Os bastidores da mobilização social que sacudiu a Espanha, evitou a manipulação dos atentados de Madrid e tirou a direita do poder. Que papel jogou o movimento outromundista e por que os planos de Bush estão em perigo.
António Martins, Outras Palavras.
“Guerra ontem, terror hoje, voto amanhã”
Cartaz afixado na estação Atocha, em 12/3
“Não está morto quem peleia”, costuma-se dizer em Porto Alegre, berço dos Fóruns Sociais Mundiais (FSMs) . Entre 11 e 15 de março, a Espanha foi tomada por um movimento político extraordinário, que reacende a esperança nas mobilizações por um mundo novo e cujas repercussões internacionais, sentidas de imediato, ainda podem se ampliar. Ferido por um ato terrorista repulsivo1, ameaçado em seguida por uma tentativa de manipulação política igualmente monstruosa, o país encontrou forças para reagir. A volta por cima foi possível porque entraram em ação elementos de uma nova cultura política, da qual o FSM é expressão.
Apenas alguns fatos deste vendaval são conhecidos. Sabe-se que o governo de direita, chefiado pelo primeiro-ministro José Maria Aznar e aliado preferencial da Casa Branca na Europa, mentiu sobre a autoria dos atentados. Também se intui que a derrota eleitoral sofrida por ele, no dia 15, está relacionada à descoberta da falsificação. Mas há, nos relatos dos jornais de mercado, duas lacunas emblemáticas.
A primeira é sobre o caráter da manipulação promovida por Aznar. Ela não foi imposta, pela força da autoridade (exceto na agência de notícias EFE), mas conquistada sutilmente, graças às relações cada vez mais promíscuas que a imprensa e o poder mantêm, em nossos tempos. Em outras palavras, a deformação foi feita por meio dos silêncios e meias-verdades que caracterizam as “democracias” sob as quais todos vivemos.
Também não se explica como a sociedade reconquistou o direito à informação. Teria sido graças ao espírito investigativo dos jornais, antes chamados de “Quarto Poder”?
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