Em 1995, Lester Brown, presidente do conhecido Earthwatch Institute, publicou um pequeno livro do ‘Worldwatch Environmental Alert Series’ intitulado ‘Who will feed China – wake-up call for a small planet’.
A ideia fundamental do livro é muito simples: a industrialização da China e aumento do nível de vida da sua população terá consequências profundas na balança oferta-procura de matérias primas do mundo, incluindo cereais, água, petróleo e minerais.
Nove anos passados, começamos finalmente a sentir o que isto significa. A economia da China prepara-se para, uma a uma, ultrapassar as economias dos membros do G7+1 e mostrar a todos os cépticos que, surpresa das surpresas, os recursos terrestres são finitos, com as consequências de instabilidade que daí advirão. O preço do aço e do petróleo bate recordes, e o mesmo certamente se passará com outros minerais, do alumínio ao cobre, que hoje em dia desapareceram das notícias, apesar do seu papel na economia mundial.
E no entanto, o movimento ambientalista tradicional pouco ou nada faz para mostrar a urgência da situação. Continuamos agarrados à ideia conservadora, mas muito útil, de que é tudo uma questão de distribuição de recursos, e não de consumo excessivo ou de falta deles; não tocamos, nem com uma vara comprida, nos problemas de excesso populacional. Ora, se a distribuição de recursos é de facto um problema, e a razão principal que há 10 anos, iludido ou não, me levou a deixar de comer carne, quer-me parecer que muitos serão tornados vegetarianos à força.
A China, juntamente com a Índia, mostrará que vivemos num mundo finito. E no entanto continuamos num ambiente de negação, de crescimento económico como salvador da pátria, da necessidade de crescimento populacional para combater o ‘envelhecimento’ da população, de abolir as reservas ecológica e agrícola, dinossáurios a abater.
Se em 1995 se perguntava já quem alimentará a China, eu atrevo-me a perguntar, enquanto assisto da minha janela à pavimentação dos melhores terrenos agrícolas de Odivelas – terras pretas e de aluvião, riquíssimas, e, espanto!, em leito de cheia – ‘Quem alimentará Portugal?’
Pedro Lerias
(Ambio, 9 Maio 2004)
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