Contexto social e musical
Hoje em dia, a concertina substituiu em toda a faixa litoral os cordofones que antes dominava a música festiva e lírica de tipo recente: cantares de festa e coreográficos alegres e vivos, “chulas”, rusgas, cantigas românticas e satíricas, cantares de desgarrada, fados, serenatas e tunas; na região raiana Beiroa assim como no Campo Alentejano, a concertina é usada, tal como no Ocidente, para música lúdica e festiva: “saias”, “despiques”, “modas” mais alegres e vivas. No entanto, hoje em dia a concertina sai da esfera estritamente lúdica e aventura-se em ocasiões sagradas. De resto, com a carência da obrigatoriedade estrita e a progressiva quebra de força da velha tradição, podemos hoje ver a concertina (que conhece maior difusão que a viola) em ocasiões cerimoniais onde há pouco não figurava. Por exemplo, em Creixomil, na região de Barcelos, ouvimos uma primeira parte de uns cantares de reis onde as vozes cantam a pedir o donativo, de uma forma grave e austera, com a concertina a sublinhar a linha melódica.
Actualmente, por toda a parte, os cordofones tradicionais vão sendo postos de parte, aparecendo a par deles, ou em sua substituição, a concertina e o acordeão. Na faixa litoral do alto Minho, por exemplo, pode-se mesmo dizer que o único instrumento que hoje se ouve nas rusgas, bailes de terreiro, romarias e outras festas, é a concertina.
Na Serra duriense, nas tocatas que acompanham a dura faina da vindima, está presente a concertina. Mais tarde, durante o bailarico e festa final da “entrega do ramo” aos patrões, esta tocata consegue suscitar a atmosfera lúdica dessa duríssima quadra.
(Extraido e adaptado por Paulo Pereira do livro "Instrumentos Musicais Populares Portugueses" de Ernesto de Oliveira e Benjamim Pereira)
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