ter um forte poder de influência.
(Tradução: Beatriz Alvez Leandro)
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domingo, julho 27, 2003

Aviso aos navegantes

O CIDAC (Centro de Informação e Documentação Amílcar Cabral) reformulou a sua página na Internet, disponibilizando agora o acesso a algum do material produzido no âmbito da sua intervenção no FSP.

APP

sábado, julho 26, 2003

O lugar da História em perigo de extinção

Está aberta a subscrição para protestar contra o anunciado 'encerramento' da
rubrica da RTP 2 «O Lugar da História».
Este é o endereço da petição.

Pelos vistos o programa "Acontece" é o que se segue.
E que tal "encerrar" o Ministro ?!!!


A vantagem de não se ter um “documento final”
Chico Whitaker 14/03/2003


"A Carta de Princípios do Fórum reforça ainda mais essa perspectiva ao tratar da questão de eventuais “documentos finais”. Ainda que se conseguisse que não fossem redutores e simplificadores, como ocorre em geral com os “documentos finais”, o Fórum não os tem, enquanto Fórum. "

"O que ocorre é que uma praça não faz “declarações”. É evidente que aqueles que nela se encontram podem fazê-lo. Os participantes do Fórum Social Mundial podem fazer todas as declarações finais que quiserem – e é bom que as façam."

"Todo e qualquer documento ou declaração nele proposta será, assim, uma manifestação daqueles e somente daqueles que as subscreverem, livremente, sem pressões nem controles de tomadas de posição. Por isso mesmo a Carta do Fórum estabelece que declarações e propostas não podem ser votadas ou aclamadas pelos participantes do Fórum, enquanto manifestações do conjunto dos freqüentadores dessa “praça”. Na verdade, isto faria com que muitos se afastassem do espaço Fórum, por não aceitarem ou não estarem de acordo com líderes que estivessem ridiculamente pretendendo conduzi-los do alto de suas árvores ou colinas. "

"Esta opção adotada no Fórum foi aliás bem compreendida pelo grande número de participantes que afluíram, na última edição do Fórum em Porto Alegre, ao “Mural de Propostas de Ação adotadas durante o Fórum de 2003”. Além de abrirem espaço para que todos se exprimissem, as propostas e declarações finais trazidas a esse Mural – ou a ele enviados posteriormente - dão conta precisamente da riqueza e da diversidade dos engajamentos dos participantes."

"Como se a “praça” do Fórum passasse a ficar permanentemente aberta, estendendo-se tempo e espaço afora, muito mais amplamente do que no tempo e espaço limitados dos cinco dias de Porto Alegre. Apoiando-se agora nas enormes possibilidades abertas pela Internet, eles podem se transformar em mais contatos e mais ações concretas. O mesmo pode acontecer com “Murais de propostas” que sejam montados em outros eventos. "
O Fórum como espaço incubador de movimentos
Chico Whitaker 14/03/2003

A Carta de Princípios do Fórum vai bem longe na contraposição ao estabelecimento de qualquer tipo de direção ou liderança dentro dele: ninguém pode falar em nome do Fórum – não caberia falar em nome de um espaço - nem de seus participantes. Todos – pessoas e organizações - conservam seu direito de se exprimir e de atuar durante e posteriormente ao Fórum segundo suas convicções, assumindo ou não posições e propostas que tenham ou que sejam apresentadas por outros participantes, mas nunca em nome do Fórum e do conjunto de seus participantes.

Como as praças, o Fórum é um espaço aberto, como também especifica sua Carta de Princípios. Mas não é um espaço neutro, como as praças públicas. Ele se abre de tempos em tempos e em diferentes lugares do mundo - nos eventos que o concretizam - com um objetivo específico: permitir que o máximo possível de pessoas, organizações e movimentos que se opõem ao neoliberalismo possam se encontrar livremente, escutar uns aos outros, aprender com as experiências e lutas de outros, discutir propostas de ação, articular-se em novas redes e organizações que visem superar o atual processo de globalização dominado pelas grandes corporações internacionais e pelos interesses financeiros. Ele é portanto um espaço criado para servir a um objetivo comum a todos que a ele afluem, que funciona horizontalmente como uma praça pública, sem líderes nem pirâmides de poder em seu interior. Todos os que vêm para o Fórum se dispõem a aceitar essa perspectiva – por isso mesmo se estabelece que para entrar nessa “praça” é preciso estar de acordo com sua Carta de Princípios.

De fato o Fórum funciona como uma “fábrica de idéias”, ou uma incubadora, da qual se espera que surja o máximo possível de novas iniciativas visando a construção do outro mundo que todos consideram possível, necessário e urgente. Ou seja, espera-se que nele nasçam muitos e muitos movimentos, maiores e menores, mais e menos combativos, cada um com seus objetivos específicos, para cumprirem seus papeis na mesma luta para cujo desenvolvimento a praça foi aberta.

Na verdade, a maior potencialidade do Fórum-espaço é exatamente esta: a de fazer surgir movimentos que ampliam a luta. Quando de um movimento nascem novos movimentos, eles surgem a contragosto, como resultado de divisões internas a ele. E isto é o que ocorreria se o Fórum se transformasse em movimento.

Os objetivos dessas novas iniciativas, por sua vez, não precisam ser todos claros e precisos, diferentemente também do que ocorre nos movimentos. Alguns podem até estar sendo ainda intuídos - aquecidos na incubadora – exigindo tempo para amadurecerem.

Por outro lado, aceita-se no Fórum que cada um se empenhe com maior ou menor fervor na luta comum, segundo a etapa em que se encontre na sua própria caminhada de engajamento na luta da humanidade por outro mundo. Enquanto que, num movimento, há uma natural cobrança mútua entre seus participantes.

sexta-feira, julho 25, 2003

Da edição de 25 de Julho do Jornal do Fundão, retiro (parte d)a seguinte notícia, assinada por Júlio Freches:

Beira Interior: 554 ofertas para 13 mil desempregados

Nos seis centros de emprego da Beira Interior, no final de Abril, estavam inscritos 13.087 desempregados, dos quais cerca de 1.400 procuravam o primeiro emprego. Os mesmos serviços dispunham de 554 ofertas de emprego que não conseguiam preencher devido às distorções estruturais do mercado de emprego. Relativamente ao mês anterior o aumento do desemprego nesta sub-região não foi significativo, mantendo-se o centro da Covilhã como o que registava maior número de desempregados (4.619) e de ofertas (174).
No entanto, no mesmo período, a região Centro registava um aumento de mais de 30%, o segundo maior em todo o País, a seguir à Região Autónoma da Madeira, onde o aumento foi acima dos 38%. Os centros com maior número de desempregados inscritos eram os de Aveiro (8.600), Coimbra (7.780) e Viseu (7.404).
Os pedidos de desempregados, segundo dados do IEFP, aumentaram mais de 26% em relação a Abril de 2002 e de 0,6% face a Março deste ano. O aumento do desemprego incidiu sobretudo nos homens (mais 34%) e nos jovens (superior a 28%), afectando significativamente candidatos habilitados com cursos superiores e ensino secundário. As ofertas de emprego em todos os centros do país totalizavam 9.858, denunciando um acréscimo de 8% relativamente ao mês anterior, mas uma diminuição de 6% ao período homólogo do ano anterior. (...).

APP
Mais uma pista (artigo completo aqui)....

Notas para o debate sobre o Fórum Social Mundial II

Chico Whitaker 14/03/2003

O que diferencia movimentos e “espaços”

"Um movimento congrega pessoas – seus militantes, como os militantes dos partidos – que decidem se organizar para realizar, coletivamente, determinados objetivos. Sua formação e existência implica portanto na definição de estratégias para alcançar esses objetivos, na formulação de programas de ação e na distribuição de responsabilidades entre seus membros - entre as quais as de direção do movimento. Quem assume essa função liderará os militantes do movimento, levando-os – com autoritarismo ou com métodos democráticos, segundo a escolha que tenham feito os formadores do movimento - a cumprir a parte que cabe a cada um nessa ação coletiva. Sua estrutura organizativa é portanto necessariamente piramidal, por mais democrático e participativo que seja o processo decisório interno ao movimento e a maneira de escolher os que ocuparão os diferentes níveis de direção que uma pirâmide sempre comporta. E sua eficácia dependerá da clareza e precisão de seus objetivos específicos, e portanto da sua própria limitação, no tempo e no espaço.

Um espaço não tem lideres. Ele é só um lugar, fundamentalmente horizontal, como o é a superfície da terra, ainda que podendo comportar altos e baixos. É como uma praça sem dono – se esta tiver um dono que não seja a própria coletividade deixa de ser uma praça e passa a ser um terreno particular. As praças são espaços em geral abertos que podem ser usados por todos os que encontram algum tipo de interesse em usá-los. Elas não têm outro objetivo senão o de serem praças, prestando o serviço que prestem àqueles que as utilizem. Quanto mais tempo durarem como praças, melhor para os que aproveitam o que elas oferecem para a realização de seus respectivos objetivos.

Por outro lado, mesmo que uma praça contenha árvores e pequenas colinas no seu interior, ela é sempre um espaço socialmente horizontal. Quem sobe nas árvores ou nas colinas não pode pretender, lá do alto, comandar tudo ou nem mesmo parte do que fazem os que se encontram na praça. O mínimo que lhes pode acontecer é serem ridicularizados por aqueles que estão pretendendo liderar. Ou, se forem muito insistentes e incômodos, ficarão falando sozinhos, com os demais freqüentadores da praça a abandonando – e podendo até voltar posteriormente com “autoridades públicas” que os façam sair ou parem de arengar de suas árvores e colinas, se estiverem perturbando a tranqüilidade que deve caracterizar as praças públicas. "
Mais uma pista (artigo completo aqui)....

Notas para o debate sobre o Fórum Social Mundial I

Chico Whitaker 14/03/2003


"A verdadeira questão a se colocar passa a ser então a seguinte: transformar o Fórum Social Mundial em um movimento, agora – ou não agora mas mais adiante, no avanço do processo - é uma boa estratégia para atingirmos o objetivo que une a todos que dele participam, isto é, a superação do neoliberalismo e a construção do “outro mundo possível”? Ou, em sentido inverso, é útil, para atingirmos esse objetivo, que possamos continuar contando – agora e ao longo do desenvolvimento do processo - com espaços como os que são abertos pelo Fórum Social Mundial?

De minha parte não tenho dúvidas de que é fundamental assegurar a qualquer custo a continuidade do Fórum enquanto espaço e não cedermos a nenhuma tentação de transformá-lo agora – ou mesmo mais tarde - em movimento. Se o mantivermos como espaço, ele não impedirá nem prejudicará – aliás, antes pelo contrário – a formação e o desenvolvimento de muitos movimentos. Mas se optarmos por transformá-lo em movimento, ele deixará necessariamente de ser um espaço, perdendo-se todas as potencialidades que têm os espaços.

Mais do que isso: se o fizermos, estaremos nós mesmos – sem necessitarmos da ajuda dos que combatemos... - jogando fora um poderoso instrumento de luta que fomos capazes de criar a partir da mais preciosa descoberta política dos últimos tempos: a força da articulação horizontal livre, que explica também tanto o sucesso de Porto Alegre como o de Seattle e o das manifestações de 15 de fevereiro contra a guerra. E não podemos deixar de considerar que se a articulação social horizontal ainda tem muito a contribuir para nossa atual luta, ela será necessária também no próprio processo de construção do mundo que queremos.

Esta certeza se fundamenta na análise das vantagens do atual caráter do Fórum como espaço sobre uma eventual condição de Fórum-movimento."

Uma surpresa desagradável - sobre a entrevista dada ao 'Público' por Ulisses Garrido

A entrevista que Ulisses Garrido deu ao Público no passado dia 20 de Julho irritou-me. Porquê? Porque o Garrido por palavras e actos, no decurso da preparação do Forum, sempre teve uma atitude diferente, não sectária. Não embarcou nos vários truques, golpes e habilidades com que alguns ao longo dos meses nos foram brindando, fazendo perder um tempo precioso. Ao ler as respostas do Ulisses, fico com a sensação (desagradável) de que ele está a enviar sinais de fumo, numa espécie de autocrítica muito comum nos sectários. Afirmar que a ruptura da manifestação foi culpa de todos é no mínimo confundir as situações, o que, longe de ajudar, só amplia as desconfianças. Todos quantos participaram nas mais de quinze longas horas de discussão, ao longo de três sessões, para se tentar conseguir o acordo sobre a ordem da manifestação, sabem que o PCP se recusou até ao fim a aceitar desfilar conjuntamente com os outros partidos no fim do cortejo, como se recusou até ao fim a indicar o lugar onde aceitaria manifestar-se. «Os nossos militantes gostam de se manifestar com a nossa bandeira e não os podemos impedir de se espalharem pela manifestação», afirmou o Ângelo Alves, membro do CC do PCP.

Este tipo de conversa sempre foi intolerável. Hoje, é absurda. Tudo isto se passou com a cumplicidade dos representantes da União de Sindicatos de Lisboa da CGTP. Só esta atitude determinou que um leque muito variado de organizações se reunissem para dar resposta a esta golpada, organizando uma manifestação separada. E foram estas organizações que convidaram todos os partidos (menos o PCP, naturalmente) a integrar o fim do nosso cortejo.

A este propósito, alcunhar as associações ecologistas de «fundamentalistas» porque não estiveram, nem estarão, de acordo com este tipo de práticas não é bonito e também não ajuda a resolver os problemas da desconfiança. Além de mais, o termo «fundamentalista» faz lembrar a linguagem do Império, a propósito de outras guerras.

Tomo nota ainda da receita do entrevistado para resolver o problema do «brilho das personalidades»: com mais personalidades. Não será de fazermos um esforço para trazermos mais associações, mais sindicatos, mais jovens, mais mulheres, mais imigrantes, e batermo-nos todos para que se respeitem os critérios que livremente aceitamos, dando um lugar de destaque aos jovens, às mulheres, e principalmente às vítimas do sistema, por exemplo, os desempregados?

