Daí que a decisão sobre a barragem do Sabor não seja fácil. Do ponto de vista dos aproveitamentos hidroeléctricos ainda possíveis de desenvolver no país, trata-se de um dos melhores, senão o melhor e o que terá mais impacto na produção de electricidade - logo construí-lo é importante para cumprirmos o Protocolo de Quioto; do ponto de vista de um conservacionista, erguê-lo é um desastre.
Existe alternativa? Existe, mas é pior para a produção de electricidade: uma barragem no Alto Côa. Isto se nos esquecermos da barragem de Foz Côa, a tal que foi parada em 1995 e que era melhor do ponto de vista dos objectivos de Quioto (era mais eficiente para a produção de electricidade) e não afectava habitats naturais tão importantes. Em contrapartida "afogava" as gravuras rupestres e alguns dos melhores terrenos de produção de vinho do vale do Douro.
José Manuel Fernandes, no Editorial de hoje do Publico.
Obviamente que não é o respeito pelas metas de Quioto que está em causa como, pasmo, sugere o José Manuel Fernandes, Biólogo e filho de um ambientalista de renome em Portugal. Se as metas de Quioto fossem o objecto de preocupação o Governo deveria dar sinais mais eficazes de resposta ao problema. E a primeira medida seria a PROIBIÇÃO de construção de edifícios ineficientes do ponto de vista de utilização de energia. Esta simples regra acompanhada de medidas de incentivo ao investimento em obras de edifícios existentes por forma a melhorar a sua eficiência energética teria, provavelmente, um efeito mais significativo [para atingir os critérios de Quioto] do que a produção de energia prevista para a Barragem do sabor.
Obviamente que a redução do consumo não dá dinheiro, não constitui negócio, nem aumenta a carga fiscal cobrada aos consumidores. Logo não é Quioto mas sim a redução da dependência externa e o negócio que motiva a construção da barragem. Eu não sou daqueles que pensa que o negócio é pernicioso e que deve ser combatido. Mas acho que o negócio deve ser feito
tendo em conta o bem comum desta e das futuras gerações. Ora um negócio florescente na Alemanha é a cobertura dos telhados de edifícios urbanos com paineis solares para produção de energia. Estes paineis são construidos com financiamento dos moradores e a energia não é utilizada no predio mas vendida a preços acima dos valores do custo de consumo, para viabilizar o investimento das pessoas, durante algumas décadas (penso que 2 ou 3).
Passado este período o preço da energia vendida será equiparavel ao preço da energia de consumo. Se funciona na Alemanha, não se vê bem como não poderá funcionar em Portugal. Obviamente que carece de um investimento inicial, que requer acordos com os bancos para favorecer empréstimos vantajosos e requer a adopção de incentivos fiscais complementares. Mas
tendo em conta o investimento que está planeado no Sabor, não seria descabido defender um desvio da verba do Sabor para um plano desta natureza.
Miguel Araújo
Veja também a Plataforma Sabor Livre e se quiser, assine a petição.
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