Crónica de Alberto Matos na Radiopax, Beja, 20/1/2004
A imposição de aumento zero na função pública para os salários acima de 1000 euros significa, na prática, uma perda directa de poder de compra superior a 3%, já que a inflação em 2003 atingiu os 3,3% segundo o INE. Estes 3% assim vêm somar-se a perdas consecutivas dos salários nos últimos dois anos que já ultrapassam os 5% na função pública e não só, já que o Estado serve de (mau) exemplo para todo o patronato. O mais revoltante, porém, é o miserável populismo - com a marca de Bagão Félix - que procura mascarar este autêntico assalto aos rendimentos do trabalho com umas tintas de pseudo justiça social e de combate aos privilégios desses ricaços – vejam lá! – que ganham 200 contos… Mais ou menos o preço de um jantar em Cascais, de umas voltas de Jaguar e entre cinco a dez vezes menos do que ganha cada um da dúzia de assessores do ministro Paulo Portas.
Na função pública trata-se, aliás, de populismo barato, num sector onde há salários inferiores ao salário mínimo nacional. Imaginemos um salário de 500 euros (100 contos), bem acima da maioria dos trabalhadores das autarquias: 2% representam um aumento de 10 euros mensais, o que não dá sequer uma bica por dia…Afinal, não era preciso tanto alarido para tão fracos proventos, a que teremos ainda que descontar a inflação – é que a meia-bica do aumento já foi gasta em 2003…
A par deste autêntico roubo salarial, o governo aumentou para o dobro (ou seja 100%) o tecto de despesas pessoais e de representação (que incluem automóvel, telemóvel, cartão de crédito, etc) dos gestores hospitalares. Há que dar os parabéns a estes concidadãos que prestam tão notável serviço à pátria e cujos ordenados tinham sido fixados, há um ano, entre 6 527 e os 8 339 euros por mês - em tempo de ‘vacas magras’, não está mau… Ou seja: a crise, quando nasce, não é para todos! E não estamos a falar de gestores de empresas privadas (pelo menos por enquanto), mas sim de administradores de hospitais públicos cujo único accionista é o Estado.
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