sábado, maio 14, 2005

CACAU DEMASIADO AMARGO I



O cacau que nos adoça a boca tem o travo amargo da miséria e da injustiça. Empresas ricas pagam cada vez menos aos trabalhadores nos campos africanos de cacau, onde militam milhares de crianças. O compromisso da indústria para inverter a situação até Junho de 2005 não produziu resultados significativos.

Mais de 50% da produção de Cacau do mundo vem da Costa do Marfim. Um estudo recente promovido pela International Labor Rights Fund (ILRF), em parceria com os governos dos EUA e da Costa do Marfim, detectou que centenas de milhar de menores – 15.000 dos quais com menos de 12 anos - trabalhavam nos campos de cacau, em regime intensivo e expostos a condições de perigo imediato para a sua saúde e crescimento. Num contexto de extrema pobreza, o seu trabalho é vital para a subsistência familiar – terreno propício para as redes internacionais de tráfico de crianças.

Em muitos campos de cacau africanos, vive-se num regime próximo da escravatura. Trabalha-se apenas para comer, sob violência física e psicológica. Drissa, 19 anos, viajou 600 quilómetros desde o Mali até uma isolada plantação de cacau na Costa do Marfim. Ao chegar, o prometido salário transformou-se em escravatura. Durante anos, Drissa e outros jovens trabalharam de madrugada ao amanhecer e eram espancados se abrandavam o ritmo ou tentavam fugir. As refeições consistiam em água e banana - o que, aliado a maus tratos, levou à morte de muitos trabalhadores.

A denúncia deste tipo de situações forçou a Associação dos Produtores de Chocolate a criar em 2001 o Protocolo do Cacau, que previa condições de trabalho comuns a toda a indústria e um sistema voluntário de verificação, certificação e de publicitação até Junho de 2005. Entidades como a Organização Internacional do Trabalho e a Anti Slavery International dizem que nenhum destes objectivos foi atingido – e as condições de trabalho nas plantações de cacau costa marfinenses continuam essencialmente na mesma.

Dia Mundial do Comércio Justo.

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