terça-feira, setembro 30, 2003

O genocídio silencioso

Entrevista com Jean Ziegler (relator especial da ONU sobre Direito à Alimentação)
Por Valéria Nader

Existiria hoje no planeta quase 1 bilhão de pessoas subalimentadas, um sexto da humanidade, enquanto a agricultura poderia alimentar, agora, cerca de 12 bilhões de habitantes. Ziegler afirma ainda que, se juntarmos alguns males do subdesenvolvimento, tais como fome, epidemia, guerras induzidas pelas multinacionais, verificaremos que, no ano passado, houve um total de mais de 58 milhões de vítimas, segundo os critérios da ONU, 2 milhões a mais que o total de vítimas da II Guerra Mundial, a maior guerra da humanidade, que durou seis anos. O professor de sociologia não vê saídas à "ditadura mundial da desigualdade" e ao genocídio silencioso no planeta sem a realização de reforma agrária, o rompimento com o sistema financeiro mundial e a quebra da ideologia alienante do neoliberalismo, destinada a romper a resistência.

"há um genocídio silencioso num planeta que pode alimentar o dobro de sua população e uma reprodução biológica desse genocídio, pois há centenas de milhões de crianças que morrem na gestação, vítimas do mal desenvolvimento do feto ou do leite materno pobre em nutrientes, ou mesmo a falta de leite. Uma pessoa que morre de fome ou que tem uma vida sob a invalidez, com sofrimento permanente e crônico, é vítima de um assassinato e não de uma fatalidade. Há um culpado. É um massacre como o de Eldorado de Carajás. Os donos de multinacionais devem ser responsabilizados pelo crime. É possível identificar individualmente os assassinos."

"A grande predominância do modelo e pensamento neoliberais, de que são arautos a TV Globo, Banco Mundial, o império americano, que vê esse modelo como lei natural, e a mão invisível do mercado como única maneira de animar a economia, distribuir a riqueza do mundo etc., é uma mentira de classe. É um clássico argumento. É preciso quebrar as imagens alienantes, as falsidades, as mentiras que são fábricas de ideologia para desarmar a resistência. A primeira luta de classe, ao meu ver, é essa luta teórica. E, depois, partir para o combate à situação material."

Ziegler realça ainda a importância do Fórun Social Mundial, como espaço congregador de resistências múltiplas:

"Se houver muitas dessas frentes [como o MST, frentes de resistência], as forças de repressão, mesmo do império americano, perdem intensidade, e um novo mundo pode surgir rapidamente."

Entrevista completa aqui

PS - Agradeço ao Ricardo a sugestão!!

Sem comentários: