Punição de teólogos, censura de livros, perseguição de ONG's católicas (que não seguem a linha preconizada pelo Vaticano), condenação dos princípios e valores implantados na Sociedade desde há algumas décadas (libertação da mulher, novas formas de sexualidade, legalização do divórcio, despenalização do aborto, repúdio de certas investigações científicas), colocaram a hierarquia católica numa posição que os teólogos da associação João XXIII denominam de "integrista". A palavra chave é "inadaptação".
Diante de profundas mudanças na sociedade, os homens do clero vêem perigos em todos os lados.
No séc XIX era o medo do liberalismo; no séc XXI é o medo da secularização e a sensualidade nos costumes. No fundo trata-se do mesmo fenómeno: a resistência à mudança medo de quase tudo o que é novo, diz José Maria Castillo, Professor da Faculdade de Teologia da Universidade de Granada.
As consequências deste conservadorismo é o afastamento de milhões de crentes da religião; os que ficaram, maioritariamente não são praticantes: há um novo tipo de crente, que proclamando-se católico, deixa de ser praticante e vive a sua fé à margem da instituição.
Hoje em dia a Igreja está fracturada, dividida, e em confronto, enumerando por exemplo estes três sectores (Juan José Tamayo):
1- O neoconservadorismo da cúpula romana, defendendo uma igreja de resistência, única (fora da Igreja católoca não há salvação), por oposição à Igreja da solidariedade e da teologia da libertação;
2 - O sector centrista, numeroso, que põe em prática o Vaticano II.
3 - Os críticos de fronteira, que se opõem ao pontificado em todos os campos: laicidade do estado, papel da mulher na Igreja, sexualidade ou o princípio de que o nuclear no Envangelho são as propostas éticas, não as dogmáticas.
Apesar de não haver uma escomunhão destes últimos, há condenas públicas destes padres chegando mesmo a serem expulsos das suas cátedras (até hoje já foram mais de 500 padres em Espanha a sofrer represálias).
O teólogo secular Enrique Miret Magdalena, da ass. João XXIII, reclama liberdade e democracia interna no seio da Igreja, rematando: "Hoje em dia Roma quer manter os católicos com a boca fechada".
Traduzido e adaptado do artigo saído no El Pais de 12 de Setembro "Vientos de fractura en la Iglesia Católica", por Juan Bedoya
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