quarta-feira, março 31, 2004

Descentralização?

Triste descentralização, em que a lógica política se sobrepõe à lógica territorial. Os municípios agruparam-se por cores partidárias (ex: Valimar), não por afinidades geográficas, culturais, naturais, economia na gestão dos recursos ou históricas. Assim sendo, para o que é que vão servir? Para fazer bastiões mono-partidários? Sinceramente, não percebo. Não alcanço o interesse deste original mapa... Não encontrando o malfadado mapa (com a sua novíssima região, o Pinhal - é mesmo verdade), deixo-vos com outros mapas, tirados daqui.


Regiões naturais


Segmentação territorial


NUTS 3


Zonas Educativas


Códigos postais


Regiões vitivinícolas


Regiões demarcadas de queijos


Regiões sistemáticas (tipo Países Africanos desenhados pelos Europeus)

Triste Aniversário

Há 40 anos que aconteceu o golpe militar que iria deixar o Brasil refém de uma ditadura durante 21 anos (1964 - 1985). As estatísticas macrabas deste período calculam em 360 o número de mortos e desaparecidos (estimativa conservadora) e em mais de 10 000 o número de presos políticos. A ditadura Brasileira quebrou os direitos políticos, censurou os meios de comunicação e, pior ainda, reprimiu violentamente os movimentos populares, prendeu, torturou, baniu do país e matou muitos dos que não concordaram com o regime.

A importância da história para qualquer nação é inestimável. Pois é a partir dela que se pode buscar caminhos para evitar os erros do passado. É preciso recuperar a verdade e dar ciência dela às novas gerações, para que nunca mais aconteça. E para que os anos de chumbo permaneçam apenas como uma triste pagina na historia do Brasil.


Odilon Dias, do Movimento Tortura Nunca mais

Veja ainda o artigo Elites dominantes e EUA apoiaram o golpe militar, com um resumo da história do Golpe Militar de 1964.

FME

Fórum mundial debate educação cidadã

Começa amanhã, dia 1 de abril, na cidade de São Paulo, a terceira edição do Fórum Mundial de Educação (FME). Com o tema "Educação Cidadã para uma Cidade Educadora", o evento prolonga-se até domingo, dia 4 de Abril, com uma programação toda voltada para discutir os rumos de uma educação mais cidadã no mundo. "Cidadãs e cidadãos de todo o mundo buscam unir forças para a construção de um mundo mais bonito, solidário e humanizado. Educadoras e educadores de todo o mundo buscam unir forças para a construção de uma plataforma de lutas que defenda a educação como direito social inalienável, nunca reduzida à condição de mercadoria". É assim que a organização do FME 2004 define os objectivos do Fórum.

São esperados mais de 60 000 participantes no FME. De acordo com Moacir Gadotti e Pablo Gentili, o Fórum Mundial da Educação tem dois pilares básicos: a construção de uma alternativa ao projeto neoliberal e o pluralismo de ideias, métodos e concepções. "O sonho é ousado, mas possível, necessário e urgente", afirmam.

A programação do FME-SP começará hoje, dia 31, quando o Brasil comemora os 40 anos do golpe militar de 1964, com o acto político "40 Anos de Luta pela Democratização do Brasil: Lembrar para Aprender". Haverá uma marcha no sambódromo de São Paulo e um painel no auditório Elis Regina, no Anhembi. A abertura, no dia 1, acontecerá às 18h30.

Nos dias seguintes, temas como "Educação Cidadã como Direito Social e Humano", "Paulo Freire: Educação Cidadã como Prática da Liberdade", "Cidade Educadora: Identidade Cultural e Cidadania", "Cidade Educadora e as Desigualdades Sociais", "Ambiente e Educação para a Sustentabilidade", entre outros, serão debatidos em conferências. Estarão presentes especialistas e personalidades ligadas à educação e aos movimentos sociais como Frei Betto, assessor da Presidência do Brasil; Emir Sader; Célio Cunha, da Unesco; e o teólogo e escritor Leonardo Boff. Mais detalhes sobre a programação do FME-SP podem ser conferidos neste site.

Artigo adaptado da Adital.

Ota, R.I.P.

Parece que o Partido Socialista (PS) faz hoje na Assembleia da República uma interrogação ao governo sobre o projeto de construção de um novo aeroporto internacional na Ota.

É claro como a água que a Ota está de pés para a cova. Nem o país tem dinheiro para construir um novo aeroporto, nem precisa de o construir. E muito menos num sítio tão estapafúrdio, de geografia tão desfavorável e com acessos tão difíceis como a Ota. Mas o PS não está pelos ajustes.
O PS é teimoso, não quer deixar a Ota morrer em paz, silenciosamente, calmamente. O PS quer fazer barulho, mostrar a tremenda incompetência do governo em deixar morrer um projeto tão bom, tão essencial para a saúde financeira das grandes empresas de construção civil. O PS é pró--Ota, tal como é pró-coincineração e pró-todos os disparates que o governo anterior fez.

Na mesma altura em que o petróleo sobe constantemente de preço e em que (mais importante) as quantidades totais desse produto extraídas da terra e do mar diminuem ou sem mantêm estáveis, enquanto que a procura, dinamizada pelo desenvolvimento económico a taxas de 8% ao ano da China e da Índia, aumenta sem cessar, o PS continua a acreditar que, daqui a 10 anos, quando a Ota estiver pronta, ainda haverá tráfego aéreo para a usar.

O PS não aprende com a história.

Ota, R.I.P. (*)

PS, deixa-a descansar.

--
Luís Lavoura

(*) R.I.P. = requiescat in pacem = descansa em paz.

O pensamento único

António Martins

Que estranha força terá transformado os velhos direitos sociais num sonho cada vez mais inatingível?

Há duas explicações, verdadeiras e complementares entre si. A primeira é o enorme terreno conquistado, nas duas últimas décadas do século passado, pelo pensamento capitalista – que vê na busca do lucro o único motor eficiente para a produção de riquezas. Quando o ritmo de crescimento das economias e a saúde financeira dos Estados entraram em declínio, pouco antes de 1980, apontou-se como culpados os direitos sociais conquistados no pós-II Guerra. Os sistemas de Previdência foram transformados nos vilões principais. Eram vistos como insustentáveis, a partir de estudos de demografia supostamente neutros. Se as populações envelheciam – porque a expectativa de vida aumentava e as taxas de natalidade caíam – então, em pouco tempo, os trabalhadores no activo seriam incapazes de suportar o peso dos aposentados.

Este raciocínio, repetido exaustivamente pelo jornalismo de mercado, conquistou corações e mentes e abriu caminho para o corte dos direitos duramente adquiridos. Há vinte anos as chamadas “reformas” (na verdade, contra-reformas) da Previdência entraram na agenda política de quase todos os países. A receita é sempre a mesma: aumentam-se as contribuições, eleva-se a idade mínima para deixar o trabalho, reduzem-se os benefícios, estimula-se os assalariados mais bem pagos a migrar para planos privados. O objectivo declarado – dar estabilidade ao sistema – nunca é alcançado. Mas em vez de procurar outro caminho, o “pensamento único” pede mais do mesmo. “Muitos governos começaram a fazer reformas”, reconhece o "The Economist" esta semana. Porém, emenda: “Há muito mais para ser feito”...

Surge outra explicação

Embora estas ideias ainda sejam predominantes, surgiu e ganhou corpo, a partir dos anos 90, uma explicação alternativa. Ela procura examinar o problema a partir da lógica dos direitos. Um dos pioneiros é o francês René Passet, integrante do Conselho Científico do ATTAC. Passet convida a visualisar outras realidades, além da mudança demográfica. A principal delas é o aumento radical da produtividade do trabalho, graças à incorporação de novos saberes.

Este economista incomum reconhece, num artigo para o jornal Le Monde Diplomatique: “a população [francesa] ocupada em 1995 (22 milhões) representava cerca de 2,9 contribuintes por aposentado (7,7 milhões de beneficiários). E estima-se que esta relação diminuiria para 1,7 em 2040”. Em seguida, ele contra-ataca: mas “se a produtividade por hora de trabalho de cada assalariado continuar a crescer ao ritmo médio verificado no período 1992-94 (2% ao ano), ela será multiplicado por 2,4. Por outras palavras, em 2040 a produção de 1,7 assalariado será igual à de 4 assalariados de 1995. Poderão, portanto, financiar mais aposentados que hoje”.

Ou seja: se resistirmos à tentação de tratar os idosos como bodes expiatórios, será possível encontrar causas mais profundas para a crise dos sistemas de Previdência. Todas elas têm a ver com os diversos privilégios que o capital arrancou das sociedades, nas últimas décadas. No Brasil, por exemplo, uma fatia cada vez maior da receita do Estado é desviada para o pagamento de juros aos muito ricos. Nos países “desenvolvidos”, a Segurança Social entra em crise porque as empresas transferem parte da produção para regiões onde os salários são mais baixos e os trabalhadores menos organizados, ou mais reprimidos. Nestas nações, os governos acostumaram-se a “atrair” as multinacionais, ferecendo-lhes enormes vantagens – entre elas a isenção de impostos.

(continue a ler este artigo)

Ainda a França...

António Martins

Raras vezes as urnas falaram tão claramente, e foram tão pouco ouvidas. No último domingo (28), um furacão eleitoral desabou sobre o governo de direita do presidente francês Jacques Chirac e de seu primeiro-ministro, Jean Pierre Raffarin, empossados há menos de dois anos. Disputava-se o governo e os concelhos das 22 Regiões administrativas do país. Mas avaliava-se sobretudo a política de redução de direitos sociais e previdenciários, e da destruição sistemática dos serviços públicos -- marcas registradas da coaligação no poder. Os dois partidos do Governo (União Democrática Francesa-UDF e União para um Movimento Popular-UMP) mantiveram apenas uma das 14 Regiões que controlavam. A oposição (uma frente em que se destacam os partidos Socialista, Comunista e Verde) passou de oito para 21 governos. Na circunscrição do ministro dos Assuntos Sociais, encarregado das contra-reformas, a esquerda obteve a primeira vitória em cem anos.

O resultado veio na sequência de uma série impressionante de mobilizações sociais, que envolveram professores, artistas, ferroviários, servidores públicos, jornalistas, pesquisadores, juízes e advogados. Protestos com objetivos semelhantes, e ainda mais maciços, sacodem a vizinha Itália, onde um milhão de pessoas foram às ruas na sexta-feira (26). Contudo, tanto na como na Itália, os governos apressaram-se a assegurar que as políticas contestadas pelo voto e pelas ruas permanecerão.

Em Paris, um dia depois de ser massacrado pelas urnas, o presidente Chirac anunciou que manterá o primeiro-ministro Raffarin no posto e insistirá no seu programa de governo. De Bruxelas, onde se encontrava no dia em que a Itália parou, Silvio Berlusconi mandou dizer: “Não se volta atrás. Avante com a ‘reforma’ da Previdência”. Acrescentou que, em busca da “eficiência” económica, pretende propor o fim dos feriados e o pagamento parcial dos salários nas férias. Na edição que circula esta semana, a revista britânica "The Economist" publica um caderno especial propondo que os idosos sejam estimulados a trabalhar após os 65 anos – como assalariados “ilegais legalizados”, sem registro em carteira e sem custo social para os empregadores. Mesmo no Brasil ou Alemanha, onde partidos de esquerda estão no governo, adoptam-se políticas semelhantes. Que estranha força terá transformado os velhos direitos sociais num sonho cada vez mais inatingível?

Leia o artigo completo

terça-feira, março 30, 2004

O abominável César das Neves ataca outra vez!

Através do Daniel cheguei a esta pérola do João César das Neves:

São hoje esquecidas e atacadas as duas razões mais próprias da glória feminina, o encanto da virgindade e a grandeza da maternidade. (...) A virgindade e a maternidade brilham ainda neste tempo confuso. E, juntas na mesma pessoa, cintilam no mais alto dos céus, acima de toda a criatura.

Conservadorismo, homofobia e catolicismo bacoco em quantidades astronómicas geram o fenómeno "Das Neves". Do artigo todo destaco o final miraculoso, que mesmo quando era católico, apostólico, romano me fazia uma grande confusão. Li algures que a pretensa virgindade da mãe de Jesus é uma má tradução dos escritos originais. Depois, quando estudei Biologia durante uns anitos, aquele paradoxo da mãe-virgem começou a minar a minha fé nos mistérios, acreditando cada vez mais na tese da tradução manhosa (trocaram algures pureza por virgindade).
Agora o que mais me assombra (quer dizer, todo o artigo é assombroso, mas..) é que o abominável considere a maternidade sem sexo o supra-sumo da virtude. Ó homem, isso é uma aberração da natureza! Ou gostava que Portugal inteiro fosse povoado por virgens grávidas do espírito santo?

Para o Abominável César das Neves, Maternidade e Virgindade são as melhores virtudes da mulher, de preferência coincidindo estes dois estados no mesmo momento.... não há pachorra....

Amnistia Internacional e Anti-semitismo

É indispensável distinguir as críticas feitas ao estado de Israel e às suas forças armadas relativas a violações dos direitos humanos e o anti-semitismo. Longe de ser anti-semitas, as críticas têm como objectivo denunciar as violações dos direitos humanos, independentemente de quem as pratica e prevenir a sua repetição.

Este é o caso do muro construído por Israel no interior da Cisjordânia, das demolições de casas e destruição de terrenos ou qualquer outro ataque do exército Israelita contra civis Palestinianos. Neste contexto encontram-se também as execuções extrajudiciais, como aconteceu aquando da eliminação do xeque Yassine, que matou também sete outros Palestinianos.

Ao mesmo tempo, a Amnistia Internacional condenou a vaga de ataques racistas e anti-semitas na Europa.

Não se deve confundir as políticas e acções de um País com a sua pertença a um grupo étnico ou religioso. Não se deve transferir a cólera sentida relativa às políticas do Governo Israelita e às suas forças Armadas para pessoas que pertençam a uma determinada etnia e credo religioso.

Acreditamos que a tomada de posições claras relativas à violação dos direitos humanos por parte de Israel não constitui uma atitude anti-semita; no entanto, condenamos a comparação de Ariel Sharon e do partido por ele dirigido com o regime Nazi ou com o antigo regime Sul-africano do Apartheid, servindo estas acusações apenas para diabolizar o estado de Israel. No mesmo sentido, acreditamos que quando se pede o fim da ocupação da palestina por parte de Israel, deve-se também pedir o fim da ocupação da Tchéchénia e do Tibete [ou do Sahara Ocidental: não podia estar mais de acordo], que são responsáveis por inúmeras violações dos direitos humanos, sendo no entanto conflitos sistematicamente [e convenientemente] esquecidos.

Como sair então deste impasse? Deveria haver em primeiro lugar uma boa dose de autocrítica de ambas as partes.

Os grupos Judeus próximos de Israel deveriam aceitar que é legítimo criticar as violações dos Direitos Humanos perpetrados por este Estado, sem ser imediatamente catalogado como anti-semita; paralelamente, os grupos que apoiam a luta do povo Palestino para viver em paz num Estado viável devem denunciar activamente os atentados suicidas ou qualquer outro ataque a civis Israelitas. Devem reconhecer também que alguns termos empregados para descrever a acção de Israel (ex: limpeza étnica) são despropositados e excessivos, tendo como resultado atirar óleo para a fogueira.

Acreditamos que um exame de consciência de ambas as partes poderá contribuir a instaurar o clima necessário para um debate que tenha como objectivo identificar as possíveis soluções do conflito Israelo-Palestiniano.



Traduzido daqui. Estou de acordo em 100% com a AI; acho escandaloso que muitas vozes ditas progressistas (ou não) se esqueçam sistemáticamente do Tibete, da Tchechenia ou do Sahara ocidental. Se pudessem ecolher, escolheriam viver num desses "países" (as aspas aqui foram postas à força pela China, por Marrocos e pela Rússia), em detrimento da Palestina? duvido muito.

Post à atenção da Rua da Judiaria e do BdE, onde o conflito esteve aceso à muito pouco tempo....

Primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Fernando Pessoa


Roubado do "Aqui é Nordeste".

Derrota histórica

Eduardo Prado Coelho

E agora? Vão de novo dizer que a Al-Qaeda ditou o resultado? Que o Bin Laden venceu Jacques Chirac? Que a democracia está em perigo? Que devemos estar todos unidos nas posições que são obrigatoriamente as de Bush se não queremos estar ao serviço do terrorismo? Que o povo francês foi cobarde e teve medo?

Leia o resto deste artigo

Direitos fundamentais dos LGBT adiados...

Já hoje a nossa companheira Alice Frade da APF (Portugal-Lisboa ) nos tinha alertado para as fortes pressões de que estava a ser objecto o Governo brasileiro para retirar a sua proposta de Resoluçao do Comité dos direitos Humanos das Nações Unidas [que propunha que a liberdade de orientação sexual fosse um direito humano]
Acabo de ser informado de que a pior hipótese se confirmou, o que significa que mais uma vez não se consegiu obter a mairia necessária para fazer avançar este patamar dos Direitos Humanos relativamente à orientação sexual, pelo que o Brasil, o estado proponente retirou a proposta .
Aguardemos novas confirmaçoes e mais informações detalhadas para podermos perceber quais os erros e dificuldades que houve que enfrentar, para os corrigir em proximas jornadas.
Agradeço à Alice Frade/APF o excelente trabalho de consciencialização e de mobilização que realizou ao longo destes dias a favor da resolução ,assim como a todos aqueles que aqui entre nós, se empenharam nesta luta.

Obrigado,

Antonio Serzedelo

[Assinem a petição; neste momento a petição tem mais de 42000 assinaturas]

Violência contra as mulheres:

Atrocidade de dimensões mundiais

A violência contra as mulheres é uma atrocidade de dimensões mundiais. Em todo o mundo, a vida das mulheres é afectada por experiências ou ameaças de violência sem distinção de classe económica, raça ou cultura. No lar e na comunidade, na guerra e em tempo de paz, as mulheres são espancadas, mutiladas e mortas impunemente.

Abrindo novos campos de trabalho da Amnistia Internacional, "Está em nossas mãos" investiga as causas da violência contra as mulheres, as formas que adopta e as soluções adotapdas para combatê-la, explorando, por sua vez, a relação que a violência tem com a pobreza, a discriminação e a militarização. Dessa maneira, reforça-se que o Estado, a comunidade e cada cidadão têm a obrigação de tomar medidas para acabar com esta atrocidade.

Em todo o mundo, as mulheres vêm liderando campanhas valentes e exemplares contra esta violência, alcançando mudanças radicais nas leis, políticas e práticas. Com o presente informe, a Amnistia Internacional junta-se a esta luta, mostrando que os direitos humanos podem ser utilizados para fazer frente à violência contra as mulheres e vencê-la.

Informação da Adital

segunda-feira, março 29, 2004

Pela Defesa da Liberdade de Expressão

Chegaram-me por correio electrónico os seguintes textos que passo a publicar aqui no blog, pela defesa da liberdade de expressão.

LD



Esclarecimento aos leitores


A publicação desta carta em regime de publicidade redigida resulta da circunstância de o Director do Diário de Notícias se ter recusado a fazê-lo nas condições normais. Disso mesmo avisou o remetente, comunicando-lhe por escrito que o assunto versado nestas linhas «já foi encerrado pela Direcção do DN». Não se conformando com tal arbitrariedade, decidiu o autor da missiva, em defesa dos seus direitos de cidadania e da liberdade de expressão, fazer pela Internet um apelo ao público, com a finalidade de reunir os fundos necessários para custear os encargos de publicação da carta como anúncio. Mesmo em tais condições, o Director do DN, depois de ter consultado o Conselho de Redacção, voltou a recusar a sua publicação naquele jornal. Em alternativa, o signatário resolveu fazê-lo nas páginas do PÚBLICO.

Acácio Barradas




Carta ao director DN // Ponto da situação

Esta informação destina-se a todos aqueles e aquelas que deram o seu contributo para a publicação da minha carta ao director do DN em regime de publicidade redigida, sendo igualmente destinada a quem pensou contribuir mas ainda não o fez.

1. Na quinta-feira, dia 25, um responsável da Publicidade do Diário de Notícias, que eu contactara para o efeito na véspera, informou-me que o director do jornal, depois de ouvir o parecer do Conselho de Redacção, decidira que a minha carta não seria publicada nem mesmo como publicidade paga.
2. Na sexta-feira, 26, dirigi-me ao departamento de Publicidade do jornal Público, com a intenção de fazer publicar a referida carta, anexando-lhe um esclarecimento aos leitores. Atendendo à natureza do texto, a carta foi submetida à análise da Direcção do jornal e respectivo Conselho de Redacção, sendo autorizada a sua publicação, facto que me foi comunicado na mesma data.
3. Era minha intenção fazer publicar a carta no primeiro caderno da edição de domingo, 28, mas desisti imediatamente quando me apercebi que nesse dia a publicidade é agravada em 20%, o mesmo acontecendo à segunda-feira.
4. Por exclusão de partes, ficou assente que a carta seria publicada num dos dias mais «baratos», ou seja de terça a sábado.
5. Definido o espaço mínimo necessário para a publicação da carta e respectivo anexo, definiu-se uma área de 12,8 cm de largura (3 colunas) por 24,5 cm de altura, o que corresponde mais ou menos a 1/3 de página.
6. De acordo com a tabela de publicidade do Público, tal espaço representa um encargo de 5290,74 € (IVA incluído), verba de que não disponho e que só poderei conseguir desde que me sejam prestados novos apoios.
7. Para os menos informados sobre esta matéria, esclarece-se que a publicidade redigida custa o dobro da outra, o que multiplica por dois o encargo do espaço e do IVA. Daí a exorbitância atingida.
8. Curiosamente, a tabela de publicidade do Diário de Notícias era mais favorável ao meu intento, pois por um espaço superior ao do Público eu iria desembolsar apenas 3086,00 €, ou seja um montante equivalente ao dos donativos recolhidos, que haviam totalizado 3120,00 €.
9. Nestas condições, continuo dependente da solidariedade do público, em especial dos amigos e dos amigos dos amigos, pelo que renovo o meu apelo a que me ajudem, não apenas contribuindo pessoalmente com o que puderem, mas também alargando a rede de solidariedade às pessoas das suas relações e para as quais a defesa da liberdade de expressão seja um objectivo digno de apoio.
10. Os donativos poderão ser efectuados por transferência bancária, através do Multibanco, para o NIB 0033 0000 39580003107 63. Basta clicar em «Transferências» e preencher o formulário que pede o NIB do destinatário e a quantia a transferir.
11. Na expectativa de poder publicar a carta na edição de sexta-feira, 2 de Abril, o que implica dar a respectiva ordem e fazer o pagamento com 48 horas de antecedência, ou seja na quarta-feira, 31 de Março, estabelece-se como data-limite para a recepção de donativos a próxima terça-feira, 30.
12. Para os que ainda não conhecem o teor da carta, junta-se a mesma em anexo, bem como o texto de esclarecimento que acompanhará a sua publicação.