Caro Garrido, não é necessário afirmares que o Fórum não é um movimento dos movimentos, só porque o Avante diz que não é. Não confundas o Avante com a Bíblia, mesmo em tempo de Congresso. A entrevista que deste, além de mais divisionista do que aquilo que o PC censura aos jornais, é um modelo acabado do remédio para afastar todos quantos não estão dispostos a aturar as práticas do sectarismo. Por isso uso esta via para te responder. Medita nesta questão em tempo de Congresso.

Um abraço,

Carlos Antunes


Mais uma pista de reflexão, esta sobre o FSM. O artigo completo de Danilo R. Streck pode ser lido aqui.

PP

”O Fórum não é apenas um evento anual, mas passou a ser um movimento que se realiza em muitos tempos e lugares. Existe um encontro anual (os três primeiros foram em Porto Alegre e o próximo será na Índia), mas seria uma compreensão demasiado limitadora restringir o Fórum a este encontro. O Fórum Social Mundial é, antes de tudo, a manifestação do povo em movimento...”

“O Fórum Social Mundial representa um pouco esta confluência de marchas de pessoas que acreditam que há outros mundos possíveis e viáveis.”

“Não seria exagerado referir-se a ele como um imenso catalisador de sonhos, um lugar onde se procura inspiração e propostas para refazer o presente a partir de “empréstimos” que se faz do futuro”

“A iminente invasão do Iraque por um exército liderado pelos Estados Unidos e pela Inglaterra levou às ruas de 528 grandes cidades milhões de pessoas que conclamavam as lideranças mundiais a buscarem solucionar os problemas mundiais por meios pacíficos. Essas manifestações se alimentam do mesmo “caldo político e cultural” do Fórum, um caldo que se origina das políticas excludentes e promotoras de desigualdade legitimadas por organismos internacionais não democráticos e pela acumulação de riquezas e de poder em alguns centros que passam a controlar o mundo com a lógica do mercado.”

“O Fórum Social Mundial não é e não pretende ser um mega-movimento social, com uma super-estrutura, uma agenda única e uma liderança centralizada. Tampouco pode ser identificado com um encontrão de protestadores globais.”

“A repercussão do Fórum Social Mundial tem a ver com esta participação massiva que faz com que ele penetre em diferentes segmentos e estratos da sociedade. De passagem por um pequeno município do interior do Estado do Rio Grande do Sul chamou atenção um artigo no jornal local sobre a participação de vereadores do município no Fórum. A reportagem fazia referência ao problema da soberania alimentar e ao tema da água como um bem comum da humanidade. É de se imaginar que, sem a presença no Fórum, dificilmente estes temas teriam chegado a este município, melhor ainda, chegado lá nos termos de uma problemática abrangente e internacional.”

“Um dos méritos de Fórum está nesta conquista da possibilidade de gerar agendas originadas na vida da sociedade e não simplesmente assumir os problemas definidos a partir da conjuntura econômica e dos humores do mercado. “Nosso propósito, dizia Bernard Cassen ao refletir sobre os objetivos da criação do Fórum Social Mundial, era mostrar que o encontro de Porto Alegre colocaria os interesses das sociedades, e não os da economia e das finanças, no posto de comando.”

Danilo R. Streck
Social-democracia de Esquerda

Como estamos num período de intervalo, onde o FSP está em banho maria, cá vai mais uma pista de reflexão. Esta é mais uma crónica de Miguel Vale de Almeida que pode ser encontrada aqui.

PP

"Social-democracia de Esquerda

Em Portugal (por causa da vitória da direita ) ou em França (por causa do susto LePen), a esquerda esperneia de aflição. Porquê? Porque, lá bem no íntimo, sente que tem culpas no cartório. Pouco importa qual a explicação (ou o bode expiatório): ora é a esquerda moderada que governa ao centro e se submete à globalização neo-liberal; ora é a “extrema”-esquerda que é sectária e divisionista; ora são os comunistas que não percebem em que mundo (já não) vivem. Explicações tão opostas e bodes de tão diferentes cores e pelagens não auguram nada de bom, a não ser a baralhação geral.

No campo do establishment, os funcionários do bom senso esfregam as mãos. José Manuel Fernandes, director do Público, compraze-se com as platitudes do costume: o problema da esquerda seria não perceber que o par democracia liberal / economia de mercado é a melhor coisa que há apesar dos seus defeitos. Esta postura a la Churchill dá imenso jeito: as coisas eventualmente melhorarão, mas até lá é bom que fiquem como estão.

Continuo a achar que ser de esquerda é, no fundo, achar que as coisas não devem ficar como estão; e que as coisas podem deixar de ser como são. Esta postura faz-me sentir desconfortável com duas posições correntes: desde logo, com a direita, et pour cause; e, depois, com grande parte da esquerda onde insisto em navegar, pela sua insistência em se recusar a pensar nas potencialidades do actual sistema, e pela casmurrice com a ideia utópica de transformação radical da sociedade e da economia.

Eu (e muitos outros, espero) embirro solenemente com o demissionismo fatalista do mainstream PS face à democracia liberal e à economia de mercado que temos; mas embirro tanto ou mais (porque se deve embirrar mais com os que nos são próximos, e ser mais exigentes em relação a eles) com a retórica utópica e revolucionária (mesmo quando congelada criogenicamente). Aqui vai, então, a bomba (ah, o meu fundo anarquista!): também acho que a democracia liberal é a coisa melhorzinha; também acho que a economia de mercado está mais próxima do comportamento económico das pessoas e sociedades do que de uma criação historicamente relativa chamada capitalismo.

Esperem, não me matem ainda. É que eu acho que não é nada disto que PSs e Fernandes dizem. Pela mesma razão que, em Portugal, o PSD usurpou indevidamente o termo “social-democracia” e o PS finge ter feito o trabalho de actualização de ideais socialistas que nunca teve. O que eu desejaria que a esquerda pensasse – e depois fizesse – é outra coisa. Primeiro: garantir que, em Portugal, a democracia liberal funciona; garantir que, em Portugal, a economia de mercado funciona. Em Portugal temos um travesti de democracia liberal mascarando o patriarcalismo e as cunhas; e dois ou três grandes grupos económicos, maus gestores e péssimos serviços. Segundo: batalhar para que a democracia liberal se aprofunde e multiplique em formas de cidadania mais completa em todos os sectores da vida: trabalho, família, ambiente, sexualidade, etc., e não se fique apenas pela ritualidade pobre do parlamentarismo; e batalhar para que a economia de mercado seja verdadeiramente regulada no sentido de garantir serviços públicos de qualidade, uma fiscalidade justa e uma redistribuição o mais equitativa possível (as social-democracias nórdicas confirmam que é possível acumular riqueza e ao mesmo tempo distribui-la).

Ora, isto, nem PSDs e PSs, por um lado, nem o PC, por outro, ou o Bloco (ainda por outro) dizem. Nas actuais circunstâncias, em que a esquerda está de pousio, talvez se devesse debater a sério estas questões: questões pragmáticas, questões tácticas e estratégicas, é certo, mas também questões ideológicas. O meu sonho era que, vindos do PS, do PC ou do Bloco, se juntassem (como tendências nos partidos, como think tanks, como partidos ou movimentos, pouco importa) pessoas que se assumissem como Sociais-Democratas de Esquerda – gente apostada na crítica feroz ao demissionismo centrista e oportunista, mas também farta da sobrevivência do vírus utópico-revolucionário (posso ser mauzinho e preconceituoso?: nem betos nem freaks).

