sábado, janeiro 10, 2004

A FALTA DE QUALIFICAÇÃO DOS EMPRESÁRIOS IV

AS QUALIFICAÇÕES EFECTIVAS DOS TRABALHADORES
NÃO SÃO RECONHECIDAS PELAS EMPRESAS
Num outro estudo denominado “Qualificações dos Trabalhadores Portugueses” também realizado com base na análise dos quadros de pessoal são apresentados dois índices que permitem obter uma ideia clara sobre a evolução das qualificações profissionais em Portugal na última década do séc. XX.
Esses índices construídos pelo Centro de Investigações Regionais e Urbanas do Instituto Superior de Economia e Gestão são o “Índice de Qualificação “ e o “Índice Compósito de Qualificação”.
O primeiro - Índice de Qualificação - (relação entre população activa qualificada e não qualificada) traduz a evolução das qualificações profissionais que têm expressão a nível dos quadros de pessoal das empresas, ou seja, as qualificações que são reconhecidas pelas empresas e que têm reflexo a nível das remunerações recebidas pelos trabalhadores.
O segundo índice, o chamado Índice Compósito de Qualificação, incorpora a escolaridade do trabalhador (anos de escolaridade) e a experiência profissional do trabalhador (experiência potencial do mercado de trabalho que é condicionada pelo número de anos de escolaridade), ou seja, é um índice que traduz com maior precisão a evolução da qualificação efectiva e reais dos trabalhadores.
O quadro II que se apresenta seguidamente mostra a diferença entre as qualificações profissionais reconhecidas pelas empresas e as qualificações efectivas dos trabalhadores.
QUADRO II - Aumento do “Índice de Qualificação” e do “Índice Compósito der Qualificação “ em Portugal entre 1991 e 2000
INDICE Aumento verificado entre 1991 e 2000
Índice de Qualificação (Qualificações reconhecidas pelas empresas com tradução nos quadros de pessoal e nas remunerações recebidas pelos trabalhadores) + 13,7%
Índice Compósito de Qualificação (Qualificações efectivas dos trabalhadores, que têm em conta a sua escolaridade e experiência profissional, mas que não são reconhecidas pelas empresas e que, por isso, não têm tradução nas qualificações atribuídas pelas empresas nem nas remunerações que pagam aos trabalhadores) + 37%
FONTE: Qualificações dos Trabalhadores Portugueses - pág. 7
Os dados do quadro II mostram que as qualificações profissionais efectivas, traduzidas pelo Índice Compósito de Qualificação, aumentaram em Portugal, no período compreendido entre 1991 e 2000, muito mais do que as qualificações reconhecidas e remuneradas pelas empresas que têm tradução no Índice de Qualificação (as qualificações efectivas cresceram 2,7 vezes mais do que as qualificações reconhecidas).
Estes dados de um estudo realizado por um centro de investigação de uma entidade universitária credível e independente - o Instituto Superior de Economia e Gestão - feito por solicitação do Ministério da Segurança Social e do Trabalho, confirmam aquilo que os sindicatos têm sempre afirmando ( uma parte significativa das qualificações dos trabalhadores não são nem reconhecidas nem remuneradas pelas empresas), por um lado, e, por outro lado, mostram a necessidade de reformular todo o sistema de certificação profissional como temos vindo a defender, de forma que as competências obtidas pelos trabalhadores através da experiência e/ou por meio da formação profissional sejam certificadas, e essa certificação tenha um reflexo efectivo na progressão na carreira profissional do trabalhador. Isso seria também uma forma de tornar a formação profissional motivadora para o trabalhador porque o esforço dispendido na formação seria assim reconhecido e recompensado, o que não acontece actualmente.
Loures, 28 de Dezembro de 2003
Eugénio Rosa (Economista)

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