Acácio Barradas



Lisboa, 2004-03-08

Exmo. Senhor Director
do Diário de Notícias

Só hoje, com a leitura da crónica «Em Nome do Rigor», de Estrela Serrano, me dei conta do diferendo entre a Direcção do Diário de Notícias (DN), com o apoio do respectivo Conselho de Redacção (CR), e a Provedora dos Leitores, a propósito da análise que esta fez ao enquadramento editorial de um texto ilustrado por uma caricatura em que o ministro Bagão Félix, ao ostentar o nariz de Pinóquio, era obviamente classificado como mentiroso.
Perante esse trabalho, fez a Provedora algumas considerações, elucidando o público – pouco familiarizado com os bastidores de uma Redacção – sobre determinados meandros da produção jornalística. Demonstrou que cabe à hierarquia a responsabilidade de um conjunto de intervenções (títulos, relevo da paginação, chamadas de 1.ª página, ilustrações, etc.) que podem reforçar, atenuar ou até trair o texto elaborado por um(a) jornalista.
Daí decorreria a sua afirmação que está na origem do diferendo. Escreveu ela: «na maioria dos casos, a versão final do que é publicado escapa aos autores das notícias, o que, muitas vezes, é motivo de forte polémica no seio da Redacção, só raramente chegando ao conhecimento do público».
A actual Direcção do DN – sempre tão lenta (quando não omissa) a cumprir os prazos de resposta fixados no Regulamento que estipulou para a Provedoria dos Leitores – desta vez foi célere a reagir. E fê-lo de forma eticamente despudorada e condenável. Nem de outro modo se pode classificar o abuso de posição dominante que constituiu o facto de, pelo acesso privilegiado ao texto da Provedora antes deste ser publicado, ter inserido uma nota de comentário na mesma edição. E mais: ao fazer inserir a Nota da Direcção três páginas antes do texto da Provedora, tornou praticamente inevitável que a análise desta fosse lida sob influência de uma objecção antecipada e unilateral.
Do ponto de vista ético, esta atitude é abominável. Mas que diz a isto o CR? Nada. Sobre este procedimento abusivo da sua Direcção, bico calado. O que levanta clamores no CR, o que escandaliza os seus componentes arvorados em pudicas e intocáveis vestais, é precisamente o que levanta clamores e escandaliza a Direcção. Curiosa aliança esta, a tão poucos meses de o novo Director ter assumido funções imposto pela Administração da PT contra o parecer do mesmo órgão representativo da Redacção! Porque os «bons espíritos», afinal, acabam sempre por emparelhar...
Mas será uma falsidade o que escreveu Estrela Serrano sobre a responsabilidade da hierarquia na produção jornalística, ao ponto de ser possível que escape, por vezes, aos autores das notícias a versão final do que é publicado? Tirando o exagero cometido ao referir que isso acontece «na maioria dos casos», em tudo o mais é absolutamente certo o que Estrela Serrano escreveu e me prontifico a assinar por baixo.
Dir-se-á que sou agora um jornalista reformado e que portanto ignoro o que se passa na Redacção do DN desde que dela saí há dois anos e, ainda mais, desde que entrou o novo Director e foi eleito o actual CR. Como se o passado de um jornal centenário pudesse ser avaliado por meia dúzia de semanas ou meses! E que assim fosse, não faltam ecos de recentes episódios comprovativos das afirmações de Estrela Serrano (um deles, ocorrido em Setembro de 2003, até deu ensejo a queixas apresentadas ao CR e ao Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, tendo este órgão reprovado em absoluto o procedimento da hierarquia).
Valendo-me, no entanto, da minha experiência anterior, ao longo de mais de dez anos de jornalista do DN – primeiro como chefe de Redacção adjunto, depois como editor das secções País, Fecho e Agenda/Planeamento, ou seja, sempre no plano da chamada hierarquia –, posso afiançar que Estrela Serrano, com o senão do já referido exagero, está completamente dentro da realidade. De facto, tudo se passa como ela diz, inclusivamente quando observa que tal procedimento «muitas vezes, é motivo de forte polémica no seio da Redacção, só raramente chegando ao conhecimento do público».
Devo dizer que isto é uma verdade tão insofismável que só uma epidemia de amnésia colectiva dos cinco «magníficos» do CR poderá desculpar, neste caso, a sua colagem à Direcção contra a Provedora dos Leitores. A Direcção – cuja falta de respeito pelo trabalho da Provedora tem sido manifesto na ausência de resposta atempada às suas consultas, ou respondendo-lhe com o silêncio absoluto (como se vai sabendo pela leitura semanal das crónicas de Estrela Serrano) – nega a pés juntos o que é prática frequente no DN. E o CR, numa reacção seguidista e corporativa, dá-lhe o ámen e arvora-se em defensor da honra do convento, considerando que a afirmação da Provedora «descredibiliza o trabalho de todos os jornalistas do DN». E tanto a Direcção como o CR reclamam «casos concretos». Só faltou pedir nomes, com indicação de moradas e telefones, o que não deixa de ser paradoxal, num periódico tão useiro e vezeiro no abuso do recurso a fontes anónimas!
Hoje mesmo (escrevo em 8 de Março), a Provedora referiu alguns desses casos e remeteu os interessados para a leitura dos livros que os seus antecessores (Mário Mesquita e Diogo Pires Aurélio) já publicaram e em que não faltam «depoimentos de jornalistas do DN que assumiram, abertamente, discordância com decisões tomadas pelas chefias, relativamente à maneira como trabalhos de sua autoria foram apresentados aos leitores.»
No entanto, esses depoimentos não passam de simples gota de água no mar de discordâncias testemunhadas por mim, sobretudo durante o período em que fui editor do Fecho. Sendo essa secção a que procede ao acabamento final das páginas, antes de estas seguirem para a Gráfica, era aí que acorriam frequentemente os redactores, a fim de se certificarem que o seu trabalho tinha sido respeitado ou sujeito a alterações pela hierarquia, nomeadamente por mim próprio.
Enquanto me consagrei a essa função, apoiado por uma verdadeira elite de jornalistas veteranos (António Castro, José David Lopes e Pedro Foyos, o primeiro dos quais se mantém em funções, sendo agora o editor de Fecho) posso afiançar que sempre zelei pela harmonia entre texto, lead, título, antetítulo, subtítulo, ilustração, legendas, destaques, etc., o que me levou muitas vezes a rectificar as alterações introduzidas por alguns editores. No entanto, quando o fecho de páginas acelerava para o ritmo infernal do contra-relógio, a vigilância esmorecia e a qualidade baixava, com efeitos por vezes lamentáveis que só eram detectados no dia seguinte.
Além disso, não eram raras as vezes em que certos elementos da Direcção, para obterem determinados efeitos sensacionalistas, puxavam para a primeira página um título que a própria notícia em que se baseavam desmentia, conforme a Coluna do Provedor assinalou com alguma frequência. Casos destes foram sempre (e ainda bem!) motivo de vivas discussões na Redacção, inclusive durante as reuniões de editores realizadas diariamente ao fim da manhã com a presença de um ou mais elementos do corpo directivo, para apreciação do jornal do dia e planeamento da edição do dia seguinte. Participei em muitas dessas discussões e algumas delas surgiram por minha iniciativa.
Como pode a Direcção fazer de conta que não sabe nada disto e, pior ainda, como pode o CR mostrar-se «surpreendido»?!... Não seria melhor, em vez de tanta hipocrisia, considerar que o papel do Provedor (ou da Provedora) é muito mais útil para os jornalistas do DN do que a ignorância fingida ou o silenciamento forçado de imperfeições que importa corrigir, para que o DN corresponda enfim às exigências de um jornal de referência verdadeiramente digno de ser classificado como tal?
Cordialmente,
Acácio Barradas

PS – Tomo a liberdade de enviar à Provedora dos Leitores, bem como aos membros eleitos do CR, uma cópia desta carta, cuja publicação agradeço.

Conversas possíveis...

A IS com propostas alternativas

O ex-chefe de governo propôs uma "nova ordem mundial", baseada na substituição do unilateralismo da admnistração norte-americana por um novo multilateralismo e no respeito dos direitos humanos.

Essa nova ordem teria de incluir uma maior atenção a temas como o ambiente, em detrimento das questões financeiras. Foi por isso que defendeu a criação de uma Organização Mundial do Ambiente. Uma instituição essencial para enfrentar algumas injustiças gritantes no mundo. António Guterres justificou esta proposta com o facto do "subsídio dado a cada vaca na Europa ser superior ao rendimento de mais de dois biliões de pessoas no mundo". A criação de um Conselho para o Desenvolvimento Sustentável "que funcionasse no sistema das Nações Unidas", foi outra das propostas avançadas pelo dirigente socialista.

Nas reformas preconizadas pelo ex-primeiro-ministro uma das ideias centrais era permitir um maior peso do Hemisfério Sul. Gueterres defendeu a inclusão do "Brasil, Indía e África do Sul como membros permanentes no Conselho de Seguranças das Nações Unidas".

Sobre essa instituição, o presidente da IS propôs também, "reconsiderar o direito de vetos dos membros permanentes", por exemplo, limitando o veto em situações de risco de genocídio.

O socialista abordou também a premência da reforma das instituições financeiras, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou a Organização Mundial do Comércio (OMC). Deu como exemplo o ridículo que representa, na sua opinião, o facto de nestas organizações "a Bélgica ainda ter mais votos que um país como o Brasil". Considerou ainda importante que estas instituições passassem a ter "uma ligação à componente parlamentar dos Estados" para as forçar a uma maior "responsabilização" sobre as suas decisões.

O ex-primeiro-ministro apontou como razões para a necessidade das reformas, os efeitos negativos da globalização. Um dos efeitos, segundo Guterres, foi o "cavar do fosso entre ricos e pobres", responsável pelos dois biliões de pessoas que vivem com menos de dois dólares por dia.
Leiam o artigo completo.

Mário Soares, desde que foi ao Fórum Social Mundial, voltou outro; Guterres, parece que também ficou infectado com o pernicioso vírus alternativo. É que estou de acordo em 100% com a nova ordem defendida por Guterres. Até me custa acreditar, mas é mesmo verdade. Democratizar as instituições internacionais seria um grande passo para democratizar o Planeta. Mas a estas democracias os mais poderosos franzem o sobrolho e torcem o nariz. Onde é que já se viu, a Índia, o Brasil e a África do Sul terem tanto poder na ONU como algumas nações Europeias?
De falta de democracia só podemos acusar a maioria das nações árabes (e muito justamente), algumas nações Africanas (idem) e os já tradicionais China, Cuba, Coreia do Norte (estes são mesmo muito pouco democráticos, lá isso são). Agora a ONU, a OMC e o FMI são profundamente democráticos, com os votos democraticamente proporcionais ao PIB de cada país. A Democracia, como o Natal, é quando um homem quiser. Quer dizer, não é um homem qualquer, sei lá, um chinês ou um indiano (demasiado populosos para terem peso democrático nas instituições internacionais); é mais precisamente um homem a dar pró caucaseano, de idade entradota, pertencente a uma fámília de presidentes, conservador, cruzado por inspiração divina e verdugo implacável dos "evil ones"....

Volta Guterres, estás perdoado!

A vitória da esquerda

Eleições regionais em França

Segundo as projecções reveladas após o fecho das urnas, as listas da esquerda — resultantes da fusão de socialistas, comunistas e Verdes — obtiveram 50 por cento dos votos a nível nacional, enquanto a coligação de direita — unindo o partido conservador UMP e os centristas da UDF — não foi além dos 37 por cento dos votos. A extrema-direita, que conseguiu aceder à segunda volta em 17 regiões, terá conseguido 12,5 por cento dos votos.

