sexta-feira, janeiro 23, 2004

EPC e o FSM

Eduardo Prado Coelho, no Publico de hoje

EPC - Quando se simpatiza [com o FSM], diz-se: aqui temos, na sua confusão, na sua balbúrdia, nas suas contradições, na sua vocação folclorizante, nas suas ortodoxias anacrónicas, a dor e a miséria do mundo. E exprimem-se com uma vitalidade e uma energia contagiantes. E podemos odiar, claro, se pensarmos que se trata de um conjunto de arruaceiros que pretendem pôr em causa a ordem pública. (...) Alguns vão mesmo mais longe: todos eles são terroristas em potência. E a esquerda, que sorri de Bush e do seu peru plastificado, é no fundo cúmplice dos anarquistas, cúmplice dos arruaceiros e, em última instância, cúmplice dos terroristas. Mesmo que diga que não, mas toda a gente sabe que só o diz para disfarçar...

EPC introduz o tema do altermundialismo, explicando ao comum dos mortais os dois lados da barricada: educativo e claro. A tirada do Perú é interessante: quem se riu do Perú de plástico, é de esquerda. É destas explicações que o povo precisa para clarificar a dicotomia esquerda-direita.

EPC - (...) [O FSM] mudou de escala: deixou-se absorver pelo local, perdeu um pouco das grandes linhas de uma política mundializada. Que tenha havido esta evolução é o preço do sucesso, mas é também um sério óbice para um trabalho sério. Segundo os relatos, a confusão e a vozearia em Bombaim quase que impediam que uns ouvissem os outros.

Aqui, EPC demonstra a sua preocupação pelo rumo que o FSM tomou; sem saber (julgo eu), EPC assume uma posição semelhante à do Professor BSS, que defende mudanças no FSM de forma a que seja mais deliberativo. É que a confusão e a vozearia são também o FSM, e em nada prejudica o objectivo do FSM: criar um espaço de encontro e de partilha entre os movimentos sociais. Essa confusão faz parte desta nova experiência. Pelo contrário, debater "grandes linhas de uma política mundializada" nunca foi o objectivo do FSM. Esse é o FSM que desejam uns quantos, muitas vezes (curiosamente) próximos de forças partidárias.

EPC - Nestas circunstâncias, o Fórum Social Mundial vai ser obrigado a repensar as suas estruturas de forma a articular estes lugares de reivindicação nua e espontânea com instâncias onde se tornem visíveis os problemas essenciais e se elaboram soluções construtivas verdadeiramente capazes de criarem alternativas.

Aqui até parece que EPC teve uma reunião secreta com BSS. As "soluções construtivas e as alternativas" já fazem parte da agenda dos movimentos sociais que participam no FSM. O FSM não pode assumir uma estrutura hierárquica e do alto desse pedestal emanar umas quantas directivas para os movimentos sociais. Fazer isso será matar o FSM. Como diz Francisco Withaker, um dos mentores do FSM, no FSM "não há autoridade. O Fórum tem um comité de organizadores que não assumem os trabalhos de dirigir o Fórum se não prestarem o serviço de criar este espaço, construir o espaço. O Fórum é um processo que mais do que uma sucessão de eventos, estabelece uma rede permanente de intercomunicação e contacto."

EPC - Em Bombaim, o comité de organização incluía cerca de 135 organizações. No Brasil, limitava-se a oito. E isto mostra o salto qualitativo a que se assistiu, mas ao mesmo tempo o modo como as periferias invadiram o centro e desequilibraram o empreendimento.

Aqui não percebo de todo como é que e quem desequilibrou o que quer que seja....

EPC - A esquerda tem de manter a causa da liberdade (perante a liberdade estritamente económica e muitas vezes antiliberal do neoliberalismo), mas não pode abandonar os princípios de igualdade, que são a sua última e mais profunda razão de ser.

Resumindo e concluindo, o EPC até simpatiza com o FSM mais ainda não percebeu o que é que é o FSM; a alma do FSM são as actividades auto-organizadas, que cada associação ou mesmo cada pessoa propõe. A linha política do FSM caracteriza-se por não existir. Claro que o FSM é político, já que é um caldo de cultura de activistas e alargamento de redes e contactos. Mas é sobretudo e essencialmente um espaço. E definitivamente, difere muito do que os partidos entendem por política...

Sem comentários: