quarta-feira, julho 21, 2004

Investigação em Portugal

Excelente post sobre o estado da Investigação e os Investigadores em Portugal.

[Dizem que] Somos uns privilegiados, fazemos na vida aquilo que escolhemos, ganhamos bem (atendendo aos padrões portugueses), não trabalhamos demais (outra vez os padrões portugueses), viajamos muito. À primeira vista, nada parece justificar o desânimo generalizado. E no entanto...

O colóquio recente sobre o futuro científico em Portugal trouxe o assunto para os jornais. Ministros cantam-nos loas, fazem promessas de milhões de euros, promessas de milhares de novas bolsas, promessas de empregos que hão-de vir. Pintam um futuro radioso para a Ciência portuguesa - mas nós, que futuro é o nosso? Porque, ao mesmo tempo que no-lo dizem, vão juntando que "as bolsas são e têm de ser de carácter temporário"... Eu, como alguns de vocês, faço investigação há quase 10 anos (sim,o tempo passa tão depressa...), graças às sucessivas bolsas da FCT e do instituto onde estou. Esperam que ao fim de todo este tempo e esforço, passado já o limiar dos 30 há anos, eu vá à procura de emprego onde? Que contributo posso eu dar para a rudimentar indústria portuguesa - eu, vinda da física fundamental, e todos aqueles que vêm de áreas teóricas e/ou não-aplicadas? Que empregador vai querer pagar-nos uma sobre-qualificação de que não precisa?
 
Os efeitos colaterais disto tudo são evidentes. Mesmo assim, alguns de nós escolhemos continuar. Procurar novo financiamento todos os 2 ou 3 anos. Mudar de país,de casa e de amigos com a mesma periodicidade. Estar longe da família. E adiar a "vida normal" (casar, ter filhos, ter férias no Verão, pertencer a um local,...) por tempo indeterminado. Num país onde a taxa de analfabetismo é ainda de 8%, e onde a taxa de analfabetismo funcional ultrapassa de certeza os 50%, somos uma elite perdida num mar de contradições. Entre aqueles que nos tecem louvores e os outros que nos consideram um inútil sumidouro de dinheiro (às vezes os mesmos...), perguntamo-nos se vale mesmo a pena (pessoal e socialmente falando). Deslumbrados por termos chegado tão longe, deprimidos por não nos vermos chegar a lado nenhum. Acreditámos que podíamos ter tudo. Mas o sonho é como um castelo de cartas numa corrente-de-ar.
 
Catarina (Físicos) 

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