Estes resultados permitem à esquerda assegurar a chefia de 21 das 23 regiões francesas (22 metropolitanas mais a ilha de Reunião, no oceano Índico).

[Publico on-line]

Durão, o melhor é começares a ter medo, muito medo....

Invadir o México?

Richard Clarke (o ex-chefe do combate ao terrorismo da Administração Bush), dia 12 de Setembro, foi chamado à Casa Branca. Fica aqui o que ele escreveu sobre o assunto:

"Eu estava à espera de que examinássemos a possibilidade de novos ataques ou quais eram as nossas vulnerabilidades.... Em vez disso, começamos a discutir o Iraque; primeiro, fique incrédulo de estarmos a falar de outra coisa que não fosse apanhar a Al Qaeda. Depois, estupefacto, compreendi dolorosamente que Rumsfeld e Wolfowitz iam tentar tirar vantagem desta tragédia nacional [11 de Setrembro] para promover a agenda deles relativa ao Iraque."

Clarke disse no programa "60 minutos" que um ataque ao Iraque dadas as circunstâncias do 11/9 seria comparável ao Presidente Roosevelt, depois de Pearl Harbor, invadir o México em vez de declarar guerra ao Japão.

Traduzido do Common Dreams

O GOLPE DE 1964

Frei Betto

No dia 31 de março faz 40 anos que um grupo de militares - apoiados pela CIA, segundo admitiu Lincoln Gordon, então embaixador dos EUA no Brasil -, rasgou a Constituição, derrubou o presidente João Goulart e impôs à Nação uma ditadura que durou 21 anos e fez mais de 500 mortos e desaparecidos. Em "Incidente em Antares", uma paródia do Brasil sob botas, Érico Veríssimo frisa que não existe aquilo sobre o que ninguém fala ou escreve. Por isso, importa não relegar o golpe ao olvido. Se as novas gerações souberem o que significou, com certeza não serão tentadas a repeti-lo. Caso contrário, não haveria farsa, mas dupla tragédia.

Desde a renúncia de Jânio Quadros, que prometeu varrer o país e acabou varrido em agosto de 1961, o golpe começou a ser armado. O triunvirato que o sucedeu, antes de repassar o governo ao vice-presidente eleito, serviu de balão de ensaio. O Brasil clamava por reformas de estrutura: agrária, urbana, educacional etc. Aos olhos da Casa Branca e de nossa elite, que mal engoliram as reformas trabalhistas da era Vargas, transformar estruturas era favorecer a penetração comunista no Brasil. Os EUA não suportariam outra Cuba no continente. O clamor nacional foi esmagado pelas esteiras dos tanques.

O regime militar levou-me aos cárceres duas vezes; uma por poucos dias, em junho de 1964; e outra por quatro anos (1969-1973). Nunca me exilei. Libertado, durante cinco anos hibernei-me numa favela em Vitória, para prosseguir na resistência à ditadura, fortalecendo a organização popular, através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que serviram de sementeira para inúmeros movimentos sociais, como o MST.

O período ditatorial nos deixou lições que não devem ser esquecidas. Produziu o "milagre brasileiro", mas o general Médici reconheceu que "a economia vai bem, mas o povo vai mal". Crescimento económico não é sinónimo de desenvolvimento social. Aquele pode ocorrer às custas deste. Ainda hoje constitui um sério desafio assegurar uma nação mais justa, menos desigual, na qual os índices de IDH tenham mais importância que os do PIB. É esta equação que exige dos países emergentes uma mudança de rota na administração de suas finanças.

A ditadura acabou porque o movimento social minou as suas bases, sobretudo com as greves do ABC, mostrando a sua verdadeira cara ao lavar a maquilhagem com que os economistas do regime retocavam os indicadores económicos. Reconquistou-se a democracia política no intuito de conquistar no futuro a económica, arrancando milhões de famílias da senzala da miséria. Como a transição foi conduzida por acordo tácito entre os que usufruíram vantagens políticas e económicas durante o regime militar - e ainda ocupa o proscénio nacional - e suas vítimas, que articularam as novas forças políticas, não houve traumas nem rupturas, excepto para as famílias que tiveram seus filhos sacrificados e ainda não sabem, como, quando nem onde foram assassinados.

Hoje, vítimas da ditadura ocupam o Poder Executivo. Passaram por suas prisões o presidente Lula e José Dirceu, Dilma Rousseff e Nilmário Miranda, e tantos outros. Pesa em nossos ombros a responsabilidade de promover a democracia económica, reduzindo as desigualdades sociais através do leque de reformas sinalizadas por este governo: além da previdenciária, a agrária, a trabalhista e a política. Ao assentar 115 mil famílias de sem-terra este ano, estender o Fome Zero e o Bolsa Família a mais de 3 milhões de famílias, combater o desemprego e a violência nas grandes cidades, o governo estará começando a fechar o arco que se quebrou no dia 31 de março de 1964.

Tirado da Adital

domingo, março 28, 2004

O Alentejo que não morre

Por MANUELA BARRETO

Rafael Correia continua a desocultar um certo Portugal ao sul - e a comover-nos. Poetas, construtores e tocadores de violas campaniças, salineiros, pastores, doceiras, cantores falam do que criam e inventam, do que vão pôr dentro das panelas, dos seus bichos, das suas maleitas, de como era e há-de ser. Por vezes há mágoas, um conformismo tranquilo de gente sábia, consonante com o passar das estações, mas também risota, que se ouve ou imagina, ao escutar estas histórias com sotaque da nobríssima gente do Alentejo que o autor do programa põe a falar como ninguém. Ó Rafael Correia, não se lembre de ir e não voltar!

RDP-Antena 1 - Lugar ao sul, sáb. 9h-11h

sábado, março 27, 2004

Fome e Pobreza

Leiam esta artigo da Ana Sá Lopes sobre a pobreza e a fome em Portugal. Como aqui já disse, esta devia ser a grande luta deste século, a luta contra a pobreza e não a luta contra o terrorismo. Mas decididamente, no ping pong entre belicistas e terroristas, a pobreza e a desigualdade no mundo não fazem parte da equação global. Hoje como antes, as democracias tentam varrer os pobres para debaixo do tapete da indiferença. Os pobres não fazem parte do ultra-liberalismo moderno. Os excluídos da sociedade civilizada, como agora lhe chamam, não têm tempo de antena, estando condenados à inexistência mediática e política... Mas para estas coisas, a democracia já não funciona. Na ONU, na OMC ou em qualquer outra instituição internacional, os povos não são representados proporcionalmente ao seu número; são os ricos e poderosos que são representados. Por isso, no "nosso" mundo civilizado, os pobres não têm voz, sendo virtualmente invisíveis....

30 vezes pior

As drogas ditas legais provocam 30 vezes mais estragos que as drogas interditas, segundo a OMS. Toda a gente sabe que a grande razão de maus tratos, abuso e outras meiguices domésticas é o consumo excessivo de alcool. No entanto, continuamos a publicitar o álcool em todas as esquinas, na televisão, sem nenhum limite.

Claro que é complicado controlar o problema, mas falta uma grande dose de educação no que toca às drogas legais; faz-se das drogas interditas um bicho de sete cabeças, mas continuamos a propogar as virtudes das drogas culturalmente aceites. Pois bem, a OMS vem dizer o que toda a gente sabe mas tem dificuldade em admitir: que qualquer droga, quando consumida em excesso, pode causar a morte. Mesmo quando essa droga faz parte da nossa cultura. Para quando o fim da publicidade ao álcool, como já acontece em muitos países da Europa? é que o tempo em que a ideia de que beber vinho ajudava à economia do País já lá vai, e ainda bem....

sexta-feira, março 26, 2004

Terrorismos

Miguel Sousa Tavares

Não alcanço a diferença entre o terrorismo do xeque Yassin, chefe de um bando de assassinos, e Ariel Sharon, que o mandou assassinar, em nome de um terrorismo de Estado praticado às claras e assumidamente. É certo que, quando pratica os seus "assassinatos selectivos", os seus bombardeamentos sobre campos de refugiados civis ou a destruição das casas das famílias dos suspeitos, Israel está a exercer um direito de autodefesa, o direito de viver em fronteiras seguras, dentro do seu próprio Estado. Mas aí é que reside o problema: Israel tem um Estado e fronteiras e os palestinianos não. E, antes de Israel ter construído o seu Estado e alargado as suas fronteiras roubando uma hipótese de Estado aos palestinianos, eram eles os terroristas e estes os legítimos ocupantes da Palestina inteira. E quando todos os dias continua a avançar o muro que Israel constrói, invadindo território várias vezes reconhecido internacionalmente como não lhe pertencendo, separando aldeias e vilas palestinianas, tornando inviável, não apenas um Estado palestiniano, mas a sua própria sobrevivência económica, sabe que está a cometer um acto de guerra a que o seu inimigo só pode responder com a arma do desespero e do terror.

(...) Há, pois, outro caminho. E esse caminho não é ir ao Afeganistão convidar Bin Laden a sair da gruta e vir negociar a Genebra. Não é disso que se trata, quando se fala em negociações. Trata-se de desarmar a popularidade de Bin Laden no mundo muçulmano, de desarmar politicamente o terrorismo islâmico. Como? Dando passos concretos para ir ao encontro das legítimas reivindicações dos palestinianos. Fazer-lhes justiça e exigir depois a contrapartida. Israel é a chave do problema. Desde sempre. Se isso tivesse sido feito há dez, há vinte anos atrás, muitas tragédias teriam sido evitadas e não teríamos chegado a este ponto. Mas mais vale tentar agora do que nunca. Porque a alternativa é continuarmos reféns do terrorismo islâmico porque os Estados Unidos são reféns de Israel.


Leia o artigo completo, que vale mesmo muito a pena

Books4Peace - Livros para a paz

Nasceu um novo projecto de origem portuguesa onde todos podem participar, e que tem por objectivo criar uma biblioteca de livros infantis destinadas às crianças vitimas da guerra no Iraque.

O que se pede às pessoas, é que arranjem um livro infantil, de preferência com muitos desenhos ou imagens e o enviem para o Iraque por correio. O projecto está integrado numa comunidade mundial de pessoas que trocam ou libertam livros, o bookcrossing, e que conta em portugal com mais de 2000 utilizadores.

Dêm um sorriso a uma criança. Participem, está tudo explicadinho aqui:



é só clicar na imagem e ler.

Mentiras contrapruducentes

Depois de 30 anos da sua vida dedicada à segurança e à luta contra o terrorismo, Richard A. Clarke escreve um livro elucidativo relativo à Administração Bush na sua guerra contra o Terror: "Against All Enemies: Inside America's War on Terror." Clarke descreve Bush e os seus assessores como arrogantes, insulares e desinformados do Mundo em que viviam. Clarke acusa ainda Bush e os seus falcões de não terem feito grande coisa contra a Al-Qaeda e que fizeram ouvidos moucos aos seus avisos e aos avisos da CIA relativamente ao 11 de Setembro.

Desde a sua intervenção no programa "60 minutos" da CBS que Clarke tem sido acusado de tudo e mais alguma coisa pelos oficiais da Administração Bush. Clarke descreve Cheney como "cão de guarda" e resume toda a estratégia de Bush numa "grande mentira" vendida como verdade ao Mundo inteiro. Diz ainda que a guerra do Iraque foi inadequada e contrapruducente.

Clarke escreveu: "Bush and his inner circle had no real interest in complicated analyses; on the issues that they cared about, they already knew the answers, it was received wisdom."

Tirado daqui e daqui.

quinta-feira, março 25, 2004

Estoicos e covardes

Se o Gualter acha que o JMF é manipulador, que dizer do editorial deste paladino da verdade de dia 18?

