O Open Spaces for Dialogue and Enquiry é uma iniciativa colectiva acolhida pelo Centre for the Study of Social and Global Justice (na Universidade de Nottingham). O OSDE promove um conjunto de procedimentos (ou metodologia) para estruturar os espaços educacionais onde os participantes são capazes de falar, ouvir e reflectir sobre a ideia de interdependência num ambiente seguro, sem lhes ser dito o que devem pensar ou o que devem fazer. Nestes espaços, os participantes são convidados a analisar diferentes perspectivas e a pensar de uma maneira crítica e independente - examinando as origens e as implicações da sua própria perspectiva e de outras pessoas. Os princípios seguintes formam a base do processo de diálogo / reflexão:
1. Cada indivíduo traz para o espaço conhecimentos válidos e legítimos, construídos no seu contexto próprio
Olhamos para o mundo através de lentes construídas numa rede complexa nos contextos onde nos inserimos, influenciados por várias forças externas (culturas, meios de comunicação social, religião, educação), forças internas (personalidade, reacções, conflitos) e de encontros e relacionamentos. A imagem que estas lentes projectam representará o nosso conhecimento de nós próprios e do mundo e portanto, estejam perto ou longe do que é considerado "normal", têm uma história e a sua validade tem de ser reconhecida no espaço.
2. Todo o conhecimento é parcial e incompleto
Tal como as nossas lentes são construídas em contextos específicos, faltam-nos os conhecimentos construídos noutros contextos diferentes e, por isso, temos de ouvir as diferentes perspectivas, a fim de ver / imaginar para além das fronteiras das nossas próprias lentes.
3. Todos os conhecimentos podem ser questionados
O envolvimento crítico no projecto é definido como a tentativa de compreender de onde são provenientes as várias perspectivas e aonde elas nos levam (origens e implicações). Por isso, questionar não é uma tentativa de quebrar as lentes (para destruir ou deslegitimar perspectivas), mas de estimular e ampliar a visão.
Para mais informações, visite o sítio www.osdemethodology.org.uk ou entre em contacto com osde@osdemethodology.org.uk.
O Diálogo como uma forma de resistência
As perspectivas seguintes mostram diferentes maneiras de compreender o Fórum Social Mundial (FSM). Quais são as implicações de cada uma delas relativamente à inclusão ou exclusão dos participantes no Fórum? Quais são as suas implicações em relação à construção de um outro mundo possível?
- "O FSM deve ser aberto apenas às organizações que são contra o neo-liberalismo. O objectivo do Fórum é o de criar uma frente unida para um outro mundo possível."
- "O FSM é financiado indirectamente por partidos políticos e serve como uma plataforma de acção para os agentes políticos. Isto não pode ser evitado."
- "Pergunto-me se as pessoas que são realmente afectados pelas políticas neo-liberais estão aqui no evento. Aprovariam elas o que está aqui a acontecer? As mensagens que são passadas nas manifestações são contraditórias. Pessoas diferentes vêem o outro mundo possível de formas muito diversas."
- "A palavra neoliberalismo pode ser interpretada de muitas maneiras – e ainda por cima muitas pessoas nunca tinham ouvido falar nesta palavra antes. Será que devemos excluir estas pessoas de participar no Fórum? Se o fizermos, não estaremos então a pregar só para os convertidos?"
- "O FSM é um espaço que pertence à sociedade civil. Os partidos políticos não deviam tomar parte no processo."
- "A minha primeira experiência no Fórum foi muito frustrante. As organizações parecem só estar preocupadas em fazer passar as suas mensagens. Isto não é a promoção do diálogo. Não sei como elas podem fazer um outro mundo possível tentando impor os seus pontos de vista desta maneira. Fizeram-me sentir mal porque expressei dissidência e questionei alguns dos pontos de vista. Senti-me excluído, como me sinto no sistema capitalista..."
- "Quem é que vai definir o que vai ser esse outro mundo possível? Muitos dos que queriam mudar o mundo acabaram a reproduzir exactamente os mesmos mecanismos de violência contra os quais quiseram lutar."
- "No meu anbiente profissional sou dos pensadores mais progressistas. Tenho um negócio e quero trabalhar por um mundo melhor e mais justo. Não se trata de lucro, mas sim de pessoas. Sei que isto não é o que a maioria das pessoas pensa no meio empresarial e isto tem de mudar. Mas, neste momento, eu não encontro muito apoio - nem na minha actividade profissional, nem aqui. Neste espaço, sinto-me como um conservador sem voz."
* Entrevistas recolhidas durante o Fórum Social Europeu de 2004 e o Fórum Social Mundial de 2005.
Questões para uma reflexão pessoal
O que o fez vir ao FSM?
O que é que está errado com o mundo e o que o fez chegar a esta conclusão?
O que é que, na sua opinião, tornaria o mundo um lugar melhor para viver?
Como se coloca perante as perspectivas apresentadas?
Na sua perspectiva quais são os pontos fracos e os pontos fortes do FSM?
Questões para um grupo de discussão
Por favor, leia a lista de perguntas seguinte, adicione as suas próprias perguntas e escolha três questões para discutir com o seu grupo.
- O que entende por "neoliberalismo" e por "justiça"?
- Como define metodologia de "espaços abertos"? Quais são as vantagens e desvantagens desta metodologia, nos contextos em que você actua?
- De que forma é que o FSM vai mais além das tradicionais formas de fazer política? De que modo é que reproduzem as mesmas formas de organização?
- Qual é hoje a função do FSM? Qual deveria ser essa função?
- Quem deveria ser incluído / excluído do FSM (em termos de organização e de participação)?
- Na sua perspectiva com o que é que se parece o "outro mundo possível"? O que o faz pensar dessa maneira?
- Como será construído esse outro mundo possível?
- Neste outro mundo, vamos todos pensar da mesma maneira? Quem irá definir o que as pessoas devem pensar ou desejar? O que acontecerá com as diferenças e os grupos minoritários?
- Acha que é possível mudar o mundo sem reproduzir os mesmos mecanismos de violência que levaram à construção do mundo de hoje?
- Quais são as vantagens e limitações de uma frente unida contra o neoliberalismo?
Conclusão
Pense no seu processo de aprendizagem hoje. O que aprendeu sobre si mesmo? O que aprendeu sobre os outros? O que aprendeu sobre conhecimento e sobre aprendizagem? O que poderia ser feito para melhorar o processo de aprendizagem do grupo e as relações dentro do espaço?
A tradução é da minha responsabilidade.
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