Que la pluma sea también una espada y que su filo corte el oscuro muro por el que habrá de colarse el mañana [Subcomandante Marcos]
domingo, janeiro 30, 2005
FSM 2005 - XXIV
Números do FSM 2005
Os 11 Espaços Temáticos ocupam 4 km da orla do Guaíba, com 150 mil metros quadrados de área construída (o equivalente a 18 estádios de futebol do tamanho do Maracanã). No total, são 498 espaços temporários - 203 salas e auditórios com capacidade entre 50 e 1000 lugares e 295 tendas para outras atividades e serviços -, dos quais 80% foram montados com lonas e o restante é de bioconstrução e material reciclado. As obras custaram R$ 4,4 milhões e envolveram 1.900 trabalhadores, tendo sido concluídas em um prazo de 40 dias.
A estrutura do FSM 2005 comporta ainda 700 computadores, mais de mil pontos de acesso à internet, 30 cybercafés, 11 centrais de informação, quatro espaços de atendimento em saúde, 600 sanitários químicos, quatro praças de alimentação, 60 quiosques para lanches e uma feira de abastecimento.
Outra marca do FSM 2005 é a participação efetiva dos movimentos de Economia Popular e Solidária, que receberam R$ 2 milhões dos R$ 14 milhões do orçamento total do Fórum. Mais de 1.500 trabalhadores de empreendimentos autogestionários foram requisitados para o atendimento de demandas de alimentação, confecção e reciclagem de lixo, entre outras.
O número de jornalistas presentes na quinta edição do FSM também é recorde - 5.421 de 69 países dos cinco continentes, sendo 1.294 free-lancers e 4.127 ligados a veículos. Em 2004, o número de profissionais de comunicação foi de 3.200.
Os 11 Espaços Temáticos ocupam 4 km da orla do Guaíba, com 150 mil metros quadrados de área construída (o equivalente a 18 estádios de futebol do tamanho do Maracanã). No total, são 498 espaços temporários - 203 salas e auditórios com capacidade entre 50 e 1000 lugares e 295 tendas para outras atividades e serviços -, dos quais 80% foram montados com lonas e o restante é de bioconstrução e material reciclado. As obras custaram R$ 4,4 milhões e envolveram 1.900 trabalhadores, tendo sido concluídas em um prazo de 40 dias.
A estrutura do FSM 2005 comporta ainda 700 computadores, mais de mil pontos de acesso à internet, 30 cybercafés, 11 centrais de informação, quatro espaços de atendimento em saúde, 600 sanitários químicos, quatro praças de alimentação, 60 quiosques para lanches e uma feira de abastecimento.
Outra marca do FSM 2005 é a participação efetiva dos movimentos de Economia Popular e Solidária, que receberam R$ 2 milhões dos R$ 14 milhões do orçamento total do Fórum. Mais de 1.500 trabalhadores de empreendimentos autogestionários foram requisitados para o atendimento de demandas de alimentação, confecção e reciclagem de lixo, entre outras.
O número de jornalistas presentes na quinta edição do FSM também é recorde - 5.421 de 69 países dos cinco continentes, sendo 1.294 free-lancers e 4.127 ligados a veículos. Em 2004, o número de profissionais de comunicação foi de 3.200.
FSM 2005 - XXIII
Começou dia 26 o V Fórum Social, em Porto Alegre (por motivo de força maior estive longe dos computadores, e daí o atraso. Na marcha de abertura participaram 200 000 pessoas, e o Fórum deste ano cresceu, tendo agora números muito expressivos. Cada vez mais, este Fórum destaca-se da visão elitista de Davos, onde um punhado de poderosos pensa poder decidir os destinos de toda a humanidade....
Com mais de duas mil actividades promovidas por 5,7 mil organizações, redes e movimentos sociais de 122 países, a quinta edição do Fórum Social Mundial foi aberta nesta quarta-feira (26/1), com uma estimativa de 120 mil a 150 mil participantes. Até a manhã do primeiro dia do evento, 81 mil pessoas haviam se cadastrado no posto junto à Usina do Gasômetro e de 30 mil a 35 mil já ocupavam o Acampamento Intercontinental da Juventude, no Parque da Harmonia. No final da tarde,mais de 200 mil integraram a Caminhada pela Paz, de acordo com estimativa da Brigada Militar.
Com mais de duas mil actividades promovidas por 5,7 mil organizações, redes e movimentos sociais de 122 países, a quinta edição do Fórum Social Mundial foi aberta nesta quarta-feira (26/1), com uma estimativa de 120 mil a 150 mil participantes. Até a manhã do primeiro dia do evento, 81 mil pessoas haviam se cadastrado no posto junto à Usina do Gasômetro e de 30 mil a 35 mil já ocupavam o Acampamento Intercontinental da Juventude, no Parque da Harmonia. No final da tarde,mais de 200 mil integraram a Caminhada pela Paz, de acordo com estimativa da Brigada Militar.
FSM 2005 - XXII
Relação entre movimentos sociais intensifica-se no V FSM
Enquanto todas as atenções estão voltadas para o avanço das políticas comerciais e militares usadas pelos Estados Unidos na tentativa de construir uma hegemonia unilateral, a União Européia (UE) caminha pela sombra para estabelecer uma "nova relação" com as ex-colônias da América Latina. Nos últimos 10 anos, os esforços da UE para fechar acordos de livre comércio com países do continente equiparam-se aos de Washington. Porém, somente agora, à medida que o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) pára diante das contestações internacionais, estes tratados e acordos começam a aparecer com maior freqüência diante da opinião pública, e quase sempre apresentados como alternativas aos planos já desgastados do EUA.
Durante o V Fórum Social Mundial, redes e organizações da Europa e das Américas buscarão construir um movimento inter-continental para trazer ao centro dos debates a natureza desta "nova relação". Em conjunto, estas organizações realizarão dentro da programação do FSM, três oficinas sobre o tema "América Latina-União Européia: Dominação ou Cooperação?".
Fora da programação oficial, as organizações e movimentos sociais dos dois continentes realizam no penúltimo dia do FSM uma reunião estratégica para definir uma campanha comum contra os acordos de livre comércio e a dívida.
Enquanto todas as atenções estão voltadas para o avanço das políticas comerciais e militares usadas pelos Estados Unidos na tentativa de construir uma hegemonia unilateral, a União Européia (UE) caminha pela sombra para estabelecer uma "nova relação" com as ex-colônias da América Latina. Nos últimos 10 anos, os esforços da UE para fechar acordos de livre comércio com países do continente equiparam-se aos de Washington. Porém, somente agora, à medida que o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) pára diante das contestações internacionais, estes tratados e acordos começam a aparecer com maior freqüência diante da opinião pública, e quase sempre apresentados como alternativas aos planos já desgastados do EUA.
Durante o V Fórum Social Mundial, redes e organizações da Europa e das Américas buscarão construir um movimento inter-continental para trazer ao centro dos debates a natureza desta "nova relação". Em conjunto, estas organizações realizarão dentro da programação do FSM, três oficinas sobre o tema "América Latina-União Européia: Dominação ou Cooperação?".
Fora da programação oficial, as organizações e movimentos sociais dos dois continentes realizam no penúltimo dia do FSM uma reunião estratégica para definir uma campanha comum contra os acordos de livre comércio e a dívida.
FSM 2006
O Conselho Internacional do Processo Fórum Social Mundial decide sobre o FSM 2006:
1) O Fórum Social Mundial 2006 será realizado de forma descentralizada, em diferentes lugares do mundo. Essa decisão visa à expansão e enraizamento do processo;
2) Integrarão o FSM 2006 os eventos realizados em diferentes regiões e países cujas organizações se proponham a compartilhar princípios metodológicos construídos em comum, em consonância com a Carta de Princípios;
3) O Processo Fórum Social Mundial 2006 terá início com a realização de eventos na mesma data do Fórum de Davos;
4) As propostas de eventos para o FSM 2006 deverão ser apresentadas antes de abril e formuladas em diálogo entre as instâncias organizativas do Processo Fórum Social Mundial;
5) A deliberação final sobre os eventos do Fórum Social Mundial 2006 será tomada na reunião do Conselho Internacional do FSM em abril;
6) Na reunião de abril, o Conselho Internacional definirá a arquitetura do Processo FSM 2006, compreendendo também uma composição do Secretariado Internacional, adequada aos novos desafios;
7) Até abril, o Secretariado Internacional do FSM, composto por parte brasileira e parte indiana continuará desenvolvendo suas funções;
8) Os organizadores dos eventos do Processo Fórum Social Mundial 2006 sistematizarão e divulgarão suas experiências visando socializá-las;
9) O Conselho Internacional apoiará de forma efetiva os procesos regionais e temáticos em curso.
Conselho Internacional do Processo Fórum Social Mundial decide sobre o FSM 2007:
1) O Fórum Social Mundial 2007 será realizado na África;
2) A organização do Fórum Social Mundial 2007 será de responsabilidade das organizações africanas. O Conselho Internacional compartilhará essa responsabilidade;
3) As organizações africanas apresentarão, na reuniãio do Conselho Internacional, o calendário e programa de trabalho para o FSM 2007;
4) O Conselho Internacional desenvolverá desde já uma ativa solidariedade para com o Processo do Fórum Social Mundial 2007 na África.
Conselho Internacional do Fórum Social Mundial
Reunião do Conselho Internacional do FSM - Porto Alegre, 24 e 25 de janeiro de 2005
1) O Fórum Social Mundial 2006 será realizado de forma descentralizada, em diferentes lugares do mundo. Essa decisão visa à expansão e enraizamento do processo;
2) Integrarão o FSM 2006 os eventos realizados em diferentes regiões e países cujas organizações se proponham a compartilhar princípios metodológicos construídos em comum, em consonância com a Carta de Princípios;
3) O Processo Fórum Social Mundial 2006 terá início com a realização de eventos na mesma data do Fórum de Davos;
4) As propostas de eventos para o FSM 2006 deverão ser apresentadas antes de abril e formuladas em diálogo entre as instâncias organizativas do Processo Fórum Social Mundial;
5) A deliberação final sobre os eventos do Fórum Social Mundial 2006 será tomada na reunião do Conselho Internacional do FSM em abril;
6) Na reunião de abril, o Conselho Internacional definirá a arquitetura do Processo FSM 2006, compreendendo também uma composição do Secretariado Internacional, adequada aos novos desafios;
7) Até abril, o Secretariado Internacional do FSM, composto por parte brasileira e parte indiana continuará desenvolvendo suas funções;
8) Os organizadores dos eventos do Processo Fórum Social Mundial 2006 sistematizarão e divulgarão suas experiências visando socializá-las;
9) O Conselho Internacional apoiará de forma efetiva os procesos regionais e temáticos em curso.
Conselho Internacional do Processo Fórum Social Mundial decide sobre o FSM 2007:
1) O Fórum Social Mundial 2007 será realizado na África;
2) A organização do Fórum Social Mundial 2007 será de responsabilidade das organizações africanas. O Conselho Internacional compartilhará essa responsabilidade;
3) As organizações africanas apresentarão, na reuniãio do Conselho Internacional, o calendário e programa de trabalho para o FSM 2007;
4) O Conselho Internacional desenvolverá desde já uma ativa solidariedade para com o Processo do Fórum Social Mundial 2007 na África.
Conselho Internacional do Fórum Social Mundial
Reunião do Conselho Internacional do FSM - Porto Alegre, 24 e 25 de janeiro de 2005
FSP 2005 - XXI
Manifesto de lançamento ABCD - Ação Brasileira de Combate à Desigualdade
Os signatários do presente manifesto têm consciência de que é possível e é necessária uma ação política afirmativa para combater a desigualdade, marca do Brasil desde sempre.
A esperança trazida pelo fim das ditaduras da América Latina foi arquivada por seqüências de governos de orientação econômica liberal, sem efetiva vontade política para promover justiça social. Esse quadro de descaminhos da política está associado a uma crescente e desigual globalização, que internacionaliza mercadorias e represa a força de trabalho, que instaura redes mundiais de informações e centraliza a capacidade de decisão, que dissolve as fronteiras para as corporações financeiras e produtivas, mas impõe condições desiguais nas trocas internacionais, que difunde as frentes de conflito e concentra o poder militar.
No Brasil, submetido à lógica do mercado internacional de capitais, uma economia limitada e exportadora concentra riquezas, restringe o mercado interno e promove exclusão econômica. A concentração fundiária no campo expulsa a força de trabalho para a cidade, onde o modelo de produção elimina postos de trabalho e conduz à marginalidade. Manter essa situação injusta é particularmente inaceitável neste país que tem condições notáveis para transformá-la, como a dotação natural, a variedade étnica e cultural, ou mesmo a unidade lingüística diante da extensão continental. Isso tudo e o desenvolvimento atual das forças produtivas permite conceber uma outra situação, em que se possa prover todos os cidadãos de condições materiais e culturais para uma vida digna, como direito universal.
(...)
Os signatários do presente manifesto têm consciência de que é possível e é necessária uma ação política afirmativa para combater a desigualdade, marca do Brasil desde sempre.
A esperança trazida pelo fim das ditaduras da América Latina foi arquivada por seqüências de governos de orientação econômica liberal, sem efetiva vontade política para promover justiça social. Esse quadro de descaminhos da política está associado a uma crescente e desigual globalização, que internacionaliza mercadorias e represa a força de trabalho, que instaura redes mundiais de informações e centraliza a capacidade de decisão, que dissolve as fronteiras para as corporações financeiras e produtivas, mas impõe condições desiguais nas trocas internacionais, que difunde as frentes de conflito e concentra o poder militar.
No Brasil, submetido à lógica do mercado internacional de capitais, uma economia limitada e exportadora concentra riquezas, restringe o mercado interno e promove exclusão econômica. A concentração fundiária no campo expulsa a força de trabalho para a cidade, onde o modelo de produção elimina postos de trabalho e conduz à marginalidade. Manter essa situação injusta é particularmente inaceitável neste país que tem condições notáveis para transformá-la, como a dotação natural, a variedade étnica e cultural, ou mesmo a unidade lingüística diante da extensão continental. Isso tudo e o desenvolvimento atual das forças produtivas permite conceber uma outra situação, em que se possa prover todos os cidadãos de condições materiais e culturais para uma vida digna, como direito universal.
(...)
sexta-feira, janeiro 28, 2005
Projecto Reciclagem AMI
A Fundação AMI - Assistência Médica Internacional iniciou um projecto de reciclagem de consumíveis informáticos - tinteiros e toners - e de telemóveis - avariados ou em desuso. Ainda pouco divulgada em Portugal, a reciclagem de consumíveis informáticos e de telemóveis é já há muito praticada noutros países europeus. Este projecto permite defender o ambiente - já que estes materiais contêm resíduos perigosos - ao mesmo tempo que é uma fonte de financiamento para os projectos humanitários e de acção social que a AMI desenvolve dentro e fora de Portugal.
A AMI conta com a parceria de uma empresa especializada na logística de resíduos recicláveis. Esta empresa irá colocar contentores nas empresas, organizações, escolas e estabelecimentos comerciais que estejam interessados em participar. As entidades que se disponibilizem para colaborar com a AMI não terão, assim, de suportar nenhum encargo. A AMI entregará recibos de donativo - de acordo com a valorização dos materiais recolhidos - dedutíveis nos impostos e majorados em 40%.
Para ver esclarecidas quaisquer dúvidas, contacte-nos, por favor, através do número de telefone 218362100 ou do endereço de correio electrónico
reciclagem-ami@netcabo.pt.
Obrigado pela disponibilidade,
FUNDAÇÃO AMI
Fundação AMI - Assistência Médica Internacional
Rua José do Patrocínio, 49 | 1949-008 Lisboa | Tel. 218 362 100 | Fax 218 362 199
E-Mail: fundacao-ami@mail.telepac.pt | Internet: www.fundacao-ami.org
A AMI conta com a parceria de uma empresa especializada na logística de resíduos recicláveis. Esta empresa irá colocar contentores nas empresas, organizações, escolas e estabelecimentos comerciais que estejam interessados em participar. As entidades que se disponibilizem para colaborar com a AMI não terão, assim, de suportar nenhum encargo. A AMI entregará recibos de donativo - de acordo com a valorização dos materiais recolhidos - dedutíveis nos impostos e majorados em 40%.
Para ver esclarecidas quaisquer dúvidas, contacte-nos, por favor, através do número de telefone 218362100 ou do endereço de correio electrónico
reciclagem-ami@netcabo.pt.
Obrigado pela disponibilidade,
FUNDAÇÃO AMI
Fundação AMI - Assistência Médica Internacional
Rua José do Patrocínio, 49 | 1949-008 Lisboa | Tel. 218 362 100 | Fax 218 362 199
E-Mail: fundacao-ami@mail.telepac.pt | Internet: www.fundacao-ami.org
quinta-feira, janeiro 27, 2005
segunda-feira, janeiro 24, 2005
FSM 2005 - XX
Um olhar sintonizado com a diversidade
O primeiro desafio para quem quer entender o Fórum é muito simples: é preciso vivenciá-lo, se debruçar sobre suas peculiaridades e espaços temáticos
Primeiro, talvez seja bom livrar o olhar da tela quadrada que pressupõe todo o encontro como uma bula para novos caminhos. O Fórum Social Mundial, gramaticalmente, cabe numa palavra: diversidade. Como a gramática não imita a vida e a vida não é ciência exata, seria melhor expandir o olhar para uma lógica que não se restrinja a uma fórmula, uma palavra de ordem, um mapa exato, uma estrada segura: o olhar precisa se impregnar de movimento para que o pensamento se abra para a novidade. Esse pensamento que parece impregnado pelo lógica de resultados que o capitalismo ensinou: contabilizar, definir, acumular, comprar. O pensamento que transformou a idéia em cifra. O movimento em resultado. O olhar no limite de uma janela. Um Fórum Social Mundial de resultados absolutamente palpáveis, metas claras e diretrizes cristalinas, seria a suprema glória do pensamento de resultados. Mas seria estéril como aquelas leis que jamais se cumprem. Porque seria o Fórum do verbo sem movimento.
(...)
O primeiro desafio para quem quer entender o Fórum é muito simples: é preciso vivenciá-lo, se debruçar sobre suas peculiaridades e espaços temáticos
Primeiro, talvez seja bom livrar o olhar da tela quadrada que pressupõe todo o encontro como uma bula para novos caminhos. O Fórum Social Mundial, gramaticalmente, cabe numa palavra: diversidade. Como a gramática não imita a vida e a vida não é ciência exata, seria melhor expandir o olhar para uma lógica que não se restrinja a uma fórmula, uma palavra de ordem, um mapa exato, uma estrada segura: o olhar precisa se impregnar de movimento para que o pensamento se abra para a novidade. Esse pensamento que parece impregnado pelo lógica de resultados que o capitalismo ensinou: contabilizar, definir, acumular, comprar. O pensamento que transformou a idéia em cifra. O movimento em resultado. O olhar no limite de uma janela. Um Fórum Social Mundial de resultados absolutamente palpáveis, metas claras e diretrizes cristalinas, seria a suprema glória do pensamento de resultados. Mas seria estéril como aquelas leis que jamais se cumprem. Porque seria o Fórum do verbo sem movimento.
(...)
FSM 2005 - XIX
O Fórum no território de um novo mundo
O Fórum Social Mundial 2005 tem um território próprio que vai muito além da geografia. Numa longa faixa que ocupa a orla de Porto Alegre, várias simbologias se cruzam, se integram, colocam na prática possibilidades de um novo modo de vida. A orla do Guaíba é o espelho de Porto Alegre: ampla extensão onde estão parques, centro culturais, instituições, é também o lugar onde a cidade começou - porto de mercadores, lugar de batalhas, elo que liga dois dos mais importantes corpos d'água do estado, a bacia do Guaíba e a Lagoa dos Patos. É à beira dessas águas que acontece o Fórum Social Mundial. Espaço público, espaço histórico, lugar que ao longo dos anos foi se transformando e reatando laços entre o Guaíba e Porto Alegre. O território do Fórum ocupa um lugar talhado por transformações. (..)
O Fórum Social Mundial 2005 tem um território próprio que vai muito além da geografia. Numa longa faixa que ocupa a orla de Porto Alegre, várias simbologias se cruzam, se integram, colocam na prática possibilidades de um novo modo de vida. A orla do Guaíba é o espelho de Porto Alegre: ampla extensão onde estão parques, centro culturais, instituições, é também o lugar onde a cidade começou - porto de mercadores, lugar de batalhas, elo que liga dois dos mais importantes corpos d'água do estado, a bacia do Guaíba e a Lagoa dos Patos. É à beira dessas águas que acontece o Fórum Social Mundial. Espaço público, espaço histórico, lugar que ao longo dos anos foi se transformando e reatando laços entre o Guaíba e Porto Alegre. O território do Fórum ocupa um lugar talhado por transformações. (..)
FSM 2005 - XVIII
Encontro paralelo discute a educação na América Latina
Vernor Muñoz, relator especial da ONU para o direito à educação participa da actividade, que terá desdobramento no V FSM.
A educação como um direito, e não como um serviço ou uma mercadoria. Este é um dos temas que estará em pauta no III Encontro Latino-americano da Sociedade Civil para a Incidência em Políticas Educativas, que vai acontecer nos dias 24 e 25 de janeiro, em Porto Alegre. Organizado pela Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação, o evento integra a programação paralela ao Fórum Social Mundial 2005.
"Queremos aglutinar todas as organizações que lutam pela educação como direito humano para pressionar os governos a fim de que tenhamos um ensino público e gratuito de qualidade", afirma Pierre Roy, coordenador da Plataforma Interamericana de Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento, entidade que integra o Conselho Internacional do FSM. O encontro a ser realizado no Hotel Embaixador, no centro de Porto Alegre, contará com a presença de Vernor Muñoz, relator especial da ONU para o direito à educação.
A Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação é uma rede formada por entidades e movimentos sociais ligados à educação e aos direitos humanos. Conforme as entidades, os acordos internacionais de comércio, como GATS e ALCA, comprometem a educação ao tratá-la como mera mercadoria, tirando a responsabilidade dos estados nacionais de zelar por ela. Além disso, incentivam a sua comercialização em nível mundial. Com isso, o cidadão é tratado apenas como consumidor, o que fere os princípios da democracia e da cidadania.
Vernor Muñoz, relator especial da ONU para o direito à educação participa da actividade, que terá desdobramento no V FSM.
A educação como um direito, e não como um serviço ou uma mercadoria. Este é um dos temas que estará em pauta no III Encontro Latino-americano da Sociedade Civil para a Incidência em Políticas Educativas, que vai acontecer nos dias 24 e 25 de janeiro, em Porto Alegre. Organizado pela Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação, o evento integra a programação paralela ao Fórum Social Mundial 2005.
"Queremos aglutinar todas as organizações que lutam pela educação como direito humano para pressionar os governos a fim de que tenhamos um ensino público e gratuito de qualidade", afirma Pierre Roy, coordenador da Plataforma Interamericana de Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento, entidade que integra o Conselho Internacional do FSM. O encontro a ser realizado no Hotel Embaixador, no centro de Porto Alegre, contará com a presença de Vernor Muñoz, relator especial da ONU para o direito à educação.
A Campanha Latino-americana pelo Direito à Educação é uma rede formada por entidades e movimentos sociais ligados à educação e aos direitos humanos. Conforme as entidades, os acordos internacionais de comércio, como GATS e ALCA, comprometem a educação ao tratá-la como mera mercadoria, tirando a responsabilidade dos estados nacionais de zelar por ela. Além disso, incentivam a sua comercialização em nível mundial. Com isso, o cidadão é tratado apenas como consumidor, o que fere os princípios da democracia e da cidadania.
FSM 2005 - XVII
Coligação Ecuménica promove discussões sobre Paz, Ética, Direitos e Dignidade Humana no Fórum Social Mundial 2005
A CESE promoverá, em parceria com a Coligação Ecuménica, uma série de actividades enfocando o Ecumenismo, os Direitos Humanos e a Cultura de Paz, durante o V Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, de 27 a 30 de janeiro de 2005. A Coligação Ecuménica - bloco que congrega diversas organizações ecuménicas, agências de cooperação, igrejas e serviços diaconiais, de todo o mundo, para intervenção qualificada e articulada no FSM - pretende, com estas atividades, estimular a reflexão aprofundada e a articulação em torno das temáticas definidas pelo grupo.
A CESE promoverá, em parceria com a Coligação Ecuménica, uma série de actividades enfocando o Ecumenismo, os Direitos Humanos e a Cultura de Paz, durante o V Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, de 27 a 30 de janeiro de 2005. A Coligação Ecuménica - bloco que congrega diversas organizações ecuménicas, agências de cooperação, igrejas e serviços diaconiais, de todo o mundo, para intervenção qualificada e articulada no FSM - pretende, com estas atividades, estimular a reflexão aprofundada e a articulação em torno das temáticas definidas pelo grupo.
FSM 2005 - XVI
Católicas em campanha pela legalização do aborto
Sensibilização do público e recolha de assinaturas farão parte do evento, onde será distribuída uma revista de História em Quadrinhos, utilizada como ferramenta de comunicação.
A organização Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) lançará no Fórum Social Mundial, que acontece de 26 a 31 de janeiro, a Campanha pela Legalização do Aborto no Brasil. A campanha visa sensibilizar o público presente para uma discussão ampla e um enfrentamento honesto dessa problemática nacional. A iniciativa também prevê uma coleta de assinaturas, com a finalidade de alcançar pessoas conscientes da necessidade de discutir o assunto. A organização explica que elas serão colhidas de forma qualitativa, e não quantitativa. Constarão apenas nomes de pessoas esclarecidas sobre a necessidade da legalização do aborto, tanto do ponto de vista da saúde pública como social.
Sensibilização do público e recolha de assinaturas farão parte do evento, onde será distribuída uma revista de História em Quadrinhos, utilizada como ferramenta de comunicação.
A organização Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) lançará no Fórum Social Mundial, que acontece de 26 a 31 de janeiro, a Campanha pela Legalização do Aborto no Brasil. A campanha visa sensibilizar o público presente para uma discussão ampla e um enfrentamento honesto dessa problemática nacional. A iniciativa também prevê uma coleta de assinaturas, com a finalidade de alcançar pessoas conscientes da necessidade de discutir o assunto. A organização explica que elas serão colhidas de forma qualitativa, e não quantitativa. Constarão apenas nomes de pessoas esclarecidas sobre a necessidade da legalização do aborto, tanto do ponto de vista da saúde pública como social.
FSM 2005 - XV
Mosaico de Livros reúne cinco mil títulos
Imagine uma grande biblioteca com um acervo de obras alternativas, importantes para a construção de um mundo diferente, disponível em diversas línguas. Este é o objetivo da campanha Mosaico de Livros - Biblioteca Social Mundial, iniciada em 2001 com o intuito de preservar a memória das idéias que circulam no processo do Fórum Social Mundial. A campanha arrecadou até agora cinco mil títulos (livros, cartilhas, revistas, vídeos e CDs).
Na cerimónia de abertura, as pessoas serão convidadas a subirem ao palco do Anfiteatro Pôr-do-Sol para fazerem a doação de obras. Os temas devem respeitar a Carta de Princípios do FSM, formando uma biblioteca activa, local e mundialmente, com base no copyleft, promovendo a diversidade cultural, o conhecimento compartilhado e a consciência crítica. A campanha tem por objetivo disponibilizar as obras à população mundial através de uma biblioteca física e de uma biblioteca virtual. Em breve os títulos começarão a ser catalogados na internet.
(...) O espaço também estará recebendo doações de livros. "Nossa intenção é formar uma rede de bibliotecas pelo mundo inteiro e intercambiar os conteúdos, traduzindo para diversas línguas", diz Ana Paula Stock, uma das coordenadoras do projeto.
O projeto é dividido em duas partes que se complementam: Mosaico Real e Mosaico Virtual. Os 5 mil títulos que formam o acervo chegaram nas edições anteriores do FSM e do Fórum Mundial da Educação. Pretende-se chegar a um número perto dos 20 mil livros, disponíveis para empréstimo e pesquisa. Por isso é importante que cada participante do Fórum traga pelo menos um livro para a biblioteca, assim como os palestrantes das diversas atividades.
O site www.mosaicodelivrosfsm.org pretende disponibilizar on-line o conteúdo da biblioteca que tiver sido publicado em copyleft. Há vários livros publicados nesse sistema. Além disso, visa disponibilizar diversos textos importantes publicados digitalmente. Também quer integrar as distintas bibliotecas comunitárias e de organizações espalhadas pelo mundo, disponibilizando, via internet, bibliografia, resumos, conteúdos de livros integrais e soluções livres para impressão caseira e distribuição física de textos. Textos digitalizados podem ser enviados para o e-mail contato@mosaicodelivrosfsm.org para serem disponibilizados on line.
Imagine uma grande biblioteca com um acervo de obras alternativas, importantes para a construção de um mundo diferente, disponível em diversas línguas. Este é o objetivo da campanha Mosaico de Livros - Biblioteca Social Mundial, iniciada em 2001 com o intuito de preservar a memória das idéias que circulam no processo do Fórum Social Mundial. A campanha arrecadou até agora cinco mil títulos (livros, cartilhas, revistas, vídeos e CDs).
Na cerimónia de abertura, as pessoas serão convidadas a subirem ao palco do Anfiteatro Pôr-do-Sol para fazerem a doação de obras. Os temas devem respeitar a Carta de Princípios do FSM, formando uma biblioteca activa, local e mundialmente, com base no copyleft, promovendo a diversidade cultural, o conhecimento compartilhado e a consciência crítica. A campanha tem por objetivo disponibilizar as obras à população mundial através de uma biblioteca física e de uma biblioteca virtual. Em breve os títulos começarão a ser catalogados na internet.
(...) O espaço também estará recebendo doações de livros. "Nossa intenção é formar uma rede de bibliotecas pelo mundo inteiro e intercambiar os conteúdos, traduzindo para diversas línguas", diz Ana Paula Stock, uma das coordenadoras do projeto.
O projeto é dividido em duas partes que se complementam: Mosaico Real e Mosaico Virtual. Os 5 mil títulos que formam o acervo chegaram nas edições anteriores do FSM e do Fórum Mundial da Educação. Pretende-se chegar a um número perto dos 20 mil livros, disponíveis para empréstimo e pesquisa. Por isso é importante que cada participante do Fórum traga pelo menos um livro para a biblioteca, assim como os palestrantes das diversas atividades.
O site www.mosaicodelivrosfsm.org pretende disponibilizar on-line o conteúdo da biblioteca que tiver sido publicado em copyleft. Há vários livros publicados nesse sistema. Além disso, visa disponibilizar diversos textos importantes publicados digitalmente. Também quer integrar as distintas bibliotecas comunitárias e de organizações espalhadas pelo mundo, disponibilizando, via internet, bibliografia, resumos, conteúdos de livros integrais e soluções livres para impressão caseira e distribuição física de textos. Textos digitalizados podem ser enviados para o e-mail contato@mosaicodelivrosfsm.org para serem disponibilizados on line.
domingo, janeiro 23, 2005
FSM 2005 - XIV
Cinco continentes estarão representados na abertura
Caminhada pela Paz inicia às 18 horas do dia 26, e segue até o Anfiteatro
Pôr-do-Sol, onde haverá manifestações culturais da Ásia, Europa, África, América e
Oceani.
Grandes atracções movimentarão Porto Alegre no dia 26, na celebração de abertura do
Fórum Social Mundial 2005. Representantes dos cinco continentes – Ásia, América,
África, Europa e Oceania – embalarão a caminhada e o show que marcam o início das
atividades do encontro. Tambores pela Paz; Amit Heri e Rabbi Shergil; Sombrero
Luminoso; Snuff Puppets e Les Diables del Forum, de Pere Ferrer ee Sílvia Medeiros;
Luck Mervil; Qbeta; Ma'Afrika; Gilberto Gil; Bersuit Vergarabat; La Phaze e Manu
Chao são as atrações confirmadas.
De acordo com Marcos Barreto, da Coordenação de Cultura do FSM 2005, a as actividades
culturais serão o grande elo entre os diversos temas debatidos nesta edição. “É pela
cultura, no show de abertura, que se dará a transição de Mumbai para Porto Alegre,
com a apresentação dos indianos Amit Heri e Rabbi Shergil passando a vez para os
gaúchos do Sombrero Luminoso”, adianta.
Diversidade Cultural - Nesta quinta edição do FSM, a cultura terá uma participação
maior, incidindo transversalmente em todos os eixos temáticos, para além dos espaços
ditos “culturais”. A organização recebeu mais de 400 inscrições por meio do site
oficial. São propostas integrando música, artes plásticas, audiovisual, festas e
manifestações, circo, dança, performance e teatro, poesia e narrativa. O FSM
oferecerá infra-estrutura para as apresentações e todas as actividades serão
desenvolvidas sem remuneração.
Caminhada pela Paz inicia às 18 horas do dia 26, e segue até o Anfiteatro
Pôr-do-Sol, onde haverá manifestações culturais da Ásia, Europa, África, América e
Oceani.
Grandes atracções movimentarão Porto Alegre no dia 26, na celebração de abertura do
Fórum Social Mundial 2005. Representantes dos cinco continentes – Ásia, América,
África, Europa e Oceania – embalarão a caminhada e o show que marcam o início das
atividades do encontro. Tambores pela Paz; Amit Heri e Rabbi Shergil; Sombrero
Luminoso; Snuff Puppets e Les Diables del Forum, de Pere Ferrer ee Sílvia Medeiros;
Luck Mervil; Qbeta; Ma'Afrika; Gilberto Gil; Bersuit Vergarabat; La Phaze e Manu
Chao são as atrações confirmadas.
De acordo com Marcos Barreto, da Coordenação de Cultura do FSM 2005, a as actividades
culturais serão o grande elo entre os diversos temas debatidos nesta edição. “É pela
cultura, no show de abertura, que se dará a transição de Mumbai para Porto Alegre,
com a apresentação dos indianos Amit Heri e Rabbi Shergil passando a vez para os
gaúchos do Sombrero Luminoso”, adianta.
Diversidade Cultural - Nesta quinta edição do FSM, a cultura terá uma participação
maior, incidindo transversalmente em todos os eixos temáticos, para além dos espaços
ditos “culturais”. A organização recebeu mais de 400 inscrições por meio do site
oficial. São propostas integrando música, artes plásticas, audiovisual, festas e
manifestações, circo, dança, performance e teatro, poesia e narrativa. O FSM
oferecerá infra-estrutura para as apresentações e todas as actividades serão
desenvolvidas sem remuneração.
FSM 2005 - XIII
Assembléias definem rumos das campanhas globais em 2005
As organizações, redes e movimentos sociais que participam do Fórum Social Mundial
2005 preparam-se para realizar uma série de assembléias com o objetivo de deliberar
planos de ação e estratégias de campanhas que serão desenvolvidas ao longo do ano. A
maior parte está concentrada no espaço temático Paz e Desmlitarização – Luta contra
a guerra, o livre comércio e a dívida.
No dia 27, das 8h30 às 11h30, por exemplo, ocorre a Assembléia Mundial de Movimentos
Sociais para discutir a agenda para 2005. Está prevista a realização de uma segunda
assembléia, no dia 30 de janeiro, quando as organizações anunciarão os principais
tópicos dessa agenda definida por consenso. Será discutida a proposta de realizar
uma passeata de protesto.
Vale lembrar que a Assembleia da Marcha Mundial das Mulheres: acção global 2005 será
realizada também na quinta-feira, das 15h30 às 18h30. A actividade integra o espaço
temático Lutas Sociais e Alternativas democráticas – contra a dominação neoliberal e
vai abrir o calendário de mobilização das organizações feministas.
Além disso, uma coalizão de ONGs vai lançar a campanha mundial Chamada Global para a
Ação contra a Pobreza, também no dia 27 de janeiro, às 8h30, no ginásio Gigantinho,
com a presença do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
No dia seguinte, sexta-feira, será a vez da Assembléia Continental contra a Alca, o
livre comércio, a guerra, a militarização e a dívida. O evento acontecerá no turno
da manhã. As organizações farão um balanço de suas atividades e vão traçar planos
para o futuro. “Vamos tentar definir a agenda de 2005, focada na Cúpula dos Povos,
que provavelmente ocorrerá na Argentina”, afirma Maité Llanos, da Aliança Social
Continental, entidade que integra o Conselho Internacional do FSM. A idéia é
realizar a reunião simultaneamente à Cúpula Ministerial da Alca, que deverá
acontecer em Mar del Plata, no mês de novembro.
A Plenária de Movimentos Sociais do Livre Comércio (sábado, dia 29, no turno da
manhã) vai agregar entidades, redes e campanhas globais. O foco do debate será a
questão da Organização Mundial do Comércio, bem como os acordos comerciais
regionais. “Mas não vamos nos restringir à Alca. Pretendemos traçar um panorama do
livre comércio em todo o planeta”, adianta Maité.
Também no dia 29 de janeiro, das 12h às 18h30, ocorrerá a Assembléia dos Povos
Credores da Dívida Social, Ecológica e Histórica. “Estarão reunidos os movimentos
que trabalham a questão da dívida externa pública dos países pobres. Vamos reiterar
que esses países não são devedores, e sim credores, uma vez que eles pagaram várias
vezes a divida com juros”, assegura a representante da Aliança Social Continental.
No domingo, 30/1, haverá uma Assembléia Contra a Guerra, organizada por entidades
pacifistas, que definirão a agenda de mobilização de 2005. O encontro terá forte
presença do mundo árabe, especialmente de representantes de áreas em conflitos, como
palestinos e iraquianos.
As organizações, redes e movimentos sociais que participam do Fórum Social Mundial
2005 preparam-se para realizar uma série de assembléias com o objetivo de deliberar
planos de ação e estratégias de campanhas que serão desenvolvidas ao longo do ano. A
maior parte está concentrada no espaço temático Paz e Desmlitarização – Luta contra
a guerra, o livre comércio e a dívida.
No dia 27, das 8h30 às 11h30, por exemplo, ocorre a Assembléia Mundial de Movimentos
Sociais para discutir a agenda para 2005. Está prevista a realização de uma segunda
assembléia, no dia 30 de janeiro, quando as organizações anunciarão os principais
tópicos dessa agenda definida por consenso. Será discutida a proposta de realizar
uma passeata de protesto.
Vale lembrar que a Assembleia da Marcha Mundial das Mulheres: acção global 2005 será
realizada também na quinta-feira, das 15h30 às 18h30. A actividade integra o espaço
temático Lutas Sociais e Alternativas democráticas – contra a dominação neoliberal e
vai abrir o calendário de mobilização das organizações feministas.
Além disso, uma coalizão de ONGs vai lançar a campanha mundial Chamada Global para a
Ação contra a Pobreza, também no dia 27 de janeiro, às 8h30, no ginásio Gigantinho,
com a presença do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
No dia seguinte, sexta-feira, será a vez da Assembléia Continental contra a Alca, o
livre comércio, a guerra, a militarização e a dívida. O evento acontecerá no turno
da manhã. As organizações farão um balanço de suas atividades e vão traçar planos
para o futuro. “Vamos tentar definir a agenda de 2005, focada na Cúpula dos Povos,
que provavelmente ocorrerá na Argentina”, afirma Maité Llanos, da Aliança Social
Continental, entidade que integra o Conselho Internacional do FSM. A idéia é
realizar a reunião simultaneamente à Cúpula Ministerial da Alca, que deverá
acontecer em Mar del Plata, no mês de novembro.
A Plenária de Movimentos Sociais do Livre Comércio (sábado, dia 29, no turno da
manhã) vai agregar entidades, redes e campanhas globais. O foco do debate será a
questão da Organização Mundial do Comércio, bem como os acordos comerciais
regionais. “Mas não vamos nos restringir à Alca. Pretendemos traçar um panorama do
livre comércio em todo o planeta”, adianta Maité.
Também no dia 29 de janeiro, das 12h às 18h30, ocorrerá a Assembléia dos Povos
Credores da Dívida Social, Ecológica e Histórica. “Estarão reunidos os movimentos
que trabalham a questão da dívida externa pública dos países pobres. Vamos reiterar
que esses países não são devedores, e sim credores, uma vez que eles pagaram várias
vezes a divida com juros”, assegura a representante da Aliança Social Continental.
No domingo, 30/1, haverá uma Assembléia Contra a Guerra, organizada por entidades
pacifistas, que definirão a agenda de mobilização de 2005. O encontro terá forte
presença do mundo árabe, especialmente de representantes de áreas em conflitos, como
palestinos e iraquianos.
sábado, janeiro 22, 2005
FSM 2005 - XII
Puxirum traz boas perspectivas
Pelos corredores da Usina do Gasômetro, onde são realizados os últimos preparativos para a quinta edição do Fórum Social Mundial, é grande a expectativa para a realização do Puxirum de Artes e Saberes Indígenas, que está sendo considerado uma das principais novidades do Fórum. Leia a seguir o que pensam o coordenador da Coica e três integrantes da Organização do FSM.
Sebastião Haji Manchineri, coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica)
"Queremos realizar um evento diferente. As idéias que nortearam a organização do Puxirum de Artes e Saberes Indígenas são a de não sermos simplesmente conduzidos por atores externos e muito menos a de só fazermos número. Queremos apresentar o que temos, o que somos e o que pretendemos ao conjunto do FSM. Estamos trabalhando para sermos atores do nosso próprio destino e fazermos aliança com atores que trabalhem na linha da sustentação humana e ambiental."
"O que nos aproxima dos demais participantes do FSM são nossos ideais de compartilhar um mundo mais justo e mais humano. Outro ponto é a questão ambiental e social."
"Nossa contribuição será a defesa da natureza, o manejo sustentável dos nossos recursos, o equilíbrio entre homem e natureza, defendendo o homem como bem maior e não como mercadoria. E ainda a defesa dos nossos espaços nos países em que a gente vive."
Moema Miranda, integrante do Secretariado do Fórum; representante do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Económicas (Ibase)
"O Puxirum é um dos ganhos maiores e mais radicais do Fórum Social Mundial. Pela primeira vez, há uma organização dos povos indígenas que está presente não apenas como participante, mas como construtora da participação. Essa construção começou em Quito, na Cúpula dos Povos Indígenas, e esperamos que essa articulação esteja ainda mais presente no Fórum. Os indígenas têm um espaço, não são apenas um apêndice, mas uma presença participativa e intensa."
Antonio Martins - Comitê Organizador Brasileiro (COB) do FSM; representante da Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio ao Cidadão (Attac)
"2005 traz várias novidades e surpresas para o Fórum Social Mundial. Mas eu acho que nenhuma é mais importante do que o Puxirum. Por vários motivos. Mas podemos destacar o seu caráter histórico e simbólico - nós estamos nas Américas, a região onde a população original foi colonizada e dizimada, seus valores culturais foram duramente atacados e, cinco séculos depois, há novo ressurgimento da identidade, das lutas, dos valores indígenas. O Fórum Social Mundial, que procura anunciar a possibilidade de um mundo novo, de um mundo de transformação social, esteve incompleto até agora sem o Puxirum."
"O Fórum passa e vai passar por um processo de busca de alternativas e, nessa busca, o bom choque de culturas, o diálogo, a troca, o espanto, o aprendizado de uma cultura com a outra, as trocas de experiências e tradições são muito importantes na perspectiva de descobrir os caminhos de superação dessa sociedade."
"Nós estamos numa fase em que ninguém tem a verdade absoluta de como construir o mundo novo. Então, quanto mais aparecerem essas experiências, quanto mais aparecerem essas tradições, essas formas de organização social, com a nossa sensibilidade, nós vamos ser mais capazes de formular propostas para um mundo novo."
Jefferson Miola - Coordenador Executivo do V Fórum Social Mundial
"O Fórum não seria o Fórum sem esse grande encontro entre as nações indígenas de todo o mundo. Nós estamos falando daqueles que são, no caso brasileiro em particular, os ancestrais, os donos das nossas terras no melhor sentido que a expressão propriedade possa ter. Representam uma cultura carregada de uma ancestralidade, de conhecimentos, de saberes e de uma expressão artística e cultural que lamentavelmente foi devastada, dizimada por conta nas ações deste mundo branco, americano e predominantemente masculino. Portanto, o Puxirum e a presença dessas nações indígenas representa esse sentido de generosidade que o Fórum contém enquanto espaço de reconhecimento, enquanto espaço de resgate, enquanto espaço para evidenciar essa pluralidade étnica, religiosa, cultural e social do nosso planeta. Que bom que eles estão aqui na forma desse grande mutirão chamado Puxirum. Melhor ainda que eles possam compartilhar com os outros milhares de participantes do planeta desse momento que é um momento de celebração da humanidade, de todos os homens, mulheres, urbanos, rurais, índios, negros, jovens, antigos."
"Os indígenas trazem para o conjunto do Fórum muito reconhecimento dessa sua existência, do seu papel histórico ancestral, trazem muito seu saber, sua relação com a natureza e trazem acima de tudo a marca da arte e da cultura. Portanto, eu acredito que o Puxirum traz para o Fórum praticamente um universo próprio que passa a pertencer também ao universo do Fórum e passa a exigir de todos nós que temos o compromisso com mudanças efetivas, com a construção de uma outra humanidade e de outro mundo, a absorção e internalização disto que também é um modo de vida particular e singular, que é o modo de vida das nossas nações indígenas."
Pelos corredores da Usina do Gasômetro, onde são realizados os últimos preparativos para a quinta edição do Fórum Social Mundial, é grande a expectativa para a realização do Puxirum de Artes e Saberes Indígenas, que está sendo considerado uma das principais novidades do Fórum. Leia a seguir o que pensam o coordenador da Coica e três integrantes da Organização do FSM.
Sebastião Haji Manchineri, coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica)
"Queremos realizar um evento diferente. As idéias que nortearam a organização do Puxirum de Artes e Saberes Indígenas são a de não sermos simplesmente conduzidos por atores externos e muito menos a de só fazermos número. Queremos apresentar o que temos, o que somos e o que pretendemos ao conjunto do FSM. Estamos trabalhando para sermos atores do nosso próprio destino e fazermos aliança com atores que trabalhem na linha da sustentação humana e ambiental."
"O que nos aproxima dos demais participantes do FSM são nossos ideais de compartilhar um mundo mais justo e mais humano. Outro ponto é a questão ambiental e social."
"Nossa contribuição será a defesa da natureza, o manejo sustentável dos nossos recursos, o equilíbrio entre homem e natureza, defendendo o homem como bem maior e não como mercadoria. E ainda a defesa dos nossos espaços nos países em que a gente vive."
Moema Miranda, integrante do Secretariado do Fórum; representante do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Económicas (Ibase)
"O Puxirum é um dos ganhos maiores e mais radicais do Fórum Social Mundial. Pela primeira vez, há uma organização dos povos indígenas que está presente não apenas como participante, mas como construtora da participação. Essa construção começou em Quito, na Cúpula dos Povos Indígenas, e esperamos que essa articulação esteja ainda mais presente no Fórum. Os indígenas têm um espaço, não são apenas um apêndice, mas uma presença participativa e intensa."
Antonio Martins - Comitê Organizador Brasileiro (COB) do FSM; representante da Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio ao Cidadão (Attac)
"2005 traz várias novidades e surpresas para o Fórum Social Mundial. Mas eu acho que nenhuma é mais importante do que o Puxirum. Por vários motivos. Mas podemos destacar o seu caráter histórico e simbólico - nós estamos nas Américas, a região onde a população original foi colonizada e dizimada, seus valores culturais foram duramente atacados e, cinco séculos depois, há novo ressurgimento da identidade, das lutas, dos valores indígenas. O Fórum Social Mundial, que procura anunciar a possibilidade de um mundo novo, de um mundo de transformação social, esteve incompleto até agora sem o Puxirum."
"O Fórum passa e vai passar por um processo de busca de alternativas e, nessa busca, o bom choque de culturas, o diálogo, a troca, o espanto, o aprendizado de uma cultura com a outra, as trocas de experiências e tradições são muito importantes na perspectiva de descobrir os caminhos de superação dessa sociedade."
"Nós estamos numa fase em que ninguém tem a verdade absoluta de como construir o mundo novo. Então, quanto mais aparecerem essas experiências, quanto mais aparecerem essas tradições, essas formas de organização social, com a nossa sensibilidade, nós vamos ser mais capazes de formular propostas para um mundo novo."
Jefferson Miola - Coordenador Executivo do V Fórum Social Mundial
"O Fórum não seria o Fórum sem esse grande encontro entre as nações indígenas de todo o mundo. Nós estamos falando daqueles que são, no caso brasileiro em particular, os ancestrais, os donos das nossas terras no melhor sentido que a expressão propriedade possa ter. Representam uma cultura carregada de uma ancestralidade, de conhecimentos, de saberes e de uma expressão artística e cultural que lamentavelmente foi devastada, dizimada por conta nas ações deste mundo branco, americano e predominantemente masculino. Portanto, o Puxirum e a presença dessas nações indígenas representa esse sentido de generosidade que o Fórum contém enquanto espaço de reconhecimento, enquanto espaço de resgate, enquanto espaço para evidenciar essa pluralidade étnica, religiosa, cultural e social do nosso planeta. Que bom que eles estão aqui na forma desse grande mutirão chamado Puxirum. Melhor ainda que eles possam compartilhar com os outros milhares de participantes do planeta desse momento que é um momento de celebração da humanidade, de todos os homens, mulheres, urbanos, rurais, índios, negros, jovens, antigos."
"Os indígenas trazem para o conjunto do Fórum muito reconhecimento dessa sua existência, do seu papel histórico ancestral, trazem muito seu saber, sua relação com a natureza e trazem acima de tudo a marca da arte e da cultura. Portanto, eu acredito que o Puxirum traz para o Fórum praticamente um universo próprio que passa a pertencer também ao universo do Fórum e passa a exigir de todos nós que temos o compromisso com mudanças efetivas, com a construção de uma outra humanidade e de outro mundo, a absorção e internalização disto que também é um modo de vida particular e singular, que é o modo de vida das nossas nações indígenas."
FSM 2005 - XI
Obras do Fórum em andamento.
V FSM tem maior estrutura de todas as edições
Onze centrais de informação, mil pontos de acesso a internet, 203 salas climatizadas
O Fórum Social Mundial 2005 disponibilizará a maior estrutura de todas as edições do evento. Serão 700 computadores, mais de mil pontos de acesso à internet, 30 cybercafés, 11 centrais de informações e 203 salas destinadas aos participantes das duas mil atividades do Fórum. Entre as novidades, haverá dois pontos com acesso wireless- internet por ondas de rádio: a Usina do Gasômetro e o Acampamento da Juventude.
A infra-estrutura tecnológica vai cobrir todo o Território Social Mundial, como está sendo chamada a área destinada às atividades do V FSM, que engloba os armazéns do Cais do Porto, Usina do Gasômetro, os parques da Harmonia e Marinha do Brasil. A orla do Guaíba, que deverá receber mais de 100 mil participantes de várias partes do mundo, terá cybercafés e centrais de informações dotadas de computadores com software livre e acesso à internet. Quem puder trazer notebook terá a facilidade de contar com diversos pontos de acesso à internet espalhados pelo espaço do Fórum, além dos dois locais com acesso wireless.
Salas equipadas
As salas onde ocorrerão as atividades do FSM terão climatização, iluminação padrão e rede elétrica para ligar equipamentos, incluindo mesas e cadeiras. Equipamentos de datashow, telão e computador serão disponibilizados nas salas em que houver tradução simultânea. No total, haverá 39 salas com tradução. Para salas em que o serviço não é disponibilizado, será possível contratar empresas de tradução.
Filhos do Tsunami
A UNICEF chama já “Geração do Tsunami” ao mais de um milhão de crianças afectadas pelo tsunami do Sudeste asiático, entre as quais milhares ficaram órfãs. Carol Bellamy, Directora Executiva da UNICEF, recomenda que a ajuda humanitária nelas se concentre, salientando quatro medidas básicas: preservar a vida das crianças; cuidar das que ficaram sozinhas, nomeadamente reunificando-as com as famílias alargadas ou comunidade; protegê-las da exploração e assegurar o seu regresso o mais rápido possível às escolas, para que tenham algo positivo em que se concentrar.
Comité Português Para a UNICEF - Boletim da Latitude zero
Comité Português Para a UNICEF - Boletim da Latitude zero
FSM 2005 - X
Desconstruindo preconceitos históricos
Haverá actividades conjuntas das entidades que formam a Coligação Ecuménica, como painéis, oficinas e mesas de diálogo sobre ética, direitos humanos, espiritualidade, educação e cultura da paz, ao mesmo tempo em que cada organização desenvolverá actividades específicas.
"O Fórum existe para criar diálogos que aparentam ser impossíveis, como o abraço de um islâmico em um xamã indígena brasileiro. É um espaço de encontro de religiosidades, visões e sensibilidades características do ser humano, não importa a cultura ou a área geográfica", atesta Del Roio. Conforme o historiador, o FSM 2005 tem ainda a finalidade de desconstruir interpretações equivocadas e preconceituosas, que estão arraigadas em nossa cultura.
"O xamanismo é considerado atrasado e primitivo, no sentido prejorativo do termo. Ora, a tecnologia moderna do neoliberalismo destruiu rios e florestas, ao passo que, para o xamã, a água é sagrada. Quem é mais evoluído?"No espaço temático Ética, cosmovisões e espiritualidades, estão previstas também actividades sobre temas como agricultura biodinâmica, ecopedagogia, poema haicai, terapia floral, além de o Zen e a transformação social e Zoroastrismo - uma proposta ética e estética para a modernidade. Serão debatidos ainda o uso ritualístico da ayahuasca na contemporaneidade e a exploração de animais para fins científicos e alimentares.
"É necessário valorizar o que as culturas minoritárias têm a oferecer e aprender com elas", destaca Del Roio.
Haverá actividades conjuntas das entidades que formam a Coligação Ecuménica, como painéis, oficinas e mesas de diálogo sobre ética, direitos humanos, espiritualidade, educação e cultura da paz, ao mesmo tempo em que cada organização desenvolverá actividades específicas.
"O Fórum existe para criar diálogos que aparentam ser impossíveis, como o abraço de um islâmico em um xamã indígena brasileiro. É um espaço de encontro de religiosidades, visões e sensibilidades características do ser humano, não importa a cultura ou a área geográfica", atesta Del Roio. Conforme o historiador, o FSM 2005 tem ainda a finalidade de desconstruir interpretações equivocadas e preconceituosas, que estão arraigadas em nossa cultura.
"O xamanismo é considerado atrasado e primitivo, no sentido prejorativo do termo. Ora, a tecnologia moderna do neoliberalismo destruiu rios e florestas, ao passo que, para o xamã, a água é sagrada. Quem é mais evoluído?"No espaço temático Ética, cosmovisões e espiritualidades, estão previstas também actividades sobre temas como agricultura biodinâmica, ecopedagogia, poema haicai, terapia floral, além de o Zen e a transformação social e Zoroastrismo - uma proposta ética e estética para a modernidade. Serão debatidos ainda o uso ritualístico da ayahuasca na contemporaneidade e a exploração de animais para fins científicos e alimentares.
"É necessário valorizar o que as culturas minoritárias têm a oferecer e aprender com elas", destaca Del Roio.
O Tsunami aos Olhos do Comércio Justo
Nos países assolados pelo tsunami existem dezenas de organizações de produtores de Comércio Justo (CJ), muitos atingidos directamente. Da Indonésia à Tailândia, mobilizaram--se para auxiliar as zonas mais afectadas. As ONG’s de CJ ocidentais que também estão no terreno lançam um alerta adicional: a ajuda de emergência não pode ser obtida à custa dos fundos previstos para assistência humanitária a outras regiões do globo.
Vitor Simões / LatitudeZero
Vitor Simões / LatitudeZero
sexta-feira, janeiro 21, 2005
FSM 2005 - IX
Os "intocáveis" indianos estarão no Fórum - A exclusão social imposta aos Dalits, negros, indígenas e camponeses será tema de debate
O Fórum Mundial da Dignidade (FMD), uma das duas mil actividades do Fórum Social Mundial 2005, que ocorre de 26 a 31 de janeiro, contará com a presença de 12 Dalits, pertencentes à subcasta que ocupa na Índia o mais baixo espaço da pirâmide social. Organizado por 14 entidades - indianas, alemãs, britânicas e brasileiras, a actividade será no dia 29 de janeiro - Espaço H (em frente ao Anfiteatro Pôr-do-Sol). A primeira edição do FMD foi em Mumbai, durante o Fórum Social Mundial 2004. Naquela ocasião, os Dalits aproveitaram a oportunidade para denunciar sua condição e ampliar a divulgação do movimento por direitos iguais para o mundo. Em Porto Alegre, além da situação dessa comunidade indiana, terão depoimentos de representantes da comunidade quilombola de Conceição das Crioulas e de entidades camponesas, indígenas e negras da Colômbia. Os Dalits também participam do Fórum das Migrações, que ocorre em 23 e 24 de janeiro em Porto Alegre.
Situação dos Dalits
Os 160 milhões de Dalits que vivem na Índia sofrem discriminação em função do regime de castas, que divide as pessoas desde o nascimento. Eles estão sujeitos aos trabalhos mais degradantes, os seus direitos humanos são sistematicamente submetidos a violações. Excluídos da sociedade, são chamados de "intocáveis" porque, para muitos hindus, quem toca em um Dalit (ou até mesmo em sua sombra) fica impuro. A palavra dalit, significa 'pisoteado'. A falta de acesso a direitos básicos como educação e trabalho pode ser constada pelos números. Actualmente, menos de 31% dos Dalits tem eletricidade em casa, cerca de dois terços da população é analfabeta e mais de 50% vive abaixo do limiar da pobreza. 85% não tem acesso à terra e apenas em dois anos, de 1995 a 1997, aconteceram 90 mil casos de crimes contra membros da comunidade. Outra violação pode ser constatada no tratamento dado às mulheres que são constantemente descriminadas e os casos de violação são frequentes.
O Fórum Mundial da Dignidade (FMD), uma das duas mil actividades do Fórum Social Mundial 2005, que ocorre de 26 a 31 de janeiro, contará com a presença de 12 Dalits, pertencentes à subcasta que ocupa na Índia o mais baixo espaço da pirâmide social. Organizado por 14 entidades - indianas, alemãs, britânicas e brasileiras, a actividade será no dia 29 de janeiro - Espaço H (em frente ao Anfiteatro Pôr-do-Sol). A primeira edição do FMD foi em Mumbai, durante o Fórum Social Mundial 2004. Naquela ocasião, os Dalits aproveitaram a oportunidade para denunciar sua condição e ampliar a divulgação do movimento por direitos iguais para o mundo. Em Porto Alegre, além da situação dessa comunidade indiana, terão depoimentos de representantes da comunidade quilombola de Conceição das Crioulas e de entidades camponesas, indígenas e negras da Colômbia. Os Dalits também participam do Fórum das Migrações, que ocorre em 23 e 24 de janeiro em Porto Alegre.
Situação dos Dalits
Os 160 milhões de Dalits que vivem na Índia sofrem discriminação em função do regime de castas, que divide as pessoas desde o nascimento. Eles estão sujeitos aos trabalhos mais degradantes, os seus direitos humanos são sistematicamente submetidos a violações. Excluídos da sociedade, são chamados de "intocáveis" porque, para muitos hindus, quem toca em um Dalit (ou até mesmo em sua sombra) fica impuro. A palavra dalit, significa 'pisoteado'. A falta de acesso a direitos básicos como educação e trabalho pode ser constada pelos números. Actualmente, menos de 31% dos Dalits tem eletricidade em casa, cerca de dois terços da população é analfabeta e mais de 50% vive abaixo do limiar da pobreza. 85% não tem acesso à terra e apenas em dois anos, de 1995 a 1997, aconteceram 90 mil casos de crimes contra membros da comunidade. Outra violação pode ser constatada no tratamento dado às mulheres que são constantemente descriminadas e os casos de violação são frequentes.
FSM 2005 - VIII
Seminário debate ações para acabar com a fome e com a miséria no mundo com representantes da FAO e Unesco
Pierre Sané (director-geral adjunto para as ciências sociais e humanas da Unesco/ONU); Eva Clayton (coordenadora da Aliança Internacional Contra a Fome/FAO); Frei Betto (escritor, assessor de movimentos sociais e educador popular); e ainda a confirmar Jean Ziegler (professor da Sorbonne e da Universidade de Genebra e relator especial para o direito à alimentação da ONU).
Estes são os nomes que estarão debatendoo combate à fome e à miséria no mundo no Seminário Internacional Educação Cidadã e Mobilização Social para Erradicar a Fome e a pobreza no Mundo, que a Rede de Educação Cidadã-Talher Nacional promove dia 28 de janeiro de 2005, no Fórum Social Mundial
Este seminário, segundo o coordenador da Rede de Educação Cidadã, Selvino Heck, tem o objectivo de debater, trocar experiências, formular alternativas e fortalecer a articulação de uma rede de atores, entidades, organizações e movimentos em torno da superação da fome e da erradicação da pobreza no mundo.
A Rede de Educação Cidadã, ligada ao Sector de Mobilização social do Fome Zero da Presidência da República, está sendo constituída há 2 anos graças ao trabalho iniciado pelo então assessor especial do Presidente Lula, Frei Betto, função hoje assumida por Selvino Heck.
A Rede de Educação Cidadã, hoje presente nos 27 estados com os Talheres estaduais, microrregionais e municipais, conta com o trabalho e a adesão voluntária de mais de 500 educadores populares. Ela propõe articular a luta de entidades da sociedade civil que investem a sua acção no desenvolvimento da economia solidária, na geração de emprego e renda e na defesa de todos os direitos da população.
Pierre Sané (director-geral adjunto para as ciências sociais e humanas da Unesco/ONU); Eva Clayton (coordenadora da Aliança Internacional Contra a Fome/FAO); Frei Betto (escritor, assessor de movimentos sociais e educador popular); e ainda a confirmar Jean Ziegler (professor da Sorbonne e da Universidade de Genebra e relator especial para o direito à alimentação da ONU).
Estes são os nomes que estarão debatendoo combate à fome e à miséria no mundo no Seminário Internacional Educação Cidadã e Mobilização Social para Erradicar a Fome e a pobreza no Mundo, que a Rede de Educação Cidadã-Talher Nacional promove dia 28 de janeiro de 2005, no Fórum Social Mundial
Este seminário, segundo o coordenador da Rede de Educação Cidadã, Selvino Heck, tem o objectivo de debater, trocar experiências, formular alternativas e fortalecer a articulação de uma rede de atores, entidades, organizações e movimentos em torno da superação da fome e da erradicação da pobreza no mundo.
A Rede de Educação Cidadã, ligada ao Sector de Mobilização social do Fome Zero da Presidência da República, está sendo constituída há 2 anos graças ao trabalho iniciado pelo então assessor especial do Presidente Lula, Frei Betto, função hoje assumida por Selvino Heck.
A Rede de Educação Cidadã, hoje presente nos 27 estados com os Talheres estaduais, microrregionais e municipais, conta com o trabalho e a adesão voluntária de mais de 500 educadores populares. Ela propõe articular a luta de entidades da sociedade civil que investem a sua acção no desenvolvimento da economia solidária, na geração de emprego e renda e na defesa de todos os direitos da população.
FSM 2005 - VII
Economia Solidária - Movimento envolve milhões de trabalhadores no planeta
No Brasil, não há dados oficiais sobre a quantidade de empreendimentos e de trabalhadores envolvidos na EPS. A Secretaria Nacional de Economia Solidária - que está ligada ao Ministério do Trabalho e foi criada em 2003 - está produzindo o mapeamento do setor, que deverá estar concluído em julho deste ano. No Rio Grande do Sul, a estimativa é a de que 550 empreendimentos movimentem mais de 30 mil pessoas, das quais a maioria são mulheres. A renda mensal de cada empreendedor chega a R$ 300.
Ao nível global, os dados oficiais também são escassos. "A Economia Solidária tem pendente um mapeamento e um inventário de sua situação e de seus atores, por setor e zonas geográficas", diz Carola Reintjes, presidente da Cooperativa de Comércio Justo IDEAS - Iniciativas de Economia Alternativa e Solidária -, com sede na Espanha. No Conselho Internacional do FSM, Carola representa três redes de Economia Solidária (FCTC, Xarxa e REAS) e a IFAT (Associação Internacional de Comércio Justo).
O que se sabe ao certo é que, hoje, existem 43 grandes redes internacionais com temas relacionados à Economia Solidária, cada uma delas composta por centenas de organizações - a IFAT, por exemplo, é formada por mais de 200 entidades. Entretanto, há outras centenas que ainda não estão articuladas com o trabalho de coordenação em nível global. "Podemos apenas intuir que estamos diante de um mapa com milhares de organizações, que envolvem milhões de trabalhadores no planeta", assegura Carola.
No Brasil, não há dados oficiais sobre a quantidade de empreendimentos e de trabalhadores envolvidos na EPS. A Secretaria Nacional de Economia Solidária - que está ligada ao Ministério do Trabalho e foi criada em 2003 - está produzindo o mapeamento do setor, que deverá estar concluído em julho deste ano. No Rio Grande do Sul, a estimativa é a de que 550 empreendimentos movimentem mais de 30 mil pessoas, das quais a maioria são mulheres. A renda mensal de cada empreendedor chega a R$ 300.
Ao nível global, os dados oficiais também são escassos. "A Economia Solidária tem pendente um mapeamento e um inventário de sua situação e de seus atores, por setor e zonas geográficas", diz Carola Reintjes, presidente da Cooperativa de Comércio Justo IDEAS - Iniciativas de Economia Alternativa e Solidária -, com sede na Espanha. No Conselho Internacional do FSM, Carola representa três redes de Economia Solidária (FCTC, Xarxa e REAS) e a IFAT (Associação Internacional de Comércio Justo).
O que se sabe ao certo é que, hoje, existem 43 grandes redes internacionais com temas relacionados à Economia Solidária, cada uma delas composta por centenas de organizações - a IFAT, por exemplo, é formada por mais de 200 entidades. Entretanto, há outras centenas que ainda não estão articuladas com o trabalho de coordenação em nível global. "Podemos apenas intuir que estamos diante de um mapa com milhares de organizações, que envolvem milhões de trabalhadores no planeta", assegura Carola.
FSM 2005 - VI
A teoria e a prática da Economia Solidária
Protagonistas na prestação de serviços, empreendedores solidários concentram oficinas sobre Economias Soberanas
A quinta edição do Fórum Social Mundial - de 26 a 31 de janeiro, em Porto Alegre - vai oferecer uma oportunidade única de interação entre teoria e prática aos trabalhadores da Economia Popular e Solidária. Com 90 debates e oficinas, os empreendimentos solidários representam quase um terço das 281 actividades do espaço temático Economias soberanas pelos e para os povos - Contra o capitalismo neoliberal. Ao mesmo tempo, mais de 1.500 trabalhadores ligados à EPS estão atuando no atendimento das demandas de organização, produtos e serviços prestados aos participantes do FSM 2005.
Entre os segmentos envolvidos, estão alimentação, confecção, artesanato, segurança e reciclagem. As bolsas de algodão e as camisetas do FSM 2005, por exemplo, foram confeccionadas por 500 trabalhadores associados a 35 empreendimentos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Outra demanda atendida é a de eletro-eletrónicos, com a adaptação e a produção de transmissores e mixers, além de cabines de tradução, que serão utilizadas por intérpretes e tradutores. Nas quatro edições anteriores, a EPS ocupava uma posição periférica nas actividades económicas realizadas durante o Fórum. Agora, assumirão um papel de protagonismo.
"No Brasil, o movimento da Economia Solidária consolidou-se a partir do Fórum Social Mundial, que já a partir da primeira edição fomentou o debate e permitiu a articulação com organizações internacionais", afirma Ary Moraes, que integra o Grupo de Trabalho de Economia Solidária do FSM 2005. Formado pelas mais diferentes práticas associativas, comunitárias, artesanais, individuais, familiares ou cooperativadas, no campo e na cidade, a EPS constitui um dos pilares para a construção de uma globalização humanizadora e de um desenvolvimento sustentável e socialmente justo. Além disso, representa um poderoso instrumento de combate à exclusão social.
Protagonistas na prestação de serviços, empreendedores solidários concentram oficinas sobre Economias Soberanas
A quinta edição do Fórum Social Mundial - de 26 a 31 de janeiro, em Porto Alegre - vai oferecer uma oportunidade única de interação entre teoria e prática aos trabalhadores da Economia Popular e Solidária. Com 90 debates e oficinas, os empreendimentos solidários representam quase um terço das 281 actividades do espaço temático Economias soberanas pelos e para os povos - Contra o capitalismo neoliberal. Ao mesmo tempo, mais de 1.500 trabalhadores ligados à EPS estão atuando no atendimento das demandas de organização, produtos e serviços prestados aos participantes do FSM 2005.
Entre os segmentos envolvidos, estão alimentação, confecção, artesanato, segurança e reciclagem. As bolsas de algodão e as camisetas do FSM 2005, por exemplo, foram confeccionadas por 500 trabalhadores associados a 35 empreendimentos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Outra demanda atendida é a de eletro-eletrónicos, com a adaptação e a produção de transmissores e mixers, além de cabines de tradução, que serão utilizadas por intérpretes e tradutores. Nas quatro edições anteriores, a EPS ocupava uma posição periférica nas actividades económicas realizadas durante o Fórum. Agora, assumirão um papel de protagonismo.
"No Brasil, o movimento da Economia Solidária consolidou-se a partir do Fórum Social Mundial, que já a partir da primeira edição fomentou o debate e permitiu a articulação com organizações internacionais", afirma Ary Moraes, que integra o Grupo de Trabalho de Economia Solidária do FSM 2005. Formado pelas mais diferentes práticas associativas, comunitárias, artesanais, individuais, familiares ou cooperativadas, no campo e na cidade, a EPS constitui um dos pilares para a construção de uma globalização humanizadora e de um desenvolvimento sustentável e socialmente justo. Além disso, representa um poderoso instrumento de combate à exclusão social.
FSM 2005 - V
Encontro ecuménico celebra a paz
Religiões de todo o planeta unem-se para construir um mundo melhor.
A intolerância religiosa como instrumento de dominação política, económica e militar no mundo contemporâneo. Este é um dos principais temas que serão abordados no espaço temático Ética, cosmovisões e espiritualidades - resistências e desafios para um novo mundo, na quinta edição do Fórum Social Mundial (26 a 31 de janeiro, em Porto Alegre). Estarão presentes católicos, protestantes, cristãos anglicanos, budistas, judeus e islâmicos, além de representantes das religiões de matriz africana e do xamanismo dos continentes americano e asiático."Como é difícil viver a realidade de sofrimento, violência e miséria que ele próprio produz, o neoliberalismo recorre ao imaginário e aos símbolos das religiões para justificar-se. Não é por acaso que Bush declara guerra em nome de Deus", afirma o historiador ítalo-brasileiro José Luiz Del Roio, da coordenação do Fórum Mundial das Alternativas, rede de organizações que integra o Conselho Internacional do Fórum Social Mundial.
Para o director-regional da Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) e secretário executivo do CECA (Centro Ecuménico de Evangelização, Capacitação e Assessoria), Francisco de Assis da Silva, a exploração política das religiões transforma conflitos de ordem política e económica em confrontos religiosos. "Queremos demonstrar que pessoas com religiões diferentes podem trabalhar juntas na construção de um mundo melhor, especialmente no que diz respeito aos direitos fundamentais, independentemente da maneira como cada uma delas encara a vida", explica ele.
Religiões de todo o planeta unem-se para construir um mundo melhor.
A intolerância religiosa como instrumento de dominação política, económica e militar no mundo contemporâneo. Este é um dos principais temas que serão abordados no espaço temático Ética, cosmovisões e espiritualidades - resistências e desafios para um novo mundo, na quinta edição do Fórum Social Mundial (26 a 31 de janeiro, em Porto Alegre). Estarão presentes católicos, protestantes, cristãos anglicanos, budistas, judeus e islâmicos, além de representantes das religiões de matriz africana e do xamanismo dos continentes americano e asiático."Como é difícil viver a realidade de sofrimento, violência e miséria que ele próprio produz, o neoliberalismo recorre ao imaginário e aos símbolos das religiões para justificar-se. Não é por acaso que Bush declara guerra em nome de Deus", afirma o historiador ítalo-brasileiro José Luiz Del Roio, da coordenação do Fórum Mundial das Alternativas, rede de organizações que integra o Conselho Internacional do Fórum Social Mundial.
Para o director-regional da Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais) e secretário executivo do CECA (Centro Ecuménico de Evangelização, Capacitação e Assessoria), Francisco de Assis da Silva, a exploração política das religiões transforma conflitos de ordem política e económica em confrontos religiosos. "Queremos demonstrar que pessoas com religiões diferentes podem trabalhar juntas na construção de um mundo melhor, especialmente no que diz respeito aos direitos fundamentais, independentemente da maneira como cada uma delas encara a vida", explica ele.
Empresas pela Ásia
A GRACE, a BCSD Portugal e a RSE Portugal – plataformas de empresas com políticas de responsabilidade social e ambiental – associaram-se para apoiar financeiramente a OIKOS (Organização Não Governamental para o Desenvolvimento - ONGD) num projecto de reconstrução na ilha de Sumatra, Indonésia (zona mais devastada pelo tsunami de Dezembro). O projecto da OIKOS pretende no imediato (10 meses) repor o fornecimento de água e saneamento em níveis minimamente aceitáveis. A médio e longo prazo (3 anos) procurará capacitar as populações para conseguirem alguma segurança alimentar.
OIKOS – Cooperação e Desenvolvimento - Boletim da Latitude zero
OIKOS – Cooperação e Desenvolvimento - Boletim da Latitude zero
Microriqueza
A ONU declarou 2005 o Ano Internacional do Microcrédito. Este sistema de pequenos empréstimos já beneficiou 54 milhões de pessoas, 81% das quais mulheres - sobretudo em países desfavorecidos - e espera-se que chegue a 100 milhões até final do ano. Um relatório da Cimeira do Microcrédito demonstra a eficácia desta ferramenta para reduzir a metade a pobreza mundial até 2015 (Objectivo do Milénio). O microcrédito refuta a ideia de que os mais pobres não têm iniciativa nem são bons pagadores.
Cimeira do Microcrédito - Boletim da Latitude zero
Cimeira do Microcrédito - Boletim da Latitude zero
quinta-feira, janeiro 20, 2005
FSM 2005 - IV
Quatro grandes projectos culturais
Para organizar as mais de 400 actividades artísticas, a coordenação Cultural do Fórum elaborou quatro grandes projetos: Museu Vivo da diversidade, Diálogos de Rua, Mostra Intercontinental de Cinema e Memória Instantânea (Armazém A7 do Cais do Porto). Este último foi realizado durante o III FSM e agora apresenta-se ampliado na quinta edição do encontro.
"Serão disponibilizadas oito ilhas de edição, funcionando 20 horas por dia, para finalização de material audiovisual, sem qualquer custo", informa Marcos Barreto, coordenador da Comissão de Cultura.
O objectivo do projeto é contribuir para a construção da memória colectiva do Fórum Social Mundial. O material produzido será exibido no Museu Vivo da Diversidade, outro grande espaço de manifestação cultural. Lá será realizada, entre outras actividades, a mostra de resultados da oficina com os bonequeiros australianos Snuff Puppets, iniciada no dia 14 deste mês, além de diversas exposições, oficinas, actividades de grafitagem e performances.Também integrante dos projetos guarda-chuva, o Diálogos de Rua trabalha com a descentralização do Fórum, permitindo outras formas de diálogo entre o evento e a comunidade local. Vários palcos móveis garantirão que a construção de diálogos aconteça por meio do contato com diferentes linguagens (música, teatro e manifestações), levando as propostas do FSM para os bairros de Porto Alegre.
E a sétima arte, reunida na Mostra Intercontinental de Cinema e Vídeo, apresentará filmes vindos de todo o Brasil, Argentina, Canadá, Índia, Espanha, África, China, entre outros. A mostra ocupa duas salas da casa de Cultura Mario Quintana, além da Sala de Cinema PF Gastal, na Usina do Gasômetro; a Sala de Cinema e Multimeios do Santander Cultural; e o Auditório Dante Barone, da Assembléia Legislativa. Integram a programação cinematográfica as mostras Jean Rouch, Cinema ao Ar Livre, Especial: Ao Sul do Cinema - 20 anos do Fond Sud, Outros Mundos Estão Respirando - 2005, Operária do Cinema Brasileiro, dos Direitos Humanos, além dos vídeos inscritos no FSM.
Para organizar as mais de 400 actividades artísticas, a coordenação Cultural do Fórum elaborou quatro grandes projetos: Museu Vivo da diversidade, Diálogos de Rua, Mostra Intercontinental de Cinema e Memória Instantânea (Armazém A7 do Cais do Porto). Este último foi realizado durante o III FSM e agora apresenta-se ampliado na quinta edição do encontro.
"Serão disponibilizadas oito ilhas de edição, funcionando 20 horas por dia, para finalização de material audiovisual, sem qualquer custo", informa Marcos Barreto, coordenador da Comissão de Cultura.
O objectivo do projeto é contribuir para a construção da memória colectiva do Fórum Social Mundial. O material produzido será exibido no Museu Vivo da Diversidade, outro grande espaço de manifestação cultural. Lá será realizada, entre outras actividades, a mostra de resultados da oficina com os bonequeiros australianos Snuff Puppets, iniciada no dia 14 deste mês, além de diversas exposições, oficinas, actividades de grafitagem e performances.Também integrante dos projetos guarda-chuva, o Diálogos de Rua trabalha com a descentralização do Fórum, permitindo outras formas de diálogo entre o evento e a comunidade local. Vários palcos móveis garantirão que a construção de diálogos aconteça por meio do contato com diferentes linguagens (música, teatro e manifestações), levando as propostas do FSM para os bairros de Porto Alegre.
E a sétima arte, reunida na Mostra Intercontinental de Cinema e Vídeo, apresentará filmes vindos de todo o Brasil, Argentina, Canadá, Índia, Espanha, África, China, entre outros. A mostra ocupa duas salas da casa de Cultura Mario Quintana, além da Sala de Cinema PF Gastal, na Usina do Gasômetro; a Sala de Cinema e Multimeios do Santander Cultural; e o Auditório Dante Barone, da Assembléia Legislativa. Integram a programação cinematográfica as mostras Jean Rouch, Cinema ao Ar Livre, Especial: Ao Sul do Cinema - 20 anos do Fond Sud, Outros Mundos Estão Respirando - 2005, Operária do Cinema Brasileiro, dos Direitos Humanos, além dos vídeos inscritos no FSM.
FSM 2005 - III
Cultura
A cultura do mundo em Porto Alegre - São 400 actividades programadas para o período em diferentes espaços culturais e 14 palcos
A diversidade criativa dos povos do mundo recheia a programação cultural do Fórum Social Mundial 2005. São 100 concertos, 41 espectáculos teatrais, 13 apresentações de dança e sete oficinas de teatro; 85 exposições de artes plásticas, fotografia e vídeo-instalações; 150 filmes e vídeos além de dezenas de manifestações espontâneas em todo o Território Social Mundial.
"O papel da cultura nesse fórum é o de dialogar com o mundo através da arte", destaca um dos coordenadores culturais do encontro, Marcos Barreto.
A cultura do mundo em Porto Alegre - São 400 actividades programadas para o período em diferentes espaços culturais e 14 palcos
A diversidade criativa dos povos do mundo recheia a programação cultural do Fórum Social Mundial 2005. São 100 concertos, 41 espectáculos teatrais, 13 apresentações de dança e sete oficinas de teatro; 85 exposições de artes plásticas, fotografia e vídeo-instalações; 150 filmes e vídeos além de dezenas de manifestações espontâneas em todo o Território Social Mundial.
"O papel da cultura nesse fórum é o de dialogar com o mundo através da arte", destaca um dos coordenadores culturais do encontro, Marcos Barreto.
A quadratura do círculo
A quadratura do círculo consiste em demonstrar que José Magalhães, Pacheco Pereira e Lobo Xavier exprimem o arco das opiniões políticas Portuguesas. Ninguém acredita nessa pratanha. Para além de outras minudências, não se pode fugir a um facto: faltam ali os comunas. Debates sem amigos de Estaline, próceres de Lenine, seguidores de Trotsky ou amas-secas de Mao não é debate a sério. Para cada opinião engravatada e demo-liberal devia existir um contraditor de charro e pistola de assalto a bramir um exemplar coçado de "Materialismo e Empiro-Criticismo". Em russo.
Além do mais, este programa de telvisão nada tem de televisivo. Desde logo, porque preenche 50 minutos sem uma única gaja boa, partida que a SIC notícias raramente nos prega. Depois, porque os rapazes não são lá muito bonitos: Pacheco Pereira é um saco de batatas que leu Max Weber; José Magalhães um Coktail Molotov esgazeado; Lobo Xavier um biquinho de beto com penteado de queque. E Carlos Andrade parece, na melhor das hipóteses, um urso bondoso a comer Corn Flakes.
Texto de Marcos Pombal (Inimigo Público), com mais de um ano mas com muita actualidade....
Além do mais, este programa de telvisão nada tem de televisivo. Desde logo, porque preenche 50 minutos sem uma única gaja boa, partida que a SIC notícias raramente nos prega. Depois, porque os rapazes não são lá muito bonitos: Pacheco Pereira é um saco de batatas que leu Max Weber; José Magalhães um Coktail Molotov esgazeado; Lobo Xavier um biquinho de beto com penteado de queque. E Carlos Andrade parece, na melhor das hipóteses, um urso bondoso a comer Corn Flakes.
Texto de Marcos Pombal (Inimigo Público), com mais de um ano mas com muita actualidade....
FSM 2005 - II
3 espaços
Tenda Solidária do Movimento Negro - A Tenda Solidária do Movimento Negro é um lugar de referência de encontros e diálogos entre pessoas e organizações que em várias partes do mundo estão em lutta contra o racismo e todas as formas de discriminação e preconceito. A tenda é uma reedição do Quilombo Milton Santos e Lélia Gonzáles, que em outros encontros do FSM foi um centro dos seminários, painéis e oficinas vinculados à temática.
Espaço Puxirum (Indígena) - A cultura e as lutas dos povos indígenas da América Latina estarão representadas no espaço denominado Puxirum, que significa mutirão em tupi-guarani. A arte, aspectos do cotidiano, problemas, saberes e espiritualidade estarão sendo mostrados e debatidos pelos mais de 400 índios, que representam cerca de 100 povos. Esta é a primeira vez que os povos indígenas vêm organizados ao FSM e participam numa actividade específica. Nos últimos Fóruns, a participação foi isolada, com convidados e palestrantes em alguns eventos.
Tenda da Solidariedade (Já Basta) - Esta tenda será um local de encontro de todos os que lutam contra o livre comércio, a dívida, a militarização e a guerra. O objectivo dos organizadores é que o espaço seja um ponto de referência das campanhas sobre esses temas. A proposta é que os movimentos actuem de maneira colectiva, tanto na divisão do espaço como na programação das actividades. Além de pequenas reuniões e encontros, o tenda contará com uma mesa colectiva para que as organizações e grupos divulguem as suas campanhas, distribuam materiais ou possam omercializá-los a preços solidários. Organizadores: Grito dos excluídos/Campanha Continental contra a ALCA/Campanha Jubileu Sul Brasil/Alianza Social Continental / Rede dos Movimentos Sociais.
Tenda Solidária do Movimento Negro - A Tenda Solidária do Movimento Negro é um lugar de referência de encontros e diálogos entre pessoas e organizações que em várias partes do mundo estão em lutta contra o racismo e todas as formas de discriminação e preconceito. A tenda é uma reedição do Quilombo Milton Santos e Lélia Gonzáles, que em outros encontros do FSM foi um centro dos seminários, painéis e oficinas vinculados à temática.
Espaço Puxirum (Indígena) - A cultura e as lutas dos povos indígenas da América Latina estarão representadas no espaço denominado Puxirum, que significa mutirão em tupi-guarani. A arte, aspectos do cotidiano, problemas, saberes e espiritualidade estarão sendo mostrados e debatidos pelos mais de 400 índios, que representam cerca de 100 povos. Esta é a primeira vez que os povos indígenas vêm organizados ao FSM e participam numa actividade específica. Nos últimos Fóruns, a participação foi isolada, com convidados e palestrantes em alguns eventos.
Tenda da Solidariedade (Já Basta) - Esta tenda será um local de encontro de todos os que lutam contra o livre comércio, a dívida, a militarização e a guerra. O objectivo dos organizadores é que o espaço seja um ponto de referência das campanhas sobre esses temas. A proposta é que os movimentos actuem de maneira colectiva, tanto na divisão do espaço como na programação das actividades. Além de pequenas reuniões e encontros, o tenda contará com uma mesa colectiva para que as organizações e grupos divulguem as suas campanhas, distribuam materiais ou possam omercializá-los a preços solidários. Organizadores: Grito dos excluídos/Campanha Continental contra a ALCA/Campanha Jubileu Sul Brasil/Alianza Social Continental / Rede dos Movimentos Sociais.
FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2005 - I
Doze tendas tratam de lutas específicas: Indígenas, Movimento Negro, Palestinos, Mundo do Trabalho, Reforma Urbana, Cooperativismo são alguns dos temas de organizações que promovem debates permanentes sobre assuntos sociais, raciais, económicos e meio ambiente, entre outros
Além das duas mil actividades programadas para o FSM 2005, que ocorre de 26 a 31 de janeiro em Porto Alegre, movimentos sociais, sindicatos, ongs e povos organizaram tendas onde serão debatidas questões relacionados às suas lutas. No total, são 12 tendas espalhadas pelo Território do Fórum Social Mundial, que engloba do Cais do Porto ao Parque Marinha do Brasil. Debates, reuniões, manifestações artísticas, mostras fotográficas e encontros de articulação entre as entidades fazem parte da programação desses espaços. Movimento negro, questão indígena, trabalho, Alca, bloqueio económico a Cuba e à Venezuela, movimento urbano e meio ambiente são alguns dos temas que estarão sendo pemanentemente discutidos. Todas as actividades são sugeridas e organizadas pelas entidades.
Além das duas mil actividades programadas para o FSM 2005, que ocorre de 26 a 31 de janeiro em Porto Alegre, movimentos sociais, sindicatos, ongs e povos organizaram tendas onde serão debatidas questões relacionados às suas lutas. No total, são 12 tendas espalhadas pelo Território do Fórum Social Mundial, que engloba do Cais do Porto ao Parque Marinha do Brasil. Debates, reuniões, manifestações artísticas, mostras fotográficas e encontros de articulação entre as entidades fazem parte da programação desses espaços. Movimento negro, questão indígena, trabalho, Alca, bloqueio económico a Cuba e à Venezuela, movimento urbano e meio ambiente são alguns dos temas que estarão sendo pemanentemente discutidos. Todas as actividades são sugeridas e organizadas pelas entidades.
quarta-feira, janeiro 19, 2005
Forma-se a V ciranda
O ano de 2005 promete ser um período de busca intensa de experiências e modos de comunicação que driblem o controle dos meios e da informação pelos conglomerados corporativos de midia e poderes imperiais os manipulam. Será, provavelmente, um ano em que as experiências de comunicação compartilhada, como as que serão realizadas no V Fórum Social Mundial, entre 25 e 31 de Janeiro, em Porto Alegre, confirmarão seu papel na construção de alternativas à concentração dos meios.