Sabemos hoje que a Al-Qaeda planeava uma acção em Espanha capaz de perturbar as eleições - e sabemo-lo pelo documento descoberto pelos serviços secretos noruegueses onde se considerava a Espanha o "elo mais fraco". O elo que até já quebrou. No Iraque, a prioridadade da Al-Qaeda vai para os ataques à comunidade Xiita. Estes, porém, têm resistido com estoicismo aos atentados, apesar da sua imensa brutalidade, e os seus líderes ainda a semana passada deram o seu apoio à constituição interina, mostrando que são afinal um elo mais forte do que o elo espanhol.

Uma só palavra descreve o que JMF escreve: lixo que dá asco ler. Tenho muitos amigos espanhóis, e se é coisa que os espanhóis não são é covardes. Claro que o que acontece é que JMF está ressaibiado com o resultado das eleições em espanha, e está numa de repetir da pior forma o argumento idiota da direita: que a derrota de Aznar foi uma vitória do terrorismo. Enfim, nem vale a pena falar mais disso. Mas quando JMF chega ao cúmulo de comparar a covardia dos Espanhóis com o Estoicismo dos Xiitas, a coisa só me dá para vomitar. Até onde é que este biológo desnaturado irá para defender as suas teses estapafúrdias? o que o homem merecia era que uns quantos Espanhóis covardes lhe movessem um processo por difamação, ou então lhe fizessem uma espera para ver da estoicidade de que JMF é capaz...

Reacção de uma amigo à mudança de governo:

(...) la cual no se si saldra por el cambio de gobierno....por cierto....!!!!!!QUE ALEGRIA!!!!!....

Xeque Mate

Toda a gente está de acordo, e toda a gente acha que o assassínio do Xeque Ahmed Yassin foi uma estupidez que irá sem dúvida alimentar a espiral de ódio no próximo Oriente. Curiosamente, foi exactamente essa a razão invocada por França para não estar de acordo com a guerra do Iraque, afirmando que a ONU estava a conseguir desarmar o Iraque e que uma guerra na região iria incendiar o fundamentalismo islâmico. Se calhar, tinham razão. Só não percebo porque é que as pessoas que condenam o assassínio do Xeque não condenaram a guerra do Iraque. Entretanto morreram 10 000 civis, os terroristas continuam a prosperar e até vamos ter direito a caças a sobrevoar Lisboa durante o Euro e o Rock in Rio. Deve haver algo que me escapa no meio disto tudo....

Sinais dos tempos

Hoje, em que a luta ao terrorismo passa por todas as bocas e todas as mentes, esquecemo-nos de outras lutas, esquecemo-nos de flagelos 1000 vezes, 10 000 vezes, 1 milhão de vezes mais devastadores que o terrorismo. As notícias da fome (1 milhão de crianças morre todos os anos de fome) e da pobreza (em Portugal, 30% da população vive com menos de 60 contos mensais) passam para segundo plano. Contra o terrorismo, pode-se fazer alguma coisa, mas a sua erradicação passará sempre mais pela prevenção do que pela corrida à defesa e ao militarismo, já que os caminhos que levam à morte e destruição são inúmeros e imprevisíveis. Contra a fome e a pobreza, muito se pode fazer e concretizar, mas claramente esta não é uma prioridade do Mundo. O planeta está refém de um punhado de terroristas e esquece mais de metade da sua população. Claro que na cartilha ultra-liberal, o facto de 20% da população mundial usufruir de 80% dos recursos do planeta é uma lei sacro-santa, a lei dos 20-80, e por isso, inevitável. Voltaremos a esta lei pseudo-científica, que tem em iguais partes estupidez e obscurantismo. Tudo para que aceitemos a pobreza com a mansidão dos cordeiros condenados ao sacrifício...

Mais um passo adiante

Um texto de José Saramago, lido em Madrid, saúda manifestações mundiais contra a guerra e vê, na rebelião espanhola, o caminho para enfrentar “novos” fascismos.

Madrid, capital moral da Europa

José Saramago

Não à guerra. Sim à paz. Não à ocupação. Sim ao direito de viver livres. Hoje, Madrid é a capital moral da Europa; certamente não é a capital política dos europeus nem a capital económica nem muito menos a capital militar. Mas é, clara e rotundamente, a capital moral desta Europa a que ousaram chamar “velha” alguns que da Europa sabiam e sabem muito pouco, e que de sua suposta juventude presumiam demais.

Os 200 mortos no infame atentado de 11 de março vão ficar para sempre na memória e no coração de Madrid. Cada um será nesta cidade uma imagem que encontraremos pelas ruas. Cada um, um olhar que nos interrogará sobre o passado. Cada um, uma exigência e um compromisso.

No dia seguinte, com os olhos molhados e a dor colada à alma, Madrid saiu em massa às ruas. E com Madrid saiu a Espanha inteira de suas casas. Pela Espanha, saíram a Europa e o mundo. Em muitas cidades e povoados do outro lado das fronteiras soaram os sinos das igrejas e as sirenes das fábricas. E todos os minutos de silêncio cumpridos fizeram muitas horas de luto. Madrid não estava só. Espanha não estava só. Uma onda de solidariedade empapada de lágrimas mostrou a todos um clamor unânime contra a barbárie terrorista. Um clamor geral contra o terrorismo interno e externo e também, como conseqüência de um tal crime, contra todos os demais terrorismos de todas as cores e frações: os de negro e os de azul, os de verde e os de castanho. Ninguém ignora que se tingiram nestas cores nefastas camisas no passado.

Cores disfarçadas, idênticos objetivos

Ninguém pode ignorar que hoje, sob a capa dos melhores propósitos e as intenções mais protestoras, novos autoritarismos estão ameaçando o mundo. Usam as camisas sob a pele, mas a sede de poder é idêntica. Os processos mudaram, mas os objetivos são os mesmos.

Há um ano, milhões de pessoas saíram à rua para gritar “Não à guerra!”, e tentar, deste modo, ser obstáculo aqueles que se empenharam a enveredar, em nome da guerra preventiva, para o que é simplesmente terrorismo de Estado. Muitos de nós estivemos aqui, e levantamos cartazes de paz e gritos de esperança, mas a guerra não foi detida. Para o senhor Bush e seus dois acólitos principais - os senhores Tony Blair e José Maria Aznar - nós éramos, no melhor dos casos, uns pobres ingénuos, mentalmente incapazes de compreender a sublime majestade da gesta bélica que se preparava. E no pior dos casos, uns miseráveis traidores da civilização ocidental, que não merecíamos o pão que comíamos.

Não importava que a famosa gesta bélica tivesse sido apenas um emaranhado de grosseiras manipulações e falsidades. Não importava que, a cada três palavras, que eles proferiam, duas fossem mentirosas e uma terceira duvidosa. Não importava que os motivos apresentados para desencadear a guerra tivessem sido feitos em pedaços em poucos dias. Orgulhosos na estratégia de enganação sistemática como instrumento de manobra política, Bush, Blair e Aznar dedicaram seus ofícios e misteres a passear pelo mundo seus impagáveis narizes de Pinocchio. O ano passado entrará seguramente para a História como aquele em que mais mentiras foram ditas.

Rio que sobe à superfície

E vocês e nós, os milhares e milhares que saíram à rua há um ano, à primeira vista, terminadas as manifestações, não haviam feito nada a não ser voltar para casa, como se, vencidos e humilhados pelas manhas e pela mentira organizadas, de repente se lhes faltasse a própria consciência vossas razões. Hoje, aqui, podemos afirmar que não foi assim.

As mobilizações de protesto e de reivindicação de paz, reunidas em Madri e em todas a Espanha, foram se convertendo, sem que se dessem conta, no rio Guadiana, que deixa a superfície para conseguir seu caminho sob o solo. E, à maneira do Guadina, o outro rio oculto em que vocês se transformaram, subiu de súbito à superfície, quando ninguém mais o esperava. Ocorreu isso no dia 14 de março de 2004. Uma coisa não tem a ver com as outras, dirão alguns. Mas sim tem a ver que, sacudida pela dor, afogada pelas lágrimas, a palavra paz voltou a encontrar o caminho de nossas gargantas e o “Não à guerra!” retomou sua primitiva força, para logo dobrá-la e até multiplicá-la.

O que parecia adormecido despertou e a partir de agora nada nem ninguém nos poderá calar. Não à guerra! Não, não, não, não e não!

Publicado em Porto Alegre 2003: 24/03/2004

quarta-feira, março 24, 2004

JMF e GAIA

Caro José Manuel Fernandes,

Foi com grande surpresa e indignação que me deparei hoje com o seu editorial no Público, onde surge uma alusão extremamente negativa a uma encenação que o GAIA preparou para a manifestação pela paz em Lisboa do passado dia 20. É lamentável que o Director do Jornal Público utilize uma imagem fora de contexto para fazer valer a sua opinião sobre as questões da guerra e, mais particularmente, sobre os movimentos sociais que defendem a paz e o fim da guerra.

O Sr. José Manuel Fernandes, ao invés de procurar informar-se sobre o que escreve e presenciar aquilo sobre o que fala, prefere pegar numa imagem e usá-la a seu bel prazer. Cabe-me informar-lhe, para que não permaneça a desinformação aos leitores, que essa imagem, contendo um Bin Laden e dois terroristas com cintos de bombas, é parte de uma encenação onde do outro lado se encontra o Presidente Bush com dois soldados americanos. À volta de Bin Laden e de Bush circulam executivos sem rosto de multinacionais do petróleo e do armamento. Ao meio, agitados por uma corda, civis apelam à paz.

Ora, se efectivamente se tratasse de uma homenagem, ela seria tanto ao Sr. Osama e ao seu esquadrão terrorista, como ao Sr. Bush e aos seu exército. Se com a afirmação que fez pretendia afundar o movimento com o anti-americanismo, então, desculpe-me que lhe diga, falhou redondamente. Falhou também como jornalista, ao demonstrar uma perigosa parcialidade na análise das questões da actualidade; e como Director de um jornal ao enganar os seus próprios leitores.

A encenação era uma homenagem. Uma homenagem à paz e aos civis que todos
os dias se somam às vítimas da guerra e do terrorismo. No Iraque, na Palestina, em Israel, nos Estados Unidos ou em Espanha. O Sr. José Manuel Fernandes e, por inerência, o Jornal Público, acabou de acrescentar mais uma vítima à lista - a verdade.

Gualter Barbas Baptista
Activista do GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental
Representado na manifestação de dia 20 pela figura de George W. Bush.
Contacto: 919090807

PS: Tendo a perfeita noção que este esclarecimento não será publicado,
fica no entanto o esclarecimento pessoal, para que o mesmo erro não seja
cometido em intervenções futuras.

PS2: Anexo uma descrição mais detalhada da encenação, retirada do
Ecoportal do GAIA
(http://gaia.org.pt/ecoportal/)

Civis inocentes, a apelar à paz. Terroristas. Soldados americanos. Osama
Bin Laden. George W. Bush. Shell e Exxon, pela indústria do petróleo.
Lockheed-Martin e Boeing pela indústria do armamento. Foram estes os
personagens da encenação do GAIA.

De um lado, George W. Bush incita as suas tropas a puxar a corda da
guerra, onde bamboleiam civis inocentes. Do outro, Osama Bin Laden
incita as suas tropas suicidas e terroristas a combater o império.
Também eles agitam os civis inocentes. De ambos os lados, somam-se as
casualidades da guerra.

Por detrás de toda este cenário, surgem as figuras sem rosto,
responsáveis por uma maléfica orquestração do capitalismo mais selvagem.
A indústria do petróleo e a indústria do armamento metem notas verdes
quer nos bolsos de Bush, quer nos bolsos de Osama. Nas notas pode lêr-se
a inscrição: "Petróleo = Sangue Inocente".

