sábado, fevereiro 07, 2004

Amar, direito humano IV

A reacção conservadora

O texto brasileiro provocou reações sufucientes para empurrar a votação até os últimos dias da 59ª sessão da Comissão da ONU, em abril de 2003 e, finalmente, inviabilizá-las. A Organização da Conferência Islâmica, que reúne governos da Arábia Saudita, Líbia, Malásia, Egito e Paquistão, fez chover documentos para provar que a real violência seria aprovar a resolução. Ela viria a ferir “directamente nossa religião e nossas leis”, protestavam os governos. “Não vamos permitir que nos imponham estes sistemas de valores”, bradavam.

Um desses textos chega a louvar o facto de que o assunto tenha sido sempre ignorado pela ONU. “As orientações sexuais não devem ser consideradas pela Comissão porque criam um conjunto de direitos que actualmente não estão previstos em nenhum documento da ONU”, alegava um texto da Conferência Islâmica.

Mas não parece que o islamismo, em si, seja o problema. Grupos de gays muçulmanos do Canadá, Grã Bretanha e Estados Unidos já se manifestaram, para avisar que a conferência islâmica não fala por eles. “A aplicação dos direitos de gays, lésbicas, bissexuais e travestis foi sacrificada no altar na ONU”, disse o fundador do primeiro grupo islâmico homossexual, Faisal Alam.

O fundamentalismo católico colocou seu bloco na rua. Segundo o Centro de Investigação das Minorias Sexuais de Genebra, o Vaticano passou a pressionar, por via telefónica, os países latino-americanos para votarem contra a proposta. Teria mirado especialmente a Costa Rica e o México, que estavam prestes a aprovar a resolução.

Sem força para retirar a resolução da pauta da ONU – proposta formal feita pelo Paquistão e derrotada – a estratégia dos conservadores foi impedir a votação, literalmente. Mas o adiamento por um ano, proposto por 22 países para salvar a resolução, não foi considerado uma derrota pelos movimentos e governos que a appiam. Era o tempo que faltava para uma campanha mundial a favor do texto.

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