quinta-feira, maio 05, 2005

Itália: a alternativa

Se não tivesse surgido algo muito novo, a Itália voltaria a viver mais um episódio em que a sociedade expressa nas urnas seu desejo de mudança –para pouco depois ver esta vontade, perder-se nos labirintos do poder...

A derrota esmagadora sofrida pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi nas eleições regionais no início de abril deixou claro o esgotamento do programa de (contra)-reformas neoliberais perseguido por ele. Uma coaligação de centro-esquerda é franca favorita para as próximas eleições em 2006. No entanto, todos os Media tentam convencer a opinião pública de que não há alternativa ao pensamento único.

A grande novidade está no vigor crescente das redes sociais italianas e a tentação saudável, que elas sentem, de lutar contra este desastre anunciado. Multiplicam-se nos últimos meses iniciativas em que movimentos e organizações que se identificam com o Fórum Social Mundial (FSM) criam meios para intervir activamente nas instituições que decidem os rumos do país, conservando, contudo, a autonomia da sociedade civil. Talvez seja uma variação da fórmula célebre proposta por John Holloway1[i]. Trata-se de mudar o mundo, pressionando permanentemente o poder...

A jornalista Anna Pizzo, uma das animadoras dos Cantiere per il futuro2, é uma personagem emblemática dessa história. Em novembro de 1999, lança-se à aventura editantdo a revista semanal Carta. A publicação dedica-se à “vida da social real” -- e dirige-se especialmente aos mais jovens. Suas páginas tratam da resistência zapatista em Chiapas e da descriminalização das drogas; das crises de saúde na África e dos bombardeios italianos sobre a Jugoslávia.

Presente em Porto Alegre, Anna cobre com entusiasmo o I FSM, em 2001. Seis meses depois, a Itália realiza, em Génova, o seu primeiro Fórum Social. A Carta vai ligar cada vez mais o seu futuro ao deles. Hoje, das 80 páginas de cada edição, 30 são ocupadas pela secção Cantieri Sociali, que informa e debate sobre as múltiplas iniciativas das redes sociais.

Em 2004, a Carta associa-se a mais uma iniciativa ao mesmo tempo irreverente e comprometida. Com as eleições à vista, a esquerda italiana está envolvida nas eleições primárias, nas quais se define que correntes terão a primazia de indicar candidatos para os postos decisivos. A revista propõe, como resposta, as secundárias: uma consulta aos leitores sobre que programa gostariam de ver adotado, num eventual governo surgido da derrota de Berlusconi. Pierluiggi Sullo, o director-responsável, explica, numa carta ao subcomandante Marcos, o ânimo de sua equipa: “Para que o centro-esquerda não repita, numa eventual volta aos palácios, o que já vivemos, seria necessário [actuarmos com] um ceticismo apaixonado, uma independência refinada. Seria preciso alcançar (...) a autonomia da sociedade civil”.

Tanto a quantidade das contribuições enviadas a Carta quando a profundidade e consistência das opiniões surpreenderam a própria redação da revista. Era possível um novo passo adiante: os Canteiros para o Futuro. Em janeiro de 2005, nas vésperas de mais um Fórum Social Mundial, a publicação convidou os seus leitores a participar num seminário, onde se procurou formular alternativas para três pontos essenciais de um novo projecto para a Itália: a defesa da paz, a relação com os imigrantes, o mundo do trabalho.

Os resultados deste seminário estão disponíveis na internet.

Artigo completo em Outras Palavras, com a entrevista de António Martins a Anna Pizo.

Sem comentários: