Um dos pecados do longo pontificado de João Paulo II foi a luta sistemática e contínua contra a teologia da libertação e seus principais líderes. Para essa guerra, serviu-se do cardeal alemão Joseph Ratzinger, filho de um policial, a quem o papa Wojtyla entregou a Congregação da Fé, o antigo Santo Ofício, por sua vez herdeiro do Tribunal da Santa Inquisição.
Um dos frutos do Concílio Vaticano II, que com João XXIII e Paulo VI tentou reconciliar a Igreja com o mundo moderno, foi o nascimento da teologia da libertação, elaborada no Terceiro Mundo e principalmente na América Latina, com a colaboração dos teólogos europeus mais progressistas, desde Rahner até Metzs. Uma teologia que tentava dar um passo a mais desde a chamada "teologia política" até a "teologia dos pobres e excluídos dos bens da terra". Sem dúvida, o esforço teológico mais original que conheceu a história da Igreja.
A teologia da libertação -- desde seu fundador, o sacerdote peruano Gustavo Gutiérrez, até o franciscano brasileiro Leonardo Boff e os jesuítas Jon Sobrino e Ignacio Ellacuría, entre muitos outros -- tentou fazer uma nova leitura da fé cristã à luz das injustiças estruturais do capitalismo, criador de imensos bolsões de pobreza, voltando ao conceito bíblico de que os pobres ocupam o lugar preferencial na Igreja do crucificado Jesus de Nazaré. E que os pobres são o sujeito, e não só o objecto, da fé cristã.
A teologia da libertação devolveu o interesse pela teologia e pela Igreja, inclusive a intelectuais até então distanciados da fé católica. Foi a primeira tentativa de fazer, a partir da fé, uma leitura da história com os instrumentos da economia e da sociologia. E levou em conta a análise marxista da sociedade e de suas estruturas de injustiça. (continua em baixo)
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