sexta-feira, janeiro 30, 2004

“Deixem-me rir…” II

Por Alberto Matos, Radio pax

Em todo o caso, estamos a falar de poucas dezenas de milhar. Se não se tratasse de seres humanos e a situação não fosse muito séria, justificar-se-ia o cinismo patronal do “deixem-me rir”. Alguns comentadores amigos do governo somaram-lhe ainda os 31 mil brasileiros inscritos para no processo de legalização. Só que este acordo revela-se não apenas discriminatório para as outras comunidades mas uma autêntica fraude para os brasileiros, a quem foi exigido deslocarem-se aos consulados de Sevilha ou Vigo para obterem vistos de trabalho; muitos já tiveram de ir a Madrid e a maioria volta para trás, à procura de mais um papel… que falta sempre! Em seis meses, apenas 64 (!) conseguiram visto, o que começa a motivar naturais protestos da embaixador, da Casa do Brasil e do próprio governo Lula que assinou este acordo de boa fé.

Toda esta trapalhada resulta duma paródia de afirmação de autoridade do governo e da sua recusa em encarar a realidade dos mais de 100 mil clandestinos a trabalhar em Portugal - o Sindicato do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), entidade credível nesta área, tem vindo a falar em cerca de 200 mil. Claro que estes números estão muito longe das quotas do governo, elaboradas com base em inquéritos às entidades patronais; mas é óbvio que nenhum dos muitos patrões que explora mão de obra clandestina responde a estes inquéritos. Façamos justiça ao governo: eles sabem que isto é verdade, Bagão Félix não é cego, talvez pensem é que nós não sabemos que eles sabem…

Quando entramos na casa das centenas de milhar de clandestinos, nenhuma política realista e respeitadora dos direitos humanos pode deixar de encarar a abertura de um processo extraordinário de legalização dos imigrantes de todas as nacionalidades que já estão hoje a trabalhar em Portugal. É com este objectivo que se realiza no próximo sábado, 31 de Janeiro, a Jornada Europeia pela Legalização de Todos os Imigrantes – também em Lisboa, às 15 horas, no Largo Camões. Afinal, a velha Europa precisa dos imigrantes como de pão para a boca!

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