sexta-feira, junho 24, 2005

Dívidas e G8 e outras coisas

Segundo o G8, esta iniciativa seria histórica, já que nunca antes se tinha prdoado integralmente a dívida dos países mais pobres. Na realidade, é apenas um perdão cosmético, condicionado a uma maior "abertura" destes países aos interesses do norte, que passaria pela privatização dos recursos naturais e de sectores económicos vitais por multinacionais, aimento do custo da saúde e ducação para a população, aumento do IVA, liberalização total dos movimentos de capitais (que favorece a fuga destes), redução da portecção dos mercados, que implicaria o desaparecimento de milhões de pequenos e médios produtores. Por isso o CADTM (Comité para a anulação da dívida do terceiro mundo) defende que o perdão seja incondicional.

E mesmo que o perdão avance, será apenas relativo ao Banco Mundial, e não relativo a todas as outras instituições bancárias ou dívidas bilateriais. Mais, estes 18 países constituem apenas 5% da população "endividada" mundial, pelo que mesmo que a iniciativa seja desinteressada (o que constituiria um passo no bom sentido), peca por ser muito limitada (os outros 95% continuaram a pagar mais de 50% do PIB para amortizar as dívidas contraídas).

Há mais de uma década, foi a mesma coisa. Uma grande barulheira, um grande espetáculo, mas nada mudou. Por quê? Porque existem causas estruturais, e as estruturas defeituosas foram criadas pelo G-8 e seus antecessores. As elites corruptas que governam a maior parte da África mantém-se no poder aliadas a corporações gigantescas, que ordenham as riquezas do território. O continente é rico em petróleo, ouro e diamantes. Isso poderia financiar sua própria recuperação, mas não é deixado em paz; e os líderes que tentaram mudar as coisas foram assassinados ou depostos – a mudança de regime é um velho hábito do Ocidente.

Por exemplo no Magrebe, durante os últimos 20 anos, a dívida multiplicou-se por 4, tendo no entanto reembolsado aos países do norte o correspondente a 7 vezes o valor dessa dívida. É tipo um plano Marshall ao contrário. Porquê? porque existe um acordo tácito entre os interesses Europeus e as elites dominantes dos estados Árabes. Essas elites ficaram benificiadas contraindo as chamadas "dívidas de elite", que são pedidas em nome do estado mas apenas distribuídas pela elite.

Mais do que conflito norte-sul, trata-se de uma mais do que injusta distribuição da riqueza e ainda mais injusta dívida herdada por todos os que têm o azar de nascer num dos 165 países endividados. Dívidas contraídas para benefício de muito poucos e pagas com a pobreza, miséria e fome de um bilião de seres humanos, isto com a cumplicidade criminosa dos países ditos "civilizados".

Fontes: Outras palavras, CADTM

Sem comentários: