sexta-feira, dezembro 12, 2003

Partido Europeu de esquerda

Segundo noticiou o Expresso de sábado passado, o BE irá participar na formação de um novo partido Europeu que congregará vários partidos de esquerda de toda a Europa, como a Izquierda Unida, o Partido Comunista Francês ou os renovadores comunistas italianos. Até aqui, nada de mais normal.

O que me preocupa é um pequeno parágrafo no fim do artigo:

Os partidos Europeus (pelo menos para já) não dispõem de capacidade eleitoral, mas têm grande vantagem de dar expressão política e institucional Europeia às dinâmicas sociais que estão a emergir no âmbito da luta contra a globalização capitalista.
(..) o novo partido de esquerda pretende potenciar à escala Europeia as posições nacionais de forças que se têm empenhado no movimento dos fóruns sociais, na luta antiglobalização, e defendem uma Europa mais preocupada com os desfavorecidos.


Preocupa-me, já que nas entrelinhas se pode ler que este novo partido Europeu é o braço político dos Fóruns sociais. E isso vai completamente contra o espírito dos Fóruns sociais. É que a distância entre a organização subjacente aos Fóruns sociais, que é sobretudo um espaço de expressão e discussão comum, sem hierarquias, sem programa político, sem dirigismos, é completamente incompatível com as estruturas partidárias. Pela parte que me toca, desejo as maiores felicidades para o novo partido Europeu, mas por favor, não misturem alhos com bugalhos.

Mais: por definição, os partidos não podem participar nos Fóruns sociais, pelo que dizer forças que se têm empenhado no movimento dos fóruns sociais é completamente idiota. Se continuarem com este discurso, mais uma vez se perceberá que o empenho dos partidos nos fóruns não foi generoso nem gratuito, mas apenas com a intenção de agora capitalizar esse investimento. Não terá sido também por coincidência que a segunda edição do FSP apenas se realize em 2005, porque este ano, as forças políticas estão demasiado empenhadas com as eleições Europeias....

Já sabia que iria haver uma tentativa de aproveitamento político do capital humano que representam os Fóruns sociais. Mas não tão descaradamente! Os caminhos dos movimentos sociais e dos partidos políticos devem seguir paralelos, eventualmente enriquecerem-se mutuamente com uma franca troca de ideias e de propostas, mas nunca misturando as coisas no mesmo saco. Ao fazer isso, condenarão o movimento altermundialista ao fracasso.

Já agora, tenham a coragem de defender em sede Europeia o fim do proteccionismo agrícola Europeu, uma das principais reivindicações do movimento altermundialista.

Já agora, gostava de saber a opinião do Barnabé e do BdE sobre este assunto...

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