Edgar Correia, engenheiro
A Direita mediática esteve particularmente empenhada, na semana passada, na promoção do voto em branco (dos eleitores de Esquerda…), "onda" à qual Carvalhas se associou com a sua proverbial finura, ao sustentar que "se a ideia do voto em branco fosse seguida pelos portugueses, nós (CDU) conseguiríamos eleger os 24 eurodeputados"…
O apelo feito por Jorge Coelho na Antena 1 para que Guterres anuncie a sua candidatura às presidenciais e a sua convicção de que "será um grande candidato da Esquerda" não teve, por isso, o destaque mediático que merecia.
A importância das próximas presidenciais decorre de coincidir com o final do segundo mandato de Sampaio e disso implicar a eleição de um novo presidente. A Direita quer acrescentar esse cargo à sua maioria parlamentar e ao seu Governo. E o momento em que vão ter lugar é estratégico para o próximo ciclo eleitoral: uma perspectiva de vitória nas presidenciais influirá no mesmo sentido nas autárquicas, que imediatamente as antecedem; e um resultado favorável nas presidenciais potenciará a obtenção nas legislativas, poucos meses depois, de uma maioria com o mesmo sinal político.
As presidenciais comportam, por isso, para a Esquerda, um duplo objectivo: eleger um presidente da Esquerda e travar a eleição de um presidente da Direita, quando se desenvolve já no terreno a candidatura de Cavaco Silva; e, simultaneamente, através de uma candidatura de Esquerda que seja ganhadora, abrir condições favoráveis para os outros actos eleitorais.
Candidaturas à Esquerda e para todos os gostos, naturalmente que pode haver muitas. Além disso, o carácter unipessoal das candidaturas presidenciais transcende em muito as organizações políticas e partidárias que as apoiam. Mas essa possibilidade não ilude a questão decisiva de uma candidatura de Esquerda, para efectivamente vencer as presidenciais, necessitar de agregar os apoios de toda a Esquerda e ainda de uma parte do Centro. E, por isso, de ser decisivo o aparecimento de uma candidatura que consiga fazer convergir todos os apoios e todos os votos indispensáveis para vencer.
Isto também significa que o melhor candidato de Esquerda para vencer não poderá (inevitavelmente) ser o eventual candidato com que cada sector de Esquerda, individualmente considerado, melhor se identifica.
Diferenças e divergências passadas à parte, é nossa convicção de que António Guterres tem todas as condições para protagonizar uma candidatura presidencial de Esquerda que seja ganhadora, na condição óbvia do próprio decidir apresentar-se como candidato e, também, de o fazer com base num programa de Esquerda, simples e claro.
Na área do PS, diferentes sensibilidades têm vindo a manifestar a sua disponibilidade para apoiar uma eventual candidatura de António Guterres.
Por parte dos renovadores comunistas, o seu encontro nacional de Maio promoverá uma primeira reflexão sobre as presidenciais.
No que respeita ao PCP, a situação é mais que embaraçosa: uma candidatura para desistir, só para "beneficiar" de tempo de antena, está fortemente inviabilizada pela evolução democrática do eleitorado; uma candidatura para ir a votos, faz ressurgir o medo da sua contagem e o fantasma dos 5% de António Abreu.
Quanto ao BE, as primeiras inclinações que se conhecem são também no sentido de patrocinar uma candidatura do seu espaço político.
Mas quer o BE quer o PCP não podem ignorar que se a Direita se apresentar unida em torno de Cavaco Silva, como tudo indica que acontecerá, perca (como queremos) ou ganhe, com altíssima probabilidade tudo ficará decidido na primeira volta. E que não haverá para a Esquerda uma segunda oportunidade…
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