terça-feira, janeiro 31, 2006

Sim, também deve haver deputados muito bons

Mas estas são as razões apresentadas por Vasco Pulido Valente para em tempos ter desistido do seu lugar. A menos que acreditemos que houve uma conspiração para o levar a demitir-se, talvez não seja errado adivinhar que a maioria passará pela mesma experiência. E sim, VPV deveria ter pensado melhor antes de querer ser deputado, ou então esforçar-se por fazer qualquer coisinha... Mas a questão que me traz aqui não é essa, é a suspeita de que quem nos representa possa ser na realidade gente assim... Alguns deputados conseguirão encontrar uma saída e tornar-se produtivos, mas quantos se manterão assim, anos a fio, sem que ninguém lhes peça contas? Ou a taxa de demissões é elevada e sou eu que estou mal informada?
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Diz VPV:
A propósito, também estive no parlamento. Seis meses, com as férias de Natal pelo meio. Não fiz nada. O grande problema era arrumar o carro (não havia ainda uma garagem especial para os senhores deputados) e, a seguir, o almoço, sempre uma aventura naquela parte do mundo. De resto, corria tudo bem. Assinava o "livro", porque a Assembleia da República não confia nos representantes da nação e espera (compreensivelmente) que eles não ponham lá os pés. Só encontrei esta solicitude, aos treze anos, no Liceu Camões. Nessa altura, passava as tardes no cinema, angustiado pela "falta". Em S. Bento, não faltava ou, pelo menos, não faltava muito. Lia os jornais, os que tinha trazido e os do Pacheco Pereira. Nunca levei um livro por causa da televisão, que aparentemente embirra com deputados que lêem livros. Fora isso, conversava e passeava pelos corredores. Passos perdidos, de facto. De quando em quando recebia instruções para votar assim ou assado. Sem um comentário. A direcção da bancada é que sabe e manda. Às quatro e meia da tarde, no mictório nacional, imemorialmente entupido, a urina já chegava à porta (consta que neste capítulo as coisas melhoraram). Às cinco e meia, derreado, voltava para casa. Uma vez por semana, na minha comissão, a Defesa, ouvia um general indescrito repetir o comunicado da USIA sobre a Bósnia. Não se permitiam perguntas. No dia em que me demiti, um bando de jornalistas, de microfone espetado, exigiu explicações.

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