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Notas para o debate sobre o Fórum Social Mundial II
Chico Whitaker 14/03/2003
O que diferencia movimentos e “espaços”
"Um movimento congrega pessoas – seus militantes, como os militantes dos partidos – que decidem se organizar para realizar, coletivamente, determinados objetivos. Sua formação e existência implica portanto na definição de estratégias para alcançar esses objetivos, na formulação de programas de ação e na distribuição de responsabilidades entre seus membros - entre as quais as de direção do movimento. Quem assume essa função liderará os militantes do movimento, levando-os – com autoritarismo ou com métodos democráticos, segundo a escolha que tenham feito os formadores do movimento - a cumprir a parte que cabe a cada um nessa ação coletiva. Sua estrutura organizativa é portanto necessariamente piramidal, por mais democrático e participativo que seja o processo decisório interno ao movimento e a maneira de escolher os que ocuparão os diferentes níveis de direção que uma pirâmide sempre comporta. E sua eficácia dependerá da clareza e precisão de seus objetivos específicos, e portanto da sua própria limitação, no tempo e no espaço.
Um espaço não tem lideres. Ele é só um lugar, fundamentalmente horizontal, como o é a superfície da terra, ainda que podendo comportar altos e baixos. É como uma praça sem dono – se esta tiver um dono que não seja a própria coletividade deixa de ser uma praça e passa a ser um terreno particular. As praças são espaços em geral abertos que podem ser usados por todos os que encontram algum tipo de interesse em usá-los. Elas não têm outro objetivo senão o de serem praças, prestando o serviço que prestem àqueles que as utilizem. Quanto mais tempo durarem como praças, melhor para os que aproveitam o que elas oferecem para a realização de seus respectivos objetivos.
Por outro lado, mesmo que uma praça contenha árvores e pequenas colinas no seu interior, ela é sempre um espaço socialmente horizontal. Quem sobe nas árvores ou nas colinas não pode pretender, lá do alto, comandar tudo ou nem mesmo parte do que fazem os que se encontram na praça. O mínimo que lhes pode acontecer é serem ridicularizados por aqueles que estão pretendendo liderar. Ou, se forem muito insistentes e incômodos, ficarão falando sozinhos, com os demais freqüentadores da praça a abandonando – e podendo até voltar posteriormente com “autoridades públicas” que os façam sair ou parem de arengar de suas árvores e colinas, se estiverem perturbando a tranqüilidade que deve caracterizar as praças públicas. "
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