Já é possível antever um ano de resistência aos projetos de controle ainda maior de tecnologias, informações, negócios, mercadorias e fronteiras. Durantes os pŕoximos meses, sociedades e governos estarão na mira dos grandes conglomerados de Tecnologia da Informação que enxergam o planeta como um só mercado, onde é possível controlar tudo isso e também as pessoas: por onde circulam, o que fazem, como pensam. Um grande palco para esses conglomerados e seus parceiros governamentais se arma nos preparativos da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, na Tunisia.
2005 também será o ano de disputas em torno da distribuição de informação e entretenimento audiovisuais, com políticas de comércio internacional para cinema, radio e TV. Os governos serão novamente disputados pelas garras da OMC - Organização do Livre Comércio, desta vez de olho no controle de seus mercados para o audiovisual, entre outras áreas relacionadas à comunicação e à cultura.
Leia o artigo completo em Outras Palavras
Já é possível antever um ano de resistência aos projetos de controle ainda maior de tecnologias, informações, negócios, mercadorias e fronteiras. Durantes os pŕoximos meses, sociedades e governos estarão na mira dos grandes conglomerados de Tecnologia da Informação que enxergam o planeta como um só mercado, onde é possível controlar tudo isso e também as pessoas: por onde circulam, o que fazem, como pensam. Um grande palco para esses conglomerados e seus parceiros governamentais se arma nos preparativos da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, na Tunisia.
2005 também será o ano de disputas em torno da distribuição de informação e entretenimento audiovisuais, com políticas de comércio internacional para cinema, radio e TV. Os governos serão novamente disputados pelas garras da OMC - Organização do Livre Comércio, desta vez de olho no controle de seus mercados para o audiovisual, entre outras áreas relacionadas à comunicação e à cultura.
Leia o artigo completo em Outras Palavras
Ranking das Universidades
A revista Times publicou o seu ranking de universidades em todo o mundo. Oxford e Cambridge aparecem no topo das universidades Europeias ainda que em 5º e 6º lugar no ranking mundial. Procurei em vão uma referência a Universidades Portuguesas. A única referencia encontrada foi o trecho que segue abaixo:"But perhaps the most striking feature of the European top 50 is theinvisibility of southern Europe. Spain, Portugal, Italy and Greece are allabsent. They begin to appear only at positions 67 and 68, beyond thenumber we are able to publish here, when Madrid and Rome's La Sapienza universities respectively put in an appearance. This is ominous for these countries' prospects in the continent-wide knowledge economy of which European and national planners dream."
O que eles não sabem é que nós temos o fado, a nostalgia e tantos outros alimentos para alma.
Mais detalhes neste link.
MBA
O que eles não sabem é que nós temos o fado, a nostalgia e tantos outros alimentos para alma.
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MBA
terça-feira, janeiro 18, 2005
Entrudanças
Tocador de viola toeira
O Entrudanças realiza-se mais um ano por terras alentejanas, por alturas do Carnaval. Reúne músicos de vários pontos do Globo: Castro Verde, Suécia, Lisboa, Entradas... num encontro de Inverno entre os sobreiros, a campaniça e o cante.
No Centro Cultural de Entradas (Castro Verde), entre 5 e 7 de Fevereiro 2005.
Bailes com Refilón (Cabo Verde), Naragónia (Bélgica), Fomp (Suécia), Toques do Caramulo (Portugal) e Uxu Kalhus (Portugal). O CD dos Uxu deve sair em Março (espero eu...)
programa completo e outras informações
Posts e tomates
A frequência de posts é inversamente proporcional à distância a Portugal e directamente proporcional à disponibilidade de Internet. Dito isto, deixo-vos com as virtudes medicinais dos tomates:
Os tomates constituem em alimento excelente para aqueles que desejam adoptar uma dieta natural. Na sua composição estão presentes numerosos elementos úteis para desintoxicar o organismo e prevenir o aparecimento de doenças.
Um destes elementos chama-se licopeno, dá a cor vermelha aos tomates e tem propriedades semelhantes ao betacaroteno das cenouras. Tem propriedades anti-cancerígenas, nomeadamente no caso do câncro da próstata, pulmão, estômago e colo do útero. Está presente nos tomates frescos mas a sua acção é mais eficaz nos tomates cozinhados, já que a cozedura ajuda a libertar este elemento e facilita a sua obsarção pelo organismo. Comer tomate cozinhado ajuda assim a cuidar da saúde, prevenir o câncro e a reduzir o colesterol.
O glutation tem propriedades antioxidantes, o que ajuda na eliminação dos radicais livres responsáveis por muitos dos câncros que existem, doenças diversas e pela morte das células e envelhecimento consequente.
(se quiser saber mais, siga este link).
Os tomates constituem em alimento excelente para aqueles que desejam adoptar uma dieta natural. Na sua composição estão presentes numerosos elementos úteis para desintoxicar o organismo e prevenir o aparecimento de doenças.
Um destes elementos chama-se licopeno, dá a cor vermelha aos tomates e tem propriedades semelhantes ao betacaroteno das cenouras. Tem propriedades anti-cancerígenas, nomeadamente no caso do câncro da próstata, pulmão, estômago e colo do útero. Está presente nos tomates frescos mas a sua acção é mais eficaz nos tomates cozinhados, já que a cozedura ajuda a libertar este elemento e facilita a sua obsarção pelo organismo. Comer tomate cozinhado ajuda assim a cuidar da saúde, prevenir o câncro e a reduzir o colesterol.
O glutation tem propriedades antioxidantes, o que ajuda na eliminação dos radicais livres responsáveis por muitos dos câncros que existem, doenças diversas e pela morte das células e envelhecimento consequente.
(se quiser saber mais, siga este link).
José Gil
de uma entrevista com o filósofo José Gil
Pública - Depois da leitura do seu livro, é impossível não se ficar deprimido.
José Gil - Hesitei muito antes de o publicar. Decidi fazê-lo, porque acho que estas coisas devem dizer-se publicamente, e não apenas em circuitos fechados, como habitualmente. E também porque penso ter encontrado um fio condutor, que dá unidade a tudo o que afirmo.
P. - É aquilo a que chama "não inscrição". Que significa?
R. - Significa que os acontecimentos não influenciam a nossa vida, é como se não acontecessem. Por exemplo, quando uma pessoa ama, esse sentimento não afecta a outra pessoa, objecto do amor. Quando acabamos de ver um espectáculo, não falamos sobre ele. Quando muito, dizemos que gostámos ou não gostámos, mais nada. Não tem nenhum efeito nas nossas vidas, não se inscreve nelas, não as transforma. Ainda outro exemplo: o primeiro-ministro, Santana Lopes, classificou a dissolução da Assembleia da República pelo Presidente como "enigmática". Não disse que era incorrecta ou injusta, mas "enigmática", o que é a forma mais eficaz de a transformar em não-acontecimento.
P. - E, não tendo acontecido, ninguém é responsável.
R. - Exactamente. Pode-se continuar como se nada se tivesse passado. Os acontecimentos não se inscrevem em nós, nem nas nossas vidas, nem nós nos inscrevemos na História. Por isso, em Portugal nada acontece.
P. - Isso vem de onde?
R. - Do medo. E da falta da ideia de futuro. Vivemos num presente que se perpetua. Não se inscreve em nós o futuro nem o passado, a História. Porque temos medo.
P. - E de onde vem o medo?
R. - Uma vez fiz essa pergunta a José Mattoso. Perguntei-lhe se vinha do salazarismo. Ele respondeu: "Muito antes disso." Mas não precisou de onde. Acho que ninguém sabe. Claro que no chamado "antigo regime", ou no feudalismo, imperava um medo real, físico.
P. - Mas isso acontecia em toda a Europa. Específico de Portugal é esse medo não ter cessado?
R. - Sim. Existiu durante o salazarismo, que vivia do medo. Tínhamos medo de tudo.
P. - Mas era um medo hierárquico, de cima para baixo. Como se transformou num medo do nosso semelhante?
R. - Acho que no salazarismo já havia um medo do semelhante, além do hierárquico, que desapareceu, porque estamos numa democracia. Mas herdámos o medo, que se transformou. Acho que a principal razão foi por que não criámos suficientes instrumentos de expressão.
P. - É através da expressão que nos podemos livrar do medo?
R. - Nós temos uma pobreza enorme de expressão em relação à nossa existência. O que sabemos de nós, hoje, é pouquíssimo. Por exemplo: o que uma mulher pode sofrer, com a sua condição de inferioridade social, com os dramas domésticos... Tudo o que se diz, mesmo o que aparece na literatura, não exprime o que ela poderia sentir, e acaba por fazer com que ela não possa sentir o que verdadeiramente sente.
P. - Não pode sentir, porque não o pode exprimir?
R. - Sim. A expressão abre para o fundo, não apenas para fora. Mas nós estamos agarrados a um texto e não temos forças para sair dele.
P. - Uma espécie de norma?
R. - É o texto da sociedade normalizada, do bom senso, do política, social e afectivamente correcto. Assisti há dias a uma discussão de um casal, num jardim. O marido dizia-lhe: "Não aqui! Não aqui!" E a mulher calava-se logo. Temos um texto que nos diz o que podemos viver.
P. - É o medo que nos impede de rasgar esse texto?
R. - Nós temos medo de experimentar. Porque temos medo do que irão dizer de nós. Partimos sempre do princípio de que o que vão dizer é negativo, desvalorizante. Dificilmente alguém dirá: "Que bom o que tu fizeste. Estou muito contente." Não. Vão-nos decerto criticar. Isso cria logo um medo que nos paralisa. Faz com que tenhamos prudência. Bom senso.
P. - Mas a prudência e o bom senso poderiam ser atitudes positivas, para nos guiarem na acção...
R. - Qual acção? A prudência paralisa a acção.
P. - Então não é uma verdadeira prudência.
R. - Pois não. A verdadeira prudência seria uma estratégia para medir e modular a acção, à medida que ela se desenrola. Mas nós não queremos é agir. Porque a sociedade portuguesa, ao contrário de outras, é fechada, não tem canais de ar, respirações possíveis. É uma sociedade suavemente paranóica. As pessoas estão demasiado conscientes de si próprias, o que é um horror. Conscientes da imagem que possam produzir, da sua presença como imagem nos outros. Isso é paralisante.
P. - Damos muita importância à nossa imagem?
R. - É uma obsessão. Estamos sempre a falar da auto-estima, esse termo horroroso.
P. - O que há de errado com a auto-estima?
R. - Essa ideia reflexiva, de nos amarmos a nós próprios... Em vez de estarmos virados para fora, para os outros, para o mundo. Só nos podemos afirmar agindo, exprimindo-nos - não voltando-nos para a autocomplacência. Tudo o que é válido vem "de fora". Nós ainda temos essa ideia de que é preciso começar por uma transformação interior... Mas, em Portugal, não existe um "fora".
P. - Isso quer dizer que não existe um espaço público?
R. - Não, não existe. O salazarismo extinguiu-o. Depois do 25 de Abril, passámos do zero para o máximo de expressão. Mas não tínhamos os instrumentos para essa expressão. Por isso, as forças reais do poder-saber, políticas, voltaram a dominar. Toda a nossa expressão individual, social, passou a reduzir-se ao discurso político. E no espaço público instalou-se em força um dispositivo que ocupou o lugar todo: a televisão, e os "media" em geral.
P. - Os "media" não são espaço público? Funcionam em circuito fechado?
R. - Movem-se em circuito fechado. Têm uma acção de absorção. Só se existe se se aparecer na televisão. Mas estar e aparecer na televisão não é a mesma coisa do que viver a vida, na materialidade das ruas e do tempo.
P. - Mas isso não é um fenómeno exclusivamente português.
R. - Não, mas em Portugal a televisão criou um espaço de imagem antes de termos passado por aquilo a que podemos chamar um "espaço de terrível liberdade", de experimentação, de inscrição, que foi a modernidade.
(...)
P. - Cultivamos uma intimidade forçada, pouco natural, promíscua?
R. - Sim, há uma promiscuidade social que se deve à falta de autonomia individual. O salazarismo infantilizou-nos, fez-nos viver num mundo fictício e sugou-nos todas as forças. Eu não quero culpar o salazarismo por tudo, mas a verdade é que foram 48 anos de não inscrição, de não acontecimento. E herdámos isso. Ainda não recuperámos. O ambiente em que vivemos não nos permite ter intensidade de vida, de pensamento, de acção, para que possamos inscrever-nos na nossa própria vida, na Europa, no mundo global, etc. Uma vez assisti a uma entrevista com o jovem físico português, João Magueijo, que vive em Inglaterra. A repórter perguntava-lhe: "Você trabalha com matemática, não em laboratórios. Não podia ter descoberto essas teorias em Portugal?" E ele respondeu imediatamente: "De maneira nenhuma. Sabe porquê? Por causa da intensidade das trocas de pensamento em que eu vivo quotidianamente. É isso que me faz pensar."
P. - A influência "do fora".
R. - Absolutamente. É essa intensidade que nos falta. Nós somos tão inteligentes como os outros. Somos inventivos, produzimos. Mas caímos nisto.
P. - A incapacidade de agir vem de dentro, do nosso medo. Mas, quando alguém tenta, o que acontece? Temos a aprovação ou a sanção dos outros?
R. - Uma sanção terrível. É o mecanismo da inveja.
P. - Não agimos, mas também não deixamos ninguém agir. Como funciona esse mecanismo?
R. - O mecanismo da inveja tem a ver com práticas da magia, o "mau olhado", o "quebranto", e também com o que em psiquiatria se chama "transferência psicótica", ou seja, o que passa de uma pessoa para outra e não é verbal. Imagine que você chega ao pé dos seus colegas e diz: "Fiz uma reportagem extraordinária!" E não está a falar por vaidade, mas objectivamente. Mas logo o tipo que está a seu lado diz: "Ai sim? Pois muito bem." E com este tom introduz em si um afecto inconsciente que o vai paralisar.
P. - É um mecanismo semelhante ao do ostracismo?
R. - Exactamente. Cria-se um ambiente que é hostil à iniciativa e que tem um efeito sobre a própria vontade de querer fazer. Isto é generalizado em Portugal. A inveja é mais do que um sentimento. É um sistema. E não é apenas individual: criam-se grupos de inveja. Várias pessoas manifestam-se simultaneamente contra a sua iniciativa. Cria-se um ambiente de inveja. Um grupo determinado age segundo os regulamentos da inveja.
P. - É uma atitude concertada ou inconsciente?
R. - Pode ser concertada ou inconsciente, mas funciona. Não se permite que numa empresa, num escritório, ninguém ultrapasse a linha da média baixa. Vivemos reconhecendo-nos como irmãos na desgraça.
P. - Mas por que se faz isso? Não seria do interesse de todos encorajar cada um a fazer melhor?
R. - Sim, mas há um efeito de espelhos. Se você faz alguma coisa de forte, isso deveria ser um estímulo para mim, para fazer algo também forte. Mas não. Vê-lo forte diminui-me a mim. Vê-lo com intensidade, com iniciativa, faz-me pensar, por causa da imagem que tenho de mim, na minha pobre condição, em que não faço nada. E faço tudo para destruir a sua iniciativa, para que eu possa viver. Você sufoca-me com a sua energia. Terrível isto. Uma pessoa sufoca a outra com a sua energia. E o resultado é que estamos todos sem energia.
P. - Mas para que essa acção da inveja tenha efeito não é necessário que a "vítima" esteja vulnerável?
R. - Precisamente. Um etnólogo pôs-me essa questão. Disse: só se é afectado pela inveja quando se quer, quando se está num estado determinado. Eu respondo: sim, em quem tem a pele grossa não entra nada. São as pessoas porosas que são fragéis. E isso é típico de Portugal. Os portugueses são sensíveis, porque não são maduros. Isso poderia ser maravilhoso. Somos pessoas de pequenas percepções, de intuições imediatas, e por isso sentimos quando alguém está a torcer para que não avancemos. Faz curto-circuito, fecha o espaço das possibilidades. É um sistema.
P. - Uma espécie de acordo tácito para que ninguém aja, ninguém ameace, e possamos viver em paz.
R. - Precisamente. Para que possamos viver em paz. Porque temos medo do conflito.
P. - Daí os "brandos costumes"?
R. - Recusamos o conflito a céu aberto, mas temos uma violência incrível na nossa sociedade. Violência doméstica em relação às crianças. Os brandos costumes escondem uma violência subterrânea enorme.
Pública - Depois da leitura do seu livro, é impossível não se ficar deprimido.
José Gil - Hesitei muito antes de o publicar. Decidi fazê-lo, porque acho que estas coisas devem dizer-se publicamente, e não apenas em circuitos fechados, como habitualmente. E também porque penso ter encontrado um fio condutor, que dá unidade a tudo o que afirmo.
P. - É aquilo a que chama "não inscrição". Que significa?
R. - Significa que os acontecimentos não influenciam a nossa vida, é como se não acontecessem. Por exemplo, quando uma pessoa ama, esse sentimento não afecta a outra pessoa, objecto do amor. Quando acabamos de ver um espectáculo, não falamos sobre ele. Quando muito, dizemos que gostámos ou não gostámos, mais nada. Não tem nenhum efeito nas nossas vidas, não se inscreve nelas, não as transforma. Ainda outro exemplo: o primeiro-ministro, Santana Lopes, classificou a dissolução da Assembleia da República pelo Presidente como "enigmática". Não disse que era incorrecta ou injusta, mas "enigmática", o que é a forma mais eficaz de a transformar em não-acontecimento.
P. - E, não tendo acontecido, ninguém é responsável.
R. - Exactamente. Pode-se continuar como se nada se tivesse passado. Os acontecimentos não se inscrevem em nós, nem nas nossas vidas, nem nós nos inscrevemos na História. Por isso, em Portugal nada acontece.
P. - Isso vem de onde?
R. - Do medo. E da falta da ideia de futuro. Vivemos num presente que se perpetua. Não se inscreve em nós o futuro nem o passado, a História. Porque temos medo.
P. - E de onde vem o medo?
R. - Uma vez fiz essa pergunta a José Mattoso. Perguntei-lhe se vinha do salazarismo. Ele respondeu: "Muito antes disso." Mas não precisou de onde. Acho que ninguém sabe. Claro que no chamado "antigo regime", ou no feudalismo, imperava um medo real, físico.
P. - Mas isso acontecia em toda a Europa. Específico de Portugal é esse medo não ter cessado?
R. - Sim. Existiu durante o salazarismo, que vivia do medo. Tínhamos medo de tudo.
P. - Mas era um medo hierárquico, de cima para baixo. Como se transformou num medo do nosso semelhante?
R. - Acho que no salazarismo já havia um medo do semelhante, além do hierárquico, que desapareceu, porque estamos numa democracia. Mas herdámos o medo, que se transformou. Acho que a principal razão foi por que não criámos suficientes instrumentos de expressão.
P. - É através da expressão que nos podemos livrar do medo?
R. - Nós temos uma pobreza enorme de expressão em relação à nossa existência. O que sabemos de nós, hoje, é pouquíssimo. Por exemplo: o que uma mulher pode sofrer, com a sua condição de inferioridade social, com os dramas domésticos... Tudo o que se diz, mesmo o que aparece na literatura, não exprime o que ela poderia sentir, e acaba por fazer com que ela não possa sentir o que verdadeiramente sente.
P. - Não pode sentir, porque não o pode exprimir?
R. - Sim. A expressão abre para o fundo, não apenas para fora. Mas nós estamos agarrados a um texto e não temos forças para sair dele.
P. - Uma espécie de norma?
R. - É o texto da sociedade normalizada, do bom senso, do política, social e afectivamente correcto. Assisti há dias a uma discussão de um casal, num jardim. O marido dizia-lhe: "Não aqui! Não aqui!" E a mulher calava-se logo. Temos um texto que nos diz o que podemos viver.
P. - É o medo que nos impede de rasgar esse texto?
R. - Nós temos medo de experimentar. Porque temos medo do que irão dizer de nós. Partimos sempre do princípio de que o que vão dizer é negativo, desvalorizante. Dificilmente alguém dirá: "Que bom o que tu fizeste. Estou muito contente." Não. Vão-nos decerto criticar. Isso cria logo um medo que nos paralisa. Faz com que tenhamos prudência. Bom senso.
P. - Mas a prudência e o bom senso poderiam ser atitudes positivas, para nos guiarem na acção...
R. - Qual acção? A prudência paralisa a acção.
P. - Então não é uma verdadeira prudência.
R. - Pois não. A verdadeira prudência seria uma estratégia para medir e modular a acção, à medida que ela se desenrola. Mas nós não queremos é agir. Porque a sociedade portuguesa, ao contrário de outras, é fechada, não tem canais de ar, respirações possíveis. É uma sociedade suavemente paranóica. As pessoas estão demasiado conscientes de si próprias, o que é um horror. Conscientes da imagem que possam produzir, da sua presença como imagem nos outros. Isso é paralisante.
P. - Damos muita importância à nossa imagem?
R. - É uma obsessão. Estamos sempre a falar da auto-estima, esse termo horroroso.
P. - O que há de errado com a auto-estima?
R. - Essa ideia reflexiva, de nos amarmos a nós próprios... Em vez de estarmos virados para fora, para os outros, para o mundo. Só nos podemos afirmar agindo, exprimindo-nos - não voltando-nos para a autocomplacência. Tudo o que é válido vem "de fora". Nós ainda temos essa ideia de que é preciso começar por uma transformação interior... Mas, em Portugal, não existe um "fora".
