Por FRANÇOIS HOUTART
Os Fóruns Sociais estão colocados perante uma série de questões internas e externas. No plano interno, reúnem sindicatos operários com orientações diferentes e muitos outros movimentos sociais, sendo cada um deles portador de culturas de luta específicas. Neles convergem também organizações não governamentais (ONG), muitas das quais dotadas de significativos meios financeiros e de pessoal, correndo-se o risco de que dominem os debates. Não estão ausentes das escolhas das intervenções e das conferências estratégias individuais ou institucionais.
Além disso, e é este o segundo elemento, os meios de comunicação social tendem a “folclorizar” os acontecimentos e realçam sobretudo determinados aspectos insólitos ou, durante as manifestações contra os grandes poderes de decisão, os actos de violência cometidos por uma minoria ou decorrentes de provocações policiais. Ouve-se então dizer que esta violência esconde um outro debate entre “moderados”, pragmaticamente desejosos de consolidar o movimento e para ele ganhar o maior número de participantes de modo a dotá-lo de uma “massa crítica”, e, por outro lado, aqueles que, exasperados com a capacidade de “absorção” da sua contestação revelada por um sistema que, ao mesmo tempo, prossegue a sua obra destruidora, se mostram partidários de enveredar por uma prova de força.
Não deixa de ser verdade que, para lá das contradições, está a ser dado um grande passo: o do recriar da utopia, isto é, está a ser perspectivado um projecto que, mesmo que não exista hoje, pode realizar-se amanhã. Que sociedade queremos? Que educação, que tipo de saúde, que transportes, que comunicação, que agricultura? O horizonte do mercado total, com o seu cortejo de consequências sociais, deixou de ser o único fim à vista Esta esperança deverá traduzir-se em objectivos alternativos a curto e médio prazo, abrangendo todos os domínios – económico, político, social, cultural –, tanto numa dimensão macro como micro. A este nível, a simbiose entre movimentos sociais e intelectuais empenhados torna-se evidentemente primordial.
Além disso, a realização do próximo Fórum Social Europeu em Mumbai internacionalizará o movimento e levá-lo-á a abandonar a predominância latino-americana e europeia das primeiras sessões. Por fim, permanece a questão da tradução política à escala mundial, continental ou local das alternativas, não por intermédio de um partido único detentor de toda a verdade, mas por via da convergência de actores políticos, sob formas a inventar, sejam elas permanentes ou conjunturais.
Não sendo um Woodstock social nem uma V Internacional, os Fóruns Sociais transformaram-se, de facto, nas assembleias multiplicadoras de uma sociedade em movimento.
Resumido do artigo Forças e fraquezas do movimento por uma outra globalização do Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Novembro de 2003.
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