É fácil de compreender que com patrões com o nível de escolaridade baixo referido anteriormente e com aumento de qualificações obtidos desta forma é difícil ou mesmo quase impossível recuperar o atraso em que o País se encontra. E isto porque a esmagadora maioria deles não possui as competências necessárias quer para enfrentar com êxito os desafios de uma concorrência cada vez mais global quer para introduzir novos produtos, novos processos tecnológicos, novas formas de organização do trabalho e novas formas de distribuição (marca., marketing, canais de distribuição, etc.) que aquela concorrência exige. Num seminário organizado pela AIP em Novembro de 2002, uma das conclusões de uma das secções foi precisamente essa: que o actual nível de qualificação dos empresários portugueses constitui um importante à introdução considerada no sentido amplo nas empresas..
Dados constantes também dos referidos estudos sobre a taxa de entrada liquida de empresas confirmam também a incapacidade crescente revelada pelos patrões portugueses para enfrentar os desafios do mundo actual.
Assim, a taxa de entrada liquida de empresas, que se obtém subtraindo à taxa de entrada bruta (nº de unidade criadas em cada ano a dividir pelo nº de empresas existentes) a taxa de saída bruta (nº de empresas encerradas em cada ano a dividir pelo nº de empresas existentes) teve a seguinte evolução nos últimos anos: 1990: 7,1%; 1991:6,5%; 1992: 4,7%; 1996: 4,6%; 1997:4,5%; 1998: 3,3%; 1999: 2,1%. (Estudo sobre a Demografia de Estabelecimentos, pág. 43); portanto, uma tendência clara de diminuição.
Esta tendência decrescente resulta da verificação do seguinte: o aumento de empresas encerradas em cada ano está a crescer a uma taxa muito superior ao aumento de empresas novas criadas em cada ano. De acordo com o mesmo estudo, em 1999, o número de empresas criadas foi superior ao número de empresas criadas em 1990 em cerca de 75%, enquanto o número de empresas encerradas em 1999 foi superior ao número de empresas encerradas em 1990 em 192%, ou seja, o crescimento verificado no número de empresas encerradas foi percentualmente superior em mais de duas vezes ao aumento observado no crescimento percentual de novas empresas criadas. Fica assim claro, através da linguagem fria dos números, a incapacidade crescente dos patrões portugueses para manterem em funcionamento as empresas existentes ou criadas.
Estes dados também provam a falta der veracidade de umas das conclusões do estudo elaborado pela empresa americana Mckinsey, que considerou que o chamado “legado industrial” ou “herança industrial”, ou seja, a “escassez de capacidade de gestão/técnicas”, não contribuía em nada para a baixa produtividade portuguesa (pág. 22).
Efectivamente, contrariamente ao que consta das conclusões da empresa americana Mckinsey, conclusões essas agora transformadas em cartilha neoliberal do actual governo, os dados constantes dos estudos elaborados pelo Centro de Investigação do Instituto Superior de Economia e de Gestão provam claramente, a nosso ver, que a insuficiente escolaridade e a baixa qualificação profissional da esmagadora maioria dos patrões portugueses, assim como a arrogância e a auto-suficiência que os caracterizam, constituem obstáculos importantes à recuperação do atraso que o País enfrenta assim como à substituição do actual modelo de desenvolvimento baseado em investimento de baixa qualidade e em trabalho pouco qualificado e mal pago, por um modelo assente na inovação no sentido amplo, no investimento de qualidade e em trabalho qualificado e bem pago.
Uma medida que podia e devia ser tomada para alterar a situação grave que existe neste campo, medida essa que temos vindo a defender, seria a de se exigir a quem quisesse ser empresário um certificado que garantisse que possuía as competências mínimas necessárias para tal função e, no caso de as não possuir, que fosse obrigado a obtê-las antes através de formação adequada.
Loures, 28 de Dezembro de 2003
Eugénio Rosa (Economista)
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