sábado, janeiro 22, 2005

FSM 2005 - XII

Puxirum traz boas perspectivas

Pelos corredores da Usina do Gasômetro, onde são realizados os últimos preparativos para a quinta edição do Fórum Social Mundial, é grande a expectativa para a realização do Puxirum de Artes e Saberes Indígenas, que está sendo considerado uma das principais novidades do Fórum. Leia a seguir o que pensam o coordenador da Coica e três integrantes da Organização do FSM.

Sebastião Haji Manchineri, coordenador da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica)

"Queremos realizar um evento diferente. As idéias que nortearam a organização do Puxirum de Artes e Saberes Indígenas são a de não sermos simplesmente conduzidos por atores externos e muito menos a de só fazermos número. Queremos apresentar o que temos, o que somos e o que pretendemos ao conjunto do FSM. Estamos trabalhando para sermos atores do nosso próprio destino e fazermos aliança com atores que trabalhem na linha da sustentação humana e ambiental."

"O que nos aproxima dos demais participantes do FSM são nossos ideais de compartilhar um mundo mais justo e mais humano. Outro ponto é a questão ambiental e social."

"Nossa contribuição será a defesa da natureza, o manejo sustentável dos nossos recursos, o equilíbrio entre homem e natureza, defendendo o homem como bem maior e não como mercadoria. E ainda a defesa dos nossos espaços nos países em que a gente vive."


Moema Miranda, integrante do Secretariado do Fórum; representante do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Económicas (Ibase)

"O Puxirum é um dos ganhos maiores e mais radicais do Fórum Social Mundial. Pela primeira vez, há uma organização dos povos indígenas que está presente não apenas como participante, mas como construtora da participação. Essa construção começou em Quito, na Cúpula dos Povos Indígenas, e esperamos que essa articulação esteja ainda mais presente no Fórum. Os indígenas têm um espaço, não são apenas um apêndice, mas uma presença participativa e intensa."

Antonio Martins - Comitê Organizador Brasileiro (COB) do FSM; representante da Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio ao Cidadão (Attac)

"2005 traz várias novidades e surpresas para o Fórum Social Mundial. Mas eu acho que nenhuma é mais importante do que o Puxirum. Por vários motivos. Mas podemos destacar o seu caráter histórico e simbólico - nós estamos nas Américas, a região onde a população original foi colonizada e dizimada, seus valores culturais foram duramente atacados e, cinco séculos depois, há novo ressurgimento da identidade, das lutas, dos valores indígenas. O Fórum Social Mundial, que procura anunciar a possibilidade de um mundo novo, de um mundo de transformação social, esteve incompleto até agora sem o Puxirum."

"O Fórum passa e vai passar por um processo de busca de alternativas e, nessa busca, o bom choque de culturas, o diálogo, a troca, o espanto, o aprendizado de uma cultura com a outra, as trocas de experiências e tradições são muito importantes na perspectiva de descobrir os caminhos de superação dessa sociedade."

"Nós estamos numa fase em que ninguém tem a verdade absoluta de como construir o mundo novo. Então, quanto mais aparecerem essas experiências, quanto mais aparecerem essas tradições, essas formas de organização social, com a nossa sensibilidade, nós vamos ser mais capazes de formular propostas para um mundo novo."


Jefferson Miola - Coordenador Executivo do V Fórum Social Mundial

"O Fórum não seria o Fórum sem esse grande encontro entre as nações indígenas de todo o mundo. Nós estamos falando daqueles que são, no caso brasileiro em particular, os ancestrais, os donos das nossas terras no melhor sentido que a expressão propriedade possa ter. Representam uma cultura carregada de uma ancestralidade, de conhecimentos, de saberes e de uma expressão artística e cultural que lamentavelmente foi devastada, dizimada por conta nas ações deste mundo branco, americano e predominantemente masculino. Portanto, o Puxirum e a presença dessas nações indígenas representa esse sentido de generosidade que o Fórum contém enquanto espaço de reconhecimento, enquanto espaço de resgate, enquanto espaço para evidenciar essa pluralidade étnica, religiosa, cultural e social do nosso planeta. Que bom que eles estão aqui na forma desse grande mutirão chamado Puxirum. Melhor ainda que eles possam compartilhar com os outros milhares de participantes do planeta desse momento que é um momento de celebração da humanidade, de todos os homens, mulheres, urbanos, rurais, índios, negros, jovens, antigos."

"Os indígenas trazem para o conjunto do Fórum muito reconhecimento dessa sua existência, do seu papel histórico ancestral, trazem muito seu saber, sua relação com a natureza e trazem acima de tudo a marca da arte e da cultura. Portanto, eu acredito que o Puxirum traz para o Fórum praticamente um universo próprio que passa a pertencer também ao universo do Fórum e passa a exigir de todos nós que temos o compromisso com mudanças efetivas, com a construção de uma outra humanidade e de outro mundo, a absorção e internalização disto que também é um modo de vida particular e singular, que é o modo de vida das nossas nações indígenas."

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