Às vezes as coisas mudam não com novas e totais invenções, mas com recuperações de coisas antigas que se perderam. E uma delas é a social-democracia. A sério. De esquerda. Quem alinha?"


Miguel Vale de Almeida, 6 de Maio de 2002

Nota musical

A flauta de tamborileiro

Textos e fotografias - Extraído e adaptado do livro "Instrumentos Musicais Populares Portugueses", de Ernesto de Oliveira e Benjamim Pereira, Gulbenkian, 2000, por Paulo Pereira.


Virgílio Cristal com Tamboril e flauta; como se pode observar, o tamborileiro toca com a mão esquerda a flauta, apenas com os três primeiros dedos, enquanto a mão direita acompanha a melodia percutindo no tamboril.

Contexto social e musical da flauta de tamborileiro

As flautas, entre nós, são, na maioria dos casos, instrumentos de passatempo individual, que o homem do campo, e sobretudo o pastor, toca, sozinho, nas suas horas vagas. Mas, mesmo onde assim sucede, vemo-las por vezes figurar ao lado de certos conjuntos — gaiteiros trasmontanos, Zés-pereiras, etc. —, que podem até ter carácter cerimonial.
O tamboril e flauta, tocados por uma só pessoa, num conjunto instrumental unitário e coerente, é, em Portugal, uma forma rara e pouco representativa, que existia em duas regiões (Trás-os Montes e Alentejo) mas persistindo nos dias de hoje apenas em Trás-os Montes (em St Aleixo da Restauração, Alentejo, ainda resiste um tocador).
Os tamborileiros trasmontanos e alentejanos, são um conjunto de uma certa importância, incluso no plano cerimonial, onde a flauta é o instrumento melódico e preponderante. Por exemplo, em certas aldeias de Miranda, o tamborileiro mirandês figurava (do mesmo modo que a Gaita de Foles) com funções cerimoniais nas celebrações e nas ocasiões de baile da gente nova, onde o seu “rugir” secundava ou substituía o toque dos gaiteiros.


O Tamborileiro Virgílio Augusto Cristal a tocar na Eira para um grupo de bailadores.

Hoje em dia, os tocadores existentes não são mais que uma mão cheia deles; em Nisa, no II encontro de tocadores, o número de tocadores de flauta de tamborileiro triplicou.....

quinta-feira, julho 24, 2003

IA, meu

O IA, o novo instituto das artes, prepara-se para regulamentar os apoios à cultura; se por um lado, a tentativa de descentralizar as decisões é positiva, já os critérios de apoio deixam bastante a desejar. É que as críticas do governo à administração pública relativa às promoções por antiguidade e não por mérito são a antítese do que o Secretário de estado propôs hoje em Montemor. Na proposta de regulamentação, apenas as estruturas que recebem apoio há mais de 10 anos do MC é que podem candidatar-se a apoios do IA. Já houve uma alteração, e agora as estruturas que tenham um produtor ou programador há mais de 5 anos a trabalhar também podem concorrer. Mas claramente, quem anda nisto da cultura há mais anos é que pode contar com apoios; os outros, os que começam agora, terão que fazer a travessia do deserto antes de poder chegar ao estatuto de candidatável. E se ainda estivéssemos num país que fosse fácil trabalhar na área da cultura...mas não é esse o caso: neste ano de vacas magras, a primeira opção "dispensável" nos municípios para poupar umas migalhas foi o orçamento do pelouro da cultura.

Para reflectir:
  • 1ª pista - Na Europa gasta-se 1% do PIB em cultura; em Portugal não chega a 0,6%, e a maior parte do bolo não vai para as pessoas....

  • 2ª pista -Orçamento do IPAE para 2002 (todos os projectos da área da dança, música e teatro): 23 milhões de euros.

  • 3ª pista - Orçamento da casa da Música (estimativa actual, pois ainda não acabou): 90 milhões de euros.

  • 4ª pista - Neste momento, a maior parte das infra-estruturas culturais está às moscas por falta de verba para programação e salários.


  • 1º conclusão possível - Na cultura, gasta-se mais dinheiro em recursos materiais do que em recursos humanos (e se entrássemos aqui com os gastos do IPAR na recuperação de castelos, então a diferença seria abismal).

  • 2º conclusão possível - Para o desporto, com o Euro 2004 à porta, a mesma conclusão é inevitável.

  • 3ª conclusão possível - Na cultura e no desporto estamos todos à espera de alguma coisa para ver se sobram umas migalhinhas; na cultura, é que acabem a casa da música e no desporto que acabem os estádios de futebol.

  • 4ª conclusão possível - É um bocadinho hipócrita falar de descentralização quando a imensa fatia do bolo da cultura e do desporto ficam retidos no litoral e nos grandes centros urbanos (ex. CCB, casa da música, estádios de futebol). Definitivamente, hipotecámos o desenvolvimento do resto do país com este grandes investimentos localizados; se fizessemos uma justa distribuição dos dinheiros por todo o país, então nos próximos 10 anos os orçamentos da cultura e do desporto deveriam ir quase integralmente para o interior desquecido e ostracizado......


  • PP
    Nota botânica trágica

    Erva-Divina


    Armeria berlenguensis
    Dados recentes indicam que a Armeria berlenguensis, um dos supostos endemismos berlenguenses (espécie restrita à berlenga) afinal não é mais do que uma variante da sua congénere continental, a Armeria welwitschii; esta notícia bombástica chocou a comunidade científica portuguesa, que tinha elevado esta espécie à categoria de emblemática das "ilhas" berlengas. O presidente da Republica está a estudar o assunto; haverá certamente uma queixa dirigida a Bruxelas contra a perca de estatuto da dita planta. Não se brinca impunemente com os endemismos nacionais! não bastava terem mexido nas quotas e quererem meter a mão nos recursos marinhos, agora também se metem com os nossos endemismos? era o que mais faltava



    E o sossego da Berlenga...
    Curiosamente a frase relativa à Berlenga "A riqueza marinha, as escarpas e a o relativo sossego da Berlenga (sossego interrompido pelas gaivotas)" que vem daqui peca por defeito; aqui há uns anitos, as mais de 20000 ( e sei que chegaram a ser mais de 40000) gaivotas que defendiam encarniçadamente os seu território, estando nós, humanos, claramente a mais no ilhéu, faziam bem mais que interromper o sossego dos visitantes e estudiosos. Quem tinha que por força do trabalho atravessar a Berlenga em linha recta (eu fui um dos desgraçados), dava-se por abençoado de chegar ao fim da aventura inteiro: os vôos rasantes, a bombardear guano, numa gritaria infernal e contínua eram uma constante durante horas; neste confronto psicológico com a comunidade dominante da Berlenga, o Homem sai claramente a perder. Quem falar de sossego na Berlenga, mesmo que relativo, está a mentir com os dentes todos, ou então passou a sua estadia na Berlenga a mergulhar ou dentro de casa.