As corporações são as principais interessadas em perpetuar a guerra. O
complexo militar-industrial precisa das guerras para apoiar o
desenvolvimento da indústria do armamento. Os países ricos em petróleo
são atacados para garantir o escoamento do ouro negro para os mercados
mundiais sedentos de combustão.

Toda a orquestração é denunciada pelo GAIA. Enquanto os civis pedem a
paz, circula um cartaz que declara "o fim da era do petróleo".

JMF




Dia Nacional do Estudante



terça-feira, março 23, 2004

Excluir ou desenvolver?

Decorreram no dia 7 de Novembro, no Cine-Teatro de Gouveia, um conjunto de ateliers subordinados ao tema Excluir ou Desenvolver? – reinventar as práticas e parcerias no desenvolvimento social.

Organizados no âmbito do Projecto de Luta Contra a Pobreza pelas associações Actuar Solidariamente em Aguiar da Beira, Amanho das Terras de Algodres, Amparo, Gouveia Solidária, Intervir Sabugal, Meda Envolver+, PODEPI e Sena, nos ateliers trataram-se questões como a criação de condições à fixação dos jovens, o desenvolvimento da consciência social nas pessoas e nas comunidades, como promover e tornar viáveis as economias locais, a continuidade do Projecto de Luta Contra a Pobreza, a boa gestão de projectos, etc..

A escolha dos temas tratados foi ditada pela preocupação dos dinamizadores locais do Projecto de Luta Contra a Pobreza de romperem com o isolamento do concelho, tendo fixado como objectivos a reflexão e um melhor conhecimento sobre o trabalho realizado, perspectivar estratégias de intervenção mais eficientes e eficazes e contribuir para a consciencialização dos actores sociais do concelho.

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Nota: publicado no n.º 81 da revista da Animar Vez e Voz, edição de Agosto/Dezembro de 2003.

O Loby da botânica

A Primavera chegou, e com ela, a mais dura revelação desde que soubemos que afinal não havia ADM no Iraque: o Bagão Félix diz que é Botânico. Que isso da Economia foi a família que o pressionou a seguir, mas que no fundo no fundo, ele queria era ser agrónomo e aprender botânica. Ó homem, porque é que deste ouvidos à família? se tivesses seguido a vocação, seríamos certamente colegas, trocaríamos saberes vegetais, talvez até te mostrasse alguns sítios secretos onde se podem encontrar plantas únicas, de uma beleza estonteante. Assim, vivemos hoje de costas voltadas, com dificuldade em comunicar relativamente a 99% dos assuntos. Sobra sempre 1% de entendimento, relativo ao latim das botânicas, como o Salix babilonica, o Quercus suber e o Arbutus Unedo... e claro, ambos trabalhamos para o bem comum, no domínio do social. Vá lá, vem daí que eu mostro-te o meu herbário, se tu me mostrares o teu!

Os muros falam o que os Media calam

Os bastidores da mobilização social que sacudiu a Espanha, evitou a manipulação dos atentados de Madrid e tirou a direita do poder. Que papel jogou o movimento outromundista e por que os planos de Bush estão em perigo.

António Martins, Outras Palavras.

“Guerra ontem, terror hoje, voto amanhã”

Cartaz afixado na estação Atocha, em 12/3

“Não está morto quem peleia”, costuma-se dizer em Porto Alegre, berço dos Fóruns Sociais Mundiais (FSMs) . Entre 11 e 15 de março, a Espanha foi tomada por um movimento político extraordinário, que reacende a esperança nas mobilizações por um mundo novo e cujas repercussões internacionais, sentidas de imediato, ainda podem se ampliar. Ferido por um ato terrorista repulsivo1, ameaçado em seguida por uma tentativa de manipulação política igualmente monstruosa, o país encontrou forças para reagir. A volta por cima foi possível porque entraram em ação elementos de uma nova cultura política, da qual o FSM é expressão.

Apenas alguns fatos deste vendaval são conhecidos. Sabe-se que o governo de direita, chefiado pelo primeiro-ministro José Maria Aznar e aliado preferencial da Casa Branca na Europa, mentiu sobre a autoria dos atentados. Também se intui que a derrota eleitoral sofrida por ele, no dia 15, está relacionada à descoberta da falsificação. Mas há, nos relatos dos jornais de mercado, duas lacunas emblemáticas.

A primeira é sobre o caráter da manipulação promovida por Aznar. Ela não foi imposta, pela força da autoridade (exceto na agência de notícias EFE), mas conquistada sutilmente, graças às relações cada vez mais promíscuas que a imprensa e o poder mantêm, em nossos tempos. Em outras palavras, a deformação foi feita por meio dos silêncios e meias-verdades que caracterizam as “democracias” sob as quais todos vivemos.

Também não se explica como a sociedade reconquistou o direito à informação. Teria sido graças ao espírito investigativo dos jornais, antes chamados de “Quarto Poder”?

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Ainda a Voxx

TODO O MUNDO DESTE ALENTEJO

Não, não é gralha nem simples trocadilho com a tradicional sigla da Ovibeja: “Todo o Alentejo deste Mundo”. O título é 100% intencional e retrata uma face menos conhecida desta terra que continua a ver sair muitos dos seus filhos e filhas para a grande Lisboa, para a Europa, para as sete partidas do mundo. Mas a situação começou a inverter-se com a chegada de largos milhares de imigrantes que têm contribuído para a criação de riqueza e para que o saldo demográfico dos últimos anos não seja ainda mais negativo.

No recente Congresso Alentejo XXI, no painel sobre o despovoamento, usei a seguinte caricatura: “façamos amor e abramos os braços aos (às) imigrantes”. Mas o despovoamento é apenas um aspecto da desertificação do Alentejo e do sul peninsular. E há duas formas de encarar a imigração: como problema ou como oportunidade, como parte integrante das soluções necessárias. Portugal precisa de 200 mil novos imigrantes por ano, só para estancar o envelhecimento da população e manter a sustentabilidade do sistema de segurança social. A História demonstra que as migrações têm sido um factor de enriquecimento multilateral, de diversidade e miscigenização de povos e culturas.

No Alentejo, serão uns 20 mil, repartidos pelos quatro distritos, a que acrescentaremos mais uns 25% de ilegais, num total que rondará os 25 mil imigrantes, com grande mobilidade geográfica e laboral. No distrito de Beja, uma projecção com base nos 230 sócios da “Solidariedade Imigrante” (quase 5% do total, amostra mais representativa do que a generalidade das sondagens) indica a seguinte distribuição.

Nacionalidade: Ucrânia – 55%; Brasil – 12%; Rússia – 7%; Roménia – 6,5%; Moldávia – 6,5%; Geórgia – 3%; restantes – 10%.

Grau académico: 22,5% são licenciados (12,5% universitários e 10% politécnicos e tecnico-profissionais) e 57% concluíram o ensino secundário; só 20% se limitam à escolaridade básica, o que confirma uma formação bastante acima da média portuguesa.

Sectores de actividade: a construção civil (57,6%), a agricultura (27,7%) e a hotelaria (6,7%) ocupam 92% dos trabalhadores imigrantes.

Por concelhos, uma surpresa (ou talvez não): Odemira (31%) lidera, seguido de Beja (23%), Vidigueira (8%), Moura (6%), Ourique (5,5%), Ferreira do Alentejo (5%), Serpa (4,5%) e Almodôvar (4%).

A liderança de Odemira está ligada à agricultura e ao regadio, concretamente à zona das várzeas e estufas que se estendem de Vila Nova de Mil Fontes ao Brejão e a Odeceixe, com grande produção de horto-frutícolas (alface, morango, framboesa) e floricultura, directamente para os mercados europeus.

Este é um indicador precioso para o futuro. Com o avanço dos regadios de Alqueva, o recurso aos imigrantes já está a aumentar em concelhos como Ferreira do Alentejo e vai generalizar-se, sobretudo se não se concretizar a reestruturação fundiária – a tão temida nova reforma agrária que divida a terra em explorações racionais que não ultrapassem os 50 hectares e viabilize alguma agricultura familiar e cooperativa, fixando os jovens alentejanos à terra e promovendo as culturas biológicas e amigas do ambiente. O predomínio do latifúndio e das grandes companhias agrícolas, segundo o modelo económico-social andaluz, implicará o recurso a uma mão de obra intensiva, barata e descartável: em Espanha, magrebinos; em Portugal, ucranianos, brasileiros, moldavos, romenos ou búlgaros e, certamente, muito poucos alentejanos.

Em todo o caso, é certo que os imigrantes vieram para ficar. Acolhê-los e defender o trabalho com direitos, combater o dumping social e as mafias da moderna escravatura, é matéria de interesse vital para fazermos do Alentejo uma terra de progresso e de justiça.

Alberto Matos (Radio Pax)

sexta-feira, março 19, 2004

Bom Nawruz em S!

Ao contrário das nossas expectativas relativamente ao brilho do mundo, a altura a que diariamente sobe o sol tem vindo a aumentar desde o Inverno. Continuará subindo até ao Verão, mas amanhã seremos testemunha de uma igualdade planetária que só ocorre duas vezes no ano: 12 horas de dia, 12 horas de noite. E isto para todos os terráqueos, independentemente de cor, credo, nacionalidade...
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O Solstício da Primavera determina o início do ano em muitas tradições. O ano Romano, por exemplo, começava em Março. E o ano Astrológico começa quando a lua entra no primeiro signo do Zodíaco, Carneiro, deus grego equivalente a Marte, deus romano de que derivou Março... Quando se usa o Calendário Gregoriano (o nosso), a data dos equinócios (e o número de dias que Fevereiro tem) resultam de decisões "políticas". Assim, Fevereiro tem 28 dias excepto cada quatro anos, quando Fevereiro tem 29; e nas passagens de século tem sempre 28 dias excepto de quatro em quatro séculos (1600, 2000, 2400...). O cálculo da data do Equinócio parte então da assunção de que há um ciclo de 400 anos que se repete indefinidamente, que um ano tem 365.2425 dias, e que o equinócio (o tal que se repete de 400 em 400 anos) ocorreu exactamente às 19h30 de 20 Março de 2000 (e de 1600, e de 2400...). Estes cálculos conduzem a uma acumulação anual de um erro de 0,0003 dias, o qual implicará nova correcção do calendário no ano 4915!

Para amanhã, 20 de Março 2004, poderão usar as 18h47 como data oficial para abrir o champanhe. Ou a Primavera deverá antes ser celebrada com água pura?? Os iranianos ainda hoje celebram o Nawruz, antigo festival persa alusivo à chegada da Primavera durante o qual se comem sete pratos começados por s! Em português não sei bem o que podem conseguir, tentem qualquer coisa à volta de salada, salsa, salame, salsaparrilha, sopa (esta é mesmo para facilitar!), sarapatel, solha...

Bom, mas certo, certo, é que amanhã o dia vai durar exactamente 12 horas para toda a gente. Durará 12 horas em Portugal, em Espanha, nos EUA, no Bangladesh, no Iraque... A maior parte do pessoal não pode escolher, não tem alternativas, mas vocês podem - ter que ir ao supermercado, ter um trabalho para entregar, ou o puto não poder faltar à natação, não são de todo obrigações inadiáveis – vejam o que fazem com essas 12 horas. E com as outras 12 também, claro, pois todos os terráqueos terão direito a uma noite com 12 horas... Enfim, sintam que estamos todos no mesmo 1 barco.

mpf

Brincadeiras de crianças

Ontem estava a ver na televisão a notícia sobre os confrontos no Kosovo. O meu filho (4 anos) olha para aquilo e pergunta: "Estão a brincar ao Iraque?"

