quinta-feira, julho 24, 2003

IA, meu

O IA, o novo instituto das artes, prepara-se para regulamentar os apoios à cultura; se por um lado, a tentativa de descentralizar as decisões é positiva, já os critérios de apoio deixam bastante a desejar. É que as críticas do governo à administração pública relativa às promoções por antiguidade e não por mérito são a antítese do que o Secretário de estado propôs hoje em Montemor. Na proposta de regulamentação, apenas as estruturas que recebem apoio há mais de 10 anos do MC é que podem candidatar-se a apoios do IA. Já houve uma alteração, e agora as estruturas que tenham um produtor ou programador há mais de 5 anos a trabalhar também podem concorrer. Mas claramente, quem anda nisto da cultura há mais anos é que pode contar com apoios; os outros, os que começam agora, terão que fazer a travessia do deserto antes de poder chegar ao estatuto de candidatável. E se ainda estivéssemos num país que fosse fácil trabalhar na área da cultura...mas não é esse o caso: neste ano de vacas magras, a primeira opção "dispensável" nos municípios para poupar umas migalhas foi o orçamento do pelouro da cultura.

Para reflectir:
  • 1ª pista - Na Europa gasta-se 1% do PIB em cultura; em Portugal não chega a 0,6%, e a maior parte do bolo não vai para as pessoas....

  • 2ª pista -Orçamento do IPAE para 2002 (todos os projectos da área da dança, música e teatro): 23 milhões de euros.

  • 3ª pista - Orçamento da casa da Música (estimativa actual, pois ainda não acabou): 90 milhões de euros.

  • 4ª pista - Neste momento, a maior parte das infra-estruturas culturais está às moscas por falta de verba para programação e salários.


  • 1º conclusão possível - Na cultura, gasta-se mais dinheiro em recursos materiais do que em recursos humanos (e se entrássemos aqui com os gastos do IPAR na recuperação de castelos, então a diferença seria abismal).

  • 2º conclusão possível - Para o desporto, com o Euro 2004 à porta, a mesma conclusão é inevitável.

  • 3ª conclusão possível - Na cultura e no desporto estamos todos à espera de alguma coisa para ver se sobram umas migalhinhas; na cultura, é que acabem a casa da música e no desporto que acabem os estádios de futebol.

  • 4ª conclusão possível - É um bocadinho hipócrita falar de descentralização quando a imensa fatia do bolo da cultura e do desporto ficam retidos no litoral e nos grandes centros urbanos (ex. CCB, casa da música, estádios de futebol). Definitivamente, hipotecámos o desenvolvimento do resto do país com este grandes investimentos localizados; se fizessemos uma justa distribuição dos dinheiros por todo o país, então nos próximos 10 anos os orçamentos da cultura e do desporto deveriam ir quase integralmente para o interior desquecido e ostracizado......


  • PP

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