quinta-feira, setembro 09, 2004

As raízes do ódio II

Como os governantes russos alimentaram, após o fim da União Soviéita, as forças políticas mais retrógradas da Tchechénia, que agora intensificam o terror.
Juan Pablo Duch, La Jornada

Parar os ataques aos civis russos foi uma das principais promessas eleitorais de Putin e, para passar das palavras aos fatos, assumiu a responsabilidade pelo início de um segundo confronto Russo-Tchecheno, em Outubro daquele ano.

Cinco anos depois, Putin não conseguiu comprir sua promessa eleitoral. No 11 de setembro de 2001, quando os EUA foram atacados, a sua chamada "operação anti-terrorista" já havia falhado, já que os rebeldes Tchechenos optaram por uma guerra de guerrilha contra os 80 mil soldados russos estacionados na região.

Putin soube tirar proveito da conjuntura ao embarcar na chamada coligação mundial de luta contra o terrorismo. As críticas da comunidade internacional sobre os excessos do exército russo para com os civis Tchechenos, documentadas por várias ONG como violação de direitos humanos, logo de dissiparam.

Ao mudar de lado, o convertido Ahmad Kadyrov (morto pela guerrilha em 9 de Maio passado) ofereceu a possibilidade de simular um acordo político que na prática significava o favorecimento de um clã sobre os demais, na busca de se "Tchechenizar" o conflito.

O Kremlin, ao apostar na imposição de um governante pró-russo na Tchechénia, usou o episódio do sequestro no teatro Dubrovka em Moscovo, em outubro de 2002, para cancelar qualquer possibilidade de negociar uma solução pacifica com o sector moderado do separatismo Tchecheno.

Moscovo montou uma verdadeira farsa para "legitimar" Kadyrov nas urnas, e, com tantos abusos e arbitrariedades, acaba de fazer o mesmo com o seu sucessor, o general Alu Aljanov.

Com isso, conseguiu que Masjadov e Basayev, cada um com suas diferenças, voltassem a unir forças, o que intensificou as emboscadas, os ataques suicidas e os atentados, que, de há algum tempo para cá, não se limitam ao território Tchecheno, mas estão espalhadas por outras cidades russas.

O vergonhoso papel repressor da guarda encabeçada por Ramzán Kadyrov - integrada por quase 7 mil ex-rebeldes que obteram indulto em troca de "lealdade" - também contribuem para aumentar a separação entre os Tchechenos.

As consequências mais graves de tudo é o esse círculo vicioso de violência recíproca, que apenas alonga o confronto armado em uma guerra que já dura devastadores dez anos e teve em Beslán seu episódio mais recente, mas sem dúvida não o derradeiro.

Com falsos acordos políticos como os que o Kremlin trata de impôr e alusões a "terrorismo internacional" como sinónimo de separatismo, Moscovo não poderá evitar novas vítimas, para a infelicidade dos Russos e Tchechenos.


Publicado em http://www.planetaportoalegre.net/: 08/09/2004

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