terça-feira, janeiro 25, 2011

Visita oficial do inominável sr. Avigdor Lieberman

Caros amigos,

Foi com espanto e indignação que vi, por mero acaso, passar ontem à noite num noticiário (já nem sei em que canal) uma curta nota de rodapé que dava conta da visita do sr. Lieberman, MNE israelita, a Lisboa. Nem quis acreditar, pelo que vim confirmar, na internet, a referida notícia. Era realmente verdade!

Escrevi então uma carta ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Dr. Luís Amado, a insurgir-me contra tal visita, tendo remetido logo cópia da mesma ao Senhor Primeiro Ministro. Estas duas cartas foram enviadas de madrugada, já passava das 2h00. Recebi já a respectiva acusação de recepção do gabinete do PM.

Bastante mais tarde, mas ainda de manhã, escrevi uma carta ao Senhor Presidente da Assembleia da República e à Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros sobre o mesmo assunto, enviando-lhes igualmente a carta endereçada ao MNE.

Acabei agora de enviar a carta que enderecei a todos os Grupos Parlamentares, juntamente com as cartas ao Presidente da A.R. e ao MNE. É esta que vou colar abaixo. Segue em anexo o pequeno relatório referido na carta aos deputados e que, penso, já vos tinha enviado juntamente com uma petição desta organização árabe-israelita.

Esta visita foi planeada no maior segredo e não foi propositadamente publicitada para que a Sociedade Civil não tivesse tempo de se mobilizar nem de obter uma autorização do Governo Civil para se manifestar na rua. No entanto, se houver gente, gente suficiente, disposta a comparecer, acho que nos devemos juntar junto à residência oficial do Primeiro Ministro (rua nas traseiras do palácio de São Bento, com entrada pela Calçada da Estrela), na suposição de que seja aí a recepção pelo PM, como é costume. É claro que aí podemos encontrar a rua fechada pela polícia. De qualquer modo, sem autorização do Governo Civil, qualquer manif é considerada ilegal e a polícia pode impedir-nos de nos manifestarmos, exibirmos faixas, bandeiras, etc. Além de que tentará identificar os «cabecilhas», se não mesmo identificar toda a gente, mover processos, etc. Por mim, estou-me nas tintas!... Assim haja gente suficiente para o efeito porque se comparecerem meia dúzia de gatos pingados, não terá qualquer efeito, pelo contrário, será ridicularizada. Digam se estão dispostos e vamos a isso!...

O dito senhor será recebido hoje ao final da tarde pelo Dr. Luís Amado, no Palácio das Necessidades, amanhã às 10h00 pelo Presidente da Assembleia da República, às 11h00 pela Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros e à tarde, julgo que pelas 17h30, pelo Senhor Primeiro Ministro. É o que consta do site do MNE, mas é sempre bom confirmarem. Amanhã à noite vai haver também um jantar com a Associação de Amizade Portugal-Israel, não sei ainda onde, mas deve estar no site da dita Associação. Também seria um sítio onde nos poderíamos juntar em manif de protesto. Por favor, digam de vossa justiça! O tempo urge!

Isto é absolutamente inqualificável!!!

Se considerarem não haver tempo para uma grande mobilização / manifestação, peço a todos que escrevam pelo menos ao MNE, com cópia ao PM. Vão directamente ao site do governo / contacto. O facto de escreverem não dispensa uma boa manif e vice-versa.

Abraço



Exmos. Senhores Deputados,

Abaixo remeto a V. Exas. a carta por mim enviada, nesta mesma data, ao Senhor Presidente da Assembleia da República, a quem remeti também a carta por mim enviada, hoje, 25/01/2011 de madrugada, ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, cópia da qual remeti igualmente ao Senhor Primeiro Ministro. Com o mesmo teor, enviei também uma carta à Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros.

Remeto igualmente a V. Exas. um pequeno relatório de uma organização árabe/judaica sobre acontecimentos recentes em Israel.

A desfaçatez com que esta visita oficial foi preparada e, propositadamente, não amplamente divulgada, como é hábito, com o objectivo de não permitir uma resposta e uma reacção adequadas da Sociedade Civil que, assim, não poderia de forma alguma conseguir autorização do Governo Civil em tempo útil para se pronunciar na rua, é uma afronta ao povo português e um escândalo.