(Brincadeiras à parte. A NATO, na sua gloriosa intervenção humanitária, ocupou o Kosovo mas ainda não conseguiu resolver lá nenhum problema, como se vê. O ódio permanece, a vontade de realizar limpeza étnica continua, e à menor oportunidade voltam à superfície. E, se dantes quem estava na mó de cima eram os sérvios, um povo apesar de tudo civilizado e organizado e europeu, agora quem está na mó de cima são os albaneses, um povo envolvido em máfias e com muito escassa preparação democrática. Como de costume, os EUA aliaram-se a quem não deviam.)

Luís Lavoura

Estudo prevê extinção em massa

Uma pesquisa detalhada em pássaros e borboletas na Grã Bretanha mostra um declinio populacional de 54% para 71%, uma descoberta que sugere que o mundo pode estar à beira de mais uma grande extinção.

Os pesquisadores dizem que o o estudo ajuda a suportar a teoria que a sexta grande extinção na história da terra está a caminho, desta vez, causada por humanos

Agencia AP

podem ver a noticia Aqui

quinta-feira, março 18, 2004

A Primavera é pra todos!

Ah Paulo, finalmente dás algum crédito natúrico aos bichos! Ainda assim não perdes a ocasião de ilustrar a grande notícia com mais uma florita... Aqui venho eu então pespegar uma foto animalesca de antílopes de Saiga (Saiga tatarica), habitantes das estepes do interior da Ásia - Europa Oriental.

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E porque desvias os interesses animais para a carnivoria, aqui venho lembrar que a maioria dos animais é herbívora e sempre à coca de devorar a primeira florinha que lhe apareça! Bom, alguns são bem selectivos, é verdade. Este belíssimo animal, por exemplo, gosta especialmente do fruto do abssinto...

Os antílopes de Saiga são completamente nómadas, movendo-se com a Natureza: nesta altura da Primavera chegavam a juntar-se em grupos com mais de 200.000 indivíduos! Eles vão-se movendo à medida que vão exaurindo as pastagens, as quais ficarão a recuperar até ao regresso deles - é assim uma espécie de maneio sustentável. Quando andam nestas manadas em locais já com pouco coberto vegetal levantam muito pó, daí possuirem aqueles fantásticos focinhos em forma de tromba, com os quais filtram as poeiras do ar.

Entretanto o bicho, que é quase como uma ovelha, é altamente caçado quer para consumo de carne quer por causa dos chifres, usados em medicina tradicional. Em 1993 estimava-se que seriam mais de 1 milhão; os últimos censos (2001-02) registaram menos de 50.000 animais, um decréscimo de 90%. É por isso que o antílope de Saiga é classificado na Lista Vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature and Natural Resources) como estando criticamente em perigo de extinção...

De quantas mais primaveras farão parte os Antílopes de Saiga?

mpf

Está quase!!



Ela está aí, com toda a força da Natureza. Com as florinhas e outras alucinações vegetais, vêm também uma carrada de manifestações primaveris animais. As crias começam a pulular por esses campos fora, e no caso das pequenas crias de roedores, o destino de muitas é acabarem nas mandíbulas de um felino impiedoso. Como ainda são muito jovens, os felinos deglutem-nas inteiras, aproveitando o estado dos ossinhos ainda mal desenvolvidos das infelizes crias de micro-mamíferos. Pelo menos na Natureza, esta é uma estação de cor, abundância, morte e reprodução; é a renovação da coisa Natural. Valha-nos a Natureza para estas coisas das renovações, porque do País nem vale a pena falar....

SMS

Não sejas Murcão, vem à Manifestação!!!

MANIF. DIA 20, ÀS 15H00, NO LRG. CAMÕES (LISBOA) E NA PR. BATALHA (PORTO).

Cepal reconhece o direito à preferência sexual

17.março/2004 - México – Adital - Grupos defensores dos direitos lésbicos e gays comemoram o resultado da recente reunião do Conselho de População e Desenvolvimento da Comissão Económica para a América Latina e Caribe (Cepal), que se declarou favorável ao reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos, incluindo a preferência sexual. O anúncio ganha mais importância porque foi feito em meio da polémica discussão que trata da resolução sobre Orientação Sexual e Direitos Humanos, que está a ser discutida na 60ª reunião da Comissão de Direitos Humanos da ONU.

A reunião começou na segunda-feira, dia 15, em Genebra, na Suíça. A proposta será apresentada pelo Brasil e gerou muita polémica entre entidades conservadoras de todo o mundo. Os 53 membros participantes discutirão durante seis semanas uma infinidade de assuntos que poderão ser ofuscados pela luta contra o terrorismo e o tradicional voto contra o embargo a Cuba.

Os grupos lésbicos e gays acreditam ter países aliados suficientes para a proposta ser aprovada: 13 do grupo europeu e ainda Argentina, Brasil, México e Honduras, da América Latina. Estimam que 22 países da Ásia, África e Médio Oriente votarão contra.

Os defensores de direitos humanos depositam esperanças nos países "indecisos", esperando que estes votem a favor da resolução: Coreia do Sul, Costa Rica, Cuba, Estados Unidos, Índia, Japão, Paraguai e Rússia. Por isso, convidam os activistas da região a continuar o trabalho para ter o apoio de seus governos.

No Chile

Entidades e organizações lésbico-gays estarão reunidas amanhã, dia 18, na sede chilena da Anistia Internacional para uma coletiva de imprensa, às 11 horas, com o objetivo de denunciar os atos de discriminação para com os homossexuais. A atividade também é um protesto contra o governo do Chile que se manifestou contrário à proposta da resolução sobre Direitos Humanos e Orientação Sexual.

"Pedimos ao Estado chileno que promova e proteja os direitos humanos de todas as pessoas, independente de sua identidade sexual ou de gênero. Solicitamos o apoio do Chile nas recomendações dos órgãos de fiscalização dos tratados e dos procedimentos especiais para por fim às violações de direitos humanos, baseados na orientação sexual e na identidade de género", afirma o documento feito pelas entidades.

Copiado da Adital

quarta-feira, março 17, 2004

Cedências

Quem cedeu ao terrorismo não foram os espanhóis: esses, participaram massivamente nas eleições, numa clara manifestação democrática; quem cedeu foram todos os países que passaram a luta ao terrorismo para primeiro plano, dando a este fenómeno até há pouco tempo negligenciável um protogonismo que faz dos terroristas grandes figuras da política mundial. Aqui há uma década seria impensável invadir países em nome da guerra ao Terrorismo..... Quando os EUA atacaram o Afeganistão e depois o Iraque, cederam (por interesse próprio) ao terrorismo. Foram os ataques terroristas de 11 de Setembro que supostamente "legitimaram" estas guerras. A partir desse momento, os terroristas dominaram a agenda internacional. Se a Europa alterar radicalmente a sua política de defesa, estará ela também a entrar no jogo dos terroristas. O que o terrorismo quer é influenciar o curso da história, e isso, não há dúvida que o tem conseguido.

Neutralidade

"Não há neutralidade possível entre democracia e terrorismo", afirmou o primeiro-ministro, considerando que Portugal tem de estar "claramente do lado da democracia, da liberdade e dos valores contra toda a ameaça terrorista". PM Durão Barroso

E é ao lado da América que ficamos do lado da liberdade e da democracia? estará ele a falar da mesma América que conhecemos? daquele que se está lixando para as Nações Unidas, para o TPI e para os direitos humanos?

Estes discursos demagógico-manipulativo-populistas dão-me asco. Desde o famoso Dito Bushiano: "Ou estão connosco ou contra nós" que não ouvimos dos governos "guerreiros" outro argumento que não a escolha dicotómica entre o terrorismo e a "Liberdade e Democracia". Já não há paxorra! o PM está a tornar-se uma verdadeira cassete. Será que ainda não percebeu que Bush precisa de terrorismo como de pão para a boca? e vice-versa? será que Durão acredita mesmo que o planeta está mais "seguro" desde que começou a guerra ao Terrorismo?

SMS contra a guerra e o terror

Começou uma campanha na blogosfera para que outra comece por via SMS a pedir às pessoas que participem na manifestação mundial contra a guerra e contra o terrorismo, já no sábado. A ideia é pedir às pessoas, em vários posts ou num lugar de destaque do blogue, para enviarem SMS’s a toda a gente. Exemplo de SMS:

1 - Terrorismo e guerra, basta ya!

2 - As vossas guerras, os nossos mortos

3 - E tu? Onde escondeste as tuas armas de destruição maciça?

4 - Eu vou à Manifestação porque não esqueço Madrid

5 - Nem mais um soldado para o Iraque

6 - Faltam 200 na nossa manif

7 - Durão mentiroso, Governo perigoso

8 - Dia 20 a nossa selecção joga contra o Bush e o Bin Laden

9 - Guerra e terrorismo: 2 faces do mesmo dólar

10 - A frase pode ser qualquer uma, a vosso gosto, para que depois se peça aos leitores para a espalharem a mensagem por todos os telemóveis do país.

11 - Não sejas Murcão, vem à Manifestação

12 - Contra o Terrorismo e a Guerra, Marchar, Marchar.

MANIF. DIA 20, ÀS 15H00, NO LRG. CAMÕES (LISBOA) E NA PR. BATALHA (PORTO).
(precedido por uma das frases de 1 a 12 ou outra que te apetecer).

A iniciativa partiu do Grão de Areia (e Attac por mail), levando achegas do Barnabé, do BdE e do Boss.

Eu se tivesse essa modernice dos telemóveis mandava a 11...

Guantanamo II

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Para além das vítimas inocentes do terrorismo, não deveremos também esquecer eventuais vítimas inocentes do “combate ao terrorismo”. Dos prisioneiros de Guantanamo, uma vez que nunca foram julgados, não sabemos nada, excepto que estavam no local do crime. Tal como os soldados americanos que os prenderam.

Na semana passada chegaram ao Reino Unido três ex-prisioneiros de Guantanamo, cidadãos ingleses: Rasul, Ahmed, and Iqbal, o primeiro com 26 anos, os outros dois com 22. Os três são amigos de infância que nasceram e viveram em Tipton, cidade inglesa das Midlands, até Setembro de 2001, altura em que viajaram ao encontro da família da noiva que a família de Iqbal comprometera para ele em Faisalabad, no Paquistão; Ahmed seria o padrinho da boda, Rasul acompanhava-os.

Entretanto rebenta a confusão no Afganistão, e os três jovens (junto com muitos outros jovens paquistaneses) rumam ao país vizinho, alegadamente distribuindo víveres e medicamentos pelos aldeões paupérrimos. Se bem que muçulmanos, os três não só não são fundamentalistas, como praticam uma versão do Islão diferente da dos afegães. Mas, pior que tudo, não usavam barba, pelo que rapidamente são apontados pelos afegães e começam a ser perseguidos. Na fuga, vão directos... aos americanos, e são capturados por estes últimos! Depois de horrores inacreditáveis acabam em Guantanamo, onde ficam 2 anos e tal. Tanto quanto percebi, não há nenhuma acusação formal contra eles, nenhuma testemunha, não foram vistos a fazer nada de mal, não se lhes conhece nenhuma ligação perigosa...

mpf

Festival dos velhinhos



Tirado do Juramento sem Bandeira

Porquê?

Os Celtas voltam a atacar

Alguém me sabe explicar porque é que naquele anúncio de publicidade a Portugal, falado em inglês e Alemão, com imagens de sonho do Portugal profundo, que celebram a rica cultura milenar Portuguesa (com direito ao tradicional grupo de folclor vestido a rigor) e a celebrada gastronomia Lusa, temos como música de fundo música .... Irlandesa? há mesmo um momento em que se dança um bocadinho de um Vira ouvindo música Irlandesa...

