terça-feira, julho 29, 2003

Nota botânica VI

Quercus pyrenaica

O Carvalho negral tem como curiosidade inicial o seu próprio nome: o epípeto específico "pyrenaica" é fruto de um erro, já que este carvalho não aparece nos Pirinéus. Mas os botânicos erram (mesmo que raramente), essa é que é a triste verdade, e o nome científico que este carvalho ostenta é prova disso mesmo (como acontece com o Quercus canariensis que nunca viu os seus genes a espraiarem-se pelas Canárias.....). Adiante.


Folhas de carvalho negral

O carvalho negral é endémico Ibérico, aparecendo em Portugal em praticamente todos os maciços montanhosos de natureza granítica, dominando a norte do Tejo, mas aparecendo também a sul deste rio (por exemplo em São Mamede e Monfurado). Na Serra de Sintra uma forma bizarra (anã) deste carvalho aparece junto à praia da Ursa, nunca crescendo mais que 2 metros. Este comportamente fora do normal deve-se à conjugação dos requerimentos ecológicos do Carvalho negral (clima susceptível ao seu crescimento; substrato granítico) com o efeito abrasivo dos ventos marinhos carregados de sal, que inpedem o crescimento do carvalho. Em Lafões, o Q. pyrenaica tem outro nome popular, que reflecte o carinho que o povo lhe devota: Carvalha.


Carvalho-negral

É assim chamado, porque quando atinge a maioridade (umas centenas de anos), a carvalha é uma árvore portentosa, com maiores dimensões que o seu parente "carvalho" (Quercus robur, carvalho alvarinho), do qual se distingue por ter folhas cobertas de um veludo esbranquiçado nas folhas e maior profundidade no recorte das mesmas. O povo dá-lhe nome femenino, para poder abarcar numa só palavra toda a majestosidade desta árvore magnífica.


Desenho das folhas e bolotas do carvalho negral

Ao contrário dos Estados Unidos, onde numa floresta podem coexistir mais de uma dezena de espécies, os carvalhos Europeus dominam muitas vezes as florestas onde se encontram (por isso chamamos "carvalhais" às florestas de carvalhos); este fenómeno está provavelmente relacionado com as glaciações que na Europa isolaram durante tempo suficiente muitas terras e penínsulas. Com a Península Ibérica isolada, algumas espécies de carvalhos originaram-se e desenvolveram-se, distanciando-se rapidamente dos seus primos Europeus. Este é o caso do Quercus pyrenaica, carvalho negral ou carvalha.

PP

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