terça-feira, dezembro 23, 2003

Recados de (e ao) Pai Natal

Atendendo à quadra natalícia, esta crónica esteve para não ir para ao ar, para descanso meu e dos ouvintes. Mas dois factos, ocorridos na semana passada, mudaram o curso desta história. Primeiro foi a entrevista exclusiva à Rádio Pax do Pai Natal, o verdadeiro, o puro, da Lapónia, que esteve uma hora em “Prisão Preventiva”. Como o homem se meteu comigo, fiquei com vontade de o ver, não sei se para agradecer a prenda, se para pedir explicações - aquela do casal de ucranianos parece simpática mas pode trazer água no bico: nestas coisas convém especificar a idade e eu, cá por mim, ainda permaneço fiel à velha máxima de que “três é uma multidão”…

E não é que encontrei mesmo o Pai Natal a deambular pelas ruas de Beja, a horas impróprias, na quinta-feira passada? Desculpou-se do seu estado lastimável dizendo que andara às compras na zona Vidigueira e, devido ao excesso de velocidade das renas, estivera três horas escondido dentro da talha numa adega de Vila de Frades. Cá para mim ele esteve foi a treinar para a ‘night’ de quinta-feira, esquecendo-se que os estudantes tinham ido de férias de… Natal. Pois é, meu velho, a idade não perdoa e, devido ás dietas de alumínio, o Alzheimer já chegou à Lapónia. Como não gosto de aproveitar as fraquezas de ninguém e ele jurou pela saúde das renas que a piada dos ucranianos era “sem intenção”, fizemos as pazes e fomos beber ‘o último’ copo.

Então é que ele passou das marcas, confessando que não estava em Beja só pelo simpático convite da Rádio Pax, nem tampouco para ver as iluminações de Natal. “Tás bêbedo ou foste dar uma volta às aldeias ?” - perguntei eu. E foi aí que surgiu a confissão: o Pai Natal veio a Beja em campanha política. “Pronto, já percebi tudo…” Como detesto a concorrência desleal, deixei-o da mão, à porta do melhor hotel da cidade, com um bilhete a dizer: “ressaca”. E pensei cá com os meus botões: “anda um gajo com 33 anos de militância – a idade de Cristo – é só porrada e mal viver…”. E chega aqui este magano, que esteve a ano inteiro a dormir no seu ‘igloo’, leva o pessoal todo com meia dúzia de promessas e prendas de hipermercado, que são só embrulho e rótulo. Com papas e bolos…. Alguém duvida que se houvesse um referendo a 25 de Dezembro, nem que fosse sobre a adesão de Portugal à Lapónia, o Pai Natal ganhava com maioria absoluta?

Pois é, meus amigos, desculpem lá mas hoje têm de me ouvir… Já é tempo de aprender com estas modernices que vêm do estrangeiro, de modo que resolvi enviar também algumas prendas via rádio que, ainda por cima, saem de borla. E chega de brincadeira, que o assunto é sério.

A primeira prenda para 2004 vai para a mulheres portuguesas e de todo o mundo: que deixem de estar sujeitas à devassa da suas vidas e à humilhação no banco dos réus, por não terem alternativa ao aborto clandestino e devido aos preconceitos de quem quer impor as suas concepções morais ou religiosas pela força da lei de César; e aos que invocam em vão o nome de Cristo, fica o desafio: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra” às Marias Madalenas julgadas em Aveiro.

A segunda prenda vai para os 20% de portugueses em situação de pobreza e exclusão social – mais um lugar no pódio europeu, onde só somos ultrapassados pela Irlanda, campeão das desigualdades e tão apontada como exemplo por PSD e CDS; esta prenda é extensiva aos desempregados, vítimas de falências e imigrantes que vêem recusados os direitos de cidadania, entregues às máfias e patrões sem escrúpulos. A todos desejo que se vejam livres o mais rapidamente possível de Durão, Portas, Bagão Félix e Manuela Ferreira Leite…

Aos trabalhadores da Somincor desejo um bom ano, sem privatização da mina e com aumentos salariais dignos. E, como não se fiam na virgem, fizeram muito bem em dar uma ajuda a Santa Bárbara com a greve já marcada para o próximo dia 30 de Dezembro, data do terceiro aniversário da greve vitoriosa que acabou com a laboração contínua.

Ao povo iraquiano desejo um ano de luta pela reconquista da paz, da soberania e do controle das riquezas naturais, com o fim da ocupação imperial e eleições verdadeiramente livres. Aos ‘nossos rapazes’ da GNR no Iraque, desejo um bom e rápido regresso a casa, enquanto é tempo; não vão em cantigas dos 500 contos de salário-extra e ofereçam um borrego de plástico a Durão, Portas & Cia. – se querem voluntários, vão eles e levem o resto do governo. Por último, a Saddam Hussein, um conselho para 2004: deixa de olhar para a fotografia de George Bush que te puseram na cela, senão ficas igual a ele e, pior do que isso, podes dar em chalado. É bom que tenhas a memória bem fresca sobre as ligações à CIA de Allen Dulles, desde 1961, e das visitas à embaixada dos EUA no Cairo.

Para si, bom Natal e melhor 2004, amigo ouvinte!

Alberto Matos - Crónica semanal na Rádio Pax – Beja - 23/12/2003

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