sexta-feira, dezembro 09, 2005

Bhopal: nao devemos esquecer

Faz exactamente 20 anos: em Dezembro de 1984 uma fuga de gás numa fábrica de pesticidas em Bhopal, na Índia, causava 7.000 mortos e 20.000-50.000 feridos graves.

A fábrica da Union Carbide, uma parceria entre o governo indiano e uma empresa americana (sócio maioritário), foi construída a partir duma instalação semelhante em West virgina, EUA. A construção da fábrica indiana, contudo, não obedeceu aos mesmos critérios da fábrica em solo americano; também o pessoal que operava a fábrica tinha menos formação e experiência, e os regulamentos internos nunca passariam numa fiscalização americana. A última auditoria feita à fábrica, alguns anos antes do acidente, revelou mesmo inúmeras falhas (coisas tipo um sistema de arrefecimento desligado... e a sirene de alarme sem funcionar) que nunca foram corrigidas.

Bhopal era uma cidade com 900.000 habitantes, a capital de Madhya Pradesh. O gas cobriu uma área de 40km2; segundo o jornal indiano United News of India, 200.000 pessoas fugiram da cidade. Em Fevereiro seguinte, o Hindustan Times referia a morte de 25% das crianças nascidas de mães grávidas que se encontravam no local do acidente. Estima-se que continuem a morrer entre 10 a 15 pessoas por mês ainda como consequência da inalação do gas. E os restos da fábrica continuam lá, a poluir ar e água...

E depois desta nota negativa às autoridades estatais indianas e irresponsabilidade empresarial ocidental, uma nota positiva à iniciativa popular e solidariedade social: small is beautiful.

Image hosted by Photobucket.com
Em 1994, um indiano, Sathyu Sarangi, resolveu ir até Inglaterra dizer a quem o queria ouvir que era preciso ajudar os sobreviventes de Bhopal. Aí nasceria o Bhopal Medical Appeal, uma campanha de recolha de fundos que mais tarde permitiria a criação da clínica Sambhavna, um hospital especificamente dedicado às vítimas de Bhopal e alternativo às ajudas (financeiras e médicas) existentes, as quais se vinham revelando manifestamente insuficientes: it is possible to evolve simple, safe, effective, ethical and participatory ways of treatment monitoring and research for the survivors of Bhopal.

Na clínica Sambhavna todas as consultas e tratamentos são gratuitos, tendo já sido tratadas 16.000 pessoas. Esta clínica apresenta-se como uma alternatica aos hospitais tradicionais: pratica-se yoga e usam-se plantas medicinais; e os pacientes podem consultar uma biblioteca que vai reunindo tudo o que se sabe sobre o desastre de Bhopal e as doenças que os afligem. Em 2002 a clínica viria a receber o Margaret Mead Award, um prémio concedido a pequenos grupos que fazem a diferença.

mpf

P.S. Já agora, não é só o processo de produção: os pesticidas produzidos em fábricas como as de Bhopal também causam vítimas por todo o lado...

Sem comentários: