Caros Amigos e Companheiros:
Somos por este meio a comunicar que o nº 9 da revista electrónica O Comuneiro está já disponível em linha, no seu endereço habitual: www.ocomuneiro.com.
Com uma imensa melancolia, a imprensa corporativa, que nos desabituamos já de qualificar como burguesa, anuncia-nos que a "recuperação" está a "perder o fulgor". Infelizmente para eles, as coisas nunca mais serão como se habituaram a concebê-las os senhores do mundo e os turiferários do capital. Provavelmente, eles nunca mais se irão recompor disso. Não vão mudar e não vão perceber. É preciso re-regular a finança, pois claro. Mas primeiro é essencial criar "confiança". A qual resulta da existência de regras claras. Que todavia não podem ser impostas contra o que é a respiração natural do "mercado". E assim por diante.
As elites dominantes globais e seus medíocres arautos tentam disfarçar o colapso deslizante da "teologia do mercado" atribuindo a crise brutal e profunda a que assistimos à pura "falta de ética" e "aventureirismo" de alguns sectores da finança, causando fenómenos negativos, que o sistema (igual a si próprio) rectificaria com a brevidade possível através de sábias "medidas de regulação". Todavia, reguladores e regulados são aqui os mesmos e, em última instância, ser-lhes-á impossível negar que, para o capitalismo, a virtude propulsora central é precisamente a ganância ilimitada.
O presente número de O Comuneiro abre com um texto histórico do nosso tempo. Sobre a crise financeira, com o seu título de irónico understatement, é o aviso grave de um velho sábio, o padre François Houtart, do alto dos seus 84 anos, doutor em quase todos os saberes humanos, com centenas de milhares de quilómetros percorridos nas piores sendas do mundo, pois que também ele sempre disse, com Martí: "con los pobres de la tierra quiero yo mi suerte echar".
Santiago Alba Rico, completamente desconhecido no mundo de língua portuguesa, é um filósofo, escritor e ensaísta madrileno, provavelmente o mais completo e interessante pensador crítico espanhol da geração que chegou à maturidade nos anos 1980. A entrevista que publicamos dele é disso um bom testemunho. Santiago faz questão de se afirmar "conservador" do ponto de vista antropológico e esse é um tópico a que aderimos de bom grado e integramos na nossa crítica.
Publicamos novamente um texto de Michael Löwy – Crise ecológica, capitalismo, altermundialismo -, que é um dos nossos pensadores mais próximos e queridos, de tal modo que já pouco mais encontramos para dizer dele aqui. Batalhador incansável, desde há décadas, por uma síntese vermelho-verde que faça sentido, Löwy é, neste momento, um dos expoentes do Ecossocialismo. É bom saber que esta corrente política internacional está a caminho da sua maturidade, produzindo já documentos com propostas e exigências concretas e articuladas, como é o caso daquele que publicamos neste número, de origem britânica e intitulado Luta de classes e ecologia.
João Esteves da Silva dá novamente um contributo valioso para este número de O Comuneiro, pela sua própria reflexão e também como tradutor. Pela sua mão têm sido publicados, na nossa revista, alguns pensadores críticos fundamentais do nosso tempo, todos eles também antropologicamente conservadores. É o caso do francês Jean-Claude Michéa, já nosso conhecido, e agora também o do norte-americano Christopher Lasch, ambos praticamente inéditos na língua portuguesa, embora o último já tenha sido publicado no Brasil (A cultura do narcisismo, A rebelião das elites). Tanto Michéa como Lasch são anti-leninistas e albergam reservas quanto ao marxismo, posições que naturalmente não partilhamos, sem fazer disso motivo para anátema. Partilhamos, isso sim, e sem quaisquer reservas, o essencial da sua penetrante crítica ao liberalismo, ao mercantilismo e à cultura de massas, feita de uma perspectiva genuinamente popular e enformada por valores democráticos e solidários.
De Valério Arcary publicamos Internacionalismo e campismo: dilemas da aposta estratégica. Nem sempre as coisas se passam na história como elas puderam ser previstas, no nosso movimento de emancipação do proletariado. A corrente desvia-se pelo lado "torto", pelo "elo mais fraco", pelo desvão imprevisto. O internacionalismo é uma luta constante e uma conquista que se fará a pulso.
Do nosso redactor Ângelo Novo, por fim, publicamos a primeira parte de uma reflexão sobre a introdução do marxismo em Portugal e a elaboração própria de uma ciência revolucionária nele inspirado. Em conexão com este trabalho, que terá continuidade, há no sítio em que se aloja O Comuneiro uma secção antológica intitulada Páginas do marxismo português, que pensamos completar e revitalizar, e para a qual gostaríamos de contar com a colaboração dos nossos leitores.
O Secretariado da Redacção de O Comuneiro
Ângelo Novo
Ronaldo Fonseca
Sem comentários:
Enviar um comentário