Na sequência do lindíssimo post sobre os três mares, mfc comenta sobre a Ponte das Três Entradas, concelho de Oliveira do Hospital. Ora aqui temos um exemplo duma importante fronteira político-administrativa que resultou duma fronteira biogeográfica. Que só perdeu importância quando “essa” biogeografia deixou de ser um factor político. É que "entradas" eram as entradas das legiões de rebanhos em Transumância Norte-Sul: cada uma subia a montanha por sua encosta! Também no sul há povoações chamadas Entradas (por exemplo ao pé de Castro Verde) – estas estariam na outra ponta da peregrinação, e também elas eram objecto de disputa político-económica.
Até há uma centena de anos atrás, a carne e sobretudo lã de ovinos e caprinos era central à economia da nação. E os milhares de pequenos ruminantes tinham que circular, de modo a evitar o esgotamento dos pastos: regra geral, subiam às montanhas no Verão e desciam às planícies no Inverno. Ora estamos a falar de mil cães a um osso, ou mil ovelhas a um trevo!, pelo que a coisa tinha que ser altamente regulamentada. Até porque a passagem dos rebanhos também provocava conflitos frequentes com os proprietários dos terrenos que ficavam no caminho... A coisa era tão séria, que envolvia a vizinha Espanha, nossa competidora quer no mercado da lã (exportações para Inglaterra, alianças de guerra...)... quer na utilização dos pastos. É que a transumância em Espanha assumia ainda maiores proporções – milhões de animais desciam todos os anos (a viagem podia demorar até 8 meses!) das serras de Sória (acima de Madrid) até ao congestionado sul de Espanha, e muitos entravam pelo Alentejo dentro, causando recorrentes conflitos transfronteiriços. Aliás, eu penso que a questão de Olivença está intrinsecamente relacionada com isto: é que a região de Olivença é sempre referida na História relativamente aos verdíssimos pastos que a rodeavam! Neste caso ter-se-á cimentado a questão política ignorando a alteração da importância ecológica – as ovelhas passaram a ficar em casa e os pastos deram lugar a agricultura, parques industriais, zonas urbanas, uma cidade que nem é tua nem é minha...
mpf
Sem comentários:
Enviar um comentário