quarta-feira, setembro 17, 2003

Cancún - Subcomandante Marcos: A Globalização, máquina que come sangue

Por EZLN (Tradução Diego) 10/09/2003 às 17:27
Palavras do Subcomandante Insurgente Marcos para a mobilização contra o neoliberalismo em Cancún, México.
Exército Zapatista de Libertação Nacional

México, Setembro de 2003




Irmãos e Irmãs do México e do mundo que se encontram em Cancún nesta mobilização contra o neoliberalismo:

Recebam as saudações dos homens, mulheres, crianças e anciões do Exército Zapatista de Libertação Nacional.
É uma honra para nós que, em meio às suas reuniões, acordos e mobilizações, tenham um espaço para escutar nossa palavra.
O movimento mundial contra a globalização da morte e a destruição tem hoje em Cancún uma de suas expressões mais brilhantes.
Perto de onde se realiza esta mobilização, um punhado de servos do dinheiro negociam as formas e os tempos para continuar com o jocoso crime da globalização.
A diferença entre eles e todos nós, não está nas bolsas de uns e outros. Ainda que as bolsas deles transbordam moedas e as nossas de esperanças.
Não, a diferença não está na carteira, senão no coração.
Vocês e nós temos no coração um amanhã por vir, quer dizer, por construir.
Eles só têm um passado que querem repetir eternamente.
Nós temos a vida, eles a morte.
Nós lutamos pela humanidade, eles pelo neoliberalismo.
Nós queremos a liberdade, eles querem fazer de nós escravos.

Não é a primeira vez, nem será a última, que os que se pensam donos do planeta têm que se esconderem detrás de seus altos muros e de suas patéticas forças de segurança, para fazerem seus planos.
Como numa guerra, o alto mando deste Exército Transnacional que se propõe conquistar o mundo da única forma que é possível conquistá-lo, ou seja, destruindo-o, se reúne sobre um sistema de segurança tão grande quanto o seu medo.
Porque se antes os poderosos se reuniam de costas para o mundo para maquinar suas futuras guerras e expropriações, hoje têm que fazê-lo, não só frente a todos, senão agora contra milhares em Cancún e de milhões em toda a Terra.
Porque disso se trata tudo isso.

De uma guerra.
De uma guerra contra a humanidade.
A globalização dos que estão em cima não é mais que uma máquina mundial que se alimenta com sangue e defeca dólares.
E na complicada balança que traduz mortes em dinheiro, há um grupo de seres humanos que cota em muito baixo preço a carnificina global.
Somos os indígenas, os jovens, as mulheres, as crianças, os anciões, os homossexuais, as lésbicas, os migrantes, os diferentes.
Ou seja, a imensa maioria da humanidade.

A guerra Mundial do poderoso quer converter o planeta Terra num clube exclusivo onde está reservado o direito de admissão.
A zona luxuosa e exclusiva em que se reúnem agora representa seu projecto de globo terrestre: um complexo de hotéis, restaurantes e zonas recreativas de luxo, resguardado por exércitos e policias.
Para o poderoso todos nós temos a opção de estar dentro desta zona exclusiva somente como subservientes, ou ficar fora do mundo, ou seja, da vida.
Mas não temos porque obedecer e eleger entre viver como subservientes ou morrer.
Poder construir um caminho novo.
Onde viver seja viver com dignidade.
Onde viver seja viver com liberdade.
Construir esta alternativa é possível e é necessário.
Essa alternativa é necessária porque dela depende o futuro da humanidade.
Esse futuro está em jogo em todos os cantos de cada um dos cinco continentes.
E essa alternativa é possível porque há em todo o mundo os que sabem bem que "Liberdade" é um verbo que, ou se conjuga no plural, ou não deixa de ser uma pobre limitação para o cinismo.

Irmãos e Irmãs:

No mundo inteiro há em disputa dois projectos de globalização.
O que está acima, que globaliza o conformismo, o cinismo, a estupidez, a guerra, a destruição, a morte, o esquecimento.
E o que está abaixo que globaliza a rebeldia, a esperança, a criatividade, a inteligência, a imaginação, a vida, a memória, a construção de um mundo onde caibam todos os mundos. Um mundo com...

Democracia!

Liberdade!

Justiça!

Desde as Montanhas do Sudeste Mexicano, pelo Comité Clandestino Revolucionário Indígena - Comando Geral do Exército Zapatista de Libertação Nacional.

Subcomandante Insurgente Marcos
México, Continente Americano, Planeta Terra

Setembro de 2003

(artigo vindo daqui)

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