    Inocente Gaivota a fazer o ninho em cima de uma moita de Armerias.... (a legenda original diz "Um adulto atento ao que se passa em seu redor" o que não está longe da verdade: se alguém se aproximar deste "adulto atento" que provavelmente está a chocar, abilita-se a apanhar umas valentes bicadas atentas...)

    E os endemismos...
    No mesmo texto, mais adiante, escreve-se, relativamente aos endemismos Berlenguenses: "algumas únicas na terra (endémicas)." fica aqui o esclarecimento: da terra, até ver, todas as espécies são endémicas; uma espécie endémica, tem a sua distribuição restringida a uma determinada parcela de território. Se esse pedaço de terra for muito pequeno, tipo 1 hectar, então estamos perante um endemismo notável, raríssimo. Se a espécie só existir em Portugal, estamos perante um endemismo Português. Se existir apenas na Peninsula Ibérica, será um endemismo Ibérico. E assim por diante, até chegarmos aos limites conhecidos da geografia do nosso planeta. Em última análise, todas as espécies são endémicas terrestres.... a não ser que encontremos num planeta aqui perto uma outra Armeria welwitschii; aí é que havia razão formal para sairmos da CEE...

    PP

    quarta-feira, julho 23, 2003

    Linguística

    E a propósito das armas de destruição que para uns é maciça e outros massiva, colocando sempre um enorme dilema linguístico áqueles que se questionam, cá vai:



    A lagoa de Sherman

    Já que é tempo de férias, cá vai publicidade à  "Lagoa de Sherman", para ler de preferência na praia....

    Introdução: no aquário estava o peixinho vermelho do Ernest (peixe dos óculos)




    Ainda a guerra da desinformação

    Pronto, está tudo resolvido. Depois de um senador democrata resolver fazer 16 questões ao sr. Presidente, a casa Branca começou já solicitamente a responder à primeira: “1 – Quem é que pôs a menção ao Urânio empobrecido no seu discurso?”
    Afinal esta desinformação que ajudou a justificar a guerra do Iraque foi culpa de um assessor de Bush.
    Entretanto, na maior solidariedade transatlântica, as denúncias do malogrado Kelly ainda vão fazer rolar algumas cabeças. Parece que exageraram ao dizer que em 45 minutos Sadam podia pôr a ferro e fogo o resto do mundo (com as tais armas de destruição....).

    Espera aí, então se tudo foi um engano, o melhor é revogar a guerra, voltar atrás uns milhares de mortos e deslibertar o Iraque, já que desocupar até parece outra coisa.

    “Iraque – Ocupado (com letrinhas luminosas vermelhas). Volte mais tarde.”

    PP

    Uma possível razão para a guerra - Bush e o seu bando de pássaros maléficos:

    Para assinar uma petição a pedir a resposta para as 16 perguntas vá aqui.
    Nota botânica VI

    Plantas que se alimentam de poluição

    Actualmente estão recenseadas cerca de 400 espécies vegetais conhecidas pela sua capacidade de extrairdo solo substâncias ditas tóxicas, nomeadamente metais pesados. Algumas são já usadas para a pesquisa de jazidas minerais:
    - Uma árvore da Nova Caledónia, a Sebertia acuminata, pode conter no seu latex até 20% de níquel. A título de comparação, este metal torna-se tóxico para as outras plantas a partir de 0.005 a 0.01% de concentração em níquel.
    - Várias plantas originárias do Congo são conhecidas pela sua capacidade de acumular, em doses massivas, cobre e cobalto, como a Silene cobalticola, ou a Ascolepis metalorum.
    - As plantas do género Astralagus são conhecidas pela sua capacidade de armazenar selénio. Estas plantas foram usadas nos EUA para pesquisar urânio.
    - Outras espécies, como a Armeria maritima e o Thlapsi rotumdifolium podem acumular quantidades importantes de chumbo.


    Gingko biloba

    Citemos igualmente as plantas que sobreviveram a Hiroshima. A Ginkgo biloba é uma das mais conhecidas entre elas. Mas o Loureiro rosa, Nerium indicum, tornou-se no símbolo da cidade de Hiroshima, quando apenas um ano depois do bombardeamento atómico, foi a primeira planta a florescer.

    Traduzido do original francês em "Le Paysan Biologiste", nº 6 Junho de 2003

    MPF

    De certeza que o tal Urânio Africano que incriminou o Iraque veio disfarçado em milhentas plantinhas de Astragalus (parecido com o tremoço) e agora ninguém dá com ele; estes iraquianos são mesmo beras, implicando inocentes plantinhas nas suas tramóias de destruição global....
    Utilização subversiva - pelos vistos já foi levada a cabo......
    PP
    Caro Ulisses Garrido,

    Após ler a entrevista no Público de 20 de Julho, fiquei bastante surpreendido com algumas afirmações. Parece-me também uma visão bastante redutora e até ofensiva para vários movimentos a classificação de Sim ou Sopas (BE ou PCP) que dá o título à entrevista.

    Não vou discutir exaustivamente a entrevista, pois penso que há outros espaços onde pode ser levada tal discussão de uma forma bastante mais produtiva, nomeadamente ao longo do processo de construção do II Fórum Social Português.
    No entanto, não posso deixar passar a referência em tom de acusação às associações ambientalistas, pelo seu fundamentalismo face aos partidos.

    Antes de mais, é importante compreender o que está por detrás de uma tal posição de oposição à presença de partidos no Fórum Social Português, por parte do movimento ambientalista. O movimento ambientalista tem uma génese substancialmente diferente da maioria dos movimentos sociais. Nele surgem diversas correntes. Uns, mais virados para a conservação da Natureza, incluindo alguns movimentos provenientes da protecção de coutadas do séc. XVIII e XIX e cuja origem é claramente monárquica. Noutro espectro completamente diferente, surgem os ecologistas radicais que defendem o ambiente e abordam os seus problemas numa perspectiva mais política e social, e que muito frequentemente derivam de correntes marxistas e/ou anarquistas.
    Pelo meio não se podem esquecer os tecnocentristas, os institucionalistas, os os movimentos de libertação animal, os movimentos locais, etc. O movimento ambientalista é, assim, um movimento extremamente transversal, onde lado a
    lado se pode encontrar o Rei e o Plebeu.

    Ora, como podem estas organizações rever-se num Fórum onde apenas saem a público discussões sobre as uniões ou desuniões entre partidos de esquerda?
    Deve parte destas organizações ser excluída, por não se encaixar no conceito e nas ideias de esquerda que alguns parecem querer afixar ao Fórum Social Português? Naturalmente que não, pois todas estas organizações têm muito a que apontar o dedo no actual sistema e também elas querem contribuir para a construção de um mundo mais justo e sustentável.

    Surge assim de forma natural, sem quaisquer manipulações ou golpaças, esta oposição do movimento ambientalista à participação de partidos políticos no Fórum Social Português. Volto a frisar, no Fórum Social Português, espaço criado para dar voz aos movimentos sociais!

    Naturalmente (e felizmente, caso contrário não teríamos Fórum Social Português) concordo com muitas questões que referes na entrevista. Uma delas, a centralização de protagonismos, tem vindo a preocupar-me desde os primórdios do Fórum Social Português. No entanto, volto a discordar com a afirmação de que «precisamos de encontrar mais personalidades que dêem a cara pelo FSP». Não, esse não deve ser o caminho do Fórum Social Português. O Fórum Social Português tem que dar voz a desconhecidos, criar novas personalidades, caso contrário corre o risco de ser apenas mais um espaço de exibição de ideias pré-concebidas, como em grande medida se viu durante o I Fórum Social Português. Não, o Fórum tem que dar voz aos jovens, às
    mulheres, aos gays, às lésbicas, aos ciganos, aos imigrantes ilegais, aos ricos, aos pobres e a todos aqueles que a sociedade excluiu de falar. Todos em igualdade, todos sem mais, nem menos, protagonismos. As personalidades do Fórum Social Português somos e seremos todos nós, não aqueles que já o são na sociedade para a qual estamos a tentar construir a(s) alternativa(s).

    Especialmente preocupante foi a exclusão quase total dos jovens no I Fórum Social Português. Os jovens sempre foram e sempre serão os engenhos da mudanças. As minorias excluídas são a catapulta. Os outros não são mais do que alicerces que se devem deslocar ao som dos sibilos primaveris. O som da mudança, movido pelos jovens.

    Noutra parte da entrevista referes que a oposição ao Durão deveria ter sido mote da manifestação. Compreendo que a CGTP, veja no Durão um inimigo da classe trabalhadora, pelo seu fomento a políticas neoliberais, com a sua concretização nas recentes leis laborais. Não poderia estar mais solidário com a CGTP. Contudo, mais uma vez, tal mote seria um contra-senso ao espírito de diversidade do Fórum. O Fórum Social Português não deve ser visto como um espaço de oposição ao poder instalado, onde organizações se juntam para decidir reivindicações colectivas. O papel do Fórum deve ser o de construir o contra-poder e não de fazer uma batalha anti-poder. Deve procurar abrir caminho à construção conjunta de alternativas ao sistema económico vigente que está na origem da maioria dos problemas sociais e ambientais que os diversos movimentos sociais confrontam no dia a dia. O Fórum Social Português deve assumir-se como subsidiário do Fórum Social Mundial, procurando criar essas alternativas no panorama nacional e agindo como parte independente de um único movimento global alternativo.

    Finalmente, e como ainda não tive oportunidade de o fazer anteriormente, quero agradecer o teu valioso empenho na condução de muitas reuniões e assembleias do Fórum Social Português, com a certeza de que, na tua ausência, teria sido bastante difícil chegar a esse evento histórico que foi o I Fórum Social Português.

    Que a cooperação continue, a caminho do II Fórum Social Português!

    GBB

    terça-feira, julho 22, 2003

    A cultura: 3º eixo da globalização

    Parece que o Ministro da cultura Brasileiro e outros ex-MC da Europa deram um "grito de resistência de um lado ao outro do Atlântico, para superar fronteiras nacionais e dar centralidade à cultura, a nível internacional, como base da coexistência cívica, paz e progresso entre povos e nações". Com uma casa da Música que triplicou em termos de custo (parece que custa à volta de 18 milhões de contos)*, e a actividade cultural nacional a ser reduzida à sua mínima expressão, o apelo de Gilberto Gil, Carrilho, Lang e outros cai como mosca no mel. É caso para dizer "volta Carrilho, estás perdoado". Não sei como é que a coisa se vai concretizar, mas é uma boa ideia...vamos a ver na prática como é que resulta. Por mim, buga lá globalizar a cultura, com diversidade e qualidade, GiGi.

    PP

    * 'tou é a roer-me de inveja dos directores da casa da Música, com ordenados principescos e todas as mordomias...
    Já agora, um bocadinho de sangue.....

    Uma das principais motivações para participar no FSP é a visão global que podemos ter dos problemas mundiais, Europeus ou Nacionais. Por isso, o lema dos Fora sociais é “um outro mundo é possível”. Neste contexto, e no seguimento do que já aqui disse acerca da Política Agrícola Comum faz-me confusão que todos os partidos, incluindo os que mais activamente participaram no FSP, o PS, o BE e o PCP, defendam mais quotas e mais subsídios e mais etc. etc. etc. Sabendo que esta PAC é profundamente injusta para os países vizinhos da Europa, sabendo que esta PAC é também injusta na Europa e que uma pequena fatia do bolo chegava para manter a maior parte dos agricultores num possível período de transição, porque é que todos os partidos defendem mais quotas? A reforma da PAC deveria ser total, mantendo o essencial para que tenhamos um desenvolvimento sustentado, apostando naquilo em que cada país é diferente (nós no vinho, no azeite, na pêra rocha, na ameixa de Elvas, em alguns queijos, no porco preto e na vaca mertolenga e barrosã, na cortiça e outros produtos da floresta, talvez no linho; nunca na beterraba sacarina, no algodão, no milho ou no trigo, pleeeassse!) e reconvertendo uma parte importante do bolo da PAC para outras áreas possíveis de política comum, como a educação, a investigação, a cultura, o emprego, a saúde, as prestações sociais etc. Desmultiplicando o dinheiro de todos nós em campos de acção que não afectem negativamente os países à volta da Europa e melhorando efectivamente a vida dos Europeus, na esperança de um dia nivelar países como Portugal com o resto dos países Europeus. Porque é que o BE e o PCP querem ainda mais quotas e alinham nesta PAC? Porque é que não têm uma proposta alternativa mais radical? Porque é que o PS só se preocupa com as quotas de leite e de beterraba? Será que não têm consciência que o proteccionismo Europeu ( e Americano) está a condenar à morte e à pobreza milhares e milhares de pessoas por esse mundo fora? Onde é que está a coerência de defender um outro mundo possível e na assembleia da república defender um dos mecanismos que mais promove as desigualdades no mundo? Fico à espera de respostas, na esperança de me iluminarem os neurónios (ainda estou para ver se o Ulisses ainda diz que obedecemos ao PCP ou ao BE). Fica o desafio para tentarem justificar as respectivas posições.

    PP

    PS – Isto lembra-me o Alqueva, onde também todos estão de acordo.........
    Carta aberta a Ulisses Garrido
    Caro Ulisses,

    Li a tua interessante entrevista no Publico .
    Subscrevo muito do que nela dizes, e foi importante que tenhas dito algumas coisas que estavam por dizer .
    Não tenho dúvidas nenhumas de que a CGTP fez um enorme esforço para que não acontecesse o que sucedeu. Que foi mau!
    Tentaste ser Salomónico, e por isso, com esta salomização do forum social, afirmaste dois pontos em que não posso, de forma nenhuma, subscrever o que dizes:

    1- A tua referência a de que uns eram controlados pelo PCP, e outros pelo BE.
    Juro :) pela parte que nos toca, que a Opus gay não era ,nem por uns, nem por outros! Somos visceralmente desobedientes, e por isso, algo incómodos.
    Foi, aliás, por isso que houve uma ruptura visível, em pleno FSP, pelos que nos queriam controlar, liderados pelo GTH-PSR, integrante do BE , ainda que maquilhado com as outras organizações glbt, quando viram que não o conseguiam.
    Bem sei , que só uma andorinha , e gay, não faz a Primavera, mas, na verdade havia também um outro bando de andorinhas heteros , que não a conseguiram fazer, e esse foi o nosso erro, por inexperiência, e algum espanto com aquilo a que assistíamos, coisa que vamos seguramente, tentar emendar no processo de realização do próximo Fórum Social.
    Assim, a ideia que deixaste na entrevista, foi muito redutora, como se só houvesse estas duas obediências, e tudo reduzido aos Partidos. E pergunto-te, então, algo provocatoriamente: a qual dos dois blocos a CGTP pertence? PCP ou BE?
    Ou seria, no teu entender, a única organização independente de todo o FSP ?
    E as outras, seriam "desventuradas" orfãs de pai e mãe, partidário?
    Acho que o movimento social é mais do que isso, e quer sobretudo, sê-lo! E não duvido que haja, como se viu, quem o queira controlar, ou não queira que seja.

    2 - O outro ponto em que não estou de acordo contigo, é na questão do Fórum Social como um evento datado, exclusivamente datado durante uns determinados dias. Acho que ele deve ir sendo pensado como movimento de movimentos, de acordo, aliás, com o espírito do Fórum Mundial. Portanto, deverá ser o culminar de uma série de acontecimentos descentralizados, sobre vários temas que devemos levar à discussão do país. Dar a voz a quem não a tem, deve ser a nossa preocupação. E marcar uma nova agenda politica.
    Só assim surgem novas "personalidades que dêem a cara pelo FSP", de que muito precisamos, tal como dizes.

    3 - Fico muito satisfeito por saber que a CGTP dá o sinal que se vai empenhar no próximo Fórum Social. Qual a estratégia também?
    Não queremos que seja só, de novo, uma maratona de nomes para "brilharem" nas conferências, a ponto de se tirarem conferências quando não há nomes de consenso, ou inventarem nomes de conferências, para saírem com os nomes. Desmobiliza e desacredita! São os tais protagonismos que começam a ser insuportáveis, e nos são fatais!

    Creio que devíamos re-discutir tudo isto, pondo o mais possível, os partidos simpaticamente no limbo, sem hostilizações anti.
    Devemos, portanto, tod@s voltar à mesa de discussões, ainda antes de Setembro.
    Pela parte que nos, e me toca, como glbt, ou sem glbt, à frente, estou interessado nisso.

    AS
    Ulisses, Ulisses...

    Com que então,
    "No Fórum Social Português "Uns Eram Controlados pelo PCP e Os Outros pelo Bloco..."

    Também considero profundamente irritante esta insistência em ignorar (insultar?) os muitos participantes do FSP que são claramente independentes de estruturas partidárias e do perigoso BSS. No caso do Ulisses, que esteve de facto envolvido (positivamente, a meu ver) em todo o processo de construção do I FSP e que, portanto, conheceu muitos de nós de perto, considero de extrema má fé que continue a fazer afirmações deste teor. Felizmente é na mesma peça que o Ulisses se descai com esta fantástica e condescendente afirmação (relativamente à participação das associações ambientalistas):
    “Talvez possamos entender que havia um grupo mais PCP, um grupo mais BE e um terceiro grupo mais ecologista.”
    Ah, bom... então sempre há uns que se safam... Imagino que o problema, para o Ulisses, sejam aqueles que ele não sabe catalogar. Problema grave devem colocar, por exemplo, jogadores de bisca (duma qualquer associação de bairro) que não são ecologistas e que não votam porque estão fartos e acham que é tudo igual. Também eles desconhecem o Ulisses e recusam conhece-lo porque acham que sindicatos e partidos e políticos é tudo uma mesma coisa que não entendem, receiam, desprezam. O Ulisses tão pouco os entende, e finge que não existem. O FSP representa a grande oportunidade de estilhaçarmos todos os nossos preconceitos, mas é preciso dar-lhe tempo.

    Quanto ao PUBLICO, parece não ter mais nada que fazer que apurar quantos metros separavam os manifestantes. Um desfile, de manifestantes ou de marchas populares, implica a existência de pivots, eleitos ou espontâneos, que façam andar ou parar a marcha – ora esta situação é mais que permeável a manipulações: sabendo todo o mundo que os partidos disputavam o protagonismo entre si, facilmente se adivinhava que alguém boicotaria a coisa (nem me interessa saber quem, se querem saber, de certo todas as facções tentaram o seu melhor!). O surpreendente é que a Comunicação Social alinhe tão facilmente nestes pseudo-protagonismos bacocos, continuando a falar “na divisão dos manifestantes” como “o acontecimento” em si. A mesma coisa relativamente à Assembleia final: como se pode dar tanta importância à resposta a uma pergunta que obviamente não podia ter sido colocada? Refiro-me à existência dum segundo FSP: como poderiam quaisquer organizações proibir quaisquer outras (que podem nem ter estado presentes) de organizar um evento a que venham a chamar FSP II?? Porque é que é tão difícil aceitar que não é possível controlar (não, os partidos decididamente perderam!) um espaço que NÃO QUER ser/obedecer a agendas partidárias? É como pretender reter num frasco uma brisa que se receia se vá transformar em furacão...

    mpf

    segunda-feira, julho 21, 2003

    E eu, Ulisses??

    Ontem no Publico, Ulisses Garrido vaticinou que no FSP uns eram controlados pelo BE e outros pelo PCP.... e Eu, camarada Ulisses, sou controlado por quem? odeio esta sensação de orfandade que me arrebata neste momento.... é por estas e por outras que os partidos pura e simplesmente deveriam retirar-se do FSP. Enquanto as noticias gravitarem em torno dos partidos, o melhor é inventar outros centros de atração, tipo satelites artificiais ou alguma coisa parecida. A esta noticia hei-de voltar, quando tiver outra vez acentos.....

    PP

    PS - a ver se me faço militante de algum partido, para ver se me deixam participar no proximo FSP...

    Nota coevolutiva

    Danaus plerippus A borboleta monarca



    Alcança até 95 mm de envergadura. Seu vôo, geralmente, é baixo, em lugares abertos. Alimenta-se do néctar de pequenas flores. Tem hábitos migratórios e pode viver longos períodos em jejum. Os ovos são postos nos botões das flores ou sob as folhas da planta tóxica oficial-de-sala (Asclepias curassavica). Ao eclodirem, nascem lagartas de listas amarelas e pretas, que se alimentam das folhas dessa planta, tornando-se imunes, mesmo na forma adulta, a predadores, como pássaros; porém, continuam suscetíveis ao ataque de certas espécies de vespas e moscas, que actuam em seu controle populacional.
    Esta borboleta ganhou fama por protogonizar a maior migração conhecida de um invertebrado, migrando do Canada ate ao Mexico. Mas a sua coloração tb é famosa, já que muitas borboletas imitam a monarca para evitar serem abocanhadas pelos passarocos. Mas estas defesas serão elas binarias, tipo umas são venenosas e outras não? a resposta vem da sua particular alimentação: é na planta que a lagarta vai ganhar as suas defesas; e é no género Asclepias que reside o desagradavel veneno. Mas há plantas mais e menos venenosas, ou mesmo não venenosas de todo; paralelamente, há lagartas não venenosas, pouco venenosas e muito venenosas, assim com as borboletas em que se transformam. O grau de toxicidade é variavel e não binario (tipo sim ou sopas). Mas esta complexa fisiologia é eficaz contra os passaros; os predadores alados não se devem questionar "como ou não como a lagarta suculenta ou a borboleta apetitosa?"; nã, os passarocos devem fazer uma questão muito mais filosofica/probabilistica: "se comer esta borboleta, qual a probabilidade de ela ter um gosto abominavel?" "sera que vale a pena?". Portanto, a questão não é simples, mas sim tipo roleta russa do mundo animal. So que no mundo natural os passaros são suficientemente espertos para não andarem para ai a jogar a roleta russa; esse tipo de idiotices aplica-se melhor ao genero humano.....e assim a Monarca raramente é abocanhada por um passaro.

    PP
    Versao oficial: suicidio

    Parece mesmo que David Kelly se suicidou convenientemente. A mecanica do suicidio ainda me passa ao lado, pois aparentemente cortou os pulsos no meio do bosque....mas de certezinha que havia por ali perto um riachozinho para impedir o sangue de coagular; as banheiras esta muito visto, o que esta a dar sao os bosques (nao consigo por acentos, desculpem).

    PP

    domingo, julho 20, 2003

    St. Chartier

    96 horas de música e dança, sem parar....


    PP

    Homossexual e o trabalho

    Por Jaques-Jesus
    O preconceito e a discriminação podem -se mostrar em milhares de matizes, todas aproveitáveis no desenvolvimento de ensaios e teses quanto às formas de enleamento das pessoas a suas falsas premissas e terríveis conclusões. À guisa de prefácio, desenvolve-se este ensaio a partir da análise da dimensão da diversidade cultural menos discutida, porém mais controversa dentre todas.

    Quantos debates, actualmente, são tão demasiadamente polêmicos quanto os que se referem aos direitos dos homossexuais? Não muitos, perceptivelmente. Os conflitos ideológicos explosivos que são acarretados devido a sua discussão aberta ,nem sempre receptiva costumam prender-se a preconceitos, mitos e questões pessoais mal resolvidas.

    Deve-se atentar para o facto de que o fundamento perpetuador de toda exclusão se encontra na própria sociedade, a qual reforça comportamentos machistas, sexistas, homofóbicos, racistas e elitistas, simplesmente porque não recrimina, pune ou denigre atitudes agressivas contra as minorias, seja verbal ou fisicamente.

    Nesse sentido, pode-se apontar não somente para a responsabilidade dos órgãos e autoridades governamentais quanto ao bem-estar dos grupos social e historicamente discriminados, aponta-se, igualmente, para a responsabilidade do sistema educacional, dos meios de comunicação, do empresariado e, até mesmo, do Sindicalismo considerado mais activo e revolucionário.

    Trabalha-se literalmente para perpetuação do preconceito.

    É preciso, o quanto antes possível, compreender as actuais mudanças, a nível global, relacionadas ao novo paradigma do emprego. A opressão sobre os homossexuais, no trabalho, está enraizada no modo como o mesmo está estruturado e organizado. O problema não se restringe, simplesmente, a que muitas pessoas tenham idéias erradas sobre a vivência homossexual, mas que essas idéias reflitam o modo pelo qual as relações empregatícias se organizam.

    A importância da família nuclear para o capitalismo e a ameaça que a emancipação homossexual representa para a família enquanto base da perpetuação do capitalismo como denunciou Engels em" A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" (autor, aliás, homofóbico) significa que a opressão sobre gays, lésbicas, bissexuais e travestis é um resultado inevitável das relações exploradoras de trabalho.

    A história da emancipação homossexual no trabalho e nos sindicatos está vinculada, em uma perspectiva marxista, à História da luta de classes. É interessante denotar que o movimento socialista, em seus primórdios, via a luta pela libertação dos homossexuais como uma parte necessária da luta pelo socialismo, em outros momentos históricos, entretanto, esse posicionamento mudou radicalmente.

    O que se pretende demonstrar é que os oprimidos não podem alcançar a “libertação” sozinhos. As divisões de classes, principalmente a divisão da classe cujo amor “não ousa dizer seu nome” (como a denominou, no século XIX, o escritor Oscar Wilde), perpassa a história e a prática do que chamamos de sindicalismo, ou seja, a emancipação homossexual é uma questão de organização de uma classe.

    Lésbicas e Gays da classe trabalhadora são os mais oprimidos, aqueles que mais sofrem os preconceitos e as perseguições, os que foram mais excluídos das reformas e ganhos dos anos 60, 70 e daí até hoje. O movimento social organizado defensor dessa população discriminada falhou em apreciar esse problema e enfim superá-lo. Todos as outras populações alijadas dos privilégios da elite sócio-econômica sofrem da mesma síndrome e, sendo realistas, não devemos esperar uma panacéia. A divisão fundamental que existe na sociedade, incluindo a comunidade homossexual, é a divisão em classes.

    É difícil para a maioria dos homossexuais ver, na interação com a classe trabalhadora, uma das saídas para conquistar sua emancipação, isso decorre da alienação política historicamente semeada e defendida, mesmo indiretamente, por aqueles que objetivam impossibilitar a coerência, organização e consciência grupal de toda e qualquer minoria.

    Um exemplo especialmente inusitado de como a organização trabalhista pode mudar a condição precária de respeito e valorização às minorias foi uma greve de mineiros ingleses em 1984. Tal sector da classe trabalhadora, formado exclusivamente por homens que, antes da greve, dificilmente agiriam contra a tradição reacionária relacionada à sexualidade, organizou um grupo de apoio à greve formado por homossexuais, o qual levou uma delegação de mineiros a encabeçar, com o estandarte da mina que representavam e com uma banda musical, a manifestação pelo Orgulho Gay de 1985.

    A experiência dos mineiros levou-os a apoiar os direitos de Gays e Lésbicas, sendo que muitos mineiros assumiriam a sua homossexualidade. Mesmo uma greve assim, que foi derrotada, mostrou como a experiência da luta pode superar idéias reacionárias.

    As mudanças não são automáticas. O contra-discurso tão-somente possibilita a transformação das idéias. Eis a razão porque é necessário organizar os sectores mais avançados da classe trabalhadora, isto é, os sindicatos, para argumentar e conquistar a indiferença dos trabalhadores, a fim de mostrar a necessidade da emancipação homossexual e discutir com Gays e Lésbicas a importância de lutar por melhores condições nas relações de emprego e trabalho.

    A criação e regulamentação de leis específicas às necessidades e interesses da população homossexual é um indício das mudanças que vêm ocorrendo, e das que ainda hão de acontecer no campo do reconhecimento, por parte do poder público, dos direitos dos grupos sócio-historicamente discriminados.

    O discurso científico tem a função de “trazer à tona” não apenas os conteúdos latentes ao silêncio quanto ao assunto (tampouco coadunar com o palratório infundado de mitos que abundam me toda parte), mas, igualmente, a discussão basilar para qualquer mudança que se queira séria. Enfim, o tema é polêmico porque está aberto ao debate.

    Jaques-Jesus, psicólogo, Poeta e Escritor. É colaborador da Novae do site do Grupo Gay da Bahia
    AS