P. - Isso quer dizer que não existe um espaço público?
R. - Não, não existe. O salazarismo extinguiu-o. Depois do 25 de Abril, passámos do zero para o máximo de expressão. Mas não tínhamos os instrumentos para essa expressão. Por isso, as forças reais do poder-saber, políticas, voltaram a dominar. Toda a nossa expressão individual, social, passou a reduzir-se ao discurso político. E no espaço público instalou-se em força um dispositivo que ocupou o lugar todo: a televisão, e os "media" em geral.
P. - Os "media" não são espaço público? Funcionam em circuito fechado?
R. - Movem-se em circuito fechado. Têm uma acção de absorção. Só se existe se se aparecer na televisão. Mas estar e aparecer na televisão não é a mesma coisa do que viver a vida, na materialidade das ruas e do tempo.
P. - Mas isso não é um fenómeno exclusivamente português.
R. - Não, mas em Portugal a televisão criou um espaço de imagem antes de termos passado por aquilo a que podemos chamar um "espaço de terrível liberdade", de experimentação, de inscrição, que foi a modernidade.
(...)
P. - Cultivamos uma intimidade forçada, pouco natural, promíscua?
R. - Sim, há uma promiscuidade social que se deve à falta de autonomia individual. O salazarismo infantilizou-nos, fez-nos viver num mundo fictício e sugou-nos todas as forças. Eu não quero culpar o salazarismo por tudo, mas a verdade é que foram 48 anos de não inscrição, de não acontecimento. E herdámos isso. Ainda não recuperámos. O ambiente em que vivemos não nos permite ter intensidade de vida, de pensamento, de acção, para que possamos inscrever-nos na nossa própria vida, na Europa, no mundo global, etc. Uma vez assisti a uma entrevista com o jovem físico português, João Magueijo, que vive em Inglaterra. A repórter perguntava-lhe: "Você trabalha com matemática, não em laboratórios. Não podia ter descoberto essas teorias em Portugal?" E ele respondeu imediatamente: "De maneira nenhuma. Sabe porquê? Por causa da intensidade das trocas de pensamento em que eu vivo quotidianamente. É isso que me faz pensar."
P. - A influência "do fora".
R. - Absolutamente. É essa intensidade que nos falta. Nós somos tão inteligentes como os outros. Somos inventivos, produzimos. Mas caímos nisto.
P. - A incapacidade de agir vem de dentro, do nosso medo. Mas, quando alguém tenta, o que acontece? Temos a aprovação ou a sanção dos outros?
R. - Uma sanção terrível. É o mecanismo da inveja.
P. - Não agimos, mas também não deixamos ninguém agir. Como funciona esse mecanismo?
R. - O mecanismo da inveja tem a ver com práticas da magia, o "mau olhado", o "quebranto", e também com o que em psiquiatria se chama "transferência psicótica", ou seja, o que passa de uma pessoa para outra e não é verbal. Imagine que você chega ao pé dos seus colegas e diz: "Fiz uma reportagem extraordinária!" E não está a falar por vaidade, mas objectivamente. Mas logo o tipo que está a seu lado diz: "Ai sim? Pois muito bem." E com este tom introduz em si um afecto inconsciente que o vai paralisar.
P. - É um mecanismo semelhante ao do ostracismo?
R. - Exactamente. Cria-se um ambiente que é hostil à iniciativa e que tem um efeito sobre a própria vontade de querer fazer. Isto é generalizado em Portugal. A inveja é mais do que um sentimento. É um sistema. E não é apenas individual: criam-se grupos de inveja. Várias pessoas manifestam-se simultaneamente contra a sua iniciativa. Cria-se um ambiente de inveja. Um grupo determinado age segundo os regulamentos da inveja.
P. - É uma atitude concertada ou inconsciente?
R. - Pode ser concertada ou inconsciente, mas funciona. Não se permite que numa empresa, num escritório, ninguém ultrapasse a linha da média baixa. Vivemos reconhecendo-nos como irmãos na desgraça.
P. - Mas por que se faz isso? Não seria do interesse de todos encorajar cada um a fazer melhor?
R. - Sim, mas há um efeito de espelhos. Se você faz alguma coisa de forte, isso deveria ser um estímulo para mim, para fazer algo também forte. Mas não. Vê-lo forte diminui-me a mim. Vê-lo com intensidade, com iniciativa, faz-me pensar, por causa da imagem que tenho de mim, na minha pobre condição, em que não faço nada. E faço tudo para destruir a sua iniciativa, para que eu possa viver. Você sufoca-me com a sua energia. Terrível isto. Uma pessoa sufoca a outra com a sua energia. E o resultado é que estamos todos sem energia.
P. - Mas para que essa acção da inveja tenha efeito não é necessário que a "vítima" esteja vulnerável?
R. - Precisamente. Um etnólogo pôs-me essa questão. Disse: só se é afectado pela inveja quando se quer, quando se está num estado determinado. Eu respondo: sim, em quem tem a pele grossa não entra nada. São as pessoas porosas que são fragéis. E isso é típico de Portugal. Os portugueses são sensíveis, porque não são maduros. Isso poderia ser maravilhoso. Somos pessoas de pequenas percepções, de intuições imediatas, e por isso sentimos quando alguém está a torcer para que não avancemos. Faz curto-circuito, fecha o espaço das possibilidades. É um sistema.
P. - Uma espécie de acordo tácito para que ninguém aja, ninguém ameace, e possamos viver em paz.
R. - Precisamente. Para que possamos viver em paz. Porque temos medo do conflito.
P. - Daí os "brandos costumes"?
R. - Recusamos o conflito a céu aberto, mas temos uma violência incrível na nossa sociedade. Violência doméstica em relação às crianças. Os brandos costumes escondem uma violência subterrânea enorme.
segunda-feira, janeiro 17, 2005
INTERPELAÇÃO CÍVICA
INTERPELAÇÃO CÍVICA AO NOVO PODER POLÍTICO
de Organizações dos Movimentos Cívicos
É indispensável o reconhecimento oficial – por parte do Governo, da Administração Pública, da Assembleia da República e dos Órgãos da União Europeia – dos Movimentos Cívicos, que mobilizam os cidadãos, contribuindo contínua e solidariamente para a resolução dos muitos e diversos problemas das pessoas e dos territórios.
Este reconhecimento deve ser explícito, sustentado e com a projecção adequada, tendo em conta a cada vez maior capacidade e representatividade destes Movimentos no país, que desafiam o conceito tradicional, hoje claramente inadequado, de Parceiro Social, fundamentalmente reduzido à dicotomia em torno de organizações patronais e sindicais.
Nesta Interpelação Cívica, que dirigimos aos Partidos e ao novo poder político, apresentamos um conjunto de propostas bem concretas, organizadas em cinco áreas que reputamos da máxima importância:
(1) Relacionamento e cooperação do Estado com os Movimentos Cívicos;
(2) Instância Pública de Recursos ao serviço dos Movimentos Cívicos;
(3) Financiamento dos serviços de interesse público prestados por Organizações Cívicas e Solidárias (OCS);
(4) Flexibilidade e gestão partilhadas dos programas de apoio ao desenvolvimento socio-económico local;
(5) Condições para uma verdadeira governança ou nova cidadania.
QUADRO DE RELACIONAMENTO E COOPERAÇAO DO ESTADO COM OS MOVIMENTOS CÍVICOS
No que ao Governo respeita, o processo de legitimação e cooperação oficial deve assentar na operacionalização de um conjunto de medidas práticas e com carácter de urgência, para as quais deixamos os seguintes contributos:
- Que o Primeiro-Ministro, directamente ou por delegação, se empenhe no relacionamento regular com os Movimentos Cívicos, enquanto expressão da sociedade civil organizada, que prosseguem o interesse geral das pessoas, comunidades e territórios;
- Criação de uma Comissão Mista de Missão – aceite por uma maioria significativa das organizações dos Movimentos Cívicos – que elabore no prazo de seis meses um Projecto de Lei-Quadro sobre os Movimentos Cívicos e as suas relações com os Poderes Públicos. Projecto esse baseado numa Carta de Princípios de Relacionamento que clarifique, nomeadamente, a reciprocidade de responsabilidades, o enquadramento fiscal e o financiamento regular, e que permita em posterior regulamentação o tratamento das realidades específicas dos movimentos cívicos;
- Reequacionamento da composição e modo de funcionamento do Conselho Económico e Social (CES), com vista a adaptar a representação da sociedade civil organizada à realidade social, económica, cultural e territorial, que emerge e/ou se desenvolve neste princípio de século;
- Criação de uma Sub-Comissão Permanente Especializada da Assembleia da República, com vista a definir e monitorizar, com base em auscultação alargada e periódica, o relacionamento entre as Organizações Cívicas e Solidárias e o Executivo (aos seus vários níveis: Governo, Administração Central, Administração Regional desconcentrada, Autarquias), nomeadamente através de: (a) um Fundo próprio a constituir; (b) uma (re)definição das atribuições e competências autárquicas neste domínio.
POR UMA INSTÂNCIA PÚBLICA DE RECURSOS AO SERVIÇO DOS MOVIMENTOS CÍVICOS DO TERCEIRO SECTOR
É urgente estabelecer um interlocutor público que estimule e apoie os movimentos cívicos. Entendemos que este deve ser Instância:
- Representativa dos diferentes órgãos da administração e do Terceiro Sector, entendida como entidade de estrutura ligeira que seja, sobretudo, interlocutora e facilitadora de parcerias e de procedimentos;
- de Recursos, porque as relações de cooperação ganham-se na operacionalização e monitorização de medidas e programas, as quais exigem sempre recursos técnicos e organizacionais de excelência.
A solução a definir deve congregar com a máxima economia de meios possível o conjunto de experiências acumuladas e de lideranças organizacionais, dando assim prioridade política a um sector e a uma atitude cívica e solidária, hoje essenciais em qualquer sociedade moderna, para a coesão social e cultural e para a revitalização e credibilização da vida política!
Defendemos pois, que o Governo (saído das eleições de 20 de Fevereiro de 2005) deverá decidir que “instância”, nova ou renovada, exercerá as tarefas antes descritas.
QUADRO GERAL DO FINANCIAMENTO DE SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA PRESTADOS POR ORGANIZAÇÕES CÍVICAS E SOLIDÁRIAS
A diversidade de serviços prestados pelas Organizações Cívicas e Solidárias no apoio técnico e organizativo de proximidade, na promoção e estabelecimento de formas diversificadas e adequadas de cooperação e parcerias, na animação económica de espaços rurais e de espaços urbanos carenciados – designadamente num trabalho contínuo de mobilização, qualificação, inserção social e profissional de recursos humanos – coloca, como questão ética de boa administração e de elementar justiça, uma exigência retributiva relativamente ao Estado, sem a qual o Desenvolvimento Local, assente numa cidadania activa, viveria sempre num clima de incerteza e instabilidade. Precisamos, pois, urgentemente, de políticas e instrumentos adequados! Interpelamos assim para a necessidade imperiosa da:
- Criação de um Instrumento de Apoio ao Associativismo Cívico e Solidário que financie de forma estável, mediante contratos-programa plurianuais, as actividades imprescindíveis destas organizações, particularmente as de base territorial e que se enquadrem numa abordagem integrada;
- Estabelecimento ou reforço de Programas específicos e/ou medidas que se adequem, por um lado, aos territórios rurais pouco povoados e, por outro, às comunidades urbanas e sub-urbanas onde se verifique maior concentração de problemas, nomeadamente o desemprego, a desigualdade de oportunidades e a exclusão;
- Reavaliação dos mecanismos que conduzem a demoras injustificadas e a descontinuidades gritantes nos processos de financiamento, geradores de grandes perturbações do trabalho no terreno, comprometedoras da sustentabilidade das organizações cívicas solidárias e da prossecução dos seus fins.
FLEXIBILIDADE E GESTÃO PARTILHADA DOS PROGRAMAS DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO SOCIO-ECONÓMICO LOCAL
Reafirmamos a necessidade do Estado privilegiar a concretização das diferentes formas de apoio ao desenvolvimento através de programas de base territorial, com geometria variável, de carácter integrado, assentes em parcerias locais efectivas e geridos de forma descentralizada. Assinalamos alguns progressos nos últimos anos, mas insistimos na necessidade inadiável da:
- Construção de parcerias sustentadas e operacionais entre Estado e Organizações Cívicas e Solidárias, dirigidas para a gestão partilhada de programas e acções, o que implica um reposicionamento das Entidades Estatais e a racionalização e concertação das parcerias, predominantemente territoriais;
- Realização de mais e melhor avaliação e apoios à auto-avaliação, assentes numa pluralidade de valores, interesses, metodologias e práticas, e de menos avaliação unilateral e meramente contabilística de programas e acções.
DAS PARCERIAS FUNCIONAIS À GOVERNANÇA, EXERCIDA
EM COOPERAÇÃO ENTRE OS PODERES POLÍTICOS E OS PODERES SOCIAIS
É condição para uma verdadeira governança, ou nova cidadania, que as Organizações Cívicas e Solidárias tomem parte, pelo menos numa das fases, no processo de tomada de decisão política, a nível central e/ou a nível local.
É de sublinhar, no entanto, que uma cooperação efectiva na área da governação, entre poderes políticos e poderes sociais, terá um impacto mais imediato e visível à escala local. Assim, a título de “ideia-exemplo”, sugere-se:
- Promover a elaboração, adopção e concretização de Acordos Territoriais para o Desenvolvimento Local numa lógica de estímulo à capacitação dos territórios e promoção do Desenvolvimento Regional, entre as Autarquias, a Administração Regional e a sociedade civil organizada, os quais, uma vez celebrados, gozarão de prioridade na afectação de fundos públicos para o Desenvolvimento Local;
- Criar e apoiar o funcionamento de Comissões da Sociedade Civil Organizada, uma em cada concelho urbano ou rural, compostas por representantes das Organizações Cívicas e Solidárias intervenientes no respectivo território, que poderão tomar iniciativas relativamente a futuras decisões do poder local e que deverão ser ouvidas antes das deliberações autárquicas com forte impacto local, como por exemplo planos e orçamentos anuais.
Para além destas estruturas e procedimentos, sugere-se a criação de Painéis de Cidadãos, criados numa base nacional e sectorial, através de um processo de nomeação descentralizado e muito alargado, que deverão ser regularmente auscultados sobre a qualidade dos serviços prestados pela Administração e outros serviços públicos e a quem serão pedidas propostas de permanente aperfeiçoamento.
Lisboa, 20 de Dezembro de 2004
NOTA
A subscrição deste documento em nada contradiz a realização ou participação na apresentação de outras propostas, complementares e específicas, aos Partidos e/ou Órgãos de Soberania.
Informamos que até dia 14 deste mês já 46 organizações (que se revêem como incluídas no universo das Cívicas e Solidárias) subscreveram o documento em referência. Outras declarações de intenção de o subscrever serão bem vindas.
Saudações animadas
Luís Moreno
de Organizações dos Movimentos Cívicos
É indispensável o reconhecimento oficial – por parte do Governo, da Administração Pública, da Assembleia da República e dos Órgãos da União Europeia – dos Movimentos Cívicos, que mobilizam os cidadãos, contribuindo contínua e solidariamente para a resolução dos muitos e diversos problemas das pessoas e dos territórios.
Este reconhecimento deve ser explícito, sustentado e com a projecção adequada, tendo em conta a cada vez maior capacidade e representatividade destes Movimentos no país, que desafiam o conceito tradicional, hoje claramente inadequado, de Parceiro Social, fundamentalmente reduzido à dicotomia em torno de organizações patronais e sindicais.
Nesta Interpelação Cívica, que dirigimos aos Partidos e ao novo poder político, apresentamos um conjunto de propostas bem concretas, organizadas em cinco áreas que reputamos da máxima importância:
(1) Relacionamento e cooperação do Estado com os Movimentos Cívicos;
(2) Instância Pública de Recursos ao serviço dos Movimentos Cívicos;
(3) Financiamento dos serviços de interesse público prestados por Organizações Cívicas e Solidárias (OCS);
(4) Flexibilidade e gestão partilhadas dos programas de apoio ao desenvolvimento socio-económico local;
(5) Condições para uma verdadeira governança ou nova cidadania.
QUADRO DE RELACIONAMENTO E COOPERAÇAO DO ESTADO COM OS MOVIMENTOS CÍVICOS
No que ao Governo respeita, o processo de legitimação e cooperação oficial deve assentar na operacionalização de um conjunto de medidas práticas e com carácter de urgência, para as quais deixamos os seguintes contributos:
- Que o Primeiro-Ministro, directamente ou por delegação, se empenhe no relacionamento regular com os Movimentos Cívicos, enquanto expressão da sociedade civil organizada, que prosseguem o interesse geral das pessoas, comunidades e territórios;
- Criação de uma Comissão Mista de Missão – aceite por uma maioria significativa das organizações dos Movimentos Cívicos – que elabore no prazo de seis meses um Projecto de Lei-Quadro sobre os Movimentos Cívicos e as suas relações com os Poderes Públicos. Projecto esse baseado numa Carta de Princípios de Relacionamento que clarifique, nomeadamente, a reciprocidade de responsabilidades, o enquadramento fiscal e o financiamento regular, e que permita em posterior regulamentação o tratamento das realidades específicas dos movimentos cívicos;
- Reequacionamento da composição e modo de funcionamento do Conselho Económico e Social (CES), com vista a adaptar a representação da sociedade civil organizada à realidade social, económica, cultural e territorial, que emerge e/ou se desenvolve neste princípio de século;
- Criação de uma Sub-Comissão Permanente Especializada da Assembleia da República, com vista a definir e monitorizar, com base em auscultação alargada e periódica, o relacionamento entre as Organizações Cívicas e Solidárias e o Executivo (aos seus vários níveis: Governo, Administração Central, Administração Regional desconcentrada, Autarquias), nomeadamente através de: (a) um Fundo próprio a constituir; (b) uma (re)definição das atribuições e competências autárquicas neste domínio.
POR UMA INSTÂNCIA PÚBLICA DE RECURSOS AO SERVIÇO DOS MOVIMENTOS CÍVICOS DO TERCEIRO SECTOR
É urgente estabelecer um interlocutor público que estimule e apoie os movimentos cívicos. Entendemos que este deve ser Instância:
- Representativa dos diferentes órgãos da administração e do Terceiro Sector, entendida como entidade de estrutura ligeira que seja, sobretudo, interlocutora e facilitadora de parcerias e de procedimentos;
- de Recursos, porque as relações de cooperação ganham-se na operacionalização e monitorização de medidas e programas, as quais exigem sempre recursos técnicos e organizacionais de excelência.
A solução a definir deve congregar com a máxima economia de meios possível o conjunto de experiências acumuladas e de lideranças organizacionais, dando assim prioridade política a um sector e a uma atitude cívica e solidária, hoje essenciais em qualquer sociedade moderna, para a coesão social e cultural e para a revitalização e credibilização da vida política!
Defendemos pois, que o Governo (saído das eleições de 20 de Fevereiro de 2005) deverá decidir que “instância”, nova ou renovada, exercerá as tarefas antes descritas.
QUADRO GERAL DO FINANCIAMENTO DE SERVIÇOS DE UTILIDADE PÚBLICA PRESTADOS POR ORGANIZAÇÕES CÍVICAS E SOLIDÁRIAS
A diversidade de serviços prestados pelas Organizações Cívicas e Solidárias no apoio técnico e organizativo de proximidade, na promoção e estabelecimento de formas diversificadas e adequadas de cooperação e parcerias, na animação económica de espaços rurais e de espaços urbanos carenciados – designadamente num trabalho contínuo de mobilização, qualificação, inserção social e profissional de recursos humanos – coloca, como questão ética de boa administração e de elementar justiça, uma exigência retributiva relativamente ao Estado, sem a qual o Desenvolvimento Local, assente numa cidadania activa, viveria sempre num clima de incerteza e instabilidade. Precisamos, pois, urgentemente, de políticas e instrumentos adequados! Interpelamos assim para a necessidade imperiosa da:
- Criação de um Instrumento de Apoio ao Associativismo Cívico e Solidário que financie de forma estável, mediante contratos-programa plurianuais, as actividades imprescindíveis destas organizações, particularmente as de base territorial e que se enquadrem numa abordagem integrada;
- Estabelecimento ou reforço de Programas específicos e/ou medidas que se adequem, por um lado, aos territórios rurais pouco povoados e, por outro, às comunidades urbanas e sub-urbanas onde se verifique maior concentração de problemas, nomeadamente o desemprego, a desigualdade de oportunidades e a exclusão;
- Reavaliação dos mecanismos que conduzem a demoras injustificadas e a descontinuidades gritantes nos processos de financiamento, geradores de grandes perturbações do trabalho no terreno, comprometedoras da sustentabilidade das organizações cívicas solidárias e da prossecução dos seus fins.
FLEXIBILIDADE E GESTÃO PARTILHADA DOS PROGRAMAS DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO SOCIO-ECONÓMICO LOCAL
Reafirmamos a necessidade do Estado privilegiar a concretização das diferentes formas de apoio ao desenvolvimento através de programas de base territorial, com geometria variável, de carácter integrado, assentes em parcerias locais efectivas e geridos de forma descentralizada. Assinalamos alguns progressos nos últimos anos, mas insistimos na necessidade inadiável da:
- Construção de parcerias sustentadas e operacionais entre Estado e Organizações Cívicas e Solidárias, dirigidas para a gestão partilhada de programas e acções, o que implica um reposicionamento das Entidades Estatais e a racionalização e concertação das parcerias, predominantemente territoriais;
- Realização de mais e melhor avaliação e apoios à auto-avaliação, assentes numa pluralidade de valores, interesses, metodologias e práticas, e de menos avaliação unilateral e meramente contabilística de programas e acções.
DAS PARCERIAS FUNCIONAIS À GOVERNANÇA, EXERCIDA
EM COOPERAÇÃO ENTRE OS PODERES POLÍTICOS E OS PODERES SOCIAIS
É condição para uma verdadeira governança, ou nova cidadania, que as Organizações Cívicas e Solidárias tomem parte, pelo menos numa das fases, no processo de tomada de decisão política, a nível central e/ou a nível local.
