segunda-feira, agosto 30, 2004

Paradoxo

O caso Clínica dos Arcos – Barco do Aborto, cria um interessante paradoxo que convém analisar.

Por um lado, toda a gente sabe que pode ir a Badajoz para interromper a gravidez (quer dizer, toda a gente que tiver guito para isso; mas essas ainda são mais discretas do que as que vão à clínica dos Arcos, excepto quando vão parar à morgue); a livre concorrência dita que os insistentes anunciosinhos amarelos apareçam todos os dias diante dos nossos olhos (com tanta insistência como os anúncios do Professor Caramba e do Detective Correia); mas é uma coisa aceite, tipo combinação de uma sociedade secreta qualquer: se chamarmos tratamento voluntário, nós fechamos os olhos, vocês fazem o vosso negócio, e ninguém se chateia. Pensando outra vez no livre mercado, a tal Clínica dos Arcos deve ter muita clientela Portuguesa, já que justifica pagarem anúncios diários nos principais jornais Portugueses. Aliás, o negócio em Espanha floresce, aparecendo hoje no Público a Clinica del Bosque, em Madrid, a oferecer o mesmo tipo de tratamento às grávidas Portuguesas.

Por outro lado, o mesmo tipo de coisa feito por um Barco do Aborto, que vem por aí adentro com toda a cobertura mediática, cria um celeuma impressionante em certos governantes, muito ciosos do cumprimento da lei. Porquê?
Pois, a única explicação possível é a natureza populista deste governo e de certos governantes: tudo o que tenha a ver com uma certa projecção mediática de uma ideia que contradiga a posição do governo, tem que ser combatido com unhas, dentes, proibições, marinhas, ministros do mar, e tudo o que estiver à mão. Essa é a fraqueza dos Populismos: vivem pela Media e morrem por ela... e por isso, o Paulinho já deve ter começado a estrebuchar, no seu submarino amarelo, a defender as águas Portuguesas dessas malandras que não tiveram a descrição de não fazer ondas....

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