segunda-feira, agosto 25, 2003

American Cup??

Segundo depreendo de uma notícia que li no jornal, o governo prepara-se alegremente para fazer mais um festim semelhante à Expo 98 e ao Euro 2004: a American Cup. Os ingedientes estão juntos, a propaganda também (não vai custar nem um euro ao erário público, tal como a Expo, e também vai constituir a forma de renovação de uma parte da cidade de Lisboa, neste caso a zona ribeirinha de Pedrouços), e o modo de financiamento para que nada custe ao erário público -- como de costume, o imobiliário -- também já está preparado. Como é usual, envolvida estará a construção de (mais) uma marina, e não tenho dúvidas de que, quando chegar a hora, se usará o "interesse público" e a pressa para pôr de parte todos os entraves burocráticos, em particular os concursos públicos e os Estudos de Impacte Ambiental. Enfim, a remake de um filme que já se vem tornando habitual neste país de incêndios. Mais um bom exemplo de como o poder central usa o imobiliário para fazer dinheiro fugindo às regras, à boa maneira da pior Câmara Municipal.

Em matéria de marinas, uma entendida de vela me disse uma vez ser óbvio que o local ideal para a construção de uma marina na zona de Lisboa é em frente à Cruz Quebrada, uma vez que a costa forma aí uma reentrância na qual o mar é naturalmente mais manso. Mas para a American Cup querem construir uma marina em Pedrouços, não na Cruz Quebrada, e porquê? Está bem de ver: porque em Pedrouços o Estado detém terras que pode, tal como fez no caso da Expo, "doar" a favor de um gigantesco projeto imobiliário, que dessa forma financia o evento (uma vez que as terras são doadas gratuitamente aos promotores imobiliários, os quais no entanto venderão depois as casas ao preço comum, ou seja, ao preço que inclui o valor da terra). Ou seja, o Estado em vez de pagar o evento em cash, paga-o em terra e em direitos de construção. Na Cruz Quebrada, a única hipótese que o Estado teria para ceder terra seria destruir a mata do Estado Nacional, o que evidentemente daria grande brado e portanto não pode ser feito. Por isso, cede-se terra em Pedrouços. Assim se cria dinheiro a partir do nada neste país.

Luís Lavoura

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