Na semana passada uma notícia arrancou páginas de jornais e aberturas de telejornal: escola evacuada e alunos no hospital após ataque pelo bicho do pinheiro. Ora sendo este... “bicho”... recorrente nos pinheiros que existem de Norte a Sul do país, parece-me que já era tempo do pessoal enterrar alguma ignorância. Como o repórter que falou na lagartixa do pinheiro ou o médico que referiu o parasita do pinheiro. O primeiro mostrou não saber distinguir uma lagarta duma lagartixa, o segundo presumo que avançou com a desparasitação dos alunos...
Para começar, o tal “bicho” é um insecto e tem nome: Thaumetopoea pityocampa, Processionária para os amigos. E o povo chama-lhe assim por em certa fase do seu desenvolvimento as lagartas descerem das copas dos pinheiros em fila indiana (lideradas por uma fêmea!), como numa procissão.
Parece-me a mim que em vez de tanto alarido se poderia aproveitar para uma aula de história natural. Em vez disso, fecha-se a escola. Entretanto despejaram mil litros de pesticida no recinto do recreio (sic), deixando os pais muito satisfeitos. Pelos vistos noutras escolas o remédio que se segue tem sido o corte dos pinheiros.
Triste mundo este em que os pais dos meninos não se incomodam com os pesticidas e exigem escolas sem árvores; triste mundo este em que já nem é possível conviver com um pinheiro num pátio. Sim, é verdade, a processionária pode causar alergias muito chatas: mas é perfeitamente possível tratar meia dúzia de pinheiros num quintal. Mas para isso seria preciso que os professores responsáveis pela escola soubessem alguma coisa de história natural, conhecessem o ciclo de vida dos... bichos... e soubessem quando intervir. E ensinassem as criancinhas a não mexer onde não devem e a respeitar a Natureza.
Durante a reportagem a que me refiro, as câmaras da tv mostraram ainda um hospital de campanha montado pelo INEM à porta da escola, o qual não evitou que todas as criancinhas seguissem depois para o hospital. Deve ser esta a tal gestão de recursos que nos vem trazendo arruinados.
A Processionária
Como todos os insectos, o desenvolvimento da processionária passa por diferentes estádios. Neste caso por cinco, sendo que só a partir do 3º estádio se tornam perigosas para a saúde pública. A lagarta propriamente dita eclode dos ovos depositados nas copas dos pinheiros em meados de Setembro. As lagartas jovens vivem em ninhos provisórios, que vão sendo abandonados até à formação de um ninho definitivo (ninho de Inverno), onde vivem em colónia e se protegem das baixas temperaturas. Neste estádio, os tratamentos químicos são muito eficazes. Podem ser usados dois grupos de produtos, ambos de baixa toxicidade e inócuos para o ambiente: Diflubenzurão (um inibidor do crescimento) e Insecticidas microbiológicos. Tratando-se de poucas árvores é ainda mais simples e eficiente o tratamento mecânico: basta derrubar o ninho da copa e queimá-lo.
Não ocorrendo eliminação do ninho, a lagarta prossegue até ao estádio em que, pela sua constituição anatómica e fisiológica, é capaz de desencadear reacções alérgicas em muitos dos seres vivos que com ela contactam: na altura em que desce das árvores a processionária tem o corpo dividido em pequenos segmentos, cada um dos quais com milhares de pêlos urticantes de coloração alaranjada que se vão libertando à medida que a larva se move. São estes pêlos que, quando em contacto com a pele, mucosas e olhos provocam a reacção alérgica tão indesejada.
O seu tratamento é agora mais difícil, uma vez que nesta fase a lagarta já revestiu o seu corpo de quitina (endurecimento) e os tratamentos químicos já não podem actuar, restando a destruição mecânica dos ninhos.
Nota: a processionária tem um predador natural importante, o cuco. Que tal promover a fixação de cucos nas escolas? Mais umas coisas interessantes para ensinar aos alunos...
mpf
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