quarta-feira, março 24, 2004

JMF e GAIA

Caro José Manuel Fernandes,

Foi com grande surpresa e indignação que me deparei hoje com o seu editorial no Público, onde surge uma alusão extremamente negativa a uma encenação que o GAIA preparou para a manifestação pela paz em Lisboa do passado dia 20. É lamentável que o Director do Jornal Público utilize uma imagem fora de contexto para fazer valer a sua opinião sobre as questões da guerra e, mais particularmente, sobre os movimentos sociais que defendem a paz e o fim da guerra.

O Sr. José Manuel Fernandes, ao invés de procurar informar-se sobre o que escreve e presenciar aquilo sobre o que fala, prefere pegar numa imagem e usá-la a seu bel prazer. Cabe-me informar-lhe, para que não permaneça a desinformação aos leitores, que essa imagem, contendo um Bin Laden e dois terroristas com cintos de bombas, é parte de uma encenação onde do outro lado se encontra o Presidente Bush com dois soldados americanos. À volta de Bin Laden e de Bush circulam executivos sem rosto de multinacionais do petróleo e do armamento. Ao meio, agitados por uma corda, civis apelam à paz.

Ora, se efectivamente se tratasse de uma homenagem, ela seria tanto ao Sr. Osama e ao seu esquadrão terrorista, como ao Sr. Bush e aos seu exército. Se com a afirmação que fez pretendia afundar o movimento com o anti-americanismo, então, desculpe-me que lhe diga, falhou redondamente. Falhou também como jornalista, ao demonstrar uma perigosa parcialidade na análise das questões da actualidade; e como Director de um jornal ao enganar os seus próprios leitores.

A encenação era uma homenagem. Uma homenagem à paz e aos civis que todos
os dias se somam às vítimas da guerra e do terrorismo. No Iraque, na Palestina, em Israel, nos Estados Unidos ou em Espanha. O Sr. José Manuel Fernandes e, por inerência, o Jornal Público, acabou de acrescentar mais uma vítima à lista - a verdade.

Gualter Barbas Baptista
Activista do GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental
Representado na manifestação de dia 20 pela figura de George W. Bush.
Contacto: 919090807

PS: Tendo a perfeita noção que este esclarecimento não será publicado,
fica no entanto o esclarecimento pessoal, para que o mesmo erro não seja
cometido em intervenções futuras.

PS2: Anexo uma descrição mais detalhada da encenação, retirada do
Ecoportal do GAIA
(http://gaia.org.pt/ecoportal/)

Civis inocentes, a apelar à paz. Terroristas. Soldados americanos. Osama
Bin Laden. George W. Bush. Shell e Exxon, pela indústria do petróleo.
Lockheed-Martin e Boeing pela indústria do armamento. Foram estes os
personagens da encenação do GAIA.

De um lado, George W. Bush incita as suas tropas a puxar a corda da
guerra, onde bamboleiam civis inocentes. Do outro, Osama Bin Laden
incita as suas tropas suicidas e terroristas a combater o império.
Também eles agitam os civis inocentes. De ambos os lados, somam-se as
casualidades da guerra.

Por detrás de toda este cenário, surgem as figuras sem rosto,
responsáveis por uma maléfica orquestração do capitalismo mais selvagem.
A indústria do petróleo e a indústria do armamento metem notas verdes
quer nos bolsos de Bush, quer nos bolsos de Osama. Nas notas pode lêr-se
a inscrição: "Petróleo = Sangue Inocente".

As corporações são as principais interessadas em perpetuar a guerra. O
complexo militar-industrial precisa das guerras para apoiar o
desenvolvimento da indústria do armamento. Os países ricos em petróleo
são atacados para garantir o escoamento do ouro negro para os mercados
mundiais sedentos de combustão.

Toda a orquestração é denunciada pelo GAIA. Enquanto os civis pedem a
paz, circula um cartaz que declara "o fim da era do petróleo".

JMF

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