O
negócio do Governo e da Mota-Engil é evidentemente um mau negócio e
está longe de prejudicar apenas os estivadores, ainda que estes sejam os
principais lesados na matéria. O negócio do Governo e da Mota-Engil é
também mau para quem exporta, para quem importa, para quem consome e
para quem, no negócio da estiva – mesmo no dócil papel de intermediário –
não troque gestão danosa por um qualquer quinhão em negócios
sicilianos. É um mau negócio para todos e é sobretudo um mau negócio
para a economia do país, entidade que os spin doctors do establishment repetem ad nauseam para virar a opinião pública contra a luta os estivadores.
Depois
de despedirem perto de 50 estivadores, os patrões e o governo já
deixaram claro que mais não querem do que a velha receita de trocar
trabalhadores especializados por precários. Se o modelo é muito
questionável em quase todos os sectores do trabalho, é peregrina a ideia
de a aplicar a profissões cujas particularidades do serviço leva anos
de treino para que um profissional esteja capaz de realizar o seu
trabalho. Será que algum administrador da Mota-Engil, o secretário de
Estado dos Transportes Sérgio Monteiro ou o pirata do Bobone se meteriam
debaixo de um contentor movimentado por quem não tem experiência? E
será que os exportadores querem meter as suas cargas em contentores que
andam aos trambolhões quando importam ou exportam os seus produtos? E os
consumidores, o que acharão sobre o assunto na hora de comprar quase
tudo?
Dos
problemas de eficácia às questões de segurança, contratar trabalhadores
precários, sem a devida formação, para os meter a fazer o trabalho que
deve ser feito por trabalhadores especializados, entretanto despedidos
de forma fraudulenta, é responsável por quebras substancialmente mais
acentuadas do que aquela que os patrões pretendem imputar à luta dos estivadores.
Para o concluir não é preciso nenhum curso em fluxos mercantis,
bacharelato em gestão portuária, mestrado em empreendedorismo técnico ou
doutoramento em mercado livre. Bastará olhar, por exemplo, para a
produtividade de um trabalhador especializado e para outro que nunca
manobrou uma grua. Quantos barcos despacham um e outro? Em quanto tempo?
Com que custos, materiais e humanos, associados? Não será melhor
começarem a fazer as contas antes de sacudir a areia da sua
irresponsabilidade?
Mas
há mais a equacionar. Acrescentem a isso o mau uso do material e o
custo associado, os estragos nas cargas e nos contentores ou a
manutenção das gruas de elevada complexidade tecnológica. Acrescentem
ainda, ora pois, o custo da luta dos trabalhadores que em Portugal –
sobretudo político que em euros é uma ninharia ao pé dos milhões que
andam a esbanjar com a sua estratégia – e ainda o dos portos da Europa
que como já se viu tudo farão para derrotar tamanho disparate. Ainda
acham que valerá a pena?
Se
governo e patrões estivessem a ser sérios, as soluções para todos os
problemas seriam fáceis e as respostas para todas as perguntas não
suscitariam qualquer polémica. Se ao invés da energia e dos recursos que
colocam numa guerra sem quartel contra aqueles que são o chão dos
portos, os braços dos navios, as pernas da economia e o pulmão da
recuperação económica – tudo metáforas que nos habituamos a ouvir na
hora de conspirarem contra a sua liberdade sindical – melhor fariam se
de imediato passassem à reintegração dos 50 despedidos e, se assim fosse
necessário, à contratação de mais trabalhadores, mas como manda o bom
senso, a gestão e a humanidade, com direitos laborais e a devida
formação. Isso sim seria coerente com o interesse nacional, a sua
estratégia antropofágica, não.
Para
se perceber ainda melhor a loucura em curso nos portos, imaginemos
então o que governo andará a preparar para o Futuro. Para quando a troca
de médicos por alfarrabistas e de advogados por maquinistas? Quanto
tempo mais teremos que esperar pela fantasiosa substituição de
engenheiros por bombeiros, de açougueiros por logistas, de agricultores
por polícias, cozinheiros por modistas? E carpinteiros por médicos,
pescadores por dentistas ou professores por pelintras, também não? Não
terá fim o delírio? Quanta flexibilidade teremos ainda que gramar até
que chegue a hora de meter o povo no lugar dos banqueiros e os
trabalhadores no hemiciclo?
http://obeissancemorte.wordpress.com/2014/02/06/flexiseguranca-uma-proposta-a-proposito-do-despedimento-de-estivadores-profissionais-e-a-contratacao-fraudulenta-de-precarios/--
Renato Teixeira
1 comentário:
Tragédia é ver Partir gente de bom coração e ficam os lobos com pele de cordeiro e seus amigos que desgraçam a vida de muita gente como o caso do despedimento coletivo do Casino Estoril ilegal o grande negocio da china.
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