quinta-feira, julho 24, 2003

Nota botânica trágica

Erva-Divina


Armeria berlenguensis
Dados recentes indicam que a Armeria berlenguensis, um dos supostos endemismos berlenguenses (espécie restrita à berlenga) afinal não é mais do que uma variante da sua congénere continental, a Armeria welwitschii; esta notícia bombástica chocou a comunidade científica portuguesa, que tinha elevado esta espécie à categoria de emblemática das "ilhas" berlengas. O presidente da Republica está a estudar o assunto; haverá certamente uma queixa dirigida a Bruxelas contra a perca de estatuto da dita planta. Não se brinca impunemente com os endemismos nacionais! não bastava terem mexido nas quotas e quererem meter a mão nos recursos marinhos, agora também se metem com os nossos endemismos? era o que mais faltava



E o sossego da Berlenga...
Curiosamente a frase relativa à Berlenga "A riqueza marinha, as escarpas e a o relativo sossego da Berlenga (sossego interrompido pelas gaivotas)" que vem daqui peca por defeito; aqui há uns anitos, as mais de 20000 ( e sei que chegaram a ser mais de 40000) gaivotas que defendiam encarniçadamente os seu território, estando nós, humanos, claramente a mais no ilhéu, faziam bem mais que interromper o sossego dos visitantes e estudiosos. Quem tinha que por força do trabalho atravessar a Berlenga em linha recta (eu fui um dos desgraçados), dava-se por abençoado de chegar ao fim da aventura inteiro: os vôos rasantes, a bombardear guano, numa gritaria infernal e contínua eram uma constante durante horas; neste confronto psicológico com a comunidade dominante da Berlenga, o Homem sai claramente a perder. Quem falar de sossego na Berlenga, mesmo que relativo, está a mentir com os dentes todos, ou então passou a sua estadia na Berlenga a mergulhar ou dentro de casa.


Inocente Gaivota a fazer o ninho em cima de uma moita de Armerias.... (a legenda original diz "Um adulto atento ao que se passa em seu redor" o que não está longe da verdade: se alguém se aproximar deste "adulto atento" que provavelmente está a chocar, abilita-se a apanhar umas valentes bicadas atentas...)

E os endemismos...
No mesmo texto, mais adiante, escreve-se, relativamente aos endemismos Berlenguenses: "algumas únicas na terra (endémicas)." fica aqui o esclarecimento: da terra, até ver, todas as espécies são endémicas; uma espécie endémica, tem a sua distribuição restringida a uma determinada parcela de território. Se esse pedaço de terra for muito pequeno, tipo 1 hectar, então estamos perante um endemismo notável, raríssimo. Se a espécie só existir em Portugal, estamos perante um endemismo Português. Se existir apenas na Peninsula Ibérica, será um endemismo Ibérico. E assim por diante, até chegarmos aos limites conhecidos da geografia do nosso planeta. Em última análise, todas as espécies são endémicas terrestres.... a não ser que encontremos num planeta aqui perto uma outra Armeria welwitschii; aí é que havia razão formal para sairmos da CEE...

PP

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