Ou querem enganar os estranjas, que vêm à cata de Guiness e Pubs irlandeses enganados pela música, ou então é os que encomendaram o trabalho têm vergonha da cultura Portuguesa (que é o que o anúncio mais vende), substituindo a embaraçosa música dos adufes, violas, bombos e gaitas pelo melodioso som de flauta irlandesa, tradicional música de elevador e de anúncios pseudo-celtas para vender sabonetes....

"Anti-terrorismo" I

Por Ignacio Ramonet

Por atingir civis desarmados, o terrorismo constitui uma forma de luta particularmente abjecta. Nenhuma causa, por mais justa que seja, justifica o recurso a este método desprezível. Os atentados de 11 de setembro de 2001, assim como os mais recentes -- em Casablanca, Riad, Istambul, Moscovo, Madrid ou Haifa e Jerusalém -- só podem despertar repugnância e aversão. Assim como o facto de certos governos apelarem, como represália, ao terrorismo de Estado.

Abalados pelos ataques de 11 de setembro, tão violentos quanto inesperados, as autoridades de diversos países apressaram-se a promolugar, em nome do antiterrorismo, leis que definem novos crimes, proíbem certas organizações, limitam as liberdades civis e reduzem as garantias contra as violações dos direitos fundamentais.

EUA, cemitério de liberdades

Os primeiros a fazê-lo foram os Estados Unidos. Em 26 de outubro de 2001, o Congresso aprovou uma lei denominada oportunisticamente Patriot Act (Provide Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism). Ela outorga poderes excepcionais à polícia e aos serviços de informação, reduz as prerrogativas dos advogados de defesa e ameaça o habeas corpus, que garante as liberdades individuais. Esta lei autoriza a prisão, deportação e isolamento de suspeitos. As autoridades podem prender e manter detidos indefinidamente os estrangeiros. Suprime-se também a necessidade de autorização judicial para promover interrogatórios, escutas telefónicas ou censura sobre a correspondência e as comunicações por internet.

Em 13 de novembro de 2001, o presidente George W. Bush escorregou um pouco mais para o desvio “securitário”, ao instaurar, por decreto, tribunais militares de excepção para estrangeiros. Criou-se o campo de concentração de Guantânamo. Finalmente, em 5 de janeiro de 2004, entrou em vigor o programa US Visit, que obriga todos os estrangeiros que chegam aos EUA munidos de um visto a submeter seus indicadores direito e esquerdo a um leitor de impressões digitais, e a se deixar fotografar.

Tradução: Antonio Martins

"Anti-terrorismo" II

Por Ignacio Ramonet

No Reino Unido, processos secretos e sem júri

Insólito em tempos de paz, este arsenal de medidas dignas de um Estado autoritário serviu rapidamente de modelo a outros países. A começar pelo Reinou Unido, que não hesitou em violar o artigo 5º da Convenção Européia dos Direitos do Homem e em adoptar, em 2001, uma lei antiterrorista que permite deter por tempo indefinido, sem julgamento ou mesmo acusação formal, qualquer estrangeiro suspeito de constituir ameaça à segurança nacional.

O ministro do Interior, David Blunkett, quer endurecer ainda mais esta lei – a mais draconiana da Europa – e aplicá-la também aos cidadãos britânicos. Os suspeitos seriam julgados preventivamente, em processos secretos e sem júri. Os magistrados destas varas especiais, e também os advogados, seriam “selecionados” pelos serviços secretos, para facilitar a condenação de suspeitos. Blunkett quer também que os passaportes sejam dotados de chips capazes de armazenar as impressões digitais e de retina.

Neste ambiente orwelliano, o governo francês reforçou o arsenal de segurança, ao adoptar primeiro a lei Sarkozi (para a vigilância interna, em fevereiro de 2003); e depois, em 11 de fevereiro último, a lei Perbem. Denunciado pelo conjunto das organizações de advogados, esta últimas caracteriza-se pela instauração do inquérito preliminar. A investigação é executada sem que o acusado tenha conhecimento. Os procedimentos são secretos, não permitem contestação e não têm duração definida. Os “suspeitos” podem ser detidos por 96 horas. Permite-se aos policiais servir-se de métodos especiais de investigação, como a escuta de conversas, a infiltração, a vigilância por meio de microfones e câmeras, instalados em locais privados. Pode-se também, na ausência dos suspeitos, realizar invasões de domicílios noturnas.

Em risco, o último perigo

Encorajados pelo exemplo destes governos democráticos, os regimes mais repressivos correram a desencadear sua própria luta “antiterrorista”. Na Colômbia, na Indonésia, na China, em Myamar, no Uzbequistão, Paquistão, Turquia, Egipto, Jordânia e na República Democrática do Congo, as autoridades qualificam agora quem as critica de “simpatizante do terror”, para esmagar qualquer oposição).

Tradicionalmente pouco sensíveis à violação dos direitos económicos, sociais e culturais, as grandes democracias colocavam, até agora, a defesa dos direitos políticos no primeiro plano de suas preocupações. A obsessão antiterrorista vai levá-las a renegar esta garantia fundamental? Ao transformar o estado de excepção em norma e ao erigir a polícia como figura central do sistema, as democracias estarão prestes a cometer, diante dos nossos olhos, suicídio?

Tradução: Antonio Martins

terça-feira, março 16, 2004

Primeiro banco sem fins lucrativos no Reino Unido

O primeiro banco britânico sem fins lucrativos abriu as portas em Outubro de 2002, oferecendo taxas e comissões muito vantajosas às ONG’s e de carácter social, que encontram geralmente dificuldades acrescidas no financiamento dos seus projectos. Esta nova instituição de crédito foi designada por “Banco da Solidariedade” (Charity* Bank) e encontra-se situada em West Malling, no sueste de Inglaterra. Conta com um capital de arranque de 16 milhões de euros, proveniente do projecto piloto “Investidores na Sociedade”, coordenado pela Fundação “Ajuda às Instituições Solidárias”.

Após o lançamento deste projecto piloto, que ocorreu em Maio de 2002, o banco já concedeu 4,7 milhões de euros a organizações de natureza social. Para o Director-Geral, Malcolm Hayday, “em contraste com uma doação, um investimento no Banco de Solidariedade é investido, volta a ser investido, é devolvido e reinveste-se”, o que permite ao investidor inicial a recuperação dos seus activos, explicou.

Alberto Melo

* Em língua inglesa, “Charity” é um denominação global para as organizações solidárias sem fim lucrativo.

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Nota: publicado no n.º 81 da revista da Animar “Vez e Voz”, edição de Agosto/Dezembro de 2003.

Guerra e terrorismo



Não foram os amigos de Aznar que morreram naqueles comboios, foram cidadãos que muito provavelmente se opuseram a uma guerra que foi mais uma prenda ao pai Bush do que um passo na luta contra qualquer terrorismo; e as próximas vítimas certamente que também não serão os familiares de Durão Barroso ou de Bersluconi.

Texto tirado do Jumento

16/19 tristes aniversários

16 de Março - Há uma ano, aconteceu a triste cimeira das Lages, em que o não menos triste PM Português dizia que estavam à procura de uma solução política...

19 de Março - Há um ano, a solução política tristemente anunciada afinal era uma guerra triste que enfim se declarava...

20 de Março - Este ano, vem para a rua gritar pela paz, com alegria, para combater a tristeza destas guerras!

Mentiras

A TVE, no sábado, em véspera de eleições, "ignorou" os milhares de manifestantes que espontaneamente se concentraram junto às sedes do Partido Popular (PP) em várias cidades de Espanha e optou por exibir, sem aviso prévio, um documentário sobre vítimas da ETA.
Publico on-line

Ou seja, no preciso momento em que todas as televisões do mundo, incluindo a CNN, a Sky News e a BBC passavam imagens dos milhares de manifestantes a exigir a verdade a Aznar, a TVE passava um documentário sobre a ETA. Fosga-se, ganda coincidência!!! e ainda anda praí o JPP a dizer que quem mentiu foi a cadena SER. É preciso ter-se muita lata!

As leis do mercado

No outro dia, a televisão passou uma reportagem a falar mal da economia paralela que andava ali para os lados da feira do relógio, com DVD's ao preço da uva mijona (5 euros) e roupa de marca a metade do preço e mais não sei o quê; naturalmente, como assíduo frequentador da feira do relógio, fui lá ver das novidades. E os rumores confirmaram-se, com os tais DVD's a ser ignobilmente vendidos em duas bancas; entretanto, passaram-se 4 semanas, e as duas bancas iniciais passaram a umas quarenta, generalistas ou especializadas em determinados assuntos; os vendedores são muito provavelmente os mesmos que antes vendiam roupa ao molho e fronhas de almofadas. A mercadoria é que passou a ser diferente enquanto que o pregão manteve-se o mesmo: "É tudo a 5!", facilitando a transição comercial a que o mercado obrigou o vendedor. Na feira do relógio, as leis do mercado mais uma vez impuseram a sua lógica implacável....

Nota - pela primeira vez havia uma banca com BD's em segunda mão (4 e 5 euros); será que passarão a ser 20 bancas de BD's dentro de um mês? nunca se sabe, porque os caminhos do mercado são insondáveis....

Empirismos Gay

Ainda a propósito da adopção por casais gay, ficam aqui alguns bocadinhos de um artigo científico, que encontrei graças ao Cruzes.

O estado da arte

1 - 1 a 9 milhões de crianças vive com pelo menos um dos pais que é gay ou lésbica.

2 - As justificações legais e sociais para evitar os gays e lébicas de ter direitos relativamente aos seus filhos assumiram sempre que haveria um desenvolvimento anormal da criança, nomeadamente no que se refere à sua sexualidade.

3 - Durante os últimos 20 anos, muitos investigadores tentaram determinar se havia alguma base empírica que justificasse estas permissas descriminatórias.

Os resultados destas pesquisas são os seguintes:

1 - Os casais homosexuais não diferem significativamente dos casais heterosexuais, no que se refere à educação e envolvimento da criança.

2 - A orientação sexual dos filhos de casais homosexuais não é afectada pela orientação dos seus pais; nenhuma das 300 crianças estudadas deseja ser do outro sexo; não há diferenças relativamente à preferência de brinquedos, jogos, actividades, roupas ou amizades de filhos de lésbicas relativamente a mães heterosexuais. A percentagem de adultos com preferências homosexuais é igual nos filhos de casais homo- e hetero-sexuais.

3 - Filhos de mães lésbicas divorciadas e de mães heterosexuais divorciadas são iguais no seu comportamento social e sexual.

4 - O ajustamento social das crianças depende muito mais dos processo familiares (se os pais se zangam com frequência, ou se têm uma má relação com a criança) do que da sua estrutura (heterosexual ou homosexual).

5 - Apesar da amostra ser ainda reduzida, os resultados acumulados durante 20 anos com diferentes amostras e metodologias conduz sempre ao mesmo padrão: não há diferenças entre os pais gay e hetero no que se refere à saude emocional, às qualidades parentais e às atitudes educacionais dos pais. Nenhuns resultados apontam que seja um risco para as crianças serem educadas por um casal homosexual.

Esta informação vem toda neste artigo, que é uma artigo de revisão contendo 31 referências de estudos realizados sobre as crianças educadas por casais homosexuais nos últimos 20 anos. A haver diferenças, elas poderão ser abonatórias para os homosexuais:

In fact, growing up with parents who are lesbian or gay may confer some advantages to children. They have been described as more tolerant of diversity and more nurturing toward younger children than children whose parents are heterosexual.