Alberto Matos - Crónica semanal na Rádio Pax – Beja - 03/02/2004
No recente debate parlamentar sobre a administração pública, Durão Barroso não podia ser mais claro sobre os objectivos da reforma empreendida pelo seu governo: transportar para o Estado “as boas práticas do sector privado”. E, se bem o disse, melhor o tem feito. Sim, porque o discurso parlamentar já vem atrasado em relação às medidas postas em prática nos mais diversos sectores da governação. Com este governo o Estado não só imita o sector privado, como está a transformar aceleradamente a República numa espécie de Portugal, SA, dando foros de total actualidade ao excelente filme do mesmo nome, com estreia na passada semana.
Os exemplos são tantos que a dificuldade está na escolha. O Óscar das privatizações vai direitinho para o sector da saúde: Luís Filipe Pereira, melhor intérprete do filme “A Voz do Dono”, neste caso o grupo Mello que arrebatou o primeiro prémio com a super-produção “Amadora-Sintra”. E esta vaca ainda tem muito leite, a julgar pelo número de candidatos internacionais à construção e exploração de dezenas de hospitais. Na área da saúde, o prémio de consolação vai para os pobres gestores dos hospitais SA, com o congelamento salarial anunciado por Durão Barroso; o que vale é terem-se prevenido com ordenados entre 6527 e 8339 euros por mês, senão ficavam à beira da miséria; e, vá lá, o aumentozito de 100%, em Dezembro, para despesas pessoais e de representação: automóvel, cartão de crédito, telemóvel e outros bens e serviços de primeira necessidade…
Mas não se pense que o ministro da saúde é o único artista da governação. Nas Finanças mora um talento tantas vezes injustiçado como ‘a bruxa má’ mas que se tem revelado uma autêntica fada-madrinha, pelo menos para alguns: em 2002 fintou os 3% do défice com o negócio da Falagueira, com a venda de propriedade do Estado ao próprio Estado e usufruto para Pereira Coutinho; em 2003 cedeu as dívidas fiscais e à segurança social, por 15 % do seu valor, ao Citigroup - que é só um dos maiores bancos americanos e mundiais. E ainda dizem que esta gente não pensa em grande nem tem coração… Invejas, só porque a banca paga 16% de IRC e os capitais usam a lavandaria da zona franca da Madeira ou das Ilhas Cayman, enquanto os trabalhadores por contam de outrem e o pequeno comércio ‘arrotam’ com os impostos cobrados à cabeça e com o PEC.
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