É de sublinhar, no entanto, que uma cooperação efectiva na área da governação, entre poderes políticos e poderes sociais, terá um impacto mais imediato e visível à escala local. Assim, a título de “ideia-exemplo”, sugere-se:
- Promover a elaboração, adopção e concretização de Acordos Territoriais para o Desenvolvimento Local numa lógica de estímulo à capacitação dos territórios e promoção do Desenvolvimento Regional, entre as Autarquias, a Administração Regional e a sociedade civil organizada, os quais, uma vez celebrados, gozarão de prioridade na afectação de fundos públicos para o Desenvolvimento Local;
- Criar e apoiar o funcionamento de Comissões da Sociedade Civil Organizada, uma em cada concelho urbano ou rural, compostas por representantes das Organizações Cívicas e Solidárias intervenientes no respectivo território, que poderão tomar iniciativas relativamente a futuras decisões do poder local e que deverão ser ouvidas antes das deliberações autárquicas com forte impacto local, como por exemplo planos e orçamentos anuais.
Para além destas estruturas e procedimentos, sugere-se a criação de Painéis de Cidadãos, criados numa base nacional e sectorial, através de um processo de nomeação descentralizado e muito alargado, que deverão ser regularmente auscultados sobre a qualidade dos serviços prestados pela Administração e outros serviços públicos e a quem serão pedidas propostas de permanente aperfeiçoamento.
Lisboa, 20 de Dezembro de 2004
NOTA
A subscrição deste documento em nada contradiz a realização ou participação na apresentação de outras propostas, complementares e específicas, aos Partidos e/ou Órgãos de Soberania.
Informamos que até dia 14 deste mês já 46 organizações (que se revêem como incluídas no universo das Cívicas e Solidárias) subscreveram o documento em referência. Outras declarações de intenção de o subscrever serão bem vindas.
Saudações animadas
Luís Moreno
A PAC e os países mais pobres
As economias dos países em desenvolvimento dependem dos lucros da exportação de produtos agrícolas. Basta dizer que em 43 destes países, mais de 20% dos seus rendimentos vem da exportação de um só produto e que 50% do seu rendimento total é devido às exportações agrícolas (na Europa menos de 4% do rendimento vem dos produtos agrícolas, mas em contrapartida, a sua política de subsídios e proteccionismo define uma grande parte dos preços e das trocas comerciais mundiais). Esta dependência brutal implica que as populações destes países tenha que escolher entre ganhar a vida como podem ou proteger o ambiente; nesta escolha entre a vida e o ambiente é sempre o ambiente que perde.
Percentagem no mercado global de produtos agrícolas. Dados da OMC para 2001.
No entanto, esta não é uma prática sustentável: se a curto prazo determinada comunidade poderá produzir mais alimentos cortando florestas, a longo prazo esta destruição levará a uma escassez de madeira, dimuição da biodiversidade, dos recursos hidrícos e a um maior risco de seca e inundação.
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Percentagem no mercado global de produtos agrícolas. Dados da OMC para 2001.
No entanto, esta não é uma prática sustentável: se a curto prazo determinada comunidade poderá produzir mais alimentos cortando florestas, a longo prazo esta destruição levará a uma escassez de madeira, dimuição da biodiversidade, dos recursos hidrícos e a um maior risco de seca e inundação.
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domingo, janeiro 16, 2005
A apropriação de um conceito (II)
Na sua acção para assegurarem a sua hegemonia a nível dos mercados - e das ideologias - as grandes empresas internacionais procuram apropriar-se de conceitos que, à partida, lhes são exteriores, senão mesmo nascidos da oposição à sua prática.
O Comércio Justo (CJ) é um desses conceitos e o mercado do café um caso prático desta apropriação.
Então o que é o Comércio Justo ?[1]
O conceito de CJ nasceu como reacção à crescente concentração, num número cada vez mais restrito de empresas[2], dos mecanismos de controlo do mercado, onde as transacções nas bolsas são o instrumento determinante para a fixação dos preços a pagar aos produtores.
As consequências desta lógica estão documentadas e são conhecidas: a degradação das condições de trabalho e de vida de milhões de seres humanos.
Foi a verificação desta realidade que serviu de ponto de partida à construção do compromisso, comercial e ético, entre produtores, importadores e retalhistas. E embora (ainda) marginal no conjunto do comércio internacional, o CJ tem provado que os ganhos económicos, o respeito pelos direitos humanos e pelo meio ambiente não são objectivos incompatíveis.
O CJ não se limita a pagar um preço mais elevado ao produtor (em Setembro de 1999, face à cotação do café arábica, o CJ pagava aos camponeses mais 40% do que o comércio convencional).
Do compromisso faz igualmente parte o respeito por um conjunto de regras económicas e sociais básicas. E a sua adopção por algumas das grandes empresas do comércio internacional representa já um contributo positivo do CJ.
O seu valor acrescentado reside na aposta a médio/longo prazo na estabilidade e na relação directa e de respeito mútuo que se mantém com as associações de produtores, no papel que dá à capacidade decisória das comunidades de produção e o incentivo que incute à sua auto-suficiência económica, social e política.
Assim, os produtores são motivados a aplicar uma parte dos seus lucros na satisfação das necessidades básicas das comunidades onde estão inseridos: na educação, na saúde, na formação profissional, etc.
São também estabelecidas relações comerciais de longo prazo, pagando-se parte do valor dos produtos antecipadamente, permitindo às comunidades planear o seu desenvolvimento.
E é promovida a participação de todos na tomada de decisões e no funcionamento democrático, a igualdade entre mulheres e homens e a protecção do meio ambiente.
O que podemos fazer ?
A primeira loja do CJ surgiu na Holanda em 1963 (em Portugal foi em 1999). Hoje existem na Europa mais de 3.000 lojas espalhadas por 18 países. Importam-se produtos de mais de 800 organizações em 45 países do Sul, beneficiando nestes países cerca de 5 milhões de pessoas. Em 1996 venderam-se na Europa cerca de 11.000 toneladas de café do CJ.
Mas é apenas o começo.
O esforço hoje é fazer entrar os produtos do CJ nos hábitos de consumo das populações dos países industrializados. Neste sentido, a Oxfam America lançou em Outubro passado uma campanha dirigida a todos os interessados pelo conceito para inquirirem, junto das lojas e supermercados de que são habituais clientes, da existência, ou não, de produtos do CJ. E propondo, caso não existam, que solicitem um encontro com o gestor comercial para o motivarem à disponibilização daqueles produtos nas prateleiras da loja.
Para apoiarem a iniciativa têm na sua página na Internet (www.oxfamamerica.org/coffee) um pequeno guião para auxiliar neste diálogo.
Esta proposta de acção não é, contudo, pacífica no seio do movimento promotor do CJ e tem sido objecto de um vivo debate no seu interior.
Voltaremos, em breve, a este assunto.
[1] Informação retirada de Comércio Justo Perguntas & Respostas, uma edição do CIDAC, Fevereiro 2001.
[2] De acordo com dados da UNCTAD publicados em 1992, 6 companhias controlavam cerca de 70% de todo o comércio internacional (citado por Morisset, Jacques, Unfair trade? Empirical evidence in world commodity markets over the past 25 years, Abril de 1997).
O Comércio Justo (CJ) é um desses conceitos e o mercado do café um caso prático desta apropriação.
Então o que é o Comércio Justo ?[1]
O conceito de CJ nasceu como reacção à crescente concentração, num número cada vez mais restrito de empresas[2], dos mecanismos de controlo do mercado, onde as transacções nas bolsas são o instrumento determinante para a fixação dos preços a pagar aos produtores.
As consequências desta lógica estão documentadas e são conhecidas: a degradação das condições de trabalho e de vida de milhões de seres humanos.
Foi a verificação desta realidade que serviu de ponto de partida à construção do compromisso, comercial e ético, entre produtores, importadores e retalhistas. E embora (ainda) marginal no conjunto do comércio internacional, o CJ tem provado que os ganhos económicos, o respeito pelos direitos humanos e pelo meio ambiente não são objectivos incompatíveis.
O CJ não se limita a pagar um preço mais elevado ao produtor (em Setembro de 1999, face à cotação do café arábica, o CJ pagava aos camponeses mais 40% do que o comércio convencional).
Do compromisso faz igualmente parte o respeito por um conjunto de regras económicas e sociais básicas. E a sua adopção por algumas das grandes empresas do comércio internacional representa já um contributo positivo do CJ.
O seu valor acrescentado reside na aposta a médio/longo prazo na estabilidade e na relação directa e de respeito mútuo que se mantém com as associações de produtores, no papel que dá à capacidade decisória das comunidades de produção e o incentivo que incute à sua auto-suficiência económica, social e política.
Assim, os produtores são motivados a aplicar uma parte dos seus lucros na satisfação das necessidades básicas das comunidades onde estão inseridos: na educação, na saúde, na formação profissional, etc.
São também estabelecidas relações comerciais de longo prazo, pagando-se parte do valor dos produtos antecipadamente, permitindo às comunidades planear o seu desenvolvimento.
E é promovida a participação de todos na tomada de decisões e no funcionamento democrático, a igualdade entre mulheres e homens e a protecção do meio ambiente.
O que podemos fazer ?
A primeira loja do CJ surgiu na Holanda em 1963 (em Portugal foi em 1999). Hoje existem na Europa mais de 3.000 lojas espalhadas por 18 países. Importam-se produtos de mais de 800 organizações em 45 países do Sul, beneficiando nestes países cerca de 5 milhões de pessoas. Em 1996 venderam-se na Europa cerca de 11.000 toneladas de café do CJ.
Mas é apenas o começo.
O esforço hoje é fazer entrar os produtos do CJ nos hábitos de consumo das populações dos países industrializados. Neste sentido, a Oxfam America lançou em Outubro passado uma campanha dirigida a todos os interessados pelo conceito para inquirirem, junto das lojas e supermercados de que são habituais clientes, da existência, ou não, de produtos do CJ. E propondo, caso não existam, que solicitem um encontro com o gestor comercial para o motivarem à disponibilização daqueles produtos nas prateleiras da loja.
Para apoiarem a iniciativa têm na sua página na Internet (www.oxfamamerica.org/coffee) um pequeno guião para auxiliar neste diálogo.
Esta proposta de acção não é, contudo, pacífica no seio do movimento promotor do CJ e tem sido objecto de um vivo debate no seu interior.
Voltaremos, em breve, a este assunto.
[1] Informação retirada de Comércio Justo Perguntas & Respostas, uma edição do CIDAC, Fevereiro 2001.
[2] De acordo com dados da UNCTAD publicados em 1992, 6 companhias controlavam cerca de 70% de todo o comércio internacional (citado por Morisset, Jacques, Unfair trade? Empirical evidence in world commodity markets over the past 25 years, Abril de 1997).
A agricultura na Europa:
Alimentos, natureza e tu.
Os alimentos que consumimos e a forma como se produzem tem um efeito muito importante na nossa saúde e no meio ambiente. Muitas pessoas começam a estar conscientes do impacto negativo da agriculturea na Europa. Podemos fazer muito para resolver este problema.
Averigua o que está ocontecer com as políticas agrárias, lê tudo sobre o
que outras pessoas estão a fazer para resolver este problema e descobre o que tu próprio podes fazer para assegurar que consomes comida sã e que temos um bom ambiente (puro e com muita biodiversidade) no planeta em que habitamos.
Os alimentos que consumimos e a forma como se produzem tem um efeito muito importante na nossa saúde e no meio ambiente. Muitas pessoas começam a estar conscientes do impacto negativo da agriculturea na Europa. Podemos fazer muito para resolver este problema.
Averigua o que está ocontecer com as políticas agrárias, lê tudo sobre o
que outras pessoas estão a fazer para resolver este problema e descobre o que tu próprio podes fazer para assegurar que consomes comida sã e que temos um bom ambiente (puro e com muita biodiversidade) no planeta em que habitamos.
sexta-feira, janeiro 14, 2005
A Apropriação de um conceito (I)
Na sua acção para assegurarem a sua hegemonia a nível dos mercados - e das ideologias - as grandes empresas internacionais procuram apropriar-se de conceitos que, à partida, lhes são exteriores, senão mesmo nascidos da oposição à sua prática.
O Comércio Justo (CJ) é um desses conceitos e o mercado do café um caso prático desta apropriação.
Um sector em crise, mas não para todos
O sector do café é apresentado como estando em crise vai para 30 anos. Cerca de 25 milhões de pessoas em 70 "países em desenvolvimento" dependem da produção do café para um mercado consumidor avaliado em 25 mil milhões de euros por ano.
Desde os princípios da década de 70 que os preços no produtor têm conhecido uma baixa contínua que atingiram os seus mínimos em 2002. A causa imediata desta deterioração tem sido apontada como o excesso de produção.
Mas nem todos perdem, nem todos os preços baixam. Num interessante estudo realizado por um especialista do Banco Mundial[1] constata-se que «desde a década de 70 que os preços dos produtos primários têm caído no mercado internacional. Contudo, durante o mesmo período, os preços no consumidor nos países industrializados[2] subiram. Por exemplo, entre 1975 e 1993 o café baixou em 18% no mercado mundial mas aumentou em 240% para os consumidores nos EUA.»
Esta divergência entre os preços no produtor e os preços no consumidor «tem aumentado radicalmente» aparecendo «como, em grande parte, causada pelo comportamento das companhias comerciais internacionais.»
O impacto desta crescente divergência nos preços «pode ter custado aos países exportadores mais de 100 mil milhões de dólares norte-americanos por ano porque limitaram a expansão da procura final por esses produtos nos maiores mercados consumidores.»
Reconhecendo que «estudos adicionais são necessários para identificar em que etapa do processo intermediário se realizam os lucros mais elevados: grossista ou retalhista», sendo que «a resposta variará provavelmente de país para país e de produto para produto», o estudo conclui pela legitimidade em afirmar que «a suspeita de que estas companhias usam a sua posição dominante para controlar os preços do mercado é reforçada pela crónica ausência de informação sobre as suas actividades.»
Café com sabor a “justo”
Ora, de acordo com notícias na imprensa internacional de Setembro de 2004, algumas das maiores empresas de comércio de café a nível mundial anunciaram a adopção de um Código para melhorar as condições de vida dos trabalhadores e cultivadores e as normas ambientais nos países produtores. Entre estas companhias estão a Nestlé, a Tchibo, a Sara Lee, a Kraft e a associação dos industriais de café da Alemanha, a DKV.
Intitulado "Código Comum para a Comunidade do Café", propõe-se ajudar os pequenos produtores, criando um mercado para o café que foi cultivado sem recorrer a pesticidas proibidos ou a trabalho infantil, escravo ou forçado, em locais onde a actividade sindical é autorizada, as condições de trabalho são justas e os produtores estão autorizados a vender livremente a sua colheita. O café produzido nestas condições será certificado sob este Código.
Tentam assim responder às pressões dos consumidores, dos retalhistas e às denúncias de ONG e grupos ecologistas de que estas empresas exploram os baixos preços e as más condições de trabalho num mercado mundial saturado de café.
As companhias signatárias, porém, não se comprometem a comprar café certificado. Em vez disso, a indústria «intensificará as relações comerciais com os produtores de boa qualidade» e «providenciará a um preço diferencial pelo café de alta qualidade».
O Código será reforçado por auditorias independentes e será avaliado regularmente. De acordo com as fontes citadas pela imprensa internacional, representa a tentativa mais ambiciosa de erigir normas numa indústria severamente afectada pela sobre-produção e a queda dos preços. É também uma das mais vastas iniciativas levadas a cabo por uma indústria. O envolvimento de grandes companhias representa uma ruptura com os pequenos esquemas do passado e os analistas prevêem que as pressões dos observadores aumentará as possibilidades da sua implantação plena. O Código será também subscrito por ONG, entre as quais a Oxfam International e a Greenpeace, e federações sindicais onde se inclui a dos trabalhadores da indústria do café. Se totalmente implantado, estima-se que o Código cobrirá 80% do mercado mundial do café.
A adopção do Código traz alguma da força moral do movimento do Comércio Justo ao “mainstream”. Embora o Código ajude a criar alguma justiça no comércio não é CJ. Ajuda o rendimento dos produtores mas não responde à queda de longo prazo nos preços e ao excesso de produção. Também evita qualquer menção aos arbustos de café geneticamente modificados, desperdiçando uma excelente oportunidade para enfrentar a questão.
[1] Morisset, Jacques, Unfair trade? Empirical evidence in world commodity markets over the past 25 years, Abril de 1997.
[2] Os países industrializados abrangidos neste estudo foram a Alemanha, o Canadá, os EUA, a França, a Itália e o Japão.
O Comércio Justo (CJ) é um desses conceitos e o mercado do café um caso prático desta apropriação.
Um sector em crise, mas não para todos
O sector do café é apresentado como estando em crise vai para 30 anos. Cerca de 25 milhões de pessoas em 70 "países em desenvolvimento" dependem da produção do café para um mercado consumidor avaliado em 25 mil milhões de euros por ano.
Desde os princípios da década de 70 que os preços no produtor têm conhecido uma baixa contínua que atingiram os seus mínimos em 2002. A causa imediata desta deterioração tem sido apontada como o excesso de produção.
Mas nem todos perdem, nem todos os preços baixam. Num interessante estudo realizado por um especialista do Banco Mundial[1] constata-se que «desde a década de 70 que os preços dos produtos primários têm caído no mercado internacional. Contudo, durante o mesmo período, os preços no consumidor nos países industrializados[2] subiram. Por exemplo, entre 1975 e 1993 o café baixou em 18% no mercado mundial mas aumentou em 240% para os consumidores nos EUA.»
Esta divergência entre os preços no produtor e os preços no consumidor «tem aumentado radicalmente» aparecendo «como, em grande parte, causada pelo comportamento das companhias comerciais internacionais.»
O impacto desta crescente divergência nos preços «pode ter custado aos países exportadores mais de 100 mil milhões de dólares norte-americanos por ano porque limitaram a expansão da procura final por esses produtos nos maiores mercados consumidores.»
Reconhecendo que «estudos adicionais são necessários para identificar em que etapa do processo intermediário se realizam os lucros mais elevados: grossista ou retalhista», sendo que «a resposta variará provavelmente de país para país e de produto para produto», o estudo conclui pela legitimidade em afirmar que «a suspeita de que estas companhias usam a sua posição dominante para controlar os preços do mercado é reforçada pela crónica ausência de informação sobre as suas actividades.»
Café com sabor a “justo”
Ora, de acordo com notícias na imprensa internacional de Setembro de 2004, algumas das maiores empresas de comércio de café a nível mundial anunciaram a adopção de um Código para melhorar as condições de vida dos trabalhadores e cultivadores e as normas ambientais nos países produtores. Entre estas companhias estão a Nestlé, a Tchibo, a Sara Lee, a Kraft e a associação dos industriais de café da Alemanha, a DKV.
Intitulado "Código Comum para a Comunidade do Café", propõe-se ajudar os pequenos produtores, criando um mercado para o café que foi cultivado sem recorrer a pesticidas proibidos ou a trabalho infantil, escravo ou forçado, em locais onde a actividade sindical é autorizada, as condições de trabalho são justas e os produtores estão autorizados a vender livremente a sua colheita. O café produzido nestas condições será certificado sob este Código.
Tentam assim responder às pressões dos consumidores, dos retalhistas e às denúncias de ONG e grupos ecologistas de que estas empresas exploram os baixos preços e as más condições de trabalho num mercado mundial saturado de café.
As companhias signatárias, porém, não se comprometem a comprar café certificado. Em vez disso, a indústria «intensificará as relações comerciais com os produtores de boa qualidade» e «providenciará a um preço diferencial pelo café de alta qualidade».
O Código será reforçado por auditorias independentes e será avaliado regularmente. De acordo com as fontes citadas pela imprensa internacional, representa a tentativa mais ambiciosa de erigir normas numa indústria severamente afectada pela sobre-produção e a queda dos preços. É também uma das mais vastas iniciativas levadas a cabo por uma indústria. O envolvimento de grandes companhias representa uma ruptura com os pequenos esquemas do passado e os analistas prevêem que as pressões dos observadores aumentará as possibilidades da sua implantação plena. O Código será também subscrito por ONG, entre as quais a Oxfam International e a Greenpeace, e federações sindicais onde se inclui a dos trabalhadores da indústria do café. Se totalmente implantado, estima-se que o Código cobrirá 80% do mercado mundial do café.
A adopção do Código traz alguma da força moral do movimento do Comércio Justo ao “mainstream”. Embora o Código ajude a criar alguma justiça no comércio não é CJ. Ajuda o rendimento dos produtores mas não responde à queda de longo prazo nos preços e ao excesso de produção. Também evita qualquer menção aos arbustos de café geneticamente modificados, desperdiçando uma excelente oportunidade para enfrentar a questão.
[1] Morisset, Jacques, Unfair trade? Empirical evidence in world commodity markets over the past 25 years, Abril de 1997.
[2] Os países industrializados abrangidos neste estudo foram a Alemanha, o Canadá, os EUA, a França, a Itália e o Japão.
Começar de novo
Por quanto tempo vai o mundo manter-se à cabeceira dos povos que foram vítimas da colossal tragédia que se abateu sobre o Índico? Os precedentes não deixam alimentar grandes esperanças. Como lembrou em Jacarta Kofi Annan, os países ricos ficaram quase sempre muito aquém das suas promessas noutros momentos trágicos que afectaram outros povos. Dir-se-á que, desta vez, a dimensão da catástrofe é demasiado grande, levou o luto a demasiados países, incluindo os que são normalmente poupados a dramas desta natureza, para que possa manter-se na mira do mundo ainda por mais algum tempo. (...)
