terça-feira, abril 19, 2005

A lua sonora de Quito

As mobilizações convocadas para quarta feira passada, dia 13, por organizações como a Conaie e Assembleia de Quito e partidos políticos da oposição, no Equador, prometiam incomodar o governo do presidente Lucio Gutierrez e ameaçar a continuidade de seu mandato, mas nada como a avalanche rebelde que se viu nos últimos dias.

As marchas tinham o propósito de criar pressão para forçar a dissolução da Corte e, também, opor-se a um Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos. Mas a primeira resposta popular parecia menos que satisfatória. Os protestos transcorriam sem impacto maior do que aquele produzido pela própria repressão policial, inicialmente vitoriosa às custas de suas bombas de gás lacrimogêneo.

Mas o cenário mudaria logo depois e de forma implacável, com o lento despejar, às ruas de Quito, de mais e mais manifestantes decididos a promover uma guinada nos rumos do país. E o chamado não vinha das organizações ou dos partidos que um dias antes pareciam protagonizar e liderar os acontecimentos.

Foi através da rádio Luna que se organizaram as propostas de um panelaço e de uma primeira concentração na Tribuna da Avenida dos Shyris. “À radio logo se juntaram as cadeias de internet e as mensagens nos telemóveis, frente à indiferença cúmplice dos meios de comunicação”. Era, aos olhos do jornalista, a expressão de uma nova forma de fazer política “como se imitasse instintivamente a auto-convocatória do povo venezuelano, que, três anos antes, destruiu o golpe fascista armado pela CIA e pela oligarquia venezuelana contra o presidente Chávez. Ou à mobilização massiva na Espanha após o atentado de 11 de março de 2004, que foi chave para derrotar a pretensão de Aznar a reeleger-se”.

Cercado por manifestações que não paravam de crescer, o presidente respondeu agressivamente na quinta-feira, chamando os rebelados de “foragidos”. Suas palavras raivosas fizeram aumentar o sentimento de unidade entre os equatorianos da capital. Nos gritos e cartazes criativos, logo se assumiram todos como “foragidos”.

Na sexta, dia 15 de abril, a radio La Luna já era uma trincheira dos rebeldes para a qual milhares se dirigiam. “A solitária voz de La Luna já havia abafado as demais estações de radio e de televisão, e sua sintonia batia recordes.

A extensão do decreto era o totalitarismo, sem meias palavras: censura aos meios de imprensa, intervenção nas comunicações e na correspondência particular, e fim da liberdade de circulação. Vigorou sem efeito real por 18 horas apenas, e foi derrubado por outro, do próprio governo, antes que a Justiça o fizesse para proteger a Constituição.

Enquanto isso, o sentimento do povo de Quito, mobilizado com suas panelas e bandeiras, é transmitido ininterruptamente pelas vozes que se revesam nos microfones de La Luna, que fala diretamente para Quito e para a América Latina, através do sinal de satélite da ALER.

Rita Freire, com dados de Adital, Argenpress, Altercom e Alai. Leia o artigo completo

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