Que la pluma sea también una espada y que su filo corte el oscuro muro por el que habrá de colarse el mañana [Subcomandante Marcos]
sábado, outubro 13, 2007
O Eunuco de Inês de Castro
No dia 25 de Outubro, pelas 18.30 horas, no Café-teatro da Comuna, realiza-se uma sessão de debate em torno da peça, já publicada em livro (em duas edições, portuguesa e castelhana), com vários intervenientes convidados, num clima de conversa informal, com entrada livre. Estarão presentes, entre outros, o encenador Paulo Lages e a especialista brasileira na temática inesiana, Patrícia da Silva Cardoso, autora do prefácio ao livro, bem como: Eugénia Vasques, Rui Pina Coelho, São José Lapa, Maria Estela Guedes, Maria João da Rocha Afonso, António Serzedelo, Jorge Pereira de Sampaio, Helena Barbas, entre outros. A sessão será moderada por Sílvia Alberto. Será porventura chocante colocar uma terceira personagem, masculina, a interpor-se entre os lendários Pedro e Inês? Para quem assim o pense, convém assinalar que é na crónica de Fernão Lopes que encontramos a figura de Afonso Madeira, o escudeiro de Pedro I, barbaramente punido pelo rei, que o manda castrar por ciúmes; se bem que, diz o cronista, num parêntesis sintomático, «o rei muito amasse o escudeiro (mais do que se deve aqui dizer)». Com isto dizendo o prosador da corte aquilo que supostamente lhe era recomendado ocultar.Do desejo de ampliar teatralmente esta personagem, incómoda para a visão convencional do mito inesiano, nasceu O Eunuco de Inês de Castro (Teatro no País dos Mortos); conferindo expressão cénica a uma bissexualidade de Pedro, criminalmente tingida, sobre a qual já Natália Correia, em 1986, chamava a atenção para a necessidade de uma psicanálise a realizar em torno dos símbolos da cultura em Portugal, no seu ensaio Sexualidade e Criatividade: Bissexualidade e Ruptura Romântica na Poesia Portuguesa.O Eunuco de Inês de Castro opera uma mudança dramática, e porventura inesperada, face à abordagem tradicional dos amores de Pedro e Inês. Desvendar na cena o hermafroditismo comportamental de Pedro, ainda que patologicamente vivido (dado o atroz gesto punitivo deste contra Afonso Madeira), constituirá, decerto, um forte motivo teatral para olhar com novos olhos um enredo que muitos julgavam sabido e romanticamente explorado por inteiro, e que ganha aqui uma outra amplificação de sentidos.O Eunuco de Inês de Castro (Teatro no país dos mortos), peça em acto único, é uma fantasmagoria em jeito de sátira dramática, que foi a melhor forma encontrada para chamar de novo à cena estas figuras históricas, mitificadas pela imaginação popular e literária ao longo de séculos. A acção decorre na actualidade, mas no não-lugar que é o país dos mortos, mais precisamente na ilha onde habitam» Inês e Constança, em amistosa convivialidade. O núcleo do conflito pode resumir-se brevemente: Inês está separada de Pedro no país dos mortos, e recusa-se a tê-lo por companhia na sua ilha (o país dos mortos é composto, muito helenicamente, por milhentas ilhas, nas quais a empresa de Caronte & Filhos Ld.ª possui o monopólio dos transportes marítimos), em virtude de nunca Inês o ter perdoado pelo castigo horrendo que ele infligiu sobre o seu escudeiro. Isto será motivo para que as personagens teatralizem esses eventos do seu passado, enquanto fantasmas-actores, de modo a operarem uma espécie de catarse psicodramática, na tentativa de entenderem o que as separa, ou não, irredutivelmente. Peça séria e paródica, grotesca e histórico-poética, recheada de comicidade anacrónica, e de alguma virulência expressiva grand-guignolesca. Brincando com ressonâncias dramatúrgicas, é como se Vicente e Patrício se cruzassem de súbito na strindberguiana ilha dos mortos, assistidos pelo olhar de Genet e de Nelson Rodrigues.
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