Mas, se estivermos apenas perante a má consciência dos ricos ou a rivalidade entre potências, muito depressa esta tremenda onda de solidariedade global deixará de existir. Apagadas nos televisores as imagens insuportáveis da tragédia, o mundo regressará aonde estava antes: dividido, indiferente, egoísta, incerto quanto ao futuro.
Provavelmente é isto que vai acontecer. Mas há também uma esperança, legítima, de que desta vez as coisas venham a ser diferentes. Ela fundamenta-se na identificação de milhões e milhões de pessoas com o sofrimento daquelas que foram vítimas do tsunami, com a emoção que existe em cada pequeno milagre de sobrevivência, com a dor de cada drama individual. A dimensão apocalíptica desta tragédia "igualou" a humanidade de uma forma rara. (...)
Talvez por isso, o historiador britânico Timothy Garton Ash perguntava nas páginas do "Guardian" se o drama da Ásia pode vir a revelar-se para a guerra à pobreza o que o 11 de Setembro foi para a guerra contra o terrorismo. (...)
Teresa de Sousa (leia o artigo completo do Público)
Mas, se estivermos apenas perante a má consciência dos ricos ou a rivalidade entre potências, muito depressa esta tremenda onda de solidariedade global deixará de existir. Apagadas nos televisores as imagens insuportáveis da tragédia, o mundo regressará aonde estava antes: dividido, indiferente, egoísta, incerto quanto ao futuro.
Provavelmente é isto que vai acontecer. Mas há também uma esperança, legítima, de que desta vez as coisas venham a ser diferentes. Ela fundamenta-se na identificação de milhões e milhões de pessoas com o sofrimento daquelas que foram vítimas do tsunami, com a emoção que existe em cada pequeno milagre de sobrevivência, com a dor de cada drama individual. A dimensão apocalíptica desta tragédia "igualou" a humanidade de uma forma rara. (...)
Talvez por isso, o historiador britânico Timothy Garton Ash perguntava nas páginas do "Guardian" se o drama da Ásia pode vir a revelar-se para a guerra à pobreza o que o 11 de Setembro foi para a guerra contra o terrorismo. (...)
Teresa de Sousa (leia o artigo completo do Público)
quinta-feira, janeiro 13, 2005
Le Monde Diplomatique
1º Número de 2005, já nas bancas!
NESTE NÚMERO Utopias e culturas
DERIVAS: Durante muito tempo ignorados pelos ocidentais, os ucranianos tornaram-se uma peça central do xadrez euro-asiático, como se pode constatar na abordagem de Jean-Marie Chauvier e na de Régis Genté e Laurent Rouy. Por Walid Charara, o artigo «Depois de Bagdade, Teerão?» em que o autor denuncia o facto de os Estados Unidos não abandonarem o projecto de desestabilização do Irão, em nome da defesa dos valores do Ocidente. Destaca-se ainda uma outra deriva, a que aproximou os media dos poderes instituídos e os afastou dos contrapoderes, e que faz parte de uma crise da qualidade da informação e, portanto, da qualidade da democracia , nos artigos de Ignacio Ramonet e Gilles Balbastre.
ILUSÕES: Pelo nosso enviado especial Jean-Christophe Servant, o artigo sobre como é que, no Quénia, os jovens mais desfavorecidos encontram a salvação no seio dos gangs armados. Por sua vez, no Brasil, as expectativas populares continuam vivas, mas as mudanças prometidas pelo presidente Lula tardam em chegar, tal como se constata no artigo de Emir Sader. O dossiê deste mês é sobre Energia: ao nível do planeta, é ilusório pensar que se possa continuar com o sobreconsumo de energia; tem é que se decidir mudar de estilo de vida... Inclui textos de Roland Lehoucq, Benjamin Dessus, Philippe Mühlstein, Denis Babusiaux e Pierre-René Bauquis, para além de um vasto conjunto de gráficos e mapas. Bernard Cassen defende que é perigoso deixar que se pense que o inglês passará fatalmente a ser a única língua mundial, ao mesmo tempo que vários investigadores trabalham sobre um sistema de compreensão entre línguas próximas. Phillipe Baqué salienta que outra forma de defender a diversidade cultural é impedir o tráfico de obras de arte.
NESTE NÚMERO Utopias e culturas
DERIVAS: Durante muito tempo ignorados pelos ocidentais, os ucranianos tornaram-se uma peça central do xadrez euro-asiático, como se pode constatar na abordagem de Jean-Marie Chauvier e na de Régis Genté e Laurent Rouy. Por Walid Charara, o artigo «Depois de Bagdade, Teerão?» em que o autor denuncia o facto de os Estados Unidos não abandonarem o projecto de desestabilização do Irão, em nome da defesa dos valores do Ocidente. Destaca-se ainda uma outra deriva, a que aproximou os media dos poderes instituídos e os afastou dos contrapoderes, e que faz parte de uma crise da qualidade da informação e, portanto, da qualidade da democracia , nos artigos de Ignacio Ramonet e Gilles Balbastre.
ILUSÕES: Pelo nosso enviado especial Jean-Christophe Servant, o artigo sobre como é que, no Quénia, os jovens mais desfavorecidos encontram a salvação no seio dos gangs armados. Por sua vez, no Brasil, as expectativas populares continuam vivas, mas as mudanças prometidas pelo presidente Lula tardam em chegar, tal como se constata no artigo de Emir Sader. O dossiê deste mês é sobre Energia: ao nível do planeta, é ilusório pensar que se possa continuar com o sobreconsumo de energia; tem é que se decidir mudar de estilo de vida... Inclui textos de Roland Lehoucq, Benjamin Dessus, Philippe Mühlstein, Denis Babusiaux e Pierre-René Bauquis, para além de um vasto conjunto de gráficos e mapas. Bernard Cassen defende que é perigoso deixar que se pense que o inglês passará fatalmente a ser a única língua mundial, ao mesmo tempo que vários investigadores trabalham sobre um sistema de compreensão entre línguas próximas. Phillipe Baqué salienta que outra forma de defender a diversidade cultural é impedir o tráfico de obras de arte.
Depois do maremoto
O mega-abalo telúrico de Samatra e os gigantescos maremotos que atingiram, a 26 de Dezembro de 2004, as costas do oceano Índico provocaram uma das mais colossais catástrofes da história. A amplitude da tragédia humana assume dimensões raramente vistas, apontando os números provisórios para 150 000 mortos, 500 000 feridos e 5 milhões de pessoas deslocadas. Soma-se a tudo isto o carácter internacional do desastre. Num só dia, o cataclismo atingiu oito países asiáticos e cinco países africanos, tendo morto, além disso, cerca de 10 000 cidadãos estrangeiros de cerca de 45 países, entre os quais 2000 suecos, 1000 alemães, 700 italianos, 500 austríacos, 200 franceses e 200 neozelandeses, bem como cidadãos mexicanos, colombianos, brasileiros, filipinos, etc.
A presença de ocidentais e o elevado número de vítimas entre estes registado contribuíram para que a catástrofe, ocorrida – num tremendo contraste – em pleno período de festas de fim de ano, tivesse repercussões planetárias. Tal situação suscitou também uma cobertura mediática de dimensões excepcionais, que não teria tido lugar – e isso é lamentável – se a tragédia se tivesse circunscrito apenas à sua dimensão asiática.
Toda a situação provocou um extraordinário choque emocional, que atinge profundamente as opiniões públicas ocidentais. Essa comoção – absolutamente legítima perante tanta desgraça humana, tanta destruição e tanta desolação – traduziu-se numa grande vontade de ajudar e numa calorosa dinâmica de solidariedade. Segundo as organizações humanitárias, raramente no passado se manifestou uma tão ampla generosidade, tanto pública como privada.
Esta solidariedade para com todas as vítimas do oceano Índico permitiu que muitos dos nossos concidadãos descobrissem, para lá do cataclismo, as reais condições normais de vida dos habitantes destes países. Apesar da importância da ajuda mobilizada, parece claramente que ela será muito insuficiente para resolver as dificuldades estruturais desses habitantes.
Recordemos alguns factos:
– Uma catástrofe «natural» de idêntica intensidade causa menos vítimas num país rico do que num país pobre. O terramoto de Bam, por exemplo, ocorrido no Irão exactamente um ano antes, a 26 de Dezembro de 2003, e que atingiu 6,8 graus na escala de Richter, fez mais de 30 000 mortos; mas três meses antes, a 26 de Setembro de 2003, um abalo mais violento, de 8 graus, na ilha japonesa de Hokkaido apenas tinha provocado alguns feridos e nenhum morto. Um outro exemplo: a 21 de Maio de 2003, um terramoto de 6,2 graus atingiu a Argélia e causou mais de 3000 mortos; três dias mais tarde, a 26 de Maio, um sismo mais violento, de 7 graus, abalou o noroeste do Japão e não causou qualquer morto.
O que explica tais diferenças? O facto de o Japão, como outros países desenvolvidos, possuir os meios para aplicar normas de construção anti-sísmica muito mais dispendiosas. Então, estamos nós em situação de desigualdade perante dos cataclismos? Sim, sem qualquer dúvida. Todos os anos, diferentes catástrofes atingem cerca de 211 milhões de pessoas. Dois terços dessas catástrofes situam-se nos países do Sul, onde a vulnerabilidade dos habitantes é agravada pela pobreza. Um relatório intitulado «Reduzir o risco dos desastres», publicado a 2 de Fevereiro de 2004 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), questiona-se até sobre se se deve continuar a falar de catástrofes «naturais». O impacte de um sismo, de um ciclone ou de uma inundação é muito diferente de acordo com o país, estando muitas vezes dependente das políticas de prevenção aplicadas pelas autoridades.
– Se o mesmo maremoto tivesse acontecido no oceano Pacífico, o número de vítimas teria sido mais menor. É que, por iniciativa de duas grandes potências – o Japão e os Estados Unidos –, os Estados ribeirinhos estabeleceram um sistema de detecção e de alerta capaz de advertir antecipadamente sobre a chegada das «ondas assassinas», assim permitindo que a população costeira se ponha a salvo. A aquisição, instalação e manutenção de um tal sistema é, no entanto, muito dispendiosa.
– A catástrofe do oceano Índico comove-nos pelo seu gigantismo e brutalidade, bem como pelo facto de um tal somatório de tragédias ter tido lugar num único dia. Mas se, ao longo de um ano, observássemos estes países e os seus habitantes com uma curiosidade semelhante àquela demonstrada actualmente, assistiríamos – ao retardador – a uma catástrofe humana de envergadura ainda mais trágica. Basta sabermos que, todos os anos, nos Estados do golfo de Bengala (Índia, Maldivas, Sri Lanka, Bangladeche, Birmânia, Tailândia, Malásia e Indonésia) morrem vários milhões de pessoas (sobretudo crianças), muito simplesmente por não disporem de água potável e beberem água poluída.
– A ajuda pública e privada prometida aos países afectados pelo maremoto ascende presentemente a cerca de 3 mil milhões de dólares. Apesar de toda a gente se congratular com a importância desta soma, ela é negligenciável quando comparada com outras despesas. Por exemplo, só o orçamento militar dos Estados Unidos ascende, anualmente, a 400 mil milhões de dólares… Um outro exemplo: quando, no Outono de 2004, a Florida foi atingida por ciclones que provocaram danos importantes mas absolutamente incomparáveis com o actual desastre do oceano Índico, Washington desbloqueou imediatamente uma ajuda de 3 mil milhões de dólares… De qualquer forma, as somas prometidas são insignificantes se tivermos em conta as necessidades dos Estados enlutados pelo maremoto.
Convém que se saiba que, de acordo com os últimos dados do Banco Mundial, a dívida externa pública de cinco destes países ascende a mais de 300 mil milhões de dólares. Os reembolsos que ela implica são gigantescos, correspondendo a mais de 32 mil milhões de dólares por ano… Ou seja, um montante mais de dez vezes superior às promessas de doações «generosamente» anunciadas nos últimos dias. À escala planetária, os países pobres pagam anualmente ao Norte rico, a título da dívida externa, mais de 230 mil milhões de dólares. É o mundo ao contrário.
Neste momento marcado pelo maremoto, fala-se da aplicação de uma moratória da dívida externa dos países enlutados, mas não é isso que faz falta. O que é preciso fazer é anular a dívida, pura e simplesmente, tal como os Estados Unidos acabam de impor aos seus parceiros do Clube de Paris a propósito da dívida do Iraque, país por eles militarmente ocupado. Se isso pode ser feito pelo Iraque, que é um país rico em petróleo e gás, por que razão não poderia ser feito por países infinitamente mais pobres e ainda por cima atingidos por uma catástrofe de dimensões bíblicas?
– Ainda segundo o PNUD, «à escala planetária faltam uns 80 mil milhões de dólares por ano para assegurar a todos os serviços básicos», a saber, o acesso a água potável, um tecto, uma alimentação decente, educação primária e cuidados básicos de saúde. Este valor corresponde exactamente ao montante do orçamento suplementar que o presidente Bush acaba de pedir ao Congresso para financiar a guerra do Iraque…
A imensidão das necessidades que têm que ser cobertas mostra, por comparação, que a generosidade humana, por muito admirável e necessária que seja, não constitui uma solução de longo prazo. A emoção não pode substituir-se à política. Cada catástrofe revela, como se de uma lupa se tratasse, as desgraças estruturais que atingem os mais pobres, as vítimas correntes da desigual e injusta divisão das riquezas a nível mundial. É por isso que, se se quiser realmente que o efeito dos cataclismos seja menos destruidor, será necessário avançar no sentido da procura de soluções permanentes e favorecer uma redistribuição compensatória para todos os habitantes do planeta.
Para enfrentar situações de emergência como esta, e muito simplesmente para construir um mundo mais justo, parece cada vez mais indispensável criar uma espécie de taxa sobre o valor acrescentado internacional. Esta ideia de uma «taxa planetária» – incidindo sobre os mercados cambiais (Taxa Tobin), as vendas de armas ou o consumo de energias não renováveis – foi apresentada nas Nações Unidas a 20 de Setembro de 2004 pelos presidentes Lula do Brasil, Lagos do Chile e Chirac de França, e pelo primeiro-ministro espanhol Zapatero. Mais de cem países, ou seja, mais de metade dos Estados de todo o mundo, apoiam doravante esta feliz iniciativa.
Porque não apoiarmo-nos na comoção universal suscitada pela catástrofe do oceano Índico para reclamar o estabelecimento imediato desta taxa internacional de solidariedade?
IGNACIO RAMONET
A presença de ocidentais e o elevado número de vítimas entre estes registado contribuíram para que a catástrofe, ocorrida – num tremendo contraste – em pleno período de festas de fim de ano, tivesse repercussões planetárias. Tal situação suscitou também uma cobertura mediática de dimensões excepcionais, que não teria tido lugar – e isso é lamentável – se a tragédia se tivesse circunscrito apenas à sua dimensão asiática.
Toda a situação provocou um extraordinário choque emocional, que atinge profundamente as opiniões públicas ocidentais. Essa comoção – absolutamente legítima perante tanta desgraça humana, tanta destruição e tanta desolação – traduziu-se numa grande vontade de ajudar e numa calorosa dinâmica de solidariedade. Segundo as organizações humanitárias, raramente no passado se manifestou uma tão ampla generosidade, tanto pública como privada.
Esta solidariedade para com todas as vítimas do oceano Índico permitiu que muitos dos nossos concidadãos descobrissem, para lá do cataclismo, as reais condições normais de vida dos habitantes destes países. Apesar da importância da ajuda mobilizada, parece claramente que ela será muito insuficiente para resolver as dificuldades estruturais desses habitantes.
Recordemos alguns factos:
– Uma catástrofe «natural» de idêntica intensidade causa menos vítimas num país rico do que num país pobre. O terramoto de Bam, por exemplo, ocorrido no Irão exactamente um ano antes, a 26 de Dezembro de 2003, e que atingiu 6,8 graus na escala de Richter, fez mais de 30 000 mortos; mas três meses antes, a 26 de Setembro de 2003, um abalo mais violento, de 8 graus, na ilha japonesa de Hokkaido apenas tinha provocado alguns feridos e nenhum morto. Um outro exemplo: a 21 de Maio de 2003, um terramoto de 6,2 graus atingiu a Argélia e causou mais de 3000 mortos; três dias mais tarde, a 26 de Maio, um sismo mais violento, de 7 graus, abalou o noroeste do Japão e não causou qualquer morto.
O que explica tais diferenças? O facto de o Japão, como outros países desenvolvidos, possuir os meios para aplicar normas de construção anti-sísmica muito mais dispendiosas. Então, estamos nós em situação de desigualdade perante dos cataclismos? Sim, sem qualquer dúvida. Todos os anos, diferentes catástrofes atingem cerca de 211 milhões de pessoas. Dois terços dessas catástrofes situam-se nos países do Sul, onde a vulnerabilidade dos habitantes é agravada pela pobreza. Um relatório intitulado «Reduzir o risco dos desastres», publicado a 2 de Fevereiro de 2004 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), questiona-se até sobre se se deve continuar a falar de catástrofes «naturais». O impacte de um sismo, de um ciclone ou de uma inundação é muito diferente de acordo com o país, estando muitas vezes dependente das políticas de prevenção aplicadas pelas autoridades.
– Se o mesmo maremoto tivesse acontecido no oceano Pacífico, o número de vítimas teria sido mais menor. É que, por iniciativa de duas grandes potências – o Japão e os Estados Unidos –, os Estados ribeirinhos estabeleceram um sistema de detecção e de alerta capaz de advertir antecipadamente sobre a chegada das «ondas assassinas», assim permitindo que a população costeira se ponha a salvo. A aquisição, instalação e manutenção de um tal sistema é, no entanto, muito dispendiosa.
– A catástrofe do oceano Índico comove-nos pelo seu gigantismo e brutalidade, bem como pelo facto de um tal somatório de tragédias ter tido lugar num único dia. Mas se, ao longo de um ano, observássemos estes países e os seus habitantes com uma curiosidade semelhante àquela demonstrada actualmente, assistiríamos – ao retardador – a uma catástrofe humana de envergadura ainda mais trágica. Basta sabermos que, todos os anos, nos Estados do golfo de Bengala (Índia, Maldivas, Sri Lanka, Bangladeche, Birmânia, Tailândia, Malásia e Indonésia) morrem vários milhões de pessoas (sobretudo crianças), muito simplesmente por não disporem de água potável e beberem água poluída.
– A ajuda pública e privada prometida aos países afectados pelo maremoto ascende presentemente a cerca de 3 mil milhões de dólares. Apesar de toda a gente se congratular com a importância desta soma, ela é negligenciável quando comparada com outras despesas. Por exemplo, só o orçamento militar dos Estados Unidos ascende, anualmente, a 400 mil milhões de dólares… Um outro exemplo: quando, no Outono de 2004, a Florida foi atingida por ciclones que provocaram danos importantes mas absolutamente incomparáveis com o actual desastre do oceano Índico, Washington desbloqueou imediatamente uma ajuda de 3 mil milhões de dólares… De qualquer forma, as somas prometidas são insignificantes se tivermos em conta as necessidades dos Estados enlutados pelo maremoto.
Convém que se saiba que, de acordo com os últimos dados do Banco Mundial, a dívida externa pública de cinco destes países ascende a mais de 300 mil milhões de dólares. Os reembolsos que ela implica são gigantescos, correspondendo a mais de 32 mil milhões de dólares por ano… Ou seja, um montante mais de dez vezes superior às promessas de doações «generosamente» anunciadas nos últimos dias. À escala planetária, os países pobres pagam anualmente ao Norte rico, a título da dívida externa, mais de 230 mil milhões de dólares. É o mundo ao contrário.
Neste momento marcado pelo maremoto, fala-se da aplicação de uma moratória da dívida externa dos países enlutados, mas não é isso que faz falta. O que é preciso fazer é anular a dívida, pura e simplesmente, tal como os Estados Unidos acabam de impor aos seus parceiros do Clube de Paris a propósito da dívida do Iraque, país por eles militarmente ocupado. Se isso pode ser feito pelo Iraque, que é um país rico em petróleo e gás, por que razão não poderia ser feito por países infinitamente mais pobres e ainda por cima atingidos por uma catástrofe de dimensões bíblicas?
– Ainda segundo o PNUD, «à escala planetária faltam uns 80 mil milhões de dólares por ano para assegurar a todos os serviços básicos», a saber, o acesso a água potável, um tecto, uma alimentação decente, educação primária e cuidados básicos de saúde. Este valor corresponde exactamente ao montante do orçamento suplementar que o presidente Bush acaba de pedir ao Congresso para financiar a guerra do Iraque…
A imensidão das necessidades que têm que ser cobertas mostra, por comparação, que a generosidade humana, por muito admirável e necessária que seja, não constitui uma solução de longo prazo. A emoção não pode substituir-se à política. Cada catástrofe revela, como se de uma lupa se tratasse, as desgraças estruturais que atingem os mais pobres, as vítimas correntes da desigual e injusta divisão das riquezas a nível mundial. É por isso que, se se quiser realmente que o efeito dos cataclismos seja menos destruidor, será necessário avançar no sentido da procura de soluções permanentes e favorecer uma redistribuição compensatória para todos os habitantes do planeta.
Para enfrentar situações de emergência como esta, e muito simplesmente para construir um mundo mais justo, parece cada vez mais indispensável criar uma espécie de taxa sobre o valor acrescentado internacional. Esta ideia de uma «taxa planetária» – incidindo sobre os mercados cambiais (Taxa Tobin), as vendas de armas ou o consumo de energias não renováveis – foi apresentada nas Nações Unidas a 20 de Setembro de 2004 pelos presidentes Lula do Brasil, Lagos do Chile e Chirac de França, e pelo primeiro-ministro espanhol Zapatero. Mais de cem países, ou seja, mais de metade dos Estados de todo o mundo, apoiam doravante esta feliz iniciativa.
Porque não apoiarmo-nos na comoção universal suscitada pela catástrofe do oceano Índico para reclamar o estabelecimento imediato desta taxa internacional de solidariedade?
IGNACIO RAMONET
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