segunda-feira, julho 04, 2005

Live 8

Não sou fundamentalista, e mesmo que tenha sido por razões pouco altruistas (vender mais discos), ou que seja apenas uma paleativo para a consciência pesada dos países ricos, o Live 8 veio trazer para a ordem do dia a questão da pobreza no mundo. No entanto, o problema mais grave assinalado pelo CADTM é o facto de se estar a legitimar a acção dos G8 como se fossem uma instituição democrática, apelando à sua caridade. O luta contra a pobreza deveria ser dirigida pela ONU, com regras muito precisas que tenha a ver com os direitos humanos, a justa redistribuição da riqueza, e essencialmente, que conte com a participação dos próprios países implicados.

Porque a mim o que me faz confusão é que um punhado de países (os mais ricos) + um punhado de artistas (todos milionários) venham fazer caridade em público, assim como que a dizer que eles são mesmo bonzinhos e estão dispostos a partilhar o seu talento ou a abdicar de um pouco da dívida para acabar com a fome em África. Mas aproveitando a embalagem, já que se está a falar de pobreza, outras acções verdadeiramente globais poderiam ser assumidas no seio da ONU para atingir este fim, sem termos que estar a falar de esmolas:

1 - O fim do proteccionismo agrícola das nações ricas.
2 - O perdão incondicional da dívida (com o cuidado de que a próxima vez que se emprestar dinheiro este seja emprestado com regras muito rígidas, para ter a certeza que o dinheiro vai mesmo chegar aos mais necessitados).
3 - A pressão internacional da ONU para acabar com a corrupção em África (em Angola, todos os políticos no governo são milionários).
4 - A ajuda para o desenvolvimento chegar aos 0,7 % do PIB, mas que esta ajuda seja transparente e que não sirva para aumentar ainda mais a violência e a corrupção dos governos. E já agora, que a ajuda de emergência não conte para esta número, já que o importante são os projectos sustentáveis, a longo termo.
5 - O estabelecimento de regras mundiais para impedir que haja exploração de crianças, trabalhadores sem direitos, etc.
6 - O direito dos países mais afectados pela SIDA possam produzir genéricos para combater o flagelo.

E isto seria apenas o começo.

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