Exijo aos senhores deputados que agendem rapidamente a discussão desta inqualificável visita para uma Sessão do Parlamento, com a presença do Senhor Primeiro Ministro e do Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Muito atentamente

MA


Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República

É com muita indignação, muita revolta, mas também com muita amargura que abaixo envio a V. Exa., enquanto Presidente da Assembleia da República, a carta que enviei hoje de madrugada ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, com cópia ao Senhor Primeiro-Ministro.

É uma vergonha que Portugal, nas pessoas do Senhor Primeiro-Ministro e do Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros assim como na pessoa de V. Exa., enquanto Presidente da Assembleia da República, receba oficialmente um representante de um governo que pratica o terrorismo de Estado, a forma mais ignóbil de terrorismo que pode haver, o sr. Avigdor Lieberman.

Um homem que defende que os seus próprios concidadãos israelitas sejam obrigados a um juramento de lealdade ao governo fascista, sionista, racista de Israel se quiserem ter direito a voto, além de ser um digno representante de um governo e de um Estado que se orgulha de todos os continuados e persistentes atropelos inqualificáveis aos Direitos Humanos e ao Direito Internacional no território barbaramente roubado ao Povo Palestiniano e ocupado desde, pelo menos, 1948.

Não posso deixar de manifestar a minha mais profunda indignação, o meu mais vivo repúdio, a minha mais sentida tristeza e vergonha por esta atitude do governo e daqueles que dizem ser representantes de todo o povo português.

Não me posso rever em atitudes incompreensíveis e injustificáveis como esta, pelo que não me sinto representada por ninguém.

Muito atentamente

MA


Exmo. Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Dr. Luís Amado

Venho, por este meio, manifestar o meu mais vivo repúdio pela visita a Lisboa do seu homólogo israelita que será recebido por V. Exa., notícia que vi passar num noticiário no dia 24/01/2011 à noite, numa curtíssima nota de rodapé e que confirmei, via internet, em notícias israelitas e britânicas.

Depois de o Estado português ter condenado os crimes de guerra israelitas contra a Faixa de Gaza por ocasião da votação do relatório Goldstone e sabendo-se que Israel prossegue a sua política colonialista/fascista de ocupação bárbara da Palestina e de apartheid, que persiste nas suas acções de limpeza étnica contra os árabes israelitas que vivem no seu território e contra os palestinianos nos territórios ocupados, que desrespeita, com a arrogância fascista/sionista que se lhe conhece, os mais elementares Direitos Humanos e o Direito Internacional, que se recusa insolentemente a observar as inúmeras Resoluções quer do Conselho de Segurança quer da Assembleia Geral das Nações Unidas, que persegue e pune os seus próprios cidadãos israelitas que não se conformam com a política de terror e extermínio para com o Povo Palestiniano indefeso, que se afirma, com toda a hipocrisia, como a única «democracia» do Médio Oriente, como é possível que o Governo de Portugal e, nomeadamente, o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal receba a visita de um fascista/sionista como o Sr. Lieberman ou qualquer outro governante de Israel?

Que eu saiba, nem o Dr. Salazar terá recebido a visita do Sr. Ribbentrop ou do Sr. Goebbels, apesar de ser um grande defensor do Nacional Socialismo, do III Reich e da doutrina fascista/nazi.

A doutrina Sionista, como V. Exa. saberá melhor do que eu, foi há muito incluída no rol de doutrinas racistas pela Assembleia Geral das Nações Unidas e pouco difere da doutrina e prática nazis - de um lado «o povo eleito» que se arroga o direito de expulsar da sua terra um povo que ali vive há mais de mil anos, do outro «a raça ariana do povo germânico». Tanto uma como a outra conduziram ao mesmo - à barbárie, à desumanidade, à limpeza étnica, ao extermínio.

Portugal, país que sofreu na pele uma ditadura fascista, deveria aproveitar todo o seu prestígio como país democrático pós-Revolução de 25 de Abril de 1974, cujo exemplo serviu para outras transições para a democracia, para denunciar, boicotar e jamais pactuar com regimes e governos terroristas capazes de tudo, como Israel, que já demonstrou sê-lo à saciedade.

Não posso, pois, deixar de manifestar a minha mais profunda indignação e repulsa por esta atitude do governo do meu país.

Muito